Blood and Sweat escrita por Nanaevy


Capítulo 1
Blood and Sweat


Notas iniciais do capítulo

Enjoy!



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Kenshin

“Qual o sentido da minha existência neste mundo, afinal?”

Centenas de pessoas cruzaram o meu caminho na Demon Cave; nenhuma delas jamais foi capaz de me reconhecer como alguém digno de ter seus sentimentos compreendidos ou ao menos transformados em algumas palavras. Por isso mesmo ninguém jamais foi capaz de me vencer.

Agonizando na prisão que aquela caverna se tornou, por lembranças de momentos que eu sei que nunca aconteceram realmente, mesmo que eu ainda seja capaz de sentir aquela angústia como se fosse real, eu perdia as esperanças de um dia ser capaz de me libertar.

Com a vinda de Prince até a Demon Cave, e a nossa posterior ida até a lápide de Kaoru, uma grande amargura me assolou, e eu me peguei pensando “Que destino triste, nós sofremos pela ruptura de um relacionamento que jamais aconteceu realmente. Além do que, a morte dela estava predestinada ao momento em que eu pusesse meus pés fora da caverna, não havia nada que pudesse ser feito acerca disso, e até agora ainda padeço pela culpa, mesmo sabendo que tudo já estava decidido pelo Sistema.”

Até então, Sunshine era a única pessoa com a qual eu tinha algum convívio, o meu único amigo. Seguir Prince em direção ao Continente Central foi uma mudança radical. Nós tivemos a oportunidade de ver o mundo com nossos próprios olhos pela primeira vez e eu ainda pensava melancolicamente “Se o mundo criado para Second Life, que não passa de uma sequência de códigos, é assim tão incrível, quão maravilhosa pode ser a realidade que nós nunca seremos capazes de conhecer?”

Com o tempo fui me acostumando àquela existência pacífica em Infinite City, e a alegria constante de Sunshine em sua nova vida era recompensadora. Nós nos tornamos os “guarda-costas” do Prince para todos os efeitos, já que os jogadores em geral não poderiam saber sobre a nossa verdadeira condição de NPC’s sem colocar em risco a nossa autoconsciência diante do sistema. Já não me sentia tão frustrado quanto antes, todavia também não havia expectativas - o futuro em nada me instigava. Afinal, o que poderia mudar a minha condição de prisioneiro em um mundo virtual?

...

Quando Cold Fox chegou a Infinite City, Prince me designou para lutar com o desafiante. A excitação pré-batalha ficara evidente quando ele me viu, embora eu apenas estivesse cumprindo com o meu papel de guarda-costas.

Fui eu quem o atingiu com uma lâmina, mas ele me derrotou apenas com sua existência tão familiar que chegava a ser nostálgica. Eu quase podia ver-me tão perdido e solitário enquanto o encarava, ensanguentado e jogado ao chão. Sua pele tão branca quanto a pelagem de uma raposa do Ártico - que fazia jus ao seu nome - contrastava com o sangue que jorrava e criava um quadro estranhamente bonito. Ele tinha uma expressão contraditória, um misto de frustração e satisfação. Por algum motivo, eu simpatizei com ele, e pela primeira vez agi deliberadamente, não o deixando ser morto.

Como por obra do destino, Prince “convidou” Cold Fox a fazer parte de Infinite City como seu guarda-costas assim como eu era, e me deixou encarregado por ele. E embora eu mostrasse uma expressão irritada naquele momento, por dentro senti que havia algo de muito certo naquela situação estranha.

Éramos iguais, com nossas personalidades frias e expressões impassíveis. Depois de algum tempo não saberia mais diferenciar os meus próprios pensamentos dos sentimentos que eu já era capaz de distinguir no fundo do seu olhar, enquanto bebíamos calmamente em algum lugar de Infinite City. Eram assim nossas conversas – olhos nos olhos, poucas palavras. Elas eram desnecessárias; nós nos entendíamos perfeitamente bem sem elas. Quando não estávamos treinando, nós podíamos ficar horas a fio dessa maneira, sem nenhum diálogo, apenas juntos. E eu gostava muito disso, por algum motivo...

Cold Fox

Até então, tudo o que me importava era o poder. Nada neste mundo era capaz de prender minha atenção, a não ser encontrar um oponente cuja força pudesse me fornecer verdadeiramente um desafio, quando fui convidado a “visitar” Infinite City com o intuito de vencer o oponente mais forte.

Foi Prince, o Elfo Sangrento quem me apresentou àquele que causaria minha primeira derrota. Nunca me senti mais vivo do que durante os minutos nos quais lutamos, quando senti o frio do aço perpassar a minha carne. Suas habilidades eram muito superiores às minhas e eu nem pude arranhá-lo, mesmo que eu fosse o terceiro no ranking do jogo. Mas ele não me matou. E mesmo quando o homem que me trouxe a Infinite City correu furiosamente para terminar o que Kenshin não fez, este último o transformou em um pilar de luz com um movimento suave.

Mal sabia eu que finalmente havia encontrado algo que buscava há muito tempo sem perceber, não apenas um desafio a altura como eu pensava, mas alguém que valesse a pena, que não apenas era capaz de me acompanhar, mas que me superava e no qual eu poderia buscar amadurecimento das minhas habilidades. Alguém que era como eu e que me completava.

...

Estávamos prestes a embarcar para o Continente Norte. Caso eu fosse morto por um NPC equipando com HD, meu personagem não seria capaz de aparecer no ponto de renascimento, simplesmente seria apagado do jogo. Se Kenshin fosse morto, ele reapareceria em algum lugar, provavelmente na Demon Cave, como um NPC normal, sem consciência própria e livre arbítrio. Eu tinha minha vida na realidade, mas Second Life era o único lugar onde Kenshin existia agora. Caso o pior acontecesse, seria como morrer na vida real para ele.

Kenshin dizia que não iria entrar em batalha e tirar a vida de outro NPC autoconsciente apenas para salvar a própria vida, mas estaria disposto a morrer pelos seus amigos (leia-se Sunshine), o que me assustava. Pensar nisso era muito doloroso, eu não queria perdê-lo agora que finalmente nos encontramos. Aliás, não queria perdê-lo em momento algum. Eu iria segui-lo onde quer que ele fosse. Nessa guerra todo o destino de Second Life estava em cheque. Mas para mim, o que mais importava era salvar o único mundo onde o meu coração poderia permanecer.

Decidimos ir treinar pelo que poderia ser a última vez. Como de costume fomos para um lugar isolado, para evitar possíveis danos conseqüentes dos extraordinários poderes que seriam empregados durante a luta.

Começamos a nos digladiar com as nossas respectivas lâminas ferozmente, nos entregando ao frenesi da batalha, tendo em mente que possivelmente jamais poderíamos experimentar essa sensação outra vez. A diferença entre nossas habilidades já não era tão grande assim. Seja por este fato ou por algum outro motivo escondido nos nossos subconscientes, depois de certo tempo acabamos deixando o aço de lado e entramos em um embate corporal, trocando socos e pontapés, completamente exaustos, mas ávidos por aproveitar cada instante da nossa luta.

A esta altura, já estávamos completamente encharcados, cobertos de sangue proveniente dos cortes rasos que se estendiam sobre os nossos corpos, e de suor pelo esforço prolongado. Essa mistura exalava um odor salgado e ferroso, que já era conhecido de ambos, mas nunca fora tão prazeroso, chegava a ser lascivo.

Estanquei ao me dar conta deste último pensamento... Lascívia parecia descrever o que eu estava sentindo naquele momento; ofegante, segurando Kenshin pela “gola” e sendo segurado da mesma forma, testa com testa. Quebrei o contato visual, baixando os olhos para os seus lábios, o que foi um erro – ou não. Subitamente me lembrei de anteriormente já ter desejado que Kenshin fosse uma garota para que eu pudesse ter um companheiro de treino poderoso e uma namorada perfeita na mesma pessoa. Pensando bem, naquele momento pouco me importava o gênero, Kenshin foi a única pessoa capaz de dar significado à minha vida em Second Life e eu desejo estar com ele mais do que qualquer coisa.

Ao retornar o olhar ao ponto original, percebi que ele fazia o mesmo. Eu tinha certeza que minha face era o espelho da dele naquele instante, com lágrimas nos olhos e uma expressão de dor. Porém não era a dor física que nos incomodava, ambos sabíamos. Havia também o medo, mas estava claro que não era pela batalha que estava por vir. Realizei que ele também temia por mim, assim como eu temia por ele. Não queríamos perder nossas pessoas importantes. “Poderia Kenshin estar se sentindo da mesma forma que eu?” eu pensei, com a sensação mais estranha que eu já senti em toda a minha vida - como era possível sentir o peito arder como em chamas e ao mesmo tempo a espinha congelar?

Num fôlego de coragem, cautelosamente comecei a aproximar os nossos rostos ainda ofegantes, até finalmente encostar, com brandura, os nossos lábios. Kenshin, apenas fechou os olhos lentamente enquanto entreabria seus lábios cheios e aprofundando o beijo. O abracei pela cintura, colando nossas pelves; estava ansiando mais do que imaginava aquele toque tão íntimo. A expressão “frieza” não poderia passar mais longe de nos descrever neste momento.

Logo nossos corpos ensangüentados estavam entrelaçados, ao chão. Mas infelizmente Kenshin não estava tão preparado quanto eu para levar isso adiante. Subitamente, ele me empurrou com força e, com a cara fechada, se levantou, virou as costas para mim e foi embora, andando no seu ritmo confiante de sempre, porém pisando forte.

Eu fiquei lá jogado no chão, respirando profundamente, enquanto tentava voltar para minha personalidade fria habitual. Eu fui rejeitado afinal. A única coisa que eu podia fazer agora era lutar para que este mundo continue existindo, para que eu possa ao menos continuar seguindo Kenshin, como eu tenho feito desde sempre. Se ele não passar a me odiar agora, eu juro que vou me contentar apenas em estar ao seu lado.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do primeiro captulo!



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