Minha cabeça doía como se houvesse uma manada de búfalos selvagens galopando em cima de mim – e eu nem mesmo sei se búfalos galopam. A escuridão dos meus olhos começava a desaparecer lentamente, aquele havia sido um sonho um pouco conturbado pra minha cabeça assimilar. Algo devia ter dado errado para Loki, porque eu acabara de acordar ainda naquele trono que muda a memória das pessoas, então a bela maquininha do mal devia estar com algum parafuso solto.

Acordava aos poucos ao som de muitas vozes misturadas, poderia jurar que tinha ouvido o Ward me chamando. Nem tinha mais noção de quanto tempo havia estado em Asgard, acho que minha mente já começava a fantasiar coisas. As vozes foram se juntando às sombras que eu via passando em frente a mim. Aquilo estava ficando muito embaraçado, mas lentamente meu olhar foi ganhando foco.

Mas alguma coisa devia estar errada. Eu via a minha equipe ao meu redor.

– Skye! – Ward segurou minha mão, ainda estava muito lenta para pensar em alguma reação praquilo. – É você? Você mesma?

– Não, idiota. Sou a versão morena da Marilyn Monroe. – respondi sonolenta, sorrindo pra ele logo em seguida.

– Skye!

Ele sorriu e beijou todo o meu rosto antes de chegar até minha boca e eu fiquei sem entender se ele havia sonhado que eu morria ou se era só saudade mesmo. Quando ele conseguiu me soltar, apenas ficou olhando para mim, como se eu não fosse real. Ao seu lado, Coulson e uma garota daquele mundo seguravam minha mãe pelos braços, ela ainda devia estar fraca por causa daquele desgraçado do Loki, mas estava viva.

– Mãe! – Desci daquela cadeira estranha e me atirei nos braços dela. – Você está bem? O que houve? Por quanto tempo eu dormi? E como vocês chegaram aqui? – Me virei para Coulson e o abracei em seguida.

– Bem vinda de volta, Skye. – ele respondeu dando um sorriso de leve, mas sua expressão estava preocupada.

– “De volta”? – estranhei. – De volta de onde? Os outros vieram? Onde está a Simmons, Fitz e May? E quem – voltei a fitar aquela garota estranha que estava com os olhos lacrimejando ao lado da minha mãe. – É essa? – apontei para ela.

– Skye, isso vai ser difícil de explicar. – Ward coçou a cabeça.

– Qual parte? – franzi a testa, confusa.

– Tudo isso. – Coulson respondeu.

– Primeiro, filha... Essa é a sua irmã, Skadi.

Meus olhos se arregalaram e eu fiquei totalmente sem ação. “Minha irmã?! Ali?!” Espera, espera... Eu havia acabado de acordar de sabe-se lá o quê e minha irmã, minha mãe e minha equipe estavam ao meu redor. Se não fosse pela nuvem de poeira vermelha que cobria aquela parte daquele mundo, eu acharia que toda aquela nóia com o Loki não tinha passado de um pesadelo dos bem grandes.

– Minha... Irmã? – voltei meus olhos para a linda garota estranha à minha frente.

– Eu esperei tanto por esse dia! – ela correu até mim e me deu um abraço forte. Quando me largou, nós duas estávamos com lágrimas nos olhos.

– Eu também! – respondi, emocionada. – Na verdade eu não sabia se esse dia existiria, mas eu já havia imaginado essa cena umas mil vezes!

Nós duas sorrimos uma pra outra e nos abraçamos novamente. Ela era realmente linda e amável, com certeza ela havia herdado muito de Idunna.

– Meninas, desculpem interromper o momento de vocês.

May surgiu atrás de nós, depois de atravessar uma nuvem de poeira que não permitia que víssemos com clareza qualquer coisa que ultrapassasse o raio de dez metros de onde estávamos. Num impulso, corri até a Cavalaria e a abracei, óbvio que também senti falta dela, mesmo ela sendo tipicamente bem-humorada.

– Olá, Skye. – ela esboçou um sorriso, mas ele rapidamente desapareceu, dando lugar à uma expressão de extrema preocupação. – Que bom que está bem de novo.

– May, o que houve? – Perguntei, segurando ela pelo pulso. Havia sangue em suas mãos. – May?! May o que aconteceu? Você tá machucada? Alguém se machucou? Onde estão Fitz-Simmons?

Todos os presentes se entreolhavam, apenas me deixando mais preocupada. May estava suando, seus batimentos acelerados e sua voz demonstrava parte da tensão que tomava conta dela. E eu poderia dizer que não a via ficar assim desde que Jemma havia sido infectada com o vírus Chitauri.

– Ela está piorando, Coulson. Os sinais vitais... Estão fracos. Muito fracos.

– “Ela”? – um calafrio percorreu minha espinha. – Ela quem? Jemma? Cadê a Jemma?! O que houve com ela?

– Apressem-se! Precisamos fazer alguma coisa! – May gritou, seguindo à frente de nós pela nuvem de poeira. – Gerda, Gymir e Fitz estão com ela.

Sim, era mesmo a Jemma. Meu coração estava golpeando meus órgão internos com a ideia de perdê-la, afinal, nem em cem anos eu encontraria outra como ela. Só de pensar na ideia de que ela estava ferida, já me doía a alma. “Se eu pegar o desgraçado que fez isso, eu juro... Eu juro que ele não sairá com a cara limpa!”

Corremos um pouco e logo a encontramos. Estava sangrando nos braços de Fitz, tão frágil com seus cabelos finos sendo levados por um brisa que corria tímida e triste, como se também estivesse triste por vê-la naquele estado. Apenas me joguei no chão ao lado dela e vi uma enorme espada atravessando-lhe o peito. Coloquei a mão na boca no mesmo instante e meus olhos se arregalaram. Os olhos perderam o foco com a iminência das lágrimas e eu deitei minha cabeça ao lado daquela espada asquerosa que a havia atingido. Sua respiração era fraca, ela estava morrendo.

– Simmons, Simmons! – Gritei desesperada, esperando que ela me ouvisse de algum lugar. – Jemma, por favor. Volte, volte! – Comecei a gritar chorando e o choro de Fitz ficou mais alto, fazendo com que todos ao redor ficassem mais frágeis ainda.

Coulson abraçou May, que não conseguia mais segurar o choro calado e doloroso dentro de seu peito. Ward virou-se para não ver a cena e eu e Fitz permanecemos junto a ela. Com muita dificuldade Jemma abriu os olhos e olhou pra mim, sorrindo levemente em seguida.

– S-kye. – ela sussurrou fracamente. – Que b-bom... Vo-cê...

– Não, Jemma. Psiu! – coloquei meu indicador sobre a boca dela, fazendo com que ela ficasse quieta. – Não fale, amiga! Okay? Só aguente firme, tudo bem? Eu estou com você agora!

Todos olhavam a cena, atônitos, sem saber o que fazer ou como levar Simmons para algum lugar. Eu ainda tinha minhas dúvidas sobre o que havia ocorrido enquanto eu dormia naquela cadeira.

– Alguém pode por favor... Por favor me dizer o que houve aqui?

– Não importa, Skye... Temos que focar em ajudar Simmons no momento. – Fitz tentou fugir do assunto.

– Alguém tentou matar minha amiga, Fitz! Eu tenho mais do que o direito de saber! – alterei o tom de voz com o nervosismo. – Então, quem foi?

Eles se entreolharam mais uma vez, como se estivessem escolhendo quem contaria o que houve. May suspirou e deu um passo a frente, respirando fundo e fechando os olhos.

– Foi você, Skye. – ela abriu os olhos e me encarou. – Você fez isso.