Atraída por um Darcy escrita por Efêmera


Capítulo 11
Excitantes Férias de Verão — Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente... Então, no começo eu pensei em fazer essa parte, Excitantes Férias de Verão, como sendo um capítulo e só, mas infelizmente não deu. Vocês vão ver que tem mais de 8000 palavras aqui, o dobro do que venho costumando fazer. Não quero dizer que sempre postarei com 8000, porque acho bem difícil, mas eu só digitava, digitava, digitava e não conseguia encontrar um desfecho para essa parte, e isso era outro motivo para não ter postado antes. Eu, mesmo sem tempo, venho trabalhando nele durante esse tempo. A faculdade está apertando e como tenho viagem para daqui a um mês, onde apresentarei dois importantes trabalhos em um congresso nacional, estou lotada de coisa para estudar (trabalho e prova) e pesquisar. Meu tempo anda deprimente, mas pelo menos estou tentando dormir. Outra coisa... estou amando as recomendações e comentários de vocês. É ótimo saber que uma estória minha está agradando tantas pessoas, fico realmente feliz.



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O dia seguinte não foi dos melhores, assim como nenhum outro era quando você inventava de extrapolar na bebida sem estar preparado. No meu caso, eu nunca havia feito isso antes, o que resultou em náuseas e dores de cabeça. Mas, antes de me levantar, notei alguns comprimidos no criado mudo. Ah! Ótimo, pelo menos isso...

Para evitar que a dor aumentasse, passei a manhã toda dentro do quarto. Maggie, preocupada, acabou me fazendo uma visita por volta das 10 horas. Expliquei que não me sentia bem e que não queria comer nada, mas ela insistiu tanto para que eu fizesse ao menos um lanche que eu tive que aceitar. Enquanto esperávamos uma das empregadas chegar com a minha comida, ela me olhava atentamente, o que eu reconheci como a sua forma de introduzir algum assunto delicado. Eu sabia sobre o que era, então a incentivei a continuar.

— Embora seja um assunto indelicado para tratar em uma hora assim, eu não consigo esperar mais, Lizzie. Ontem, quando chegamos, pedimos desculpas pelo comportamento de Darcy ao seu pai, e agora gostaria de fazer o mesmo com você. Ele será castigado à sua maneira, mas isso não será suficiente se você não nos desculpar por tê-lo criado tão mal.

Eu não conseguia escutá-la dizendo aquelas palavras, afinal, tirando a sua falta de sensibilidade com determinadas pessoas – eu –, Darcy era um ótimo filho.

— Não precisa se preocupar, Maggie, eu sei cuidar de mim. Confesso que no começo foi difícil, mas agora eu sinto como se já fizesse parte. E-

— Não! Não precisa fazer parte! Não criei um filho para destratar meus amigos! Eu prometo, Lizzie, ele não mais o fará. Mas, se ele o fizer, por favor, me fale, pois irei agir e ele irá se arrepender. — Eu fiquei com certo receio da forma como ela falava, afinal eu era a intrusa ali e não é todo mundo que aceita novos moradores em sua casa tão bem. É o seu espaço, sua vida... de certa forma um lado meu, mas um lado que a maior parte de mim ignorava, conseguia entender Darcy. — Em pensar que ele nem sempre foi assim!

“Certo, acredita. Porque você não sabe o que ele fez comigo quando eu tinha 14 anos!” pensei.

— Eu às vezes me culpo por ele não se abrir mais comigo, sempre tão fechado. Tantas coisas teriam sido evitadas se eu fosse uma mãe melhor...

— Não fale algo assim. Eu penso que é ótima! — afirmei irritada por ela se achar tão incapaz. E, segurando suas mãos com as minhas, tornei: — Embora eu não fosse tão nova quando minha mãe nos deixou, ainda assim não tenho muitas recordações dela. Não de momentos entre nós duas, pelo menos. Sempre fui mais apegada ao meu pai, assim como ela sempre gostou mais de Lydia. Mas, desde que vim para cá, tenho tido a senhora como uma perfeita referência do que uma mãe pode ser e, sempre que me lembro dela, sem querer, acabo levando algumas qualidades sua. Sou infantil, eu sei, afinal uma mãe nunca deve ser substituída, mas é a minha forma de nunca esquecer que um dia ela existiu.

Foi só quando terminei que notei os olhos de Maggie cheios de lágrimas, mas com um sorriso tão encantador em seus lábios que eu não pude evitar e só pude sorrir em resposta.

— Oh! Lizzie... Creio que Deus finalmente me deu a minha segunda menina que esperei por tanto tempo. — sussurrou me trazendo para um abraço. Eu não pude segurar e as lágrimas também rolaram por meu rosto. Era tão bom receber um abraço de mãe depois de tanto tempo, eu mal consigo me lembrar do último que minha mãe me deu. — E, quem sabe, o meu filho não percebe a joia rara que tem sob o mesmo teto, huh? — Oi? Mas ela não respondeu, só se afastou enxugando as lágrimas e se levantou. — Mas agora eu preciso ir, tenho algumas obrigações que não posso deixar de lado. — E, com mais um sorriso cumplice: — Você deveria dar alguma volta no jardim, ele está lindo e logo estará nos dando adeus.

— Acho que é uma boa ideia, preciso esquecer a vergonha que os fiz passar ontem. — Assim que as palavras saíram, uma vermelhidão tomou conta do meu rosto. Era tão difícil lembrar as besteiras que fiz na noite anterior.

— Você não fez nada demais, Lizzie, exceto ter demorado tanto tempo para fazer. — afirmou sorrindo e, seguindo até a porta, falou: — Mas eu acredito que as flores da estufa são as mais lindas e, até onde eu sei, você nunca foi lá. Tenha um bom dia, Lizzie. — Eu respondi e deixei que ela partisse. Estufa? Tipo... a estufa vai ficar lá o ano todo, com as mesmas flores, não? O jardim não, com o fim da primavera estaremos nos despedindo de muitas das flores.

Mas eu ainda estava com uma dorzinha incômoda na cabeça, de modo que deixei para pensar nisso depois que finalmente a dor fosse embora. E decidida a aceitar o conselho de Maggie, tomei um banho bastante demorado. Como já era meu costume, procurei me arrumar adequadamente embora não fosse sair da mansão. Por mais que me dissessem para me sentir em casa, não conseguia, ali nunca seria a minha casa. Procurei entre as várias roupas no closet e optei por um short jeans, uma blusa branca de alças e um suéter. Era Primavera, afinal. Para os pés optei apenas por uma sapatilha bege uma vez que não planejava sair para lugar algum mesmo. Assim que eu estava completamente pronta, em um timing perfeito, ouvi batidas na porta e abri para receber o meu lanche. Não estava com muita vontade, mas tentei me alimentar o máximo que pude e depois deixei o quarto.

A casa estava silenciosa, o que não era nada novo. Tendo em vista o seu tamanho, exceto quando marcávamos ou um procurava o outro, dificilmente os membros da casa se topavam. Em parte isso era muito bom, porque me fazia me sentir um pouco menos intrusa, pois eles ainda tinham um pouco de privacidade. Por outro lado, a casa era grande demais e eu ainda não conhecia tudo, acabando por me perder tantas vezes. Era humilhante.

O jardim da família Darcy, que, segundo Darcy, foi projetado por uma das duquesas da família, era realmente maravilhoso e eu acabei permanecendo ali por algum tempo. Era algo que já fazia parte, afinal aquilo era uma beleza capaz de limpar a mente e nos fazer pensar em coisas maravilhosas... exceto no meu caso neste momento, pois eu ainda sinto como se alguém estivesse me seguindo e martelando na minha cabeça. Que droga!

Enquanto caminhava entre as flores, que por sinal eram lindas e de uma variedade impressionante, senti curiosidade de conhecer a tal estufa. Segundo Georgie havia me falado, há flores lá que custam uma fortuna e que foram selecionadas com bastante cuidado, além de outras que eram absolutamente únicas. Ela gostava de contar a história dos seus avós e em uma dessas vezes me falou que o avô deles era botânico, embora não exercesse a profissão. Ela também disse que ele vivia para aquilo, chegando até a ficar horas do dia trancado em seu laboratório tentando criar novas flores mais lindas e resistentes. Eu achava tudo fascinante.

Assim que cheguei à estufa fiquei admirada. Ela era muito linda, uma enorme caixa de vidro com muitas flores coloridas em seu interior e ao redor. Me senti em um conto de fadas! De onde eu estava até a sua entrada, havia um caminho feito de pedras que mais pareciam que foram desenhadas e arcos envoltos de pequenas flores coloridas ao lado. Era tudo tão lindo que eu fiquei com medo de pisar. Vai que eu quebrasse alguma coisa ou destruísse alguma daquelas flores? Por Deus, prefiro morrer! Mas, como eu era curiosa demais para voltar atrás, não precisei de muito tempo para considerar ir em frente e colocar isso em prática. Quando abri a porta, fiquei ainda mais deslumbrada. Ela era perfeita. Havia vários tipos de plantas espalhadas, mas bem colocadas em lugares estratégicos. No centro, um grande balcão bem desenhado deixava o ambiente ainda mais lindo, e sobre ele vários vasos de rosas, algumas conhecidas e outras que eu nunca havia visto antes. Foi inevitável, embora rosas não fossem lá as minhas flores preferidas, eu me aproximei encantada com a vida que elas traziam para o lugar, mas um movimento na outra extremidade da estufa chamou minha atenção.

— Q-quem está aí? — perguntei assustada. A outra pessoa, ou seja lá o que fosse, não respondeu. Comecei a ficar receosa, e se tivesse algum estranho na casa? Ok, isso não era muito provável, afinal era mais fácil conseguir fugir de uma prisão de segurança máxima do que entrar ali sem autorização, mas ainda assim... Mesmo que seja quase impossível, as pessoas conseguem fugir de prisões de segurança máxima, não?

“Ok, ok, eu estou viajando. Há muitas pessoas nesta casa. Até onde sei, apenas Maggie e Georgie saíram e o papai estava trabalhando. No entanto, eu não sei nada sobre o Sr. Darcy e o próprio Darcy. Calma, Lizzie, calma.” Eu tentava colocar na minha cabeça, mas estava difícil. Sem falar que eu não conhecia todos os empregados da casa, vai ver era algum deles. Droga, que merda! Receosa, dei alguns passos para sair e tentei me virar quando uma voz me parou.

— Algum problema, Bennet?

Masoq!

Virei para olhá-lo e o encontrei olhando-me confuso uns cinco metros à frente, usando um par de óculos e vestido com um avental marrom.

Que diabos ele estava fazendo de avental?

— Eu perguntei “Algum problema, Bennet?”, então, como já devem ter lhe ensinado, você deve me responder e não ficar me olhando com essa cara de quem viu um E.T.

Ah tá, eu agora estou recebendo aula de socialização com o senhor sabichão que não tem amigos. Ha-ha!

— É... hm... — tossi tentando voltar ao normal — N-não, nenhum problema. E desculpe-me, não sabia que estava aqui. Voltarei outra hora. — respondi e tentei novamente sair, mas sabe como é quando você quer muito uma coisa: o mundo parece querer te foder.

Oops, desculpa aí a minha mente podre.

Mas não disse nenhuma mentira.

— Você não incomoda. — Oi? — Se quiser, pode se aproximar. — Masoq². Eu acho que realmente estou vendo algo ligado a um E.T., preciso avisar à Maggie que seu precioso filho foi abduzido e fizeram uma lavagem cerebral na cabeça oca dele. — Bennet, você está bem? — ele insistiu. Precisei voltar ao meu normal antes que ele ligasse para algum hospício. Tenho certeza que, uma vez que eu entrasse em um, nunca mais me deixariam sair. Minha cabecinha é muita da doida, isso sim.

— Err, huh? O que você falou mesmo? — me fiz de desentendida porque né, vai que cola.

— Perguntei se você estava bem, embora acredite que não. Mas, de qualquer forma, algo me diz que isso aí é você sendo “normal”, então faça como desejar. Vá ou fique, tenho outras coisas para fazer. — e se afastou, escondendo-se novamente atrás dos vasos de rosas. Eu sou curiosa, poxa, é claro que tive que ir atrás dele.

Encontrei-o remexendo em um vaso, tirando algo dentro da terra e lançando em um recipiente que mais parecia uma lixeira, mas que era grande demais para você colocar dentro de casa. Olhando de perto, deu para perceber que o par de óculos era mais um daqueles usados para proteção, não de grau, e o avental parecia ser de um material bem mais resistente que o algodão. Ele estava tão concentrado que eu fiquei com medo de atrapalhá-lo falando algo, mas não sou bem daquele tipo de pessoa que consegue controlar a curiosidade.

— O que você está fazendo? — ele suspirou e olhou rapidamente para mim, voltando ao que estava fazendo.

— Limpando.

— Limpando? Para quê?

— Para deixar limpo. — Dã!

— E você faz isso sempre?

— Sempre que é necessário.

— Você gosta de fazer isso? — dessa vez ele parou o que estava fazendo e me olhou, incrédulo.

— Você vai continuar me perguntando coisas óbvias mesmo? Sua mente não é nem um pouco capaz de trabalhar sozinha?

— Ok, ok... Desculpa, não está mais aqui quem falou. — dei de ombros me virando para deixá-lo sozinho.

— Hmm... Sim, eu gosto de fazer o que estou fazendo.

Veja bem uma coisa... É preciso entender que eu não sou lá daquelas pessoas cheias de orgulho próprio e blábláblá (isso é bastante óbvio, pois é), então claro que voltei como se nada tivesse acontecido e continuei de onde havia parado.

— Quem lhe ensinou a fazer isso? — ele suspirou resignado e continuou o que estava fazendo.

— Meu avô. Ele era botânico e, como não tenho as outras habilidades dele, ao menos me ensinou como cuidar para que suas rosas cresçam saudáveis e limpas. Costumo vir aqui, sempre cuidando para que elas não percam a beleza que têm.

— Você quer ser botânico igual ao seu avô?

— Por que a pergunta?

— Porque você cuida delas e parece gostar, então achei-

— Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

— Como não? Se você gosta de algo, é esperado que queira fazer isso pelo resto da vida.

— E quem disse que não posso cuidar das rosas pelo resto da vida? Não preciso virar botânico para continuar fazendo o que faço há anos.

— Ok, mas você está me enrolando, ainda não me respondeu. — Ele pensava mesmo que eu era idiota?

— E nem vou responder.

— Por quê?

— Porque não é da sua conta. — respondeu sem emoção.

Melhor parar. Mas fazer o quê? Minha cabeça ainda estava latejando um pouco, então eu precisava me distrair – embora não fosse lá a melhor coisa a se fazer, preferia mil vezes subir e ir dormir, mas né.

— Ok, você tem um ponto. — suspirei resignada.

— Sempre tenho. — Arrogante, tsc.

— Ontem você não tinha. — Ele parou o que estava fazendo e fixou seu olhar em mim. Estava tão sério que eu engoli em seco... e quando digo “engoli”, quero dizer que fiz isso mesmo, pareceu até que uma bola de basquete havia descido pela minha garganta.

— O que você quer dizer com “ontem”? — Seus olhos verdes – que, ‘cá pra nós’, era a minha parte favorita nele – olhavam-me sérios, mas eu ainda conseguia ver alguma coisa que não estava acostumada a ver naquele olhar. Seria... medo? Não, devo estar vendo demais!

— É... no restaurante... — Merda, eu tinha mesmo lembrado ele daquilo? Isso é o que acontece quando não penso antes de falar!

Mas, diferente do que eu pensava, ele pareceu relaxar e deu de ombros para voltar a se concentrar na sua plantinha.

— Ah, sim, no restaurante... Você foi inconveniente, mas já estou acostumado.

— Inconveniente? É isso mesmo o que você pensa? Você está bem ou anda cultivando outro tipo de erva por aqui? Está doente? Quer que eu chame a sua mãe? Precisa de um médico? Que-

— Chega! — vociferou, parou o que estava fazendo e começou a tirar o avental enquanto caminhava para a saída. Mas, antes que tivesse saído, retornou e falou todo calmo tirando os óculos e jogando no balcão: — Sim, inconveniente, é isso mesmo o que você geralmente é. Chegou aqui e modificou toda a rotina da minha casa. Mas não é apenas isso, você simplesmente se intromete na minha intimidade de uma forma que eu não posso aceitar. Você sabe o que é isso? Estar acostumado a algo e outra pessoa, que nem sequer te conhece de verdade, vir e virar teu mundo de cabeça para baixo de uma hora para a outra? Já passou por algo assim? Acredito que não! Se tivesse que vivenciar algo do tipo, com toda certeza se importaria mais em saber se o que faz afeta o próximo de forma positiva ou não! Mas eu sinceramente cansei de me importar, desisti. Eu sei que não tem mais volta, que tenho que aceitar. Então, para tornar isso mais aceitável, resolvi que o melhor é deixar de me preocupar com o que você faz. Faça o que quiser, invada a minha vida como achar melhor, porque eu estou nem aí. E sim, você para mim é apenas inconveniente, como algo irritante que vai ficar lá e que a gente não pode fazer nada para se livrar e precisa se acostumar. Se não posso fazer nada, resolvo aceitar. Isso torna a minha vida mais suportável. Então, por favor, pare de querer me torrar até pelo fato de eu não me importar mais com você. É simples! — E foi isso. O cara falou, enquanto eu o olhava em choque, e depois saiu.

Eu fiquei algum tempo tentando compreender no que consistia aquilo. Era confuso e ao mesmo tempo perturbador, afinal era a forma como ele me via, mas ao mesmo tempo parecia algo que não tinha nada a ver comigo. Tipo... será que eu era um transtorno tão grande assim? Eu precisava compreender melhor a situação, mas sabia que precisaria de tempo com ele e de que ele abrisse um pouco de espaço para mim...

4 meses depois

Mas ele não ajudou, nem um minuto sequer. Já havia se passado quatro meses e em nenhum momento ele permitiu que eu me aproximasse. No entanto, e isso era uma coisa só um pouco boa, ele realmente parou de se importar comigo. Eu até já me sentia parte da família! O Sr. Darcy colocou William de castigo, por causa do que havia feito comigo, e nisso foram três meses sem poder sair de casa depois da escola. Cara, ainda bem que meu pai não era tão extremo assim. Mas, segundo Georgie, eles sempre foram mais rígidos com Darcy, afinal ele assumiria algo grande e seria responsável por muitas famílias. É, tem algo que ainda não citei, a família Darcy, além das riquezas que vinham com o título e do amor incondicional pela flora, era dona de uma grande empresa que trabalhava com tecnologia muito avançada. A verdade é que eu não sei nada sobre ela, afinal pouco me importa, o bom mesmo era que havia chegado a melhor parte do ano e hoje seria o primeiro dia de “férias”!

Enquanto eu refletia sobre meus últimos meses e suas descobertas, Darcy passou por mim e fez questão de atrapalhar a minha passagem praticamente se empurrando para me ultrapassar. Algo bem no fundo me dizia que aquilo era implicância, apenas para meio que se importar sem mostrar que realmente o fazia, mas a parte mais sensata ignorava e continuava seguindo pelo corredor em direção à escada para tomar o café da manhã. Por mais que ele tenha tentado me passar, acabamos chegando juntos e encontrando a Sra. Darcy e Georgiana já nos esperando.

— Minha nossa, vocês se levantam muito cedo na pausa de meio de ano! — falou Georgie assim que nos viu. Acenei a cumprimentando com um “bom dia” e me sentei ao lado da Sra. Darcy, até porque Georgie, depois de duas semanas, me expulsou e disse que o lugar era do “Will dela”. Bem, já esperava por aquilo.

— Eu tenho atividades do clube. — Clube?

— Clube? — Pois é, eu falei alto e depois me chutei mentalmente. Ainda era difícil me segurar, hehe.

— Sim, Lizzie. Will faz parte do Clube de Tênis da escola e compete no campeonato nacional. É o atual campeão e desde que começou a participar ainda não perdeu uma partida! — Meus olhos pularam e sairiam rolando pela mesa e destruindo o café de manhã de todos se não estivessem bem seguros, e eu acabei não conseguindo me segurar:

— Há, neste mundo, algo que você não saiba fazer?

— Sinceramente, ainda não encontrei. — falou dando de ombros e vertendo um pouco de chá. Convencido! Eu devo ter olhado muito feio para ele, porque a Sra. Darcy riu da minha cara.

— Oh, Lizzie, não fique admirada. Você sabe muito bem que o William gosta de falar dessa forma para lhe provocar, mas dessa vez tenho que admitir que ainda não vi algo em que ele não seja bom. E não é conversa de uma mãe orgulhosa, algumas vezes até me diverti tentando imaginá-lo em algumas situações, mas ele se recusa a tentá-las. — Busquei me controlar e me voltei para a Sra. Darcy.

— Por certo que sim. Pode deixar, saberei ignorá-lo como ele sabe fazer muito bem. — finalizei com uma piscadela para ela enquanto começava a comer.

Passamos o resto do café da manhã dessa forma, jogando conversa fora enquanto nos alimentávamos, até que eu já estava satisfeita e me levantei para me retirar.

— Lizzie, você já vai? Mas poderíamos aproveitar as férias para passar mais tempo juntas... — lamentou Georgie olhando-me esperançosa. Me senti culpada, afinal havia marcado com Jane e Char para sair e não queria deixar Georgie para trás.

— Hmm, é... estou indo ao Shopping com Char e Jane... você poderia nos fazer companhia, será divertido.

Não precisei esperar muito por sua resposta, porque ela logo se levantou saltitante e me puxou para que terminássemos de nos arrumar. Depois que tudo estava concluído, descemos e, por insistência de Georgie, fomos de carro com o Sr. Reynolds dirigindo, já que, segundo ela, Darcy poderia mandar Sr. Ferrars dirigir. O motorista dela também estava de folga, então foi inevitável.

— Você está de férias, não é? O Will me falou! Seria tão bom se fizéssemos uma viagem! — ela começou assim que entramos no carro.

— Viagem? — perguntei confusa — Você não pode estar falando sério, Georgiana! Tudo bem eu aceitar viver na sua casa por todo esse tempo sem pagar nada, mas aceitar que também paguem minhas viagens? Não posso, Georgie!

— Não seja tola, Lizzie. — ela falou revirando os olhos. — Você mesma poderia pagar. Nós poderíamos ficar aqui mesmo no Reino Unido, apenas iríamos para nossa casa em Derbyshire, uma das quais Darcy vai herdar e você, como senhora da casa, precisará conhecer!

O-o quê? Que diabos ela queria dizer com aquilo?

— O quê? Você tá louca? Senhora da casa o quê? — Ela me olhou confusa e depois deu de ombros.

— Vocês pensam que sou idiota, mas eu não sou, ok? Mas se querem pensar assim, problema é de vocês. Nós iremos para Pemberley amanhã e está decidido. E Will também irá, ele quase não pode ir para lá por causa dos estudos, embora a ame mais do que qualquer outra pessoa.

E essa foi a última palavra, até porque ninguém pode ir contra as ideias da Georgie. Jane e Char também não, então ficou decidido que partiríamos no dia seguinte e passaríamos a semana de férias por lá, aproveitando tudo o que a propriedade poderia fornecer. Eu estava morrendo de curiosidade, mas Georgie não quis me falar nada, disse apenas que seria um crime tentar descrever Pemberley, que o mais justo era tirar as minhas próprias conclusões quando estivesse lá. Pois é, eu teria que passar aquela noite curiosa.

O dia com as amigas foi maravilhoso. Embora fosse nova no grupo, Georgie se deu tão bem conosco que tivemos que mudar o nome de “As três patetas” para algo que ainda não havíamos decidido. Seria difícil, levamos meses para chegar ao nosso nome anterior. Quem decidiu foi um grupo de zoadores da nossa turma, mas a Char gostou tanto que adotou e eles ficaram irritados pelo apelido não fazer o efeito esperado. Hehe, eles não conheciam direito a minha amiga doida.

Assim que chegamos eu fui para o meu quarto preparar a mala para o dia seguinte, enquanto isso Georgie foi procurar Darcy, para assim transmitir o seu desejo de passar aquela semana em Pemberley. Eu já sabia o que o Sr. Eu Sou o Cara iria dizer, então fiz questão de ficar bem longe. Para a minha surpresa, ele estava muito feliz. Pior, ficou decidido que seus amigos, Richard e Charles, também iriam e eu fiquei de cara. Sério que ele estava feliz com a notícia de que iria passar uma semana entre minhas amigas que eu? Ok, né.

~~

Acordei com fortes batidas na porta que me fizeram pular da cama com medo de que a casa estivesse pegando fogo. Mas claro que não era, era só Georgie batendo e gritando meu nome como uma louca. Ainda com medo do que poderia ser, já que ela nunca faria algo assim, corri e abrir para ver o que ela queria.

— Você ainda está assim? Por Deus, Lizzie, precisamos sair em cinco minutos! Meu irmão vai ficar louco ali em baixo, você precisa correr!

Oh meu Deus!

Eu não precisei falar, pois a ficha logo caiu e eu corri para o banheiro e tomei um banho muito rápido.

Dez minutos depois, e super mal arrumada, eu descia as escadas com Georgie ao lado – que havia mandado descerem as malas enquanto eu me arrumava – e encontrava um Darcy nada feliz.

— Eu pensei que havia dito 6h00, não 6h05! Seja pontual da próxima vez.

Que idiota!

— Não se comporte feito um tolo, meu irmão, chegaremos lá a tempo de tomar o café da manhã.

— Sim, chegaremos, mas nosso pai se atrasou para voltar porque queria falar comigo antes de partir. Agora ele ficará ainda mais atrasado. Chega de conversa, vamos!

Partimos em três carros. A divisão não me deixou nada surpresa, se você quer saber. No primeiro foram Darcy, Richard e Sr. Ferrars; no segundo, eu, Georgie, Char e Sr. Reynolds; e no último, claro, Jane, Charles e o motorista contratado para ficar à serviço de Georgie. Eu falei, nada novo... só Jane que ficou surpresa, ela não havia percebido ainda toda atenção que Charles dava a ela, mas estava muito na cara... ele até havia implorado à Georgie para que fosse no mesmo carro que Jane, apenas os dois. Claro que Georgie aceitou.

— Lizzie, você gosta mesmo do meu irmão, não é? — falou Georgie depois de algum tempo que estávamos na estrada. — Você até escreveu uma carta.

— Oh, sim... ela realmente escreveu! — se intrometeu a minha amiga querida que eu queria esganar nesse momento, afinal nem o meu olhar de raiva foi capaz de pará-la. — Eu soube que ele finalmente leu. Que inveja, daria a minha virgindade para poder ler! — Pois é, é esse tipo de amiga que eu tenho.

— Que virgindade mesmo? — alfinetei, quem mandou? Mas a diaba gargalhou. Eu mereço!

— Você quer mesmo saber, querida amiga? — ela respondeu com uma piscadela e um sorriso que explicou tudo. Eu tremi, agora fiquei imaginando a minha amiga dando o seu. Argh!

— Droga, Char! — murmurei irritada e Georgie riu, mas percebi que ela havia ficado vermelha.

— E aquele segurança do teu irmão, hein, Georgie? Por Deus, bem que ele poderia curtir uma ninfeta!

— Não acredito, Char, você está de olho no Sr. Ferrars! — exclamei em choque.

— Claro, amiga, ou você achava que eu iria ficar atrás desses seus amiguinhos que ainda tomam leite. — replicou dando de ombros. — Afinal, como irei alimentá-los? Eu ainda nem tenho! — finalizou apertando os peitos e eu revirei os olhos. Não tem jeito, minha amiga era pervertida demais. — Mas, Georgie, você sabe se ele tem alguma namorada, noiva, esposa, amante, etc?

Eu não conseguia acreditar que ela estava realmente falando sério, então olhei para Georgie esperando por sua resposta. Ela ainda estava vermelha, o que destacava muito bem na sua cor, mas pareceu refletir um pouco e respondeu:

— Acredito que para se ter uma amante ele deva ter, antes de tudo, namorada, noiva ou esposa, mas... até onde sei... ele não tem noiva ou esposa. Quanto à namorada, não sei. Por que você não pergunta a ele? Ele passará essa semana com a gente, você sabe. — finalizou lançando uma piscadela para Char.

— Sim, eu sei e estou amando! Você precisa me apresentar, Georgie, assim que chegarmos lá! Quantos anos ele tem?

— 34, acho.

— Perfeito! Vocês estão de prova aqui, aquele lindão dos olhos azuis só conseguirá virá-los para mim, isso antes dessa semana terminar, ou não me chamo Charlotte Lucas! Por Deus, sério, o que ele faz cuidando da segurança do teu irmão? O cara poderia virar modelo ou, sei lá, ator pornô ou garoto de programa!

— Charlotte! — Sério, agora eu tive que intervir.

— Não me venha com “Charlotte!”, Lizzie, você já viu o corpo do cara? Sério, eu dava todo o dinheiro que o meu pai tem para que aquele cara me pegasse de jeito.

Ok, não tinha jeito, então...

— Desculpa, Georgie, mas você já notou que ela não tem limites. — Apesar de ainda estar vermelha, Georgie riu e assentiu.

— Tudo bem, Lizzie, eu já consegui me acostumar. No entanto, Char, não creio que o Sr. Ferrars se importe com isso. Ele passou muito tempo desenvolvendo suas habilidades e costuma dar mais valor a elas.

— Hmmm, habilidades, hein? — murmurou Charlotte com seu sorrisinho cínico.

— Er, hm... creio que eu esteja me referindo a outras habilidades, é...

— Ela entendeu, Georgie, mas deve estar se divertindo em te ver vermelha. Ignora.

Char continuou sorrindo até que gargalhou e Georgie ficou olhando em choque para ela. A coitada da minha amiga deveria aprender a conter esse vermelhão, ou passaria maus bocados com a Char.

Depois que Char se acalmou (se é que dá para entender o que ficou bem calminho), seguimos viagem falando que coisas banais, mas, principalmente, do casal que vinha no último carro. Todos – todos mesmo – já estavam cientes de que eles estavam interessados um no outro, só faltava eles descobrirem isso. Mas Jane era tímida e não reconhecia quão linda era, por dentro e por fora, já Charles era tímido e não conseguia ser direto com ela. Eles iriam precisar de uma ajudinha externa, mas a sorte é que tinham amigos intrometidos.

Depois de uma viagem bem divertida por sinal, eu tive o primeiro vislumbre do que parecia ser o céu. Do lugar que víamos, dava para ver uma mansão, muito maior do que a que os Darcy’s moravam, rodeada por um jardim fabuloso. Eu precisaria chegar mais perto para afirmar com detalhes, mas, até onde eu podia ver, um grande rio se estendia na frente da casa, rodeado por pinheiros bem cuidados e algumas mesas para jardim. Havia também rosas vermelhas e uma variedade de rosas que eu nunca havia visto exceto na estufa da mansão Darcy, azul, roxa, laranja.

— Que lindo... — isso foi eu.

— Porra! — já isso, bem, foi a Char.

— Vocês não viram nada.

— Com assim? — perguntei confusa.

— Essa é apenas a fachada de Pemberley, ela tem muito mais para mostrar.

— Não vejo a hora, Georgie... e essas rosas? Nunca havia visto algo tão lindo antes!

— Meu avô, como você já sabe, amava fazer modificações genéticas, então já viu. Ele criou todas as rosas que estão no jardim de Pemberley e mandou tirar todas as “naturais”. Ele dizia que neste jardim, já que Pemberley era a propriedade favorita da minha avó, só iria ter as rosas que ele criou pensando nela. Nunca vi um amor como o deles... exceto o seu pelo meu irmão.

— Não comece, Georgie, por favor.

— Como quiser, cunhada. — respondeu sorrindo e eu revirei os olhos. Desisto.

— Até que fica bem: futura Sra. Darcy. — Char novamente. Eu já estava ficando vermelha e dando graças a Deus por estarmos sozinhas ali... exceto pelo motorista... Droga, e se ele falasse tudo para o Sr. Ferrars? Olhei em choque para Char, mas ela não pareceu se importar. Oh, que se foda, ela iria amar que o Sr. Ferrars soubesse. Como se eu não conhecesse a minha amiga.

Chegamos à mansão e eu tentei ver alguma coisa, mas Georgie me puxou fazendo sinal para o carro que vinha depois.

— Vamos entrar logo e obrigar eles a passarem mais um tempo sozinhos. Você sabe, vão amar.

— Oh, sim, claro que vão. — replicou dando uma risadinha e seguimos para dentro. Assim que chegamos ao pátio de entrada, nos deparamos com o Sr. Ferrars sentado em uma cadeira. Assim que nos viu ele se levantou, mas Georgie fez sinal para que ele ficasse bem acomodado. Ele sentou, mas quando ela fez movimento para se retirar, Char a puxou, cutucando e fazendo sinal para Sr. Ferrars. Georgie não entendeu a princípio, mas assim que viu os olhos da minha amiga compreendeu.

— Isso é sério?

— Claro, seríssimo. Vamos lá, fico te devendo essa.

— Vou cobrar, hein. — respondeu dando uma risadinha.

Seguimos até o Sr. Ferrars que nos olhou sem entender, mas se levantou novamente.

— Precisa de alguma coisa, lady Darcy?

— Quantas vezes preciso dizer, Harvey? Me chame de Georgie.

— Como desejar, senhorita. Mas em que posso ajudar? — Georgie revirou os olhos, mas continuou.

— Ainda não desisti... Mas agora eu só gostaria de lhe apresentar a minha amiga Charlotte Lucas. — falou, indicando Char. Sr. Ferrars não compreendeu nada daquele comportamento pouco usual, mas estendeu a mão para cumprimentar Char. Minha amiga, toda deslumbrada, não perdeu tempo e também estendeu a sua.

— É um prazer conhecê-la, Srta. Lucas.

— Nossa, mal posso imaginar essa voz gemendo meu nome...

— Como? — perguntou Sr. Ferrars confuso. Já eu e Georgie, o que não era nada novo, estávamos vermelhinhas.

— Char!

— O quê? — perguntou confusa e eu fiz sinal para o Sr. Ferrars. Ela pareceu compreender e, em choque, soltou a mão dele e me olhou assustada. — Porra! Não me digam que eu disse essa merda alto?

Nós três fizemos sinal que sim. Eu e Georgie sérias e com pena da nossa amiga, já o Sr. Ferrars parecia se divertir com aquilo.

— Não se preocupe, senhorita, vamos fingir que isso não aconteceu.

— Uma porra que vamos! Deixaremos como está e assim já será meio caminho andado.

Merda. Não, não... ela não disse aquilo.

— Caminho andado para quê...? — perguntou o Sr. Ferrars novamente confuso.

— Para que você possa gemer o meu nome, oras.

Eu não tinha como ficar mais em choque, então apenas pedi licença e me retirei. Não precisei olhar para trás para ver que Georgie me seguia. Nos olhamos por uns segundos e depois rimos. Charlotte...

Georgie me levou até o quarto onde eu ficaria e me disse para ficar a vontade, pois, afinal, eu estava na minha futura casa. Quando ela iria parar com isso? Depois de desfazer as malas, que já haviam colocado lá, eu tomei um banho e desci para tomar o café da manhã.

Encontrei Georgie, Jane, Charles, Richard e Darcy à mesa. Estranhei ao não ver Char também, mas depois entendi que ela devia estar atrasada por ter ficado conversando com o Sr. Ferrars... e eu estava doida para saber o que tinha acontecido depois que eu saí.

Sentei para tomar meu café e depois de alguns minutos Char chegou. Ela não parecia tão feliz, mas eu sabia que ela não ficaria daquele jeito por muito tempo. Há um motivo para eu nunca apostar contra Char: ela nunca perde. Coitado do Sr. Ferrars. Seja qual for a escolha dele, com toda certeza será igual a da minha querida amiga. Como ela sentou ao meu lado, me apressei em saber o que tinha acontecido e senti o olhar de Georgie sobre nós; ela também estava curiosa.

— Desembucha.

— Vamos tomar o café da manhã e depois dar uma volta, ok? Sem esse tipo de conversa agora, estou morrendo de fome. — replicou Char e achei estranho esse papo.

— Pelo visto foi pior do que pensei.

— Nada que não possa ser revertido depois de uma pressãozinha. Enfim, depois eu conto, curiosa.

— Ok, ok. — dei de ombros voltando a comer.

Charles estava bastante animado por estar em Pemberley, tanto que programou o que todos iriam fazer durante o resto da manhã: cavalgar. Todos exceto eu, porque deixei claro que não sabia andar a cavalo. Eles tentaram me fazer mudar de ideia, mas é claro que eu não voltaria atrás. Por fim, ficou decidido que eu, Georgie e Char iríamos dar uma volta de carruagem. Porque, claro, os pais de Darcy haviam restaurado duas das carruagens da era vitoriana e sempre usavam quando estavam em Pemberley. Segundo eles, era um desperdício contaminar a propriedade com a poluição dos automóveis. Char achou muito arcaico, mas disse que nunca algo tão antigo despertou tanto interesse dela. Eu achei isso ótimo, nunca havia andado de carruagem.

Quando todos estavam preparados para sair, Richard sentiu uma dor inusitada e desceu do cavalo, incentivando para que Jane, Darcy e Charles continuassem. Darcy falou que ficaria de olho no primo, e continuou insistindo para que o amigo levasse Jane para conhecer os campos de Pemberley. Eu fiquei muito surpresa por ele estar participando daquele complô, porque estava mais que óbvio que Richard não tinha nada, mas só fiquei olhando. Assim que Jane e Charles desapareceram no horizonte, Richard e Darcy subiram novamente em seus cavalos e seguiram por um caminho completamente oposto. Nós, por estarmos na carruagem, seguimos pela estrada e Georgie nos apontava tudo o que deveríamos conhecer. Quando já estávamos a uma distância considerável eu não aguentei mais.

— Vamos, fale logo.

— Ok, ok... — começou Char. — Quando vocês saíram ele pareceu mais a vontade, mas ainda assim não deixou transparecer que queria alguma coisa. No entanto, por mais que não dissesse claramente um “quero você”, ainda assim não dizia o contrário. Eu podia ver claramente que a semana seria um sucesso, afinal eu só precisaria de tempo. Ficamos conversando por mais alguns minutos... na verdade eu falava mais que tudo, ele apenas concordava ou fazia umas colocações vagas. Eu sei, também acho que me impus, mas eu podia ver claramente um futuro ali, ok?

— Sim, você vê futuro em tudo o que quer. Continue.

— Por Deus, Lizzie, pare de ser estraga prazeres. Enfim... daí ele ficou me olhando com aqueles olhos azuis da cor do paraíso e eu não me controlei. O puxei pelo colarinho da camisa e o beijei. Ele ficou paralisado na hora, mas depois ainda me correspondeu um pouco. Quando nos separamos, a primeira coisa que me perguntou foi... — ela nos olhou fazendo suspense e suspirou um pouco, fazendo todo aquele drama ao qual estava acostumada. — Não, infelizmente não foi onde ficava o meu quarto, até porque nem eu sabia... Georgie, você deveria ter me dito, eu poderia arrastá-lo até lá e-

— Char!

— Ok, ok... Continuando... ele me perguntou qual a minha idade. Ele disse claramente: “Qual a sua idade, criança?” Acredita? Ele me chamou de criança! E logo depois de ter me beijado.

— Você o beijou. — apontei. Char bufou e revirou os olhos.

— Detalhes, detalhes. Eu tive que dizer a minha idade e ele falou que seria a última pessoa a ir contra qualquer lei. Eu falei que completaria dezoito em alguns meses, mas ele não me ouviu e disse que seria pedofilia.

Não tive como segurar, comecei a gargalhar e Georgie me acompanhou. Depois de algum tempo, quando nos controlamos, eu voltei a falar.

— E então você desistiu.

— Desistir? Essa palavra nem ao menos existe no dicionário de Charlotte Lucas, meu amor. Só mudarei minhas armas. Fui devagar no começo, e ele achou que estava lidando com alguém sem força. Agora mostrarei quem é a “Srta. Lucas”. Se importar com a minha idade? Até onde sei, com dezessete anos eu posso fazer sexo com ele, desde que meus pais concordem. E, pelo que você sabe, meu pai iria dizer "faça o que bem entender" e minha mãe já começaria a preparar o casamento. Qual o problema então?

— Estou com pena do coitado. — lamentei teatralmente e Georgie riu.

— Você acha que devo mandá-lo de volta, Lizzie? Seria bom se proteger.

— Sim, Georgie. Temo que não restará nada de bom do Sr. Ferrars depois que a nossa pervertida aqui terminar com ele.

— Oh, Lizzie, o que faremos? — exclamou Georgie.

— Talvez trancá-la em um quarto qualquer? Vocês têm um calabouço em Pemberley?

— Tem o porão, serve?

— Sim, perfeito!

— Mas meu pai usa como adega... talvez não seja inteligente deixá-la perto das garrafas.

— Georgie, por que não disse antes? Não haverá crime maior! Sinto muito, o jeito vai ser deixar o Sr. Ferrars lutar suas próprias batalhas.

— Pelo jeito sim, infelizmente não temos força para protegê-lo.

— O que me deixa extremamente triste.

— Céus, vocês são tão irritantes! — exclamou Char e nós três rimos.

Depois que terminamos a conversa sobre Sr. Ferrars, Georgie se concentrou em nos mostrar o vilarejo. Era tudo tão agradável que me deu vontade de ficar por ali. Depois de algumas horas dando voltas, voltamos à mansão para almoçar e assim que estávamos descendo da carruagem – Char já havia corrido para procurar pelo Sr. Ferrars, que havia ficado na casa por ordem de Darcy – uma curiosidade me bateu.

— Georgie, quantos andares essa casa realmente tem?

— Quatro andares, o porão e alguns sótãos.

— Alguns?

— Sim, eles não são interligados.

— Ah, entendi. Essa é bem maior que a outra, não?

— Em comprimento, sim, mas em andares não. Lá tem dois andares a mais, mas essa é maior no número de cômodos, assim como o tamanho deles. Aqui só temos o térreo, primeiro, segundo e terceiro andar. É tudo tão antigo também, nada comparado à casa moderna que temos em Londres.

— Você não gosta daqui?

— Não é isso, eu amo Pemberley, mas Londres é Londres, e a casa de lá é tão aconchegante a sua maneira.

— Entendi, você deve ter algum namoradinho escondido. — afirmei brincando e ela ficou vermelha.

— Não, Lizzie, é claro que não tenho.

— Você acha que sou idiota, Georgiana? — indaguei séria.

— Não. Claro que não, Lizzie! — ela parecia assustada.

— Burra?

— Por tudo o que tenho de mais sagrado que também não penso isso de você!

— Então vai me dizer quem é, certo? — perguntei olhando-a incisivamente e ela tremeu.

— Quem é o quê?

— O seu namorado. — Se fosse possível ficar mais vermelha, ela teria ficado.

— Mas eu não tenho, já di-

— Mas você quer.

— Hm, err...

— Vai, diz quem é.

— Não é ninguém. — ela afirmou e correu para dentro. Eu agora tinha certeza que ela estava escondendo algo. E se não queria dizer, era porque eu conhecia. Eu estava morrendo de curiosidade, e sendo eu... bem, eu iria saber quem era agora mesmo!

— Ei, ei, ei! Não corre, me fala! Você já sabe que gosto do seu irmão, qual o problema em saber de quem você gosta? — tentei convencê-la enquanto a seguia. Ela não parou até que chegou à porta do que deveria ser o seu quarto e me puxou para dentro, fazendo sinal para eu me sentasse em uma poltrona e se sentou em outra, voltando-se para mim.

— Ok, eu vou falar, mas você me promete que não falará para o meu irmão?

— Falar para o seu irmão? Por que eu faria isso? Ele nem me suporta. — ela revirou os olhos e depois deu de ombros.

— Você e ele acham que não, mas eu sei que não é bem assim... Agora me prometa não falar para ninguém.

— Mas você acabou de pedir apenas para que eu não falasse para o seu irmão, agora quer que eu não fale também para qualquer outra pessoa. Se decida, Georgie, eu preciso pensar sobre para quem gostaria de falar.

— Lizzie! — Eu ri, mas me desculpei e pedi para que continuasse. — Está certo, eu gosto de alguém... mas é complicado.

— Descomplique.

— Certo... Quando eu era mais nova estudei na mesma escola que o meu irmão, como você sabe. Eu nunca fui muito fã de acordar cedo e ter que ir para lá, mas, como Darcy ia, eu também me incentivava a ir. Não gostava de deixar o meu irmão sozinho... Hm... Quando eu estava lá, um dos garotos do segundo ano pareceu se interessar em mim. Eu só tinha treze anos, Lizzie, era praticamente uma criança, mas estava na fase em que a gente começa a enxergar os garotos, sabe? Principalmente os dos últimos anos. E ter um deles se interessando por você? Isso era maravilhoso. Eu deveria saber que tinha alguma coisa errada, afinal eu não era nada comparada às outras garotas, então como aquele cara poderia estar interessado em mim?

— Georgie, você é linda!

— Eu sei, sou maravilhosamente linda e sei disso. Hoje. Mas eu não era linda ao ponto de atrair a atenção masculina naquele tempo, estava mais para um “linda da mamãe", se é que me entende. Então por que ele se interessou por mim? Como sempre fui muito aberta com a minha mãe, eu falei para ela. Ela achou estranho que um cara que já era quase maior de idade estivesse dando em cima de uma garota que mal deixou a infância, então ela procurou saber quem era. O nome dele era George Wickham e ele, depois de muito tempo e esforço, conseguiu fazê-la acreditar que estava realmente interessado em mim, então aceitou. Não completamente aceitou, afinal eu era muito nova, mas disse a ele que poderia me visitar algumas vezes sob a supervisão dela. Ele, claro, aproveitou a oportunidade. Sempre que podia, ele estava na minha casa. William nunca gostou dele, tentou diversas vezes convencer a minha mãe, mas ela estava irredutível. O meu pai também, mas ela disse a ele que seria bom eu receber um pouco de atenção, mas que não deixaria isso seguir a diante enquanto eu não completasse pelo menos dezesseis. Eu tinha certeza que George não iria esperar tanto tempo, então tentava fazer de tudo para incentivá-lo a continuar me vendo, até que uma vez ele me fez uma proposta... Bem, é... ele me pediu para que a gente, errrr... acelerasse as coisas, sabe? Eu era uma criança tão idiota, então acreditei quando ele disse que uma vez que a gente tivesse consumado tudo, meus pais iriam aceitar o nosso namoro e até casamento. Como William iria viajar com papai na semana seguinte, aproveitamos para marcar para aquela semana... Iríamos fugir da escola e ir direto para a casa dele colocar em prática... Eu me sinto tão envergonhada hoje em dia, Lizzie, mas você compreende que eu não era nada do que sou hoje, não é?

— Claro, Georgie... não precisa se preocupar. Fazemos muitas burradas quando somos crianças, eu fiz a minha, não se esqueça da carta que escrevi para o seu irmão.

— Aquilo foi fofo, o meu caso é bem diferente... Quanto mais se aproximava o dia, mais eu ficava nervosa, no entanto ele fazia parecer tão certo, até que eu tentei me acalmar. No entanto, quando chegou o dia e já estávamos na saída entrando no carro dele, Will apareceu. Ele havia voltado um dia mais cedo e foi me buscar porque estava com saudade. Eu olhava envergonhada para o meu irmão, que olhava para George com raiva, até que a ficha do que eu iria fazer caiu. Eu corri e abracei o meu irmão pedindo desculpa e ele ficou sem entender. Quando chegamos em casa lhe contei tudo e ele me confortou. No outro dia não fui para a escola, mas o meu irmão sim. Nesse dia ele me olhava aparentando sentir tanta pena que eu não suportei, então decidi que no dia seguinte iria também. Assim que eu chego lá, a primeira coisa que vejo foi George abraçado com uma das garotas da sua sala... e o pior, me olhava com aquele sorriso cínico. Eu nem entrei, voltei para o carro e pedi para voltar para casa. Will me seguiu, claro, ele nunca me deixou sofrer sozinha. Depois desse dia ficou decidido que eu não voltaria mais para a escola. — Eu não aguentei ver a minha amiga tão triste, então segurei a sua mão para confortá-la.

— Sinto muito, George.

— Tudo bem, Lizzie, isso foi necessário para que eu crescesse um pouco... Mas o que quero lhe falar é... Durante todo esse tempo eu desconfiava que outra pessoa estava interessada em mim, mas eu estava tão ofuscada por George que não conseguia olhá-lo da mesma forma. E depois, quando George se foi, eu estava tão infeliz. Durante todos esses anos, mesmo ele estando ao meu lado, eu ainda não conseguia olhá-lo como ele merecia. Por Deus como eu gostaria de ter gostado dele naquela época, mas não, eu simplesmente me deixei iludir pelo impossível e hoje em dia ele não tem mais os mesmos olhos para mim... posso ver claramente que todo aquele interesse se esvaiu. Só agora, nesses últimos seis meses, foi que me toquei que o amo como nunca nem sequer pensei em um dia amar Wickham e me sinto tão desolada porque sei que ele nunca poderia gostar de mim. E mesmo que venha a se interessar, a lealmente dele ao meu irmão nunca o permitiria que rompesse essa barreira. Isso é tão lamentável!

— Georgie... Quem é ele?

A essa altura ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas e eu desejei poder levar um pouco daquela dor comigo, porque afinal eu já tinha doutorado nisso, não é?


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Notas finais do capítulo

Oi aqui de novo. :3 O que acharam? Essa primeira parte foi mais calminha, só para encher salsicha e chegarmos a algo realmente importante, mas eu realmente gostei. Excitantes Férias de Verão será mais voltado para os coadjuvantes, irei deixar Lizzie e Darcy um pouco de lado porque eles estão precisando de um tempo. Não que não irei abordá-los, mas estava realmente precisando deixar que os sentimentos das outras pessoas ficassem na frente dos deles. E com esse pensamento eu pergunto: Querem POV da Char ou do Harvey? Farei de um dos dois, basta vocês votarem. E postarei esse POV extra depois que a semana deles terminarem, pois até lá terá muitos acontecimentos envolvendo esse casal. Quem gosta de hot irá amar. :3 Bjs



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