Angeles NightWalker

Era uma vez uma linda menina morena de olhos azuis que tinha tudo para ser feliz, até chegar o Rei Demônio.

Estava eu, num dia não tão ensolarado, ansiosa para terminar meu livro porque eu ainda precisava ler “A dama das camélias” antes do final do mês por causa da data de devolução. Eu estava ouvindo música, de boa na minha quando eu sinto alguém me puxar e falar algo sobre um encontro.

E acontece que esse alguém era o Rei Demônio.

E agora, sociedade, o que eu faço?

— Eu não quero ir, Jake — disse pela quinta vez enquanto entrávamos no quarto.

— Nem eu, Angeles, acredite tenho companhias melhores, MAS eu preciso muito ir com você para aquela garota ver que não tem chances comigo.

— Sabe, você poderia simplesmente dizer não.

— Não adianta, acredite, eu conheço aquele tipo de garota.

Revirei os olhos.

— Mas eu não quero ir.

— Mas você vai.

— Mas eu...

— Eu vou pagar a comida.

— Que dia que é mesmo? — virei-me sorrindo.

Jake balançou a cabeça, revirando os olhos. Parece que andamos com manias parecidas.

Isso não é legal ou fofo. Não tem nada de fofo nisso. O que seria fofo seria eu batendo nele com meu travesseiro.

Depois de discutirmos sobre o que iríamos fazer no dia seguinte, ficou decidido que iríamos no cinema assistir “The Quiet Ones”, um filme de terror.

Me mate, por favor.

— COMO ASSIM SEU ARROMBADO DE UMA FIGA?

— O que? — ele perguntou sorrindo torto — com medo?

— É-é clar-ro que não, seu... Seu goiaba.

Seu sorriso aumentou mais ainda.

— Então, está decidido.

— Está bem — disse — mas você vai ter que pagar tudo.

— Vamos, Chi, temos que ir logo se você quer comer antes de ir pro cinema — ouvi Jake gritar enquanto eu estava no banheiro.

— Já vai, já vai.

— Já que você vai demorar tanto, eu vou pegando o caro, me encontre no portão principal da faculdade — disse caminhando para fora.

— Ok.

Eu estava tentando passar maquiagem. Meu melhor amigo poderia ser gay, mas ele não passava maquiagem e minha mãe nunca foi presente na minha vida, ela era como um fantasma. Então eu nunca soube como passar maquiagem direito.

O pouco que eu tinha – que significa um pó, um kit cheio de sombras, batons e blush, um rímel, um delineador e um lápis – foi que eu ganhei da minha tia Emy já que sua filha era uma ingrata que só aceitava maquiagem da MAC ou da VS.

Passei um pouco de rímel, lápis e um gloss que tinha cheiro de framboesa.

Balancei minha cabeça em aprovação ao que eu via no espelho. Meu cabelo estava solto, mas eu tinha ajeitado ele para os cachos ficarem arrumadinhos, meus cílios estavam destacados assim como meus lábios, mas não de uma maneira exagerada. Eu estava com uma blusa minha, uma calça jeans e uma sapatilha preta.

Quase dei risada, Jake iria ter um treco quando ele visse minha camisa. Ele quis tanto me levar pro shopping, agora vai ter que passar vergonha. Bem, é hora de aventura.

Jake DarkShadow

Eu estava caminhando tranquilamente até o meu Honda Urban SUV. Estava com uma calça jeans preta e uma camisa branca de botões. Como só iríamos para o shopping, coloquei essa roupa simples mesmo.

Depois de estacionar o carro na frente do portão, desci do carro e vi que Angeles estava vindo. Mas só tinha um problema.

Ela estava usando uma blusa ridícula.

— O QUE DIABOS É ISSO? — perguntei chocado.

Ela estava com uma blusa que – adivinha? – dava para caber duas dela, branca que estava escrito “Kamehameha” em preto e em baixo “I love animes” e no fundo tinha umas imagens de alguns animes.

— É uma blusa de otakus.

— Angeles, porque você não pode colocar uma blusa um pouco mais... Feminina?

— Como assim?

— Essa blusa tá na cara que é masculina.

— Sério? Eu pensava que nem dava pra perceber...

— Troque isso.

— Não, vamos que estamos quase atrasados.

Bufei e entrei no carro. Até o final do dia eu ia conseguir fazer ela trocar de roupa.

TODO MUNDO DO SHOPPING ESTAVA OLHANDO PARA NÓS. E NÃO ERA NUM BOM SENTIDO. Havia como sempre umas garotas me olhando é claro, afinal eu sou espetacularmente atraente, mas havia muitas OUTRAS pessoas encarando a Angel por causa da sua estúpida camisa.

Almoçamos no Burger King e depois Angeles insistiu em passar na loja de Finni. Ela comprou um saco imenso, alegando que prefere comer doces a pipoca no cinema. Aproveitando que ela estava distraída escolhendo os finnis, peguei minha coca-cola que estava segurando e sem querer acabei derrubando tudo nela.

— MAS QUE CARAMBOLA-ASSADA-COM-CARAMELO, Jake.

— Ein?

— Eu fiz uma aposta hoje de manhã com Allan que eu não conseguiria ficar sem falar algum palavrão durante esse “encontro” — ela disse rolando os olhos, e fazendo aspas com as mãos na palavra ‘encontro’.

— E o que você ganharia em troca? — perguntei curioso.

— Um cupcake — ela disse dando de ombros — mas isso não é importante. OLHA O QUE VOCÊ FEZ, SEU DESENBESTADO.

— Ops?

— Suponho que agora eu deva sair por aí andando com uma blusa suja de coca-cola?

— Ah, que ruim né? Porque não vamos então pegar uma roupa pra você?

E antes que ela pudesse falar alguma coisa arrastei ela para a primeira loja de roupas que vi.

Angeles NightWalker

Atendentes de loja me dão medo. Elas vem em você como se você fosse um pote de ouro e começam a jogar roupas para cima de você. Jake parecia estar se divertindo.

Ótimo, pelo menos um de nós está.

— Eu não vou pagar isso, DarkShadow.

— Não se preocupe, Chi, eu já disse que pago.

— Bom mesmo — murmurei.

Suspirando, experimentei a roupa que a mulher jogou em cima de mim antes de me empurrar pro vestiário.

ERA UM VESTIDO.

UM FUCKING VESTIDO.

O mundo vai acabar. A terceira guerra mundial vai acontecer. As pessoas não sabem o que acontece quando eu uso vestido.

1 – eu fico extremamente desconfortável.

2 – eu preciso ficar me preocupando se ele não está subindo pra ninguém ver minha calcinha.

3 – eu preciso tomar cuidado pra saia não sair do lugar por causa do vento.

Ou seja, dá muito trabalho.

Jake era o Deus dos demônios, algo pior que Lúcifer.

— Chi? Está pronta.

— Sim — disse depois de me olhar no espelho — estou.

Jake DarkShadow

Quando Angeles abriu a cortina não imaginei que fosse ela. Ela estava muito fofa, muito... Feminina. Estava maravilhosa.

Vestia um dos vestidos que a atendente escolheu. Era preto em baixo com a parte de cima branca e usava um colar que tinha uma flor meio prateada. Era casual e ao mesmo tempo lindo. Ela ainda calçava sua sapatilha, pois combinava.

— Está tão ruim assim? — ela perguntou hesitante.

Lutei para não sorrir.

— Não — disse tentando parecer normal — está bom. Vamos, temos que pegar a sessão daqui a pouco.

Depois de pagar tudo, peguei o braço dela e a puxei para o cinema. Sorri diabolicamente lembrando do filme que tinha escolhido. Iria ser bem engraçado.

Angeles pediu minha jaqueta alegando que estava com frio, mas era uma mentira, ela queria para cobrir a cabeça nas partes assustadoras. O filme era até que interessante, mas não muito meu estilo.

Angeles devorou seus finnis em meia hora e começou a tocar coca-cola comigo. Eu ainda estava comendo pipoca. Diferente das outras garotas que usariam esse filme como uma forma de agarrarem em mim falando que estavam com medo, Angeles se agarrava como um gato - que odiava tomar banho - na cadeira.

Quando o filme estava acabando, virei-me para ela e sussurrei.

— Pode abrir os olhos agora.

Ela abriu e deu de cara com uma cena assustadora de uma menina maníaca.

— AAAAHHHHHHHHHHH.

O grito dela fez todo mundo da sala pular e alguns até começarem a gritar junto. Eu não aguentei e comecei a gargalhar. Angeles começou a me bater e a me chamar de nomes (sem palavrões é claro).

Acabei me divertindo tanto ao encher o saco dela que nem liguei ao perceber que a menina que tinha pedido para sair comigo estava nos assistindo.

Sinceramente, essas garotas de hoje em dia são assustadoras, por isso não quero nada sério.

— Jesus, acho que comi muitos doces.

— Você ACHA?

— Cale a boca, Jake, deixe-me morrer de indigestão em paz.

Revirei os olhos e não consegui conter o sorriso com a drama queen.

— Vamos, quero jantar hoje Baket Potato.

E andando ao lado de uma sorridente Angeles, fui jantar.