Atraída por um Darcy escrita por Efêmera


Capítulo 18
Surge Uma Rival?


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores. Eu sei que sentiram a minha falta. haha Então, eu estava (estou) com sérios problemas de conexão, por isso a demora. Infelizmente não vou poder atualizar as outras, mas assim que resolver esse problema da internet voltarei para vocês. ;* Neste capítulo eu quis mostrar um pouco mais do Collins, afinal ele é muito diferente do Collins do livro, vocês vão ver. Não esqueçam de ler as notas finais, pois tenho uma surpresa (SPOILER BRABO!) para vocês lá (se não quiserem, ignorem). Bjs e boa leitura!!!



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Eu estava imersa na magia. Meu corpo sentia o dele tão próximo e eu via minhas fantasias tornando-se realidade. Uma parte de mim não queria acreditar, tentava me convencer que aquilo ia além de qualquer coisa possível de acontecer, mas eu não dava ouvidos, apenas me entregando àquele beijo com todo meu ser. O beijo terminou cedo demais, mas eu não me importei, seu olhar apaixonado me fez flutuar.

― Eu te amo, Lizzie. ― confidenciou.

― Sério? ― Eu não podia acreditar que era verdade. ― Diga isso de novo! ― pedi, meu olhar apaixonado deixando nítido o quanto ele era importante para mim.

― Claro.― Mas, ao invés de repetir que me amava, ele se afastou e me olhou rindo: ― Você mereceu isso, Bennet.

Se afastando e me deixando sozinha com mais aquela desilusão. E quando eu pensava que não poderia piorar, eu estava caindo, sozinha, daquele precipício que onde ele havia me jogado. Cheguei a gritar, mas ninguém, exceto ele, poderia me salvar. Depois de alguns minutos caindo finalmente eu senti uma dor, aquilo tinha acabado... Mas a dor era tão real!

E foi então que eu abri os olhos e vi que eu tinha caído de cara da cama. Isso só acontecia comigo.

Mas eu já estava me acostumando. Aquela não foi a primeira noite que eu havia sonhado com ele. Para piorar, era sempre o mesmo sonho. Primeiro ele me atrai, depois repele. Aquela coisa de puxar e empurrar estava me deixando louca e a única que levava a pior era eu. Eu queria que ele parasse de me chutar para longe, o que eu mais queria era ficar ao lado dele. Tudo bem que ele era assim com todos, exceto com Georgie, mas por que ele não definia logo o que eu era na vida dele? Isso poderia ajudar, mas era só eu citar que iria procurar outro alguém que ele entrava em campo para frustrar meus planos, usando do meio mais baixo possível para me prender a ele como uma idiota.

Quem havia permitido a ele roubar meu primeiro beijo? Agora aquilo iria ficar na minha mente para sempre!

Mas, por outro lado, eu não poderia dizer que não gostei. Do contrário. O problema era que aquilo me trazia uma sensação de déjàvu, isso era estranho.

Eu era uma fraca, de qualquer forma. Por mais que tivesse aprontado o lance da foto, ainda não tinha capacidade suficiente para enfrentá-lo. No fundo eu sabia que não poderia sair facilmente com alguém pensando em mais que amizade. De qualquer forma, ele estava certo. Eu o amava, ele havia me beijado e eu iria para a mesma universidade que ele. Qual o problema disso tudo? Nenhum. Eu iria aproveitar.

― Oh, Lizzie. Você está realmente linda. ― falou a Sra. Darcy assim que sentei à mesa. ― Embora eu sinta falta de vê-los com os uniformes, eu tenho que admitir que estou feliz, agora finalmente você poderá usar as roupas do seu closet!

Eu sorri sem graça, mas permaneci calada tomando meu café da manhã. Enquanto fazia isso, vi quando Darcy chegou e sentou-se em seu lugar habitual, ao meu lado. Fazia uma semana que eu não o via.

― Fitzwilliam, a roupa que Lizzie está usando não é linda? ― indagou Maggie animada.

Darcy me olhou rapidamente e eu senti meu rosto esquentar, depois começou a separar o que iria comer, enquanto falava:

― Combina com ela tanto quanto pérolas com porcos.

Eu me senti mal e olhei-o irritada, mas eu não iria me rebaixar para respondê-lo na frente da mãe dele, em plena mesa do café da manhã. Eu sabia que Maggie me defenderia.

― Fitzwilliam! Que coisa horrível de se dizer! ― gritou Maggie e quase esperei que ela se levantasse para bater nele, uma vez que sua cara não estava nada boa. Mas Darcy não pareceu se importar nem um pouco.

― Então, eu devo supor que a roupa faz uma pessoa? ― falou, pegando um pedaço de pão e se levantando para sair. ― Enfim, estou indo.

― Por que já está indo? Ainda é cedo. Espere, tenho algo para dizer. ― adiantou-se Maggie e Darcy tornou a sentar. Depois do que pareceram poucos segundos, Maggie tornou a falar: ― Georgie tem conversado comigo há um tempo sobre um dos garotos do orfanato. Ela diz que ele é muito apegado a ela desde que era muito novo e agora que ele está maior ela tem desejado adotá-lo.

O quê? Georgie adotar com dezoito anos? Quem permitiria isso?

Mas foi Darcy quem manifestou o que eu pensava.

― Eu sei muito bem quem é esse garoto, mãe. O conheci certo tempo atrás. Você não pode ser conivente com isso, mãe. Georgie é uma criança, talvez ainda mais que o tal garoto!

Maggie sorriu, pelo jeito ela já havia pensado nisso também.

― E foi o que eu falei para ela, querido. Por causa disso ela tem se mostrado cada vez mais melancólica, pois ela quer muito o menino.

― Mas ele só é mais novo que ela uns dez anos! ― tornou Darcy.

― Eu sei, eu sei... por esse motivo eu resolvi conversar com o seu pai. No início ele não pareceu gostar muito da ideia, mas depois que eu falei que vocês já estavam bastante crescidos e que eu sentia falta de cuidar de alguém, ele concordou.

― Concordou...? ― perguntou Darcy desconfiado, mas eu sabia que ele já havia entendido. Estava óbvio até para mim.

― Vamos adotá-lo! Vocês terão um irmãozinho novo, o que acham? ― perguntou uma Maggie sorridente.

Eu sorri também, era impossível ignorar aquele grande sorriso dela. Só era estranho que ela não quisesse uma menina no lugar de um menino, mas pelo jeito ela estava fazendo aquilo mais pela Georgie. Além do mais Maggie era nova, não tinha nem quarenta anos ainda, se ela quisesse ficar grávida ainda não ficaria estranho.

Darcy revirou os olhos, depois bufou.

― Não sei como ainda fico surpreso com a capacidade de vocês resolverem as coisas sem me consultar. Enfim, estou indo.

― Espere Lizzie!

Mas Darcy ignorou, levantando-se e se retirando. Eu tentei sufocar o sentimento de abandono dentro de mim, era muito ruim ser constantemente rejeitada. Eu tinha esperança de que ele seria mais amoroso comigo depois do beijo, mas pelo jeito eu estava sendo rejeitada novamente.

― Não se importe com a frieza dele, Lizzie. Eu sei que Fitzwilliam gostou da ideia de ter um irmãozinho. Conheço bem meu filho. ― sorriu Maggie e eu tentei retribuir.

Apressei-me para ir para a faculdade rapidamente, tomando o meu café da manhã mais rápido do que costumava fazer. O Sr. Reynolds me levou hoje, seguindo as ordens de Maggie, uma vez que ela não queria que eu andasse até o metrô sozinha tão cedo, então graças a ele consegui chegar pontualmente na hora que havia marcado com Jane e Char. Como estaria na presença delas por bastante tempo naquele dia, pois havíamos nos inscritos para a área de artes e comunicação, o que resultaria em pagar quase todas as cadeiras juntas, eu precisei de muito esforço para esconder o que havia acontecido e estava acontecendo comigo. Havia conseguido ignorar elas por muitos dias, só falando pelo celular, mas pessoalmente elas poderiam me ler sem problema.

― Ei, o que está fazendo aqui sozinha? ― Char perguntou quando se aproximou, pegando-me de surpresa. Jane estava ao seu lado. Eu sorri para ambas e as abracei, feliz por finalmente encontrá-las, embora ainda estivesse receosa.

― Algo aconteceu durante a semana, Lizzie? ― Jane perguntou desconfiada. Eu tremi. Será que deveria dizer?

― É que... ― tentei falar, mas Char me cortou.

― Esqueça, Jane. É óbvio que não. Novidades para Lizzie precisam ter a ver com Darcy e ele estava viajando, sem falar que sabemos que aquele morto não é capaz de fazer nada. Eu ainda desconfio que seja gay.

Como sempre, Char!

Embora ele merecesse os insultos, chamá-lo de gay já era demais. Afinal, de certa forma, seria dizer que eu gosto justamente de um gay, alguém que nunca olharia para mim. E, convenhamos, eu sabia muito bem que ele não tinha nada de gay, mas de arrogante, orgulhoso, egoísta, etc.

― Às vezes eu me pergunto sobre isso, hein. ― falei sorrindo para Char, mordendo o lábio. Ela me olhou desconfiada, mas foi Jane que falou:

― Sobre o quê?

Eu olhei para elas, refletindo se contava ou não. No fim a amizade venceu, eu sabia que teria que contar, mas também queria me divertir com a cara delas um pouco antes de fazer.

― Bem, embora não tenha acontecido durante a semana... ― Elas estavam atentas, me olhando à espera, mas eu dei de ombros e voltei atrás: ― Esqueçam, não é nada.

Char não gostou nem um pouco, erguendo sua sobrancelha esquerda em total descrença. Jane olhou para mim, depois olhou para ela, depois olhou para mim novamente. Ela me conhecia, sabia que eu estava escondendo algo. Foi justamente por isso que eu havia evitado elas durante a semana, mas agora isso não importava mais, então eu sorri para elas, revelando que algo grande havia acontecido.

― Não acredito! Aconteceu alguma coisa! ― gritou Char e algumas pessoas que estavam passando nos olharam assustadas. Eu fiquei sem graça, mas essa era a Char. Mas pelo jeito ela não era a única naquele dia, pois até Jane se alterou.

― Sério? Algo aconteceu? Conte-nos, Lizzie!

― Será que eu deveria... Mas eu realmente não queria dizer para vocês. ― pisquei para elas e ambas se aproximaram. ― Darcy me beijou.

Elas se afastaram chocadas, gritando um uníssono “Não acredito!” e eu até esqueci por que elas eram minhas amigas. Será que era tão inacreditável assim? Ok, era. A primeira a se acalmar foi Jane, pois Char ainda estava me olhando assombrada.

― Isso é sério, Lizzie? ― a voz de Jane tinha subido duas oitavas. Eu assenti.

― Não pode ser! Isso não é possível! Aquele cara vai se reproduzir por mitose! ― gritou Charlotte e eu queria enfiar minha cabeça dentro de um buraco com a quantidade de cabeças que viraram para a gente. ― Quando e onde isso aconteceu? Solta tudo!

― Eu não consigo imaginar. ― disse Jane.

― Foi no dia da formatura, quando estávamos no clube. O problema é que me pareceu que ele estava apenas me provocando. ― lamentei.

― Por que ele te provocaria? ― Charlotte indagou.

― Porque... porque eu falei que iria esquecer ele, daí ele me beijou e depois disse que eu mereci. Fiquei pensando durante a semana e não encontrei sentido. Ele me beija e depois vai embora para Pemberley, quando ninguém sabia que ele tinha planos de passar a semana lá? Desconfio que ele só tenha voltado por causa das aulas.

Char revirou os olhos, depois envolveu Jane e eu pelo braço para que pudesse sussurrar.

― Entenda, Lizzie. Como amiga eu diria para você esquecer esse cara, porque provavelmente ele não vale a dor de cabeça. Mas como observadora, e também por saber que o meu conselho de amiga não será ouvido, eu tenho que admitir que isso foi algo grande. Darcy é muito esnobe e, pelo que Charles disse a Jane, ele nunca beijou uma garota.

Eu não podia acreditar. Nem Char, porque ela estava balançando a cabeça em descrença. Ele nunca havia beijado antes? Que cara com dezoito anos nunca beijou antes?

― Mas não é bem assim, Char. ― apontou Jane. ― O que Charles disse foi que ele nunca se interessou por alguém. Segundo ele, Darcy é muito cavalheiro e não beijaria alguém por quem não tivesse interesse amoroso. Ou seja, ele nunca beijaria por beijar. Richard costuma até fazer piada dele quando estão juntos. Uma vez ele me falou que ele e Richard chegaram a desconfiar que Darcy fosse homossexual, porque nunca viram ele com uma garota, ele nem sequer fala sobre elas, mas daí criaram coragem e perguntaram e Darcy negou. Eles acreditam que a família dele o encheu com tanta responsabilidade desde cedo que tirou dele a vontade de viver alguns prazeres. Junta isso ao jeito frio dele, não-

― Você quer dizer arrogância e orgulho. ― interpelou Char. Jane revirou os olhos.

― Sim, isso aí também. Ele não é o tipo de homem que se mistura com pessoas em geral, se for juntar tudo o que o envolve, ele acaba tendo motivos suficientes para não se envolver com alguém. Não vou dizer que acho ruim, porque estaria mentindo.

― Ou seja, Lizzie, você tirou o BV do cara e ele tirou o seu. Isso seria fofo se não fosse cômico, dois cavalos velhos que não sabem o que estão perdendo. Se comam logo! ― piscou Char. ― Agora vamos indo que estamos quase atrasadas, temos aula de Sociologia agora.

Enquanto as meninas falavam eu pensava em tudo. “Não beijaria alguém por quem não tivesse interesse”. Será que era isso mesmo? Será que ele voltou atrás e beijou apenas para fazer piada? Eu não sabia no que acreditar.

Passamos boa parte da manhã em uma rotina de aulas, exceto por alguns horários vagos que tiramos para conhecer a faculdade. Quando já estava quase na hora do almoço, nós três andamos para procurar o refeitório da faculdade, mas Char parou em frente a um prédio que eu não sabia o que era.

― O Departamento de Engenharia!

Eu olhei para ela sem compreender, afinal eu acreditava que a gente estava procurando o refeitório da faculdade.

― Certo... Mas o que estamos fazendo aqui? ― perguntei desconfiada.

― Procurando o seu amado, óbvio. ― falou segurando o meu braço direito e Jane segurou o esquerdo. Eu não podia acreditar que elas estavam fazendo aquilo!

― Vocês estão de brincadeira, não é? ― questionei alterada.

― O que está havendo, Lizzie? Qual o problema de conhecer o departamento dele... e espiar, claro? ― perguntou Char.

― Mas eu não queria fazer isso... ― murmurei.

― Olha para mim. ― ela começou. ― Darcy é um cara praticamente da realiza. Ele é quase um príncipe! Durante muito tempo eu tentei fazer você desistir de qualquer coisa com ele, porque achava completamente impossível, mas você não desistiu. Depois você vai morar na casa dele, o que é algo grande, se comparado à chance que outras garotas têm. Mas mesmo assim eu ainda esperava que você desistisse, porque não via qualquer movimento da parte dele. Que valor tem uma mulher que se declara a um cara, ele a rejeita e ela ainda continua correndo atrás? Mas o cara te beijou! Darcy, o cara que já tem dezoito anos e nunca beijou ninguém, te beijou! Você sabe o que isso significa? Significa que você está no jogo. Não importa se ele tirou com a sua cara depois, nem se te ignorou, você apenas não pode desistir ainda. A Lizzie que eu conheço nunca desistiria. Então agora nós iremos sim conhecer o departamento dele e contar quantas mulheres têm por aqui, precisamos conhecer o terreno! ― e finalmente ela parou, deixando eu e Jane olhando para ela com olhos arregalados. Tudo o que ela disse fazia sentido.

― Depois disso... eu seria uma idiota se não desse uma espiada, não é?

― Ótimo! ― comemorou Char. ― Você precisa ser agressiva, Lizzie! Eu teria simplesmente invadido o quarto dele durante a noite, mas você é tão santa que nunca faria isso.

Eu fiquei vermelha, porque meio que já tinha feito.

Como já estava tudo decidido, começamos a andar pelos corredores do prédio. Até onde tínhamos visto, só tinha homens para todo lado. Aquilo era algo bom, porque eu ficaria muito enciumada, por mais que tentasse evitar, se tivesse visto muitas mulheres ali. Quando dobramos um corredor, encontramos Denny que passava apressado e nos viu.

― Ei, Bennet. Se está procurando Darcy, ele está na sala 107. É por ali. ― disse ele, mostrando a direção da sala e continuando na sua direção inicial. Char gargalhou.

― Pelo jeito essa relação já é conhecida por todos!

Meu rosto esquentou. Eu não entendi o motivo dele achar que eu estava atrás de Darcy... O que será que ele sabia? Era tão óbvio assim? De qualquer forma, menos mal que eu não teria que procurar naquele prédio enorme.

― Olha o lado bom, Lizzie, essas parasitas vão definitivamente parar de grudar nele. Já é uma coisa a menos para se preocupar. ― Jane riu. Eu não.

Voltamos a caminhar, agora na direção da sala indicada por Denny. Quando finalmente chegamos nela, abrimos um pouco para olhar o que tinha dentro. Lá, em meio às carteiras, apenas poucos alunos se encontravam. Continuei olhando, finalmente parando quando reconheci Darcy. Meu coração parou. Ao lado dele, próximo demais, estava uma mulher bonita demais para eu estar feliz em vê-la ali ao lado dele. Pelo que dava para ver, ela era loira e tinha a pele clara. Seus traços pareciam tão delicados que eu não entendia o motivo dela ter optado por engenharia como curso, aquela mulher conseguiria um lugar nas passarelas sem qualquer dificuldade.

― Quem é aquela mulher ali? ― Char perguntou. ― Ela é muito bonita. Nada como eu, claro, mas ainda assim.

E ela ainda diz que Darcy é presunçoso.

― Eu não se-

Eu não consegui terminar, pois alguém se aproximou por trás e empurrou a porta. Era Denny. E o que ele fez a seguir me deixou roxa de vergonha.

― Darcy! Tua futura esposa está aqui.

Darcy e a garota pararam de conversar no mesmo instante, virando na direção de Denny e, depois, na minha. Ele não mostrou nenhuma expressão de desagrado, apenas continuou me olhando.

― Precisa de algo?

― Não... eu só queria saber como era o Departamento de Engenharia.

Ele não voltou a falar, continuando a me olhar sem qualquer expressão.

― É sua namorada, marquês? ― indagou a garota que estava com ele. Eu esperei a resposta com mais esperança do que deveria.

― Até parece. Como poderia? ― respondeu com desdém.

“Como poderia”? Como assim “Como poderia”? Eu sabia que provavelmente ele não queria nada comigo, mas precisava falar daquela forma, como se eu fosse um lixo que ele não queria ter relação alguma? Mas essa nem foi a pior parte, e sim o sorriso arrogante que a tal garota lançou para mim. Desde quando ela tinha o direito de rir de mim?

― Foi o que imaginei. ― e voltando-se para Darcy sorrindo, ela continuou: ― Então, marquês. Gostaria de tomar alguma coisa na cafeteria?

E foi aí que o jogo virou, pois Darcy, com o mesmo desdém, nem sequer virou para ela quando respondeu:

― Não. Estou indo embora.

Eu não senti a mínima pena dela quando ele saiu sem se despedir, deixando-a sem entender o que tinha acontecido. E foi aí que eu compreendi que o problema não era eu, mas qualquer outra mulher. A tal estranha deve ter escutado o meu riso, pois se voltou para mim e me fuzilou com o olhar. Eu não perdi tempo, devolvi com a mesma animosidade, até que nós duas desistimos e seguimos nossos caminhos.

― Você tem certeza que ele te beijou, Lizzie? ― perguntou Char de repente enquanto almoçávamos.

― Pois é, me pareceu como se ele não tivesse feito isso. ― disse Jane.

― Eu disse a vocês... parecia que ele estava me provocando.

― Hm... aí as coisas mudam. Eu não acreditei até ver a cena no Departamento de Engenharia. ― tornou Char. ― Mas eu também não gostei daquela garota lá. Você viu que ele não deu a mínima para ela, não foi? E ela ainda te olhou daquela forma, como se ele a pertencesse. Idiota.

― É... idiota. ― murmurei.

― Eu acho que Lizzie não devia desistir. ― Jane falou e eu a olhei para ter certeza de que era ela mesmo que estava falando, porque isso não tinha nada a ver com ela. ― A mulher chega do nada e já quer ter ele para ela, como se todo trabalho de Lizzie não significasse nada. Eu continuaria em frente. Por exemplo, Charles está todo estranho comigo. Embora seja carinhoso, desde o verão que ele parece mais como se quisesse apenas a minha amizade. Eu irei lá e o enfrentarei, quero saber o que ele realmente quer comigo. Eu acho que você deve arrancar de Darcy o que ele quer de você antes de desistir. Se ele disser que não quer nada, você simplesmente parte para outra.

Ela não estava presente na conversa minutos atrás?

― Você está louca, Jane? Não ouviu o “como poderia”?

Jane ficou calada, talvez se lembrando do episódio, mas Char tornou a falar:

― Olha, parece louco, mas acho que Jane tem razão. Tá certo que o cara é um cubo de gelo que não derrete de jeito nenhum, mas eu já notei algumas coisas... Primeiro foi ainda no ano passado, quando saímos com a turma e Collins apareceu. Aquilo que Darcy disse... Eu não esperava que ele dissesse aquilo, até o primo dele ficou surpreso depois que vocês saíram. Ele disse que Darcy era sempre frio, mas que vivia esquentando quando você estava por perto. Conhecendo a psicologia masculina como ele conhece, afinal Richard falou que queria cursar Psicologia e vivia estudando desde muito jovem, ele achava que de todas as mulheres que ele conhecia você era a que tinha mais chance. Eu não desistiria agora.

Eu revirei os olhos, afinal tudo aquilo era doido demais.

― Vão comer, vocês não estão bem.

Depois de almoçar e assistir a mais algumas aulas, voltei para casa de metrô junto com Char e Jane. E embora a conversa tivesse sido até agradável, eu não conseguia tirar a tal garota que estava conversando com Darcy da cabeça. Ele estava dando tanta atenção a ela, coisa que demorou meses para poder fazer comigo. Tá certo que rejeitou sair com ela depois, mas ainda assim ela conseguiu em um dia o que eu levei meses para conseguir. Durante a viagem também conversamos sobre Collins. Charlotte havia dito dias atrás que ele não iria para a faculdade, por causa das notas, e me pedido para ir falar com ele, pois ele não andava muito bem. Eu fiz o que ela pediu e conversamos por horas, porque, apesar de eu não querer nada com ele e tentar o cortar sempre que eu podia, nós tínhamos uma grande amizade. Eu não podia sentir menos carinho por ele do que eu sentia por Jane e Char, embora eu soubesse que tê-lo perto de mim poderia machucá-lo.

Depois da ligação de Char, tentei falar com Collins pelo celular. Como ele não me atendia, o procurei nos lugares que a gente costumava frequentar, até que me lembrei de uma lanchonete perto da minha antiga casa que ele sempre me levava. Chegando lá, não fiquei surpresa em encontrá-lo sentado sozinho em uma mesa, apenas com uma latinha de refrigerante. Me aproximei sem que ele notasse e me sentei na cadeira que ficava à frente dele, fazendo-o levantar o rosto e olhar na minha direção.

― Você me achou. ― falou baixo, seu olhar sem vida.

― William...

― Como sabia que eu estava aqui? ― ele tornou a falar.

― É meio óbvio.

Ele sorriu, mas não foi um sorriso que chegava aos olhos. Como ele não falou depois disso, eu vi que teria que falar novamente:

― Me falaram que você não está querendo ir para a formatura.

― Elas falaram! ― resmungou irritado.

― Sim, elas se preocupam com você.

― Desnecessariamente.

― Não, Collins, não é assim. ― assegurei.

― Elas te contaram? ― indagou de cabeça baixa e eu sabia sobre o que ele falava. ― Que eu não entrei em nenhuma faculdade?

Eu não estava feliz com aquela conversa, afinal ver um amigo passando por algo assim não era uma coisa que me deixava confortável, mas eu sabia que ele estava precisando de mim.

― Sim, elas contaram. Mas elas também falaram que outras pessoas também não conseguiram. ― falei tentando sorrir. Ele ficou em silêncio, olhando através da janela, mas logo falou de novo:

― Eu... tinha o sonho de fazer algo grande.

E foi então que eu consegui sorrir.

― O que você quer dizer com “algo grande”? ― perguntei.

― Eu ainda não sei... Mas só tenho esta vida. Um homem deve fazer algo grande em sua vida e casar com a mulher que ama para formar uma grande família. Pensei que para fazer algo assim, um homem precisaria ter conhecimento, se formar em uma faculdade e conseguir um bom emprego. ― pausou, ficando em silêncio enquanto olhava as pessoas caminhando na rua: ― Mas... eu nem sequer consigo olhar para a cara daquele podre do Darcy.

Eu não entendi muito bem...

― Darcy?

― Sim, Darcy. ― ele falou quando finalmente seus olhos pousaram em mim: ― Ele sabe que eu a amo acima de tudo, mas nem sequer consigo entrar em uma universidade quando ele pode escolher a que desejar. Não sou um homem capaz. Ele... ele desistiu de ir para Oxford para ir para a mesma universidade que você.

Eu fiquei sem graça, quando ele colocava as palavras daquela forma parecia que a escolha de Darcy era por amor.

― Não foi exatamente assim que aconteceu, Collins, mas...

― Tenho perdido para ele em tudo... me sinto um patético. ― lamentou.

Eu não podia ver o meu amigo daquela forma, então aproveitei para segurar a sua mão que ele tinha apoiado na mesa e ele me olhou.

― Ir para a universidade nem sempre é o caminho para todos. ― comecei. ― Sabe, eu nunca te falei essa história, não é?! Afinal eu nem sabia dela, vim descobrir agora a pouco... Meu pai e o pai de Darcy são melhores amigos, embora eles sejam muito diferentes. Meu pai é filho de uma família comum, dessas que encontramos em cada esquina, enquanto o pai de Darcy é um nobre, o Duque de Dorset. El-

― O quê? Darcy é filho de um duque? ― interrompeu Collins com olhos arregalados. Droga!

― Sim, mas isso não tem tanta importância. Ele não gosta de ostentar isso de qualquer forma, e sempre evita usar o título no dia a dia. Voltando... O pai de Darcy sempre estudou nas melhores escolas, enquanto meu pai sempre estudou em escola pública, até que ele conseguiu uma bolsa de estudos na mesma escola do duque e lá eles se tornaram melhores amigos, já que o duque era tímido e evitava a todos, e todos evitavam meu pai porque ele era pobre. Eles se aproximaram apenas por causa disso. Depois, enquanto o duque, que na época era marquês, foi para Oxford, já que toda família ia para lá, meu pai teve que desistir dessa opção porque meu avô havia morrido e ele precisava trabalhar para sustentar a família. O duque, mesmo sendo nobre e de família rica, ainda tinha uma companhia mundialmente conhecida, enquanto meu pai trabalha para os outros ganhando um salário que mal dá para a gente viver. Mas eles se dão tão bem juntos, se admiram mutualmente.

― Se não admirasse, não teria deixado vocês irem morar lá. ― Collins respondeu sorrindo, mas ainda era aquele sorriso que me recebeu.

― Não é? ― falei sorrindo. ― Mas o que estou querendo dizer é... Eu posso ir para a faculdade e você não, mas isso não significa que iremos deixar de ser amigos, nem que você perdeu para Darcy. Você só precisa encontrar algo em que seja bom, assim como ele é bom em algumas coisas. Assim, quando você encontrar algo em que seja bom, encontrará também esse “algo grande” que quer tanto fazer.

Ele em olhou por alguns segundos, até que se inclinou para frente e apertou minha mão.

― Então, Lizzie... Se eu encontrar esse algo grande para fazer, você poderia me amar?

― Isso já é outra coisa. ― respondi sem graça, não acreditava que ele havia pulado para aquele ponto assim do nada. Ele sorriu e parou de apertar a minha mão, voltando a sentar normalmente.

― Mas é como Darcy disse: “emoções nunca obedecem à razão” e “um dia você odeia alguém, e no outro acorda o amando”.

― Eu não odeio você, Will, só não consigo pensar em você como algo mais que amigo.

― E por mim está tudo bem por agora, mas irei encontrar algo em que serei bom e farei você me amar.

Depois daquele dia não chegamos mais a nos falar, mas as meninas haviam dito que ele havia viajado para a casa de familiares. Eu só esperava que ele realmente encontrasse algo, Collins merecia isso.

Quando finalmente cheguei a casa já era tarde, perto da hora do jantar, então me apressei para o quarto para tomar um banho e vestir algo. Quando, vinte minutos depois, já estava pronta, olhei o relógio do criado mudo e vi que só tinha mais dez minutos para o jantar ser servido. Eu não queria que o jantar atrasasse por minha causa, então saí do quarto e acelerei os passos. Eu estava tão apressada ao sair do meu quarto que não vi muito bem o caminho, acabando por me chocar com alguém. Por sorte não foi algo grande, apenas o suficiente para ambos pararem.

― Qual o seu problema? ― Darcy perguntou irritado.

― Desculpe... eu não vi, estava tentando não me atrasar para o jantar. ― resmunguei. Pelo visto ele também estava, pois deu de ombros e voltou a caminhar. Não deixei ele ir muito longe. ― Bem... Aquela garota de hoje...

Darcy parou e voltou-se para mim.

― O que tem ela?

― Quem era?

Ele ficou em silêncio me olhando, até que cruzou os braços e respondeu:

― Hm... É a Meghara Stefanski.

― Você ainda lembra o nome dela todo? ― me sobressaltei.

― Eu me lembrar do nome de alguém é assim tão difícil?

Bem, ele tinha um ponto.

― Verdade, er... A relação de vocês... Será que ela por acaso gosta de você? ― indaguei, fazendo meu rosto esquentar e, por vergonha, olhei para os meus pés. Ele ficou calado, mas não me arrisquei a olhar.

― Ah, você está com ciúme?

Suas palavras me fizeram olhar para cima, espantada com a capacidade dele de ver as coisas. Mas eu não podia admitir.

― Eu? De jeito nenhum! Não! ― falei rindo sem graça.

― Certo, então. Agora que estou pensando nisso, ela é muito bonita, tem um ótimo corpo e é inteligente. No Ensino Médio foi eleita a mais bonita por três anos consecutivos. Ela também ficou em quinto lugar no Exame Nacional. É raro eu conhecer alguma garota que seja bonita e inteligente, isso até me surpreende.

Eu não podia acreditar que ela era isso tudo, era tão humilhante para mim. Mas uma coisa não fazia sentido.

― Por que uma pessoa como ela ficaria em Derby quando poderia ir para qualquer universidade? ― questionei.

― Quem sabe... Talvez ela tenha outro propósito. Mas por que você está preocupada? Isso é estranho, não foi você quem disse que iria me esquecer? ― Eu arregalei os olhos, surpresa, não podia acreditar que ele havia tocado naquele assunto. ― Não vai dizer que voltou atrás porque nos beijamos e agora não consegue me esquecer?

― E-e-eu não mudei!

― Não mudou mesmo? ― ele perguntou perigosamente se aproximando e eu tive que inspirar fortemente para me controlar. Não iria cair no joguinho dele dessa vez, não iria mesmo!

― Não mudei!

Ele, então, se aproximou ainda mais, passando seu nariz pelo meu maxilar, mas evitando qualquer outro contato. Por mais que a minha mente tentasse bloquear, meu corpo era um traidor, e não precisou muito para que ele notasse o que estava causando em mim.

― Você, Lizzie, pode até dizer que não, mas o seu corpo me diz justamente o contrário. ― sussurrou próximo ao meu ouvido, fazendo com que eu me arrepiasse. Eu não sabia como lidar com aquilo, era uma sensação nova, algo que nenhuma outra pessoa conseguiu despertar em mim antes, então fiquei parada, meus olhos fechados e pedindo mentalmente para que ele fosse logo embora, mas que também ficasse. Era um paradoxo atormentador. ― Acho melhor você sincronizar isso.

Dito isso ele se afastou rindo e foi na direção do piso inferior. Já eu precisei de mais algum tempo para despertar, pois meu corpo ainda estava vibrando pelo seu quase contato, pedindo para que ele se aproximasse novamente. O que havia acontecido comigo dessa vez? Ele não podia ter tanto controle sobre mim!

Nessa mesma noite, depois do jantar, eu me peguei em meu quarto contando tudo para as minhas amigas. Jane ficou perplexa, não podia acreditar no que ele havia feito. Char também ficou perplexa, mas o motivo era diferente, ela não acreditou que eu não havia feito nada. Segundo ela, eu deveria ter aceitado o joguinho e virado contra ele. Mas ela também sabia que eu não era capaz, então não precisou de muito para que ela desistisse.

Depois que o assunto sobre mim parou, por pura pressão minha, já que elas queriam muito continuar se intrometendo na minha vida, as forcei a falar um pouco sobre o que estava acontecendo na vida delas. Char foi a primeira a falar, dizendo que estava com um namorado misterioso, mas que ele não queria assumir porque era um covarde. Quando ela estava quase entrando em detalhes sobre a vida sexual, eu implorei para que parasse, pois eu queria saber o mínimo possível sobre as idas e vindas dela.

Com Jane o caso foi mais complicado. Charles havia ido para Oxford. Mas até aí eu sabia, o que eu não sabia era que ele iria ficar morando lá até concluir a faculdade. A mãe dele, pois o pai já havia morrido, havia comprado uma casa para que ele e a irmã usassem enquanto estivessem estudando lá. Ele era um filho submisso, fazia tudo o que a mãe queria, e a coisa que ela mais queria era ter um filho formado em Oxford. Ele não pôde recusar. Ou foi isso que ele havia dito a Jane. Mas a principal questão era a que ele só tentou beijar Jane uma vez, nas férias. Como ela havia recusado, pois mal o conhecia, ele passou a apenas conversar. Por mais que ela tentasse nada saía do lugar. Ela estava frustrada, mas recusou veemente qualquer tipo de ajuda da char. Ela sabia muito bem o que poderia sair dali!

Depois que finalizamos a ligação, eu pensei sobre Georgie e a relação dela com Richard. Ele, assim como Charles, havia ido embora. Mas, para piorar a questão, no lugar de Oxford, que era ali do lado, ele tinha optado por Harvard. Eu sabia o que tinha levado ele a fazer essa escolha, só não fazia ideia de que ele havia feito. Nem Georgie. Ele só havia falado dois dias antes de ir. Desde então, ela não voltou a ser a mesma, nem parece mais aquela garota sorridente que alegrava todos os cafés da manhã. Todos estavam preocupados. Eu torcia para que Richard voltasse atrás antes que fosse tarde demais.

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O segundo dia de aula foi igual ao primeiro, com a única diferença que as meninas estavam decididas a encontrar um clube para conhecer pessoas novas. Eu não entendia para o que elas queriam aquilo, afinal Char tinha namorado e Jane um que quase poderia ser chamado assim, mas eu não podia fazer nada. De qualquer forma, isso era algo que eu deveria fazer, afinal desde que as aulas terminaram que minhas amizades se resumiram a Jane, Char e Georgie. Eu devia procurar amigos novos, então um clube até que era uma boa ideia. Mas eu não queria qualquer clube, queria um que Darcy estivesse... embora fosse idiota, seria legal voltar a fazer parte da mesma coisa que ele, uma vez que nossos departamentos não ficavam tão próximos. Ainda assim eu não estava indo modificar isso, seria humilhação demais para mim.

― Mas, Lizzie, eu fiquei pensando bastante sobre a nossa conversa de ontem, sobre a Meghara Stefanski. ― Jane disse de repente. Eu virei-me surpresa.

― O quê?

― Você disse que ele falou que acha ela linda e inteligente, elogiou até o corpo... E sabemos que beleza ela tem mesmo.

― Sim, eu sei. ― respondi emburrada. Eu não queria lembrar daquilo.

― Ela é tipo uma versão feminina do próprio Darcy.

Eu também sabia daquilo, então não me dignei a responder.

― Fale logo aonde você quer chegar, Jane. ― Char falou quando percebeu que eu não iria falar.

― Certo. O que quero dizer é que é óbvio que ela e Darcy formam um belo par.

― Ei, para de agourar! ― interrompi elevando a voz.

― Desculpa, Lizzie. Mas precisamos ser realistas. E, pelo que vimos ontem, é óbvio que ela irá atrás dele. Você está em sérios problemas.

Como se eu não soubesse disso. Isso era seriamente um grande problema. Porque antes, mesmo que ele chamasse atenção onde fosse, ninguém ousava investir nele por muito tempo. Ele era algo como “o sonho perdido de toda mulher”. Elas olhavam, cobiçavam e partiam. Apenas isso. Mas era óbvio que a Stefanski não iria desistir facilmente. E o pior de tudo é que ela era um tipo de amiga com segundas intenções. Estaria sempre perto, esperando uma brecha ou até mesmo criando uma.

Depois que nos separamos fomos almoçar. As meninas escolheram rápido, mas eu ainda fiquei na dúvida entre os pratos, falando alto os tipos enquanto tentava decidir.

― Almoço A, bife acebolado; almoço B, camarão empanando; e almoço C, hambúrguer.

― Você não consegue pensar sem dizer as palavras em voz alta? ― falou Darcy enquanto se aproximava com uma bandeja para ficar ao meu lado. Eu iria responder, mas não consegui ser rápida o suficiente: ― Gostaria de um almoço A. ― ele falou para uma das atendentes.

― Eu também quero esse! ― me apressei a dizer.

― Agora mesmo! Almoço A para os dois. ― uma voz estranha respondeu, vindo do fundo. Esperamos algum tempo até que nossas refeições foram servidas. Para nossa surpresa, o meu prato estava repleto, enquanto o de Darcy mal dava para alimentar uma formiga. O que tinha acontecido ali? Nossos pratos deviam ser iguais, não deveria existir tal diferença entre eles! Darcy olhou para o meu prato, confuso, até que se abaixou para falar com o atendente da voz estranha que estava ao fundo.

― Ei, por que as porções são tão diferentes? ― ele falou, sua voz algumas oitavas acima do normal. Ele não se alterava facilmente.

― O que está havendo, senhor? Tem alguma reclamação? ― O atendente da voz estranha respondeu se aproximando, seu rosto abaixado para que o chapéu o cobrisse. Mas levantando a cabeça para ver seu rosto, tornou a falar: ― Está querendo dizer que as porções justas são muito pequenas? Você é bem descarado, senhor Gênio.

Ali, na minha frente, vestido em um uniforme de uma dos restaurantes da faculdade, estava uma pessoa que eu não esperava encontrar: William Collins!

O que diabos ele estava fazendo ali?

― Will? ― indaguei chocada.

― Minha linda Lizzie!

― Ei, não pode ser. O que você está fazendo aqui? Você deveria estar na casa da sua avó!

― Isso aí! Foi isso que eu falei para todos, mas na verdade eu estava procurando uma forma de mostrar o meu valor. Então pensei em tudo o que conversamos e decidi que iria fazer aquilo que eu mais gostava, sendo assim me matriculei em um curso de culinária. Estudo lá à noite, mas enquanto não me formo eu resolvi arrumar um emprego aqui para poder cuidar da minha futura esposa. Estou ganhando um bom dinheiro aqui e irei ganhar ainda mais em alguns meses, quando finalmente começar o meu estágio em um restaurante de prestígio. Logo poderemos nos casar. Além do mais... ― Então, virando-se para Darcy, ele tornou a falar: ― Eu preciso te proteger desse demônio aqui! O que foi? Está tão surpreso que perdeu a fala? ― ele finalizou, agora falando diretamente para Darcy.

Darcy arqueou as sobrancelhas, logo em seguida começou a bater palmas.

― Sim, claro. Muito bem feito.

― É só isso que tem a dizer? Está realmente sem palavras, não é?! ― tornou Collins.

― Sim, estou verdadeiramente impressionado... que um homem seja capaz de mudar sua vida por uma garota. Não sou capaz disso. ― respondeu com desdém, já começando a se afastar. Collins, irritado, tornou a falar:

― Ei, o que você disse?

― Irei deixá-los sozinhos agora. Por favor, aproveitem.

Depois, se aproximando de outro atendente, uma mulher, reclamou do tamanho da porção que ele havia recebido. A mulher prontamente concordou com ele, adicionando mais comida ao prato. Todos sempre faziam a vontade dele, embora tivesse que admitir que ele estivesse certo nesse caso.

Não demorei muito com Collins, peguei o meu almoço e fui me sentar com as minhas amigas. Darcy não estava muito longe, mas algo me impediu de tentar sequer me aproximar. Eu não me sentia mais tão próxima a ele, principalmente porque não estudávamos mais na mesma sala, sequer no mesmo departamento. A vida estava nos afastando e eu tinha medo do que poderia vir a seguir. Eu me encontrava no meio de um dilema, e de cada lado tinha um homem. De um lado estava Darcy, com toda a sua arrogância; do outro tinha Collins, com aquela atenção que sempre me dava. Eu não sabia o que fazer, a minha única certeza era o amor que eu sentia por um deles.

― O que foi isso? ― Char perguntou depois que eu soltei um suspiro de resignação.

― Quanto mais eu penso em tudo, mais vejo como as coisas se encaixam. Talvez eu só devesse seguir a correnteza e ir para Collins...

― Cruzes! ― exaltou-se Char. ― Você não pode estar falando sério, Lizzie! Veja, ele é muito bonito, mas ainda assim talvez não seja para você. Você precisa de alguém mais maduro. Ainda assim, há algo que você precisa aprender com ele: um homem tende a se apaixonar por uma mulher que esteja perto.

― É... Embora vocês dois estejam na mesma faculdade, estão em departamentos completamente diferentes... Ele no de engenharia e você no de literatura. Estão em Campus diferentes. Não será o mesmo que no Ensino Médio. ― falou Jane.

― Meghara Stefanski tem uma grande vantagem, afinal está no mesmo departamento.

― Verdade. Além do mais, ela é linda e tem um corpo perfeito. ― afirmou Jane. ― Nem sempre os homens se importam com outra coisa além disso.

Ai, droga. Por mais que eu não gostasse de escutar aquelas coisas, eu tinha que dar crédito a elas. Como minhas amigas, eu sempre pedi para que fossem sinceras comigo, não seria agora que iria pedir para fazer o contrário. Isso tudo era tão ruim.

Eu suspirei novamente enquanto dava mais uma garfada na comida e levava até a boca. Mas foi enquanto eu estava comendo que um cara entrou correndo.

― Darcy! ― gritou, chamando atenção de quase todo refeitório.

― Depardieu. ― Darcy respondeu. Eu tentei ouvir o que eles falavam depois disso, mas foi difícil. Por sorte o cara estava muito exaltado.

― Fiquei muito surpreso quando me disseram que você estava nesta universidade. ― Darcy falou alguma coisa, mas não escutei. ― Você sabe o que quero, não é? ― tornou a falar o tal Depardieu, segurando o braço de Darcy. Darcy falou mais alguma coisa e voltou a comer, mas Depardieu não parecia que iria desistir: ― Por favor! Eu quero você!

A voz dele era tão alta que todos viraram surpresos. Então, para meu completo assombro, alguns burburinhos começaram. Claro, isso não incluía Char, ela estava gargalhando ao meu lado.

― Eu sabia que era gay!

Eu implorei para que ela calasse a boca para que eu pudesse ouvir mais alguma coisa, o que ela fez. Por sorte Darcy ainda parecia estar constrangido pelo que o tal Depardieu havia feito e não tinha respondido nada. Enfim ele respondeu algo e o tal cara estranho tornou a falar:

― Não! Vou pedir quantas vezes for necessário até você aceitar. ― Irritado, Darcy se levantou com sua bandeja e começou a se afastar. Depardieu o seguiu: ― Vamos, Darcy. Eu não poderei sobreviver sem você!

Darcy voltou-se para ele, seu rosto uma carranca que pouco afetou sua beleza:

― Certo, aceito.

O quê? Ele aceitava o quê?

― Sério? Você aceita? Obrigado! Estou tão feliz! Só em ter seu nome no nosso clube já é o suficiente!

Então uma luz brilhou! Um clube... ele estava sendo convidado para entrar em um clube... Graças a Deus ele não era gay!

Char bufou do lado.

― Droga, não foi dessa vez que confirmamos.

― Eu tive uma ideia! ― disse Jane de repente e nós duas olhamos para ela. ― Por que você não entra no mesmo clube que ele? Já que não podem estudar juntos, pelo menos terão outras coisas em comum.

Eu suspirei, isso seria ridículo.

― Você só pode estar brincando, Jane. Isso seria ainda mais idiota do que ficar atrás dele por todos esses anos, mesmo depois da rejeição. Não sei se posso ir tão longe assim.

― Ah, Lizzie. Você realmente o quer? Porque se não quiser basta desistir e deixar ele para a Stefanski.

― Mas isso não tem nada a ver com fazer o papel ridículo como esse... ― tentei. Char foi a próxima que entrou na conversa.

― Bem, você não é obrigada a nada, Lizzie. Mas se quer tanto ele, fazer isso não seria tão difícil assim. E também você não precisaria ficar para sempre, basta só ver se dá para ficar por um tempo. Caso o clube não seja tão bom assim, você ainda poderá sair. Eu entraria, não vejo como pode ser tão ruim assim.

Enfim, elas tinham um ponto. Eu poderia entrar no clube e ver como as coisas ficariam. Mas, por mais que eu soubesse que poderia fazer isso, ainda assim eu achava aquilo tudo muito ridículo. E ainda tinha o fato de não saber qual clube seria esse. Que idiota entraria em um clube que não sabe nem qual é? Por Deus, algo me dizia que eu seria uma. Droga!

Não precisei muito para tomar a minha decisão. Enquanto esperava o Sr. Reynolds vir me buscar, o que ele fez por insistência de Maggie que queria todos em casa antes das 17hrs, continuei pensando sobre o que deveria fazer. Mas foi só quando ele chegou que tomei a minha decisão. No carro, ao lado de Darcy, estava Stefanski, seu sorriso aberto e seu corpo levemente inclinado para o de Darcy. Se eu não o conhecesse, poderia jurar que eles estavam em algum tipo de relacionamento amoroso. Eu não iria permitir aquilo!

Para minha surpresa, Darcy desceu do carro e foi sentar ao lado do Sr. Reynolds, deixando o lugar ao lado de Stefanski para mim. Eu sentei na hora, afinal não queria que ele voltasse para o lado dela. Depois disso tivemos a viagem mais silenciosa possível, até que Meghara ficou em algum ponto do caminho entre a faculdade e nossa casa e pudemos seguir em frente, com finalmente o Sr. Reynolds conversando comigo, coisa que ele só fazia quando eu estava só, o que achei estranho.

O jantar seguiu normalmente, mas foi quando estávamos na sala de estar, depois do jantar, que eu criei coragem e me aproximei de Darcy, que havia acabado de terminar de tocar uma música ao piano, algo que eu não conhecia, e estava empenhado em procurar algo para tocar entre as partituras.

― Darcy...

Então ele virou-se para mim, parando de mexer nas folhas antigas.

― Sim?

― É... hoje... Bem, você vai entrar em um clube, certo?

Ele sorriu, os cantos dos lábios esticando lentamente. Depois, quando eu achava que ele iria responder, ele fez um sinal de negação com a cabeça.

― Não vou falar.

Como assim? Como ele não iria falar?

― Por que não?

― Porque sinto que se te contar... você vai tentar entrar. E eu não quero você no mesmo clube.

Dizendo isso, ele começou a dedilhar outra música. Eu sabia que a partir dali ele não iria mais me responder, então me afastei irritada.

Eu não estava acreditando que ele não iria me falar. Mas se era assim não tinha problema, eu iria descobrir sozinha.

Acordei no dia seguinte decidida, embora que ainda receosa de estar fazendo papel de idiota. Mas, de qualquer forma, eu não poderia simplesmente desisti da coisa que eu mais queria. Abrir mão do que eu sentia era algo muito difícil, quase impossível, então eu teria que ir pelo caminho mais fácil: lutar por ele. E se lutar era fazer coisas que eu normalmente não faria, eu estaria lutando. Eu queria Darcy e iria fazer de tudo para consegui-lo.

Assim que eu cheguei ao campus, Char e Jane pularam em cima de mim perguntando se eu havia perguntando.

― Foi como se ele soubesse o que eu estava pensando. ― resmunguei assim que terminei de contar todo o ocorrido.

― O esperado para um gênio. ― disse Jane.

― Mas eu não desistirei! ― afirmei. ― Ainda hoje irei descobrir em qual clube ele vai entrar!

E eu não desisti.

Durante todo o dia negligenciei as minhas aulas, sempre no encalço de Darcy, estando ele na sala de aula ou não. Eu me sentia mal por estar fazendo aquilo, mas eu iria fazer de qualquer forma. Eu só não queria me arrepender depois.

Darcy passou a maior parte da manhã na sala de aula, saindo apenas no intervalo. E, nesse ponto, embora eu já estivesse cansada, o segui por todo caminho que ele fazia. Passamos quase meia hora andando, mais tempo do que eu esperava, mas isso ainda não foi suficiente para eu desisti. O segui por alguns corredores, entrando em salas vazias e saindo por uma porta paralela. Eu não entendia o que ele havia ido fazer ali, uma vez que nem sequer ficava um minuto. Depois do que me pareceu muito tempo, finalmente ele entrou em uma sala. Eu entrei atrás dele, mas, para meu desgosto, havia muitos rapazes e Darcy não estava em lugar algum. Onde ele havia ido parar?

― Ei. ― falei com um dos garotos, um loiro que estava mais próximo. ― Você viu o cara que entrou aqui?

O cara pareceu confuso, mas depois de alguns segundos assentiu.

― Ele entrou e saiu pela porta lateral. ― falou apontando para a outra porta. Droga, ele havia feito novamente!

Sai apressada, com medo de perdê-lo de vista, mas cheguei a tempo de encontrá-lo parado no corredor, olhando para mim. Não acredito que ele havia notado que eu estava seguindo! Meus olhos se arregalaram ao perceber que ele havia me visto e, diante do meu assombro, ele sorriu e piscou, voltando a andar, agora mais rápido. Como eu não consegui andar tão rápido quanto ele, o perdi de vista. Mas ainda assim não desisti. Continuei seguindo, irritada por tê-lo perdido de vista e já estava perto de desisti quando avistei Meghara encostada a uma porta.

O que ela estava fazendo ali?

Não demorou muito para eu descobrir, pois Darcy se aproximou dela.

― Está atrasado, eu disse que deveríamos vir juntos. ― falou Stefanski.

― Você decidiu isso sozinha. ― replicou Darcy em seu tom costumeiro. Isso!

Mas...

― Não importa, afinal estamos entrando para o mesmo clube. ― sorriu Meghara.

Espera! Eles estavam entrando para o mesmo clube? É isso mesmo? Eles já estavam tão íntimos que até decidiam as coisas juntos? O que eu estava perdendo ali?

Eu descobriria isso depois, pois ambos entraram em uma sala e eu os seguir, abrindo a sala rapidamente e dando de cara com um círculo repleto de moças e rapazes. Todos pareciam normais, então eu não estava entrando em uma furada, certo?

― Quem é você? ― perguntou um homem mais velho, aparentando uns 23 anos, que estava mais ao fundo. Ele até poderia ser bonito, mas a carranca que preenchia a sua face evitava que qualquer pessoa pensasse em algo além do quão desagradável ele era.

― Eu... eu... eu estou aqui para fazer parte do clube. ― respondi sorrindo, embora estivesse muito nervosa com todos os olhos em mim.

― Quem te indicou? ―ele tornou a perguntar.

Indicar? Como assim indicar? Ninguém havia me falado nada sobre precisar ser indicado para entrar em algum clube de faculdade!

― Ninguém me indicou, mas... eu queria muito participar deste clube de... ― fiquei procurando algo que pudesse me guiar, até que vi um nome no cartaz que estava pregado na parede. O que eu havia feito? De qualquer forma eu devia continuar, depois eu pensaria nas consequências. ― tênis. Eu... eu sempre pensei que me uniria ao clube de tênis assim que entrasse em Derby!

Eu esperava que tivesse passado a confiança que não tinha, afinal aquele era o último lugar onde eu queria estar. Eu deveria amar mesmo Darcy para estar fazendo aquilo, mas, mesmo amando, eu nunca teria entrado se soubesse que era o clube de tênis. Era algo que eu não faria nem por todo amor do mundo, mas eu não poderia sair humilhada na frente da Stefanski que me olhava com desdém, nem na de Darcy que parecia divertido. Eu estava longe de me sentir com bom humor. Mas uma vez que eu estava ali, não iria sair sem fazer parte daquele clube!

― Isso é ótimo, capitão! Se todos entrassem com esse entusiasmo, nosso clube seria o melhor do mundo! ― falou o mesmo cara que havia falado com Darcy no intervalo, o tal Depardieu. Agora, com calma e distância suficiente, eu podia ver que ele era um homem interessante, com um rosto em um formato perfeito que exalta o maxilar e estatura de um homem convicto. Ele tinha também um corpo bem distribuído, que deixava claro que não passava um dia longe de uma academia, e uma pele levemente bronzeada, talvez da exposição contínua ao Sol. O único problema dele era um bigode muito fora de moda que ele ostentava. Ele não tinha noção não? ― Qual o seu nome? ― ele tornou a falar se aproximando de mim. A empolgação dele foi o suficiente para me fazer esquecer o que estava fazendo.

― Elizabeth Bennet. ― respondi sorrindo.

― Elizabeth! Venha, venha. ― falou me puxando pelo braço para que eu entrasse na roda. ― Sou Henry Depardieu e estou responsável pelos novos membros. Estávamos a ponto de começar uma festa de boas vindas para nossos membros novos. Você fique aqui.

E ele foi se aproximar do tal líder, o que falou comigo logo que entrei, pousando ao lado dele.

― Irei começar as explicações. ― começou o líder. ― Se tiverem alguma dúvida, por favor, perguntem ao Depardieu.

E nisso começaram as explicações, algo que demorou tempo demais para o meu gosto. Nesse meio tempo eu tive que aturar a forma como a Stefanski se jogava para Darcy e, para piorar tudo, não podia fazer nada. Por que ela simplesmente não desaparecia? Quando finalmente o tal capitão terminou de falar, todos foram convidados a se servir dos lanches de boas vindas que estavam dispostos. Eu alcancei um pouco de suco, pois a minha garganta estava seca de tudo o que eu havia andado, e parei em um dos sofás. Henry se aproximou e conversou um pouco comigo, depois se afastou. Meghara se aproximou e se sentou. Eu achei estranho, mas foi só quando levantei a cabeça que vi que Darcy também tinha sentado. Ela estava forçando a barra já.

― Então, você joga tênis bem? ― perguntou Meghara.

― Não posso jogar.

― Você não deveria ter vindo se nunca jogou. Você obviamente pensa que tudo aqui é brincadeira, que é para isso que um clube serve.

― O que está querendo dizer com isso? Depardieu disse que não somos obrigados a jogar. Se não pudemos, podemos participar mesmo assim. Ele disse que só preciso ser sincera sobre o meu objetivo para participar do clube.

― Depardieu?

― Sim.

― Deixe-a, ela normalmente é estúpida. ― resmungou Darcy de repente.

― Certo. Realmente parece assim. ― replicou Stefanski sorrindo.

Eu não entendi bem o que eles queriam dizer, mas deu de ombros de qualquer forma. Eu não seria obrigada a jogar e ainda assim participaria do mesmo clube que Darcy, o que me proporcionaria passar mais tempo com ele. Não via problema nisso.

Quando todos estavam se alimentando, Depardieu tornou a falar:

― Agora que todos já desfrutaram do banquete que foi preparado, vamos às apresentações dos novos membros. Está se juntando a nós o vencedor do torneio nacional do colegial do ano passado, Marquês Fitzwilliam Darcy. ― Ao ouvir seu nome Darcy se levantou e todos começaram a bater palmas, algumas meninas até suspiraram. ― Há também outro participante que estava no mesmo torneio, ficando em segundo lugar na divisão feminina, Meghara Stefanski. ― Ao ouvir seu nome, Meghara levantou-se para receber as palmas dirigidas a ela.

Depois disso iniciaram as apresentações. Nome por nome todos os integrantes novos foram apresentados e falaram alguma coisa, até que chegou a minha vez.

― Olá, sou Elizabeth Bennet do departamento de literatura. ― sorri para todos. Quando eu estava me sentando, porém, Stefanski falou sorrindo:

― Com licença, mas há quanto tempo você tem jogado tênis?

Eu gelei, não podia acreditar que ela estivesse dizendo aquilo. Ela estava mesmo falando aquilo na frente de todos? O que ela esperava com aquilo?

Eu respirei fundo, precisava me controlar para não fazer alguma besteira, como pular em cima dela e quebrar o seu pescoço. Ela merecia que eu fizesse isso!

― Eu... eu não jogo tênis.

Todos, sem exceção, começaram a rir. Stefanski principalmente, seu sorriso de triunfo era irritante. Eu fiquei pensando se valeria a pena ficar calada e vê-la tripudiar sobre mim, mas não era como se isso fosse resolver alguma coisa. De qualquer forma, eu deveria fazer alguma coisa para mudar as coisas, certo? Mas isso poderia causar problemas no futuro, então achei melhor me calar diante dos risos e olhares de pena.

Enquanto eu pensava sobre as minhas lamentações, pouco a pouco os membros foram se dissipando e só iriam se encontrar no dia seguinte. Seria ótimo ter mais aquela noite para ficar um pouco só. Mas quando cheguei em casa pude ver que o meu pesadelo só estava conversando. Maggie, juntamente com Georgie, havia descoberto de alguma forma que eu havia entrado no clube de tênis e tinha comprado vários conjuntos de roupas para jogar, e duas raquetes femininas, além de alguns pares de tênis. Eu não podia acreditar naquilo, mas tentei segurar meu choque e descontentamento e fingir que aquilo que elas haviam feito era a coisa mais maravilhosa que poderia me acontecer.

― O que acha, Lizzie? ― indagou Maggie assim que eu me aproximei dela e de Georgie. Elas estavam sentadas em um dos sofás da sala de estar, as peças espalhadas por alguns móveis.

― Isso é tudo para mim? ― perguntei sorrindo. Ambas balançaram a cabeça dizendo que sim.

― Acho tão bom que você vai jogar tênis com Fitzwilliam! ― tornou Maggie. Eu sorri. Essa era a parte boa da coisa. ― Eu jogava muito bem quando jovem.

― Sério? ― perguntei surpresa. Maggie sorriu mais abertamente, mas tornou a falar:

― Sim. Ensinei a Fitzwilliam quando ele começou a jogar!

― Oh.

Eu até pensei em falar mais alguma coisa, mas justamente nesse momento Darcy entrou na sala, mudando de ideia e se voltando para sair assim que nos viu. Maggie foi mais rápida, chamando a atenção dele antes que ele pudesse sair.

― Fitzwilliam, o que achou do uniforme de Lizzie?

Parecendo irritado, Darcy voltou-se para a gente novamente. Quando eu pensava que ele só iria revirar os olhos e sair, ele se aproximou e olhou para as peças de roupas que Maggie segurava.

― Nunca é uma boa ideia começar escolhendo o uniforme.

Depois ele só se afastou novamente e deixou a sala. Quando finalmente tive coragem de olhar para Maggie, ela estava me olhando confusa. Eu sentia que ela estava começando a compreender tudo, então me apressei para desviar do assunto. De qualquer forma era algo que não deixava a minha mente desde o momento que eu havia encontrado Darcy com aquela Stefanski... e eles sempre estavam juntos. Isso me irritada.

― Maggie, você acha que ele só gosta de mulheres muito bonitas e inteligentes? Tipo... uma mais compatível com ele.

Maggie ainda devia estar refletindo sobre o que havia acontecido antes, pois foi Georgie que me respondeu.

― Para meu irmão, seria como colocar uma peruca e beijar o espelho, Lizzie. Muito enfadonho. Ele pode ter bom gosto, mas não é algo tão superficial assim que ele olha.

Isso não foi de grande ajuda, porque afinal era a opinião de Georgie, não de Darcy. Georgie era uma mulher e não olhava muito para essas coisas, mas Darcy era homem... E, bem, homens são homens.

― Lizzie, não me diga que tem uma mulher assim perto dele? ― disse Maggie, depois de alguns segundos. ― Eu apenas assenti. ― Não acredito! Eu sabia que ele era alguma coisa, mas não que era tão popular! Ele é tão preto no branco e, às vezes, tão bruto que pensava que espantava as garotas.

Nesse momento Georgie bufou e revirou os olhos.

― Não se preocupe com isso, Lizzie. Por hora só se faça presente. Não importa quem ela seja, você é sem dúvidas melhor para ele que qualquer outra.

Eu sorri sem graça, seria uma boa dar um pulinho e fugir dali.

― Eu também acho isso, Lizzie. Pelo que observei, só você poderia aturar o mau gênio do meu menino.

Continuamos conversando por mais algum tempo, até que eu falei que estava cansada e subi para o quarto, mas não antes de pedir para que lavassem o meu uniforme, pois precisaria usar no dia seguinte.

No dia seguinte, logo depois das aulas, me juntei aos membros do clube de tênis para o teste de habilidades. Mesmo sabendo que não precisaria pegar em uma raquete, fiz questão de levar a minha, afinal se eu estava na chuva era para me molhar.

― Olha, você chegou! Como vai, Bennet? ― disse Depardieu assim que eu cheguei, em seu rosto um sorriso aberto e acolhedor. Henry, até aquele momento, se mostrou ser a melhor pessoa naquele clube. Eu sorri e disse que estava tudo bem. ― Bom, bom. Agora preciso ir. Até mais, Bennet.

Falou sorrindo e se afastou. Depois disso eu me juntei aos outros membros, que estavam em volta do capitão que dizia alguma coisa referente ao teste daquele dia. Quando ele terminou de falar, ficamos sabendo que Depardieu ficaria responsável por todo o teste. Eu sorri feliz, sabia que não haveria problemas naquele dia.

― Que ótimo, isso vai ser perfeito. Depardieu é muito legal!

Meghara, que estava próxima a mim, me olhou estranho. Eu não entendi muito bem o seu olhar, principalmente o que Darcy falou depois, se aproximando:

― Pelo que parece, você não entendeu a situação. ― Depois deu de ombros, se afastando. ― Deixe-a, Meghara, vamos treinar.

Eu não pude pensar sobre Darcy tratar a Stefanski pelo primeiro nome, pois a coisa mais estranha aconteceu. Depardieu, assim que entrou na quadra, mudou completamente e todos passaram a ter medo dele. Todos, absolutamente todos, perdiam para ele. Até eu comecei a ficar com medo, mas deixei de lado assim que lembrei que não precisaria jogar. Então chegou a vez de Stefanski. Ela, para minha surpresa, jogou até bem, pois Depardieu começou a diminuir o ritmo, mas acredito que ela jogaria bem até se ele continuasse da forma que estava antes, ela conseguia lançar a bola em lugares que seriam quase impossíveis de alguém pegar... o problema era que a habilidade de Depardieu era muito superior, quase igual à...

Enfim. Quando o jogo entre eles acabou, com Depardieu ganhando, claro, chegou a vez de Darcy. Depardieu mudou novamente, lançando a bola com uma fúria que muito me surpreendeu. Mas, para o azar dele, Darcy ganhou e isso foi o suficiente para Depardieu se enfurecer. Por outro lado, Darcy se afastou da quadra, dando de ombros.

― Volte aqui, Darcy! Vamos terminar isso! ― gritou Depardieu do outro lado, mas Darcy revirou os olhos.

― Esse não é o objetivo, Depardieu. ― e depois se sentou em um dos bancos da lateral.

Nesse momento meus olhos se voltaram para Depardieu, que poderia atacar qualquer um que ousasse se aproximar dele.

― Não acredito, o marquês deixou Depardieu furioso. O próximo estará com sérios problemas! ― murmurou um carinha que estava ao meu lado, seu rosto mostrava o medo de que ele próprio fosse o próximo. Eu também fiquei com medo por ele.

Mas eu não precisava, porque...

― Elizabeth Bennet!

O quê? Que diabos ele pensa que estava fazendo?

Como eu o olhei confusa, Depardieu me fuzilou com o olhar.

― Isso mesmo! Quem entra em um clube de tênis deve jogar! Ou vem, ou sai!

Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo? Como ele podia fazer uma coisa assim comigo? Ele não havia dito que eu não precisaria jogar por enquanto, apenas tentar fazê-lo com o tempo? Quem ele achava que era?

― Vamos, Bennet! ― gritou o capitão do outro lado. ― Ande logo com isso, ainda tem outros novatos depois de você!

Eu resmunguei irritada, mas caminhei até o lugar onde deveria ficar. Eu não sabia bem o que estava fazendo, apenas que não queria sair do teste àquela altura. Georgie havia me dito para estar presente, eu não poderia deixar o lugar para aquela Stefanski pegá-lo de mim. Eu teria mais chances ficando ao lado dele.

Com isso em mente, me posicionei e fiquei à espera da fatídica jogada. Jogada essa que não demorou muito, pois Depardieu a lançou com toda a força que julguei possível. Eu, no entanto, travei e só pude segurar a raquete para proteger meu rosto, mas ela não foi o suficiente e a bola atingiu em cheio o meu nariz, me fazendo cair no chão no mesmo instante. Nesse momento todos correram até mim e eu senti quando alguma coisa começou a descer pelo meu rosto. Depois, perto a consciência.

Não lembro se alguma agitação se formou, só que fui levada para o hospital da faculdade e tive a infeliz notícia de que havia quebrado o nariz. Meu pai, Maggie e Georgie chegaram logo depois, desesperados para saber o que havia acontecido. Depois que eu falei, ela se enfureceu com Darcy, pois, ele não havia feito nada para me proteger. Ela se irritou mais ainda porque, até onde sabíamos, ele não havia me levado para o hospital, mas sim Depardieu, que até aquele momento me olhava, mesmo sem se aproximar. Meu pai, por outro lado, estava me olhando triste, não falando muito depois que o médico disse que tudo ficaria bem depois de alguns dias, pois ele já havia colocado meu nariz no lugar. Georgie sugeriu que eu poderia aproveitar e fazer uma plástica, mas Maggie exclamou irritada para ela parar, pois eu já era perfeita assim como estava. Eu não tinha muito que falar sobre meu rosto, achava que era muito bom, embora pudesse ser mais bonito, eu não poderia me sentir bem depois de mexer nele. Eu não poderia dizer a mesma coisa dos meus peitos...

O dia seguinte foi mais difícil. Eu estava com um curativo irritante bem no meio do rosto, mas não podia fazer nada quanto a ir para a faculdade. Não podia reprovar de forma alguma. No entanto, assim que fui almoçar, não pude suportar o espanto com que Collins me olhou.

― Lizzie! O que aconteceu com você? ― ele gritou do outro lado, correndo para me alcançar.

― Não foi nada. ― respondi dando de ombros.

― Mas por que ele está assim? ― perguntou novamente. ― Meu Deus, ele está torto!

Eu me desesperei!

― O quê? ― perguntei nervosa.

― Não, foi engano meu. Mas o que aconteceu? ― ele falou novamente me olhando atentamente.

― Não minta para mim! Está torto mesmo?

― Não, não. Mas venha comer, você parece pálida demais, depois me conte o que aconteceu.

Eu olhei para as comidas, meus olhos já se enchendo de lágrimas ao lembrar o que havia acontecido mais cedo.

― Eu não posso comer... isso dói demais. Tudo aqui pede para mastigar, vou apenas tomar um suco.

― Não fará isso! Irei preparar alguma coisa para você comer, um dos meus pratos especiais. ― respondeu Collins sorrindo, mas eu podia ver o quanto ele estava preocupado. ― Mas me diga, como isso foi acontecer?

Eu não precisei responder, pois Charlotte e Jane chegaram nesse exato momento.

― Ela entrou para o clube de tênis e levou uma bolada na cara. ― disse Char rindo. Collins a fuzilou e eu conseguia vê-lo matando Char a facadas. Às vezes a proteção de Collins vinha a calhar.

― Por que você entrou para um clube assim? Não lembro de você jogando tênis, Lizzie! ― disse Collins, seu olhar preocupado. Eu me senti mal por ele, mas a dor no meu nariz foi o suficiente para me lembrar de que eu precisava me sentir mal por mim. Alguém chamou Collins e ele teve que ir. ― Logo trago algo especial para você comer, Lizzie. Espere!

― Lizzie, você deveria dar mais valor ao Collins. Ele está todo preocupado com você, enquanto Darcy nem sequer te levou para o hospital.

― Esqueça, Jane.

― Bennet! ― Escutei uma voz que eu não queria ouvir se aproximar. Eu não podia acreditar que ele ousava falar comigo! Me levantei para tentar sair dali, mas ele chegou até mim antes que eu pudesse correr. ― Ei, para onde está indo?

― Para longe de você! ― respondi irritada.

― Ei, por que está tão irritada? ― perguntei ousando parecer surpreso, mas eu pude ver que no fundo dos seus olhos ele também estava com medo da minha reação.

― Porque você me disse uma coisa e depois voltou atrás. Para piorar, você quebrou meu nariz e parece que ele está torto! ― falei irritada. Ele começou a olhar para meu nariz, preocupado, depois me encarou.

― Você está doida? Ele não está torto! Me desculpe, eu deveria ter tomado mais cuidado com você, não foi certo lhe submeter a algo tão pesado ainda no primeiro dia. Mas lhe garanto que no treino de hoje irei pegar mais leve.

― No treino de hoje? Você ousa falar em treino de hoje? ― respondi irritada. ― Meu nariz está quebrado, estou totalmente proibida de fazer qualquer tipo de exercício, principalmente um que possa danificá-lo ainda mais. Não irei treinar.

Ele pareceu um pouco surpreso pelo meu tom, mas logo ficou sem graça.

― O problema, Bennet, é que você é novata. Exceto em casos em que esteja presa a uma cama, não poderá faltar ao treino no primeiro mês. Mas prometo que irei arranjar algo para você fazer que não seja perigoso para seu nariz.

E arranjou. Fui obrigada a pular ao redor da quadra, junto com alguns outros calouros, e ainda fiquei responsável por coletar as bolas que eram jogadas. E, ainda por cima, nenhum novato podia jogar na quadra até que a primeira semana terminasse, mas Stefanski estava jogando tranquilamente. Pior ainda era Darcy... ele nem sequer foi. Pelo que fiquei sabendo, ele só iria para os treinos quando tivesse tempo. O capitão e Depardieu aceitaram, claro, não podiam abrir mão dele. Isso me irritou, afinal só havia entrado por causa dele, mas aguentei firmemente.

Quando cheguei em casa, já tarde da noite, meu corpo estava todo dolorido e eu só queria tomar um banho quente e cair na cama, mas fui pega de surpresa com as batidas na porta do meu quarto quando saí do banheiro vestida em meu pijama. Quando abri, fiquei ainda mais surpresa por encontrar o meu pai. Pedi para que entrasse e então ele começou a ficar tenso, mas entrou. Nos sentamos em umas poltronas e eu esperei até que ele falasse, o que demorou algum tempo.

― Querida, é... ― ele olhou para o meu nariz e suspirou. ― Você voltou a jogar tênis.

Eu me senti culpada, sabia que, apesar dele me deixar tomar minhas próprias decisões sozinha, aquilo era importante para ele e eu o havia deixado de fora.

― Sim, é... papai, isso...

― Não se preocupe, Lizzie. Eu só quero ver você feliz. E se jogar lhe faz feliz, tudo bem. ― Eu assenti para ele, não queria que ele entrasse demais no assunto. ― O que lhe fez voltar a jogar, querida?

Eu não sabia o que responder. Por mais que eu quisesse ser sincera com papai, dizer o real motivo não estava em cogitação.

― Eu só quis. ― eu sorri tentando parecer confiante. ― Ela teria ficado feliz.

Papai sorriu como se estivesse imaginando como a minha mãe estaria orgulhosa em me ver voltar às quadras.

― Ela ficaria. Então você voltou por ela? ― ele indagou, me sondando. Comecei a desconfiar do objetivo dele e isso me assustou. ― Porque você disse que nunca mais iria segurar uma raquete e jogou tudo ligado ao tênis fora naquele dia.

― Eu sei, pai. Eu só não poderia ficar longe para sempre.

― Então você resolveu que agora era o momento? ― Como eu não respondi, ele tornou: ― É por ele, não é? Você voltou a jogar porque Darcy está no mesmo clube. O seu amigo disse quando estávamos no hospital.

― Papai...

― Lizzie, você precisa entender que nem tudo se consegue perseguindo. Você precisa se amar mais, minha filha, pelo menos tanto quanto eu a amo. Eu nunca permitiria que você fizesse algo que lhe machucasse para agradar a ele ou a qualquer outra pessoa. Você nem sequer consegue segurar uma raquete mais! Hoje foi o nariz, o que vai ser amanhã?

― Não é assim, pai. Eu não estou realmente jogando. Entrei no time apenas para fazer parte, não serei obrigada a jogar. Foi só um teste de habilidade, como joguei mal eles vão me deixar para recolher as bolas. Estou bem com isso. ― sorri para ele, mas papai apenas suspirou.

― Como você quiser, querida. Mas isso pode complicar se eles souberem que você está no time, vão acabar lhe pressionando para voltar a jogar e você vai acabar aceitando mesmo isso lhe fazendo mal.

― Eles não vão descobrir, papai. Eu era conhecida como Elizabeth Gardiner, ela nunca me deixou usar o Bennet na quadra. Não voltarei a ser a menina prodígio.

― Isso é bom, meu amor. Mas há outra coisa que eu preciso dizer... eu tenho pensado sobre algo nos últimos tempos... sobre já estarmos morando aqui há quase um ano. Eles são ótimos e sei que ficarão tristes por estarmos longe, mas é justamente por isso que não podemos ficar aqui para sempre sem nos envergonharmos. Sou grato a ele, mas eu não trabalhei desde tão jovem para viver de caridade, querida, isso era para ser apenas uma fase até eu conseguir resolver o problema sobre o incêndio e juntar o dinheiro para darmos entrada no aluguel. ― Eu fiquei calada enquanto papai falava. Algo me dizia que eu não iria gostar da conclusão daquela conversa, mas eu não podia simplesmente dizer que não querida ouvir. Ele era meu pai, meu exemplo de um homem perfeito. ― O que eu quero dizer, querida, é que todos aqui gostam muito de você. E eu também sei que você gosta muito do pequeno Darcy. Eu até cheguei a ter esperança de que alguma coisa pudesse sair entre vocês dois, por isso adiei essa conversa. Mas ele... ele não está interessado em você, querida. E para mim, como pai, é muito difícil vê-la se machucando para conseguir a atenção dele. Sinto que se formos embora daqui você poderá esquecê-lo em pouco tempo. Talvez devêssemos parar de simplesmente aborrecer os Darcy e vivermos as nossas vidas. Eu encontrei um lugar para morar, um apartamento pequeno perto de onde eu trabalho. Fica perto do metrô também, então você não terá problemas para ir para a faculdade. O que acha, querida?

Embora eu só quisesse chorar, eu não podia fazer algo tão egoísta. Ele só queria nos ajudar, afinal eu sabia como era para ele se ver vivendo de favor. Meu pai nunca viveu de caridade, sempre teve as coisas por mérito dele. Eu não podia deixa-lo infeliz por egoísmo meu. Sendo assim, fingi um sorriso enquanto assentia.

― É perfeito, papai. Você está certo. Quando poderemos conhecer?

Ele sorriu mais confiante, mas eu ainda podia ver uma nota de tristeza naquele olhar.

― Amanhã mesmo. Se você puder sair mais cedo da faculdade, posso marcar uma hora para que conheça o apartamento.

― Ótimo. ― falei, me levantando e sentando no colo dele. Papai me abraçou e eu precisei ser ainda mais forte para não chorar ali nos braços dele. Ficamos assim por alguns minutos, afinal ele andava trabalhando tanto que dificilmente o encontrava. Segundo ele, havia arrumado outro emprego para tentar comprar os materiais para construir novamente a nossa casa. Como não gastamos com nada durante todos aqueles meses, ele havia investido tudo e em pouco tempo a gente teria o suficiente para comprar os materiais e contratar um engenheiro para fazer o trabalho da melhor forma possível. Iríamos gastar mais, mas ele não queria cometer o mesmo erro duas vezes.

Depois que papai saiu, eu fiquei olhando para o endereço que ele havia me entregado e comecei a pensar nas consequências daquilo. Antes, quando ele falou, eu só pensei como ele estava sofrendo e em como eu iria sofrer em ficar longe de Darcy, mas eu não pensei em como Maggie iria ficar depois daquilo, ou Georgie. Pior ainda, eu iria sair de casa, então não tinha como eu ficar perto dele. Agora eu teria menos em comum do que Stefanski, pois ela, além de fazer parte do mesmo clube, ainda estudava com ele. Eu só fazia parte do mesmo clube, em pouco tempo estaria perdendo para ela. Era inevitável!


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Eu tenho sentido essa vontade de mostrar que a Lizzie é definitivamente diferente da Kotoko, tendo apenas a paixão em comum. Os problemas acadêmicos dela são resultado do fato dela ter estudado em uma escola com padrões baixos e depois ter sido transferida para uma das melhores do país, é de se esperar. Agora a surpresa que preparei para vocês. *-*

*PRÉVIA*

"― Lizzie, está tudo bem? ― sua voz parecia preocupada.
Meu coração bateu acelerado. Eu não acreditava que estava fazendo ele passar por aquilo! A gente havia ido tão longe já. [...]
― Por favor, Lizzie, fale alguma coisa ou irei entrar.
Eu virei assustada, correndo para dar a volta na chave e trancar a porta, até que notei que já havia feito isso. Ele deve ter ouvido o barulho que a chave fez, pois sua voz aumentou dois tons quando voltou a falar.
― Não pense que isso irá me deter. ― Depois sua voz soou mais amorosa. ― Estou preocupado com você, meu amor, então saia para a gente conversar ou irei colocar a porta abaixo.
Eu fiquei com medo dele realmente tentar derrubar a porta e acabar se machucando, então peguei o primeiro roupão que encontrei e vesti, depois girei a chave e comecei a abrir a porta lentamente. No mesmo instante, meus olhos focaram naquele par de olhos que tanto me fascinavam e eu comecei a me sentir idiota por estar dando aquele show.
― Me desculpe. ― sussurrei envergonhada. Ele riu, o sorriso que eu tanto amava, e que costumava ver muito ultimamente, se formando em sua face.
― Eu te amo."