A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 69
Capítulo especial: Dias de treinamento


Notas iniciais do capítulo

O capítulo é um compilado de cenas extras a respeito do treinamento de Ryuho, Johan e Jake nesses dias de espera do retorno de Atena. E além disso, retrata um pouco do passado do mestre de Jake, Chertan de Girafa, há 28 anos atrás. Dias antes do nascimento de Atena.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/488642/chapter/69

Capítulo especial: Dias de treinamento

 Os últimos dias antes da chegada de Atena foram ocupados com bastante treinamento. Seja em Jamiel, Rozan, Senkyou ou na floresta sagrada de Atena, todos os cavaleiros que aguardavam a deusa da guerra se prepararam para a batalha.


Senkyou, China – Dimensão espiritual – Horas antes do retorno de Atena

Senkyou é um mundo paralelo ao da Terra, e neste mundo a natureza e suas forças reinam supremas. Ele existe em uma dimensão entre os mundos, e a localização de sua entrada muda a cada ano. Só é possível chegar lá com um espelho especial que abre o portal de entrada em qualquer ponto.

Entre florestas, cachoeiras, montanhas e picos, existe pequenas vilas que preservam o estilo antigo Chinês. Tanto em costumes, quanto em atividade diárias e edificações. Entre essas vilas destaca-se o templo central onde moram as quatro divindades de Senkyou e onde ocorre o treinamento, e é morada dos Taonias.

Taonias é uma classe de guerreiros que guardam Senkyou. Eles usam os poderes oriundos da natureza. Uma espécie de cosmo externo, que se manifesta através de tatuagens em seu corpo e vão evoluindo, podendo tomar todo o corpo. E essas tatuagens se transformam em armaduras, sempre com as características do animal representado pela tatuagem.

Em geral os Taonias são excelentes combatentes e possuem boas habilidades em luta corpo a corpo. Foi por essa razão que Kiki enviou Ryuho de Dragão para Senkyou. Para aprimorar suas habilidades nos poucos dias que restavam para o retorno de Atena. Além de Ryuho, Johan de Corvo e Marin de Águia também foram enviados para poderem se recuperar dos seus ferimentos.


Região norte de Senkyou – Domínio da Tartaruga Negra
— Horas antes do retorno de Atena

A região norte é um território conhecido pelo seu vasto conhecimento. Tanto dos seus habitantes, quanto do deus celestial que ali reina. Os habitantes dessa região são pessoas virtuosas, que estudam os astros, o cosmo, o fluxo da natureza e a fisiologia humana e divina.

No palácio central da região há uma gigantesca biblioteca que reúne um vasto acervo de livro, de línguas e épocas diferentes. Há também um espaço dedicado a cura e tratamentos de enfermos, e foi para esse local que Johan e Marin foram enviados.

Ryuho, o Cavaleiro de Bronze de Dragão, estava subindo a escadaria em direção ao templo.

— Está indo visitar seus amigos? — perguntou um jovem de longos cabelos castanhos se aproximando logo atrás. Ele vestia um traje chinês tradicional, de camisa azul e calça preta, e carregava nos braços dois jarros marrons. — Meu nome é Shu, sou o Taonia de Rato. — disse amigável. — O senhor Genbu pediu para que eu fosse até a vila pegar esses remédios. São para os olhos do seu amigo.

Ele tinha aparentemente a mesma idade de Ryuho, e possuía um ar de adolescente elétrico e bastante comunicativo.

— Eles estão bem? — perguntou Ryuho. — Eu não os vi desde quando chegamos aqui.

— Estão bem sim. — respondeu Shu, subindo as escadas ao lado de Ryuho. — Não há com o que se preocupar. Vieram para o local certo. Aqui temos condições de curar e tratar as pessoas. Só é uma pena que Senkyou esteja tão restrita. Se essa região estivesse lá na superfície... Consegue imaginar quantas pessoas poderiam ser curadas e ter acesso a tanto conhecimento?

— Imagino...

— Pois é. Você poderia abrir o portão por favor? — pediu Shu, diante das portas verde-lodo do palácio.

Ryuho estendeu a mão para o arco dourado e estava prestes a bater para pedir a abertura do palácio, mas Shu se pôs diante dele balançando a cabeça.

— Não faça barulho, por favor. É um local de concentração e silêncio. Basta empurrar com força.

E assim Ryuho fez. Eles entraram no palácio, cruzaram o corredor e subiram as escadas até o terceiro andar, onde ficava um ambiente semelhante a uma enfermaria.

Era um salão longo e retangular, com dezenas de camas enfileiradas em cada lado, e elas eram separadas por cortinas brancas. O cheiro daquele local era agradável. Havia dezenas de vasos com flores e balsamos.

— Cheiroso, não é?! — comentou Shu, vendo que Ryuho havia respirado fundo e apreciado o aroma do salão. — O senhor Genbu faz questão que o ambiente permaneça assim, com ar de vida. Mas as flores também têm propriedades curativas. Venha. Vou levar você até eles.

Os dois cruzaram o corredor até uma das últimas camas. Marin estava deitada na cama, e dentro do pequeno recinto havia um homem de idade um pouco avançada com as mãos estendidas sob Marin e emanando um cosmo prateado.

O homem tinha longos cabelos laranjas, mas sua coloração parecia desgastada com o passar do tempo. Era um laranja desbotado. E suas vestes eram negras com serpentes douradas nas bordas.

 — Senhor Genbu... Esse é o...

— Ryuho. — disse o deus, sem precisar olhar para o jovem dragão. — Você demorou para nos visitar, filho de Rozan. Estão ocupando muito o seu tempo com treinamento? — disse sorrindo.

— Um pouco. — respondeu Ryuho. — Hoje a tarde será o meu teste final.

— Ansioso?

— Um pouco. Senhor, sobre a Marin... Ela está bem?

— Está sim. Eu a coloquei em sono profundo para que tenha uma recuperação melhor. Preciso evitar que ela faça movimentos por enquanto. Apesar das inúmeras perfurações, nenhuma foi fatal. Nem mesmo a que lesionou a coluna. Isso me faz pensar que a oponente dela não queria matá-la. Apenas feri-la. — concluiu Genbu.

— Então ela voltará a andar?

— Saberemos quando ela acordar. Entenda que o corpo tem suas limitações. Existe um limite até onde podemos ir. Aqui em Senkyou estudamos a anatomia e a cura de modo que possamos registrar e passar para as próximas gerações. Não fazemos milagres divinos. Deuses podem deixar de existir, e com isso seus milagres morrem, mas o conhecimento compartilhado é eterno.

— Então o Johan...

— Isso mesmo. Ele não voltará a enxergar. A condição dele não permite que isso seja possível.

— Mas eu achei... Eu achei que assim como o meu pai, que se cegou em combate, ele também voltaria a enxergar.

— Os olhos do seu pai foram feridos, e o que curou ele foi o milagre que o sétimo sentido é capaz de fazer. Mas a condição de Johan é diferente. Ele teve os dois olhos arrancados, então nem mesmo o sétimo sentido reverteria isso.

— Entendo... — disse Ryuho, com voz de lamento.

— Contudo... — disse Genbu, passando por Ryuho. — Me acompanhe.

Eles saíram da ala da enfermaria e foram até um corredor onde havia dezenas de quarto. O deus parou diante de uma porta de madeira e deu uma leve batida. A porta deslizou em seguida, dando acesso ao interior do quarto.

Johan estava sentado em uma cadeira de madeira e segurava um pedaço de pano verde-lodo nas mãos.

— Evite tirar a venda dos seus olhos. — disse Genbu. — Devemos evitar um processo inflamatório.

— As vezes tenho a sensação de que voltarei a enxergar quando tiro a venda. — disse Johan, cobrindo os olhos novamente. — Além do seu Taonia, o senhor não está sozinho... Ryuho?

— Sim, sou eu.

— O treino está dando resultado. — disse Johan, sentindo o nível do cosmo de Ryuho. — Quase não consegui identificar você. Está mais forte.

— E como você está?

— Estou me recuperando bem. A perda da visão aprimorou os meus outros sentidos, então vou ter que me adaptar as novas percepções. Ainda estou me acostumando com isso. Além do corpo, eu também precisei preparar a minha mente. É difícil ter sua visão coberta pela escuridão.

— Eu... Eu achei que...

Não precisa lamentar. Está tudo bem. Se preocupe apenas com o seu treinamento. — Johan enrugou o cenho. — Acho que nosso encontro será interrompido em poucos segundos. — disse ele. — Um dos Taonias do deus dragão está se aproximando.

Poucos segundos se passaram e o Taonia de Lebre surgiu na porta do quarto. Era um rapaz de cabelos grisalhos amarrados em um rabo de cavalo e de corpo delgado. Sua tatuagem era branca com detalhes dourados, e ele carregava uma faixa vermelha presa em sua cintura.

— Senhor Genbu, licença. O Senhor Seiryu está esperando pelo jovem dragão. — disse ele.

— Tenho que ir. — disse Ryuho, para Johan.

— Está bem, vá.

Ryuho deu meia volta e saiu do quarto.

— Shu... — disse Genbu, para o seu Taonia. — Você pode esperar lá fora?

— Sim senhor. — disse ele, fechando a porta.

— Como estão os seus sentidos?

— Apurados, eu diria. Sinto que meu sexto sentido está mais elevado. Quando eu falo, ou quando eu ou alguém próximo faz um movimento em contato com o chão, o meu cérebro mapeia o local ao meu redor, me dando a localização exata das pessoas, dos objetos, das formas físicas e dos movimentos que alguém esteja fazendo. — disse Johan — Mas as vezes é confuso. Eu preciso me concentrar para não embaralhar as coisas.

— Com o passar do tempo você irá ter prática.  — disse Genbu.

— Não tenho tanto tempo assim. Atena está prestes a retornar, e eu preciso estar no campo de batalha.

— Por quê?

— Porque eu sou um cavaleiro de Atena e tenho responsabilidade com a humanidade.

— Você é um soldado, mas não é uma máquina de guerra. Deveria saber seus limites. — alertou Genbu. — Sua atual condição lhe dará vantagens e desvantagens. Saiba até onde você pode e deve ir.

—...—


Região oriental de Senkyou – Domínio do deus dragão

Seiryu, o deus dragão, estava em pé nas escadarias do seu templo em meio a floresta acompanhado de seus três principais Taonias. Seus longos cabelos brancos voavam com o vento, e seus olhos dourados observavam Ryuho diante dele, vestido com roupa de treinamento, enfrentando três Taonias ao mesmo tempo.

O taonia de Tigre saltou, girando e emanando cosmo flamejante ao seu redor, e em seguida desceu como um raio afim de aplicar um chute em Ryuho. O cavaleiro de dragão saltou para trás, desviando do golpe que abriu uma cratera diante dele. Mas logo o taonia de Lebre surgiu, aplicando consecutivos socos.

Ryuho cruzou os braços diante de si para bloquear os punhos do seu oponente. Eram golpes potentes envoltos em cosmo e aplicados em uma velocidade que supera em muito a dos cavaleiros de prata. Vendo que estava sendo encurralado, Ryuho expandiu seu cosmo, lançando o taonia para trás e disparou centenas de socos. O taonia bloqueou, avançou em zigue-zague, e desferiu outra sequência de socos.

Dessa vez Ryuho não conseguiu bloquear a tempo, e acabou recebendo os socos em seu abdômen, peito e rosto. A velocidade e a potência haviam dobrado. Mas em meio ao ataque, o dragão de bronze reagiu. Ryuho segurou no braço do taonia e saltou, se movendo para o lado e concentrando cosmo em suas pernas, aplicando um chute no rosto do combatente e jogando-o contra uma sequência de árvores.

O sexto sentido de Ryuho lhe alertou de que algo se aproximava. O dragão virou e se deparou com o punho do taonia de dragão indo em direção ao seu rosto. Em um rápido reflexo, Ryuho girou e aplicou um segundo golpe de chute no punho do taonia, desviando o ataque e deixando-o com a guarda aberta, exposto a um próximo golpe. Com mais um giro, deixando um rastro de cosmo através da ponta dos pés, Ryuho acertou o rosto do taonia e o lançou para trás, rasgando o solo.

Ryuho pousou no chão, mas foi surpreendido pelo taonia de Tigre, que disparou um turbilhão de chamas, e pelo taonia de dragão, que havia se levantando e disparou uma rajada de ventos cortantes. Apesar da surpresa, Ryuho saltou, fugindo do alcance das técnicas, mas no ar, sem equilíbrio algum, ele foi alvejado pelos punhos velozes do taonia de lebre.

Nocauteado, Ryuho caiu e abriu uma cratera diante do deus dragão.

— Já chega. — disse Seiryu. — Consegue se levantar?

— Se os seus taonias conseguem... — disse limpando o sangue que escorria de sua boca enquanto se levantava. — Eu também consigo.

Seiryu franziu o cenho, mas rapidamente entendeu. Seus taonias de Lebre e Dragão se curvaram de dor e cuspindo sangue, sentindo o efeito retardatário dos chutes de Ryuho.

Muito bom. disse o deus dragão. Equilíbrio, agilidade e poder ofensivo... Foram esses os pilares do seu treinamento nos últimos cinco dias para fortalecer seu corpo e seu cosmo. E para permitir que você saia de Senkyou, você precisa mostrar domínio nesses elementos. Cada um dos meus Taonias representam esses elementos. — continuou Seiryu.   O Tigre é o equilíbrio. O coelho é a agilidade. E o dragão é o poder ofensivo. Supere-os, e terá concluído seu treinamento... Pelo menos foi isso o que eu havia dito quando você chegou aqui, e agora é o momento de você me mostrar essa superação.

O vento soprou e rugiu. Atrás de Ryuho o ar rodopiou e surgiu Byakko, o deus tigre e um dos quatros deuses celestiais de Senkyou. Ele tinha longos cabelos negros, trajava uma indumentária branca com traçados azuis e seu elmo tinha o formato de cabeça de tigre. Seus olhos eram azuis, mas sem pupila. Tinha apenas a íris.

A chegada do deus celestial da guerra e a permanência do deus dragão proporcionou um lapso cósmico de equilíbrio naquela região. Tigre e Dragão. Oriente e Ocidente. Outono e Primavera.

— A conclusão do seu treino não será com os meus Taonia. Seu adversário será Byakko.

— Mas o senhor Byakko é um deus. — disse Ryuho.

— Irei reduzir o meu cosmo e os meus movimentos a um nível que julgamos ser suficiente para você. — respondeu Byakko. — Apesar de que, em um campo de batalha, o seu inimigo não irá se preocupar com isso. Então você também não deveria. Ainda que você fosse apenas um soldado armado com uma lança prestes a enfrentar uma casta de deuses, segure firme na lança e lute. Então venha!

 Ryuho elevou o cosmo cerrando o punho e avançou. O deus bloqueou o punho insistente do jovem dragão que seguia forçando o rompimento do bloqueio.

— Transforme o seu punho em uma lança e perfure. Você não está usando seu escudo e a sua armadura agora, mas você tem os seus punhos e pode torná-lo uma arma afiada — disse Byakko.

Byakko agitou o cosmo ao seu redor e fez uma rajada de vento e cosmo rodopiar e lançar Ryuho para cima.

— Não seja um cavaleiro conhecido apenas por sua defesa. Isso não intimida ninguém. Isso só faz com que o seu oponente se empenhe ainda mais em matá-lo!!

O dragão foi arremessado, mas ainda no ar ele equilibrou o seu corpo e seguiu o trajeto da rajada, se unindo a ela. Agora estabilizado, Ryuho girou no ar em harmonia com o fluxo e desceu. Antes que seus pés tocassem o chão, o seu cosmo se expandiu e ele disparou mais uma vez. Byakko estendeu a mão para um segundo bloqueio, mas Ryuho se esquivou para o lado, segurou no braço do deus e girou aplicando um chute no rosto.

Mas Byakko parou o chute usando telepatia. A perna do jovem dragão estava a menos de um metro do rosto do deus.

— Está ágil e equilibrado, mas você pode ser mais ofensivo que isso. — orientou Byakko. — Apesar do dragão ter serenidade e paciência, ele também possui fúria. E nem sempre fúria é falta de harmonia. Consegue equilibrar isso dentro de você?

Ryuho saltou para trás, desviou dos socos disparados por Byakko, desviou das rajadas e fez seu cosmo explodir. Recuando seu braço com força e concentrando seu cosmo. No céu as nuvens trovejaram e rodopiaram.

— Agradeço pelos ensinamentos, mas existe mais dois pilares que nós, Cavaleiros de Atena, possuímos como suporte em um combate. Esperança e determinação. — O espírito do dragão surgiu nas costas de Ryuho, e nesse momento seu cosmo explodiu. — Meu pai e mestre me ensinou que isso se torna combustível para acender os nossos cosmos, potencializando o nosso poder ofensivo!

— Então me mostre as suas presas, dragão!

— Receba a técnica mais poderosa... O Cólera dos Cem Dragões! Ryuho lançou o golpe com os braços estendidos e as mãos abertas, disparando inúmeras rajadas de Cosmo que tomavam a forma de centenas de dragões furiosos.

Byakko tentou se defender, mas as presas dos dragões perfuraram o bloqueio, e o golpe gerou um turbilhão que envolveu Byakko e o arremessou para o alto, arrancando seu elmo.

Eu consegui. pensou Ryuho.

Byakko girou, dissipando o turbilhão, e desceu, pousando ao lado do seu elmo que havia caído no chão.

— Muito bom, rapaz. — disse o deus celestial erguendo o rosto para Ryuho. Havia um fino corte na lateral da testa do deus. — Você não apenas me arremessou com a potência da sua rajada, como também multiplicou suas presas e atribuiu ao seu golpe uma capacidade de retaliação. Como as verdadeiras presas de um dragão. Com isso você também ganha uma Tatuagem. Um traje dos Taonias. Mas lembre-se que você não pode manusear dois trajes. Terá que se abdicar de um.

— Não preciso pensar muito para tomar essa decisão, senhor. — o cosmo de Ryuho voltou a se acender, e a armadura de Dragão surgiu cobrindo o seu corpo. — Sou e sempre serei um Cavaleiro de Atena.

— Ótima escolha, Ryuho. — disse Johan, o cavaleiro de Prata de Corvo, se aproximando acompanhado por Marin, que havia acordado e recuperado seus movimentos.

— Utilize bem o seu cosmo e as suas presas. — disse Byakko, para Ryuho — Um dragão que apenas ruge só consegue intimidar o oponente uma vez. Se ele rugir novamente ao invés de atacar, ele morre. Por isso, não se contenha e faça bom uso das presas que você pode disparar. E mais uma coisa... Caso queira saber, reduzi o meu cosmo um pouco acima daquilo que vocês chamam de sétimo sentido. Acho que isso é suficiente para lhe dar um parâmetro de até onde o seu poder ao máximo conseguiu chegar. — o cosmo de Byakko se elevou e envolveu Ryuho e os outros. — Agora voltem para Jamiel! Talvez nos veremos em breve.

—...—

Floresta sagrada de Atena — Santuário, Grécia — Manhã do 6º dia antes do retorno de Atena

O sol ainda estava se erguido no horizonte quando a porta da cabana foi aberta e Chertan, o cavaleiro de bronze de Girafa e mestre de Jake, surgiu passando por ela. Ele estava usando roupa de treino do Santuário e prendia uma mecha dos seus cabelos laranjas com um adereço dourado.

Para surpresa de Chertan, Jake já estava esperando por ele. Em pé, com o rosto voltado para a cúpula de árvores, sentindo a brisa da manhã que agitava seus cabelos escuros.

— Pontualidade ou não conseguiu dormir? — perguntou Chertan.

— Um pouco dos dois. Acordei no meio da madrugada.

— Cabeça cheia, eu suponho. Mas o treino de hoje vai aliviar essa pressão.

— E o que o senhor tem para me ensinar ainda? — perguntou Jake.

— Controle emocional em campo de batalha. Como eu disse ontem, você está instável para voltar a lutar. A única coisa que você quer no momento é vingança devido a sua frustração.

— Eu tenho uma razão para isso. — disse fechando o punho com força.

— Tem sim, mas você não é um humano comum enfrentando uma batalha comum. Você é um cavaleiro, e suas emoções refletem em seu cosmo e em suas habilidades. Vingança e ódio lhe dará uma força maior, sem dúvidas, mas tem um preço. Esse poder também lhe deixará vulnerável, pois todas as suas defesas estarão abertas. E o que seus inimigos mais vão querer é isso. Uma brecha. Uma oportunidade.

— E o que o senhor quer que eu faça?

— Canalize suas emoções, expresse elas em seus punhos, mas com controle em você mesmo. Deixe a frustração de lado e não baixe a guarda. Eu não quero você lutando na base do desespero, Jake. Agora venha! Me ataque.

— Eu não posso atacar o senhor. O senhor pode se ferir.

Chertan sorriu.

— Por quê? Por que eu sou um Cavaleiro de Bronze e você é um Cavaleiro de Ouro?! Já lhe ensinei isso antes. Patente não é sinônimo de cosmo. Não desmereça seu oponente. Além disso... — Chertan elevou o cosmo. — Eu sou o seu mestre. Agora... Ataque!

— Não é isso... Eu... Eu não posso atacar o senhor.

— Se você não atacar... — Chertan cerrou o punho, recuando o braço e concentrando seu cosmo.

Jake arregalou os olhos.

Impossível! pensou Jake. Essa posição é...

Relâmpago de Plasma!!

Milhões de socos foram disparados na velocidade da luz, disparando milhares de raios de luz.

Ainda que surpreso pelo golpe, Jake reagiu e bloqueou os socos do mestre. Exceto um, que o nocauteou no queixo e o arremessou para trás.

— Mas como?! Como o senhor pode disparar o Relâmpago de Plasma? — perguntou Jake, se levantando.

— Eu lhe ensinei o golpe na teoria, e você acha que eu não conseguiria aplicá-lo na prática? Logo eu que treinei para ser o Cavaleiro de ouro de Leão!

...

Memórias de Chertan - 28 anos atrás – Santuário, Grécia

— Que tédio. — disse um garoto sentado na beira do cais. — Por que temos que fazer esse serviço de babá? Deveriam ter enviado Saga e Aiolos.

Ele tinha cabelos grisalhos, pele morena e um corpo forte repleto de cicatrizes. Estava sem camisa, como de costume, usando apenas uma calça escura e peças de proteção em seus ombros, braços e pernas.

— O Grande Mestre confia em nós. Por isso nos deu essa responsabilidade. Devemos escoltar a criança até as doze casas. — disse um garoto em pé.

Ele era um pouco mais baixo, cabelos longos e laranjas com um adereço no cabelo, olhos verdes grama e corpo esguio.

— É mais um cavaleiro de ouro? — perguntou o garoto de cabelo grisalho.

— Provavelmente. De acordo com as instruções, ele é indiano. — os olhos verde grama se estreitaram ao avistar um navio ao longe se aproximando. — Levante-se Guilty. Ele está chegando.

Os dois caminharam até a passarela onde o navio iria atracar. Eles esperaram alguns minutos. Quando o navio chegou e a rampa foi posta para o desembarque, um garoto de longos cabelos loiros e olhos fechados surgiu acompanhado de dois soldados rasos. Ele trazia uma urna dourada nas costas.

— Chertan e Guilty?  — perguntou um dos soldados.

— Sim. — respondeu Chertan.

— Esse é o Senhor Shaka. — respondeu o soldado. — A urna que ele carrega é a da Armadura de Ouro de Virgem. Ele é o guardião da sexta casa. Levem ele até o Grande Mestre.

— Está bem. — respondeu Chertan.

— Você é cego? — perguntou Guilty.

— Não. — respondeu Shaka.

— E por que está de olhos fechados?

— Se eu abrir, talvez você morra.

Guilty gargalhou.

— O garoto tem humor. Vamos, abra os olhos.

— Deixe ele, Guilty. — pediu Chertan. — Temos que leva-lo até o Mestre.

— Bobagem. — disse Guilty subindo a rampa e indo até Shaka. — Eu só quero que ele deixe de ser exibido e abra os olhos.

— Já que insiste...

Chertan arregalou os olhos. Ele pressentia perigo.

— Afaste-se dele Guilty!!

Shaka abriu os olhos e uma onda de luz e cosmo fluiu dos seus olhos e se expandiu, atingindo o peito de Guilty e o arremessando para o outro lado do cais.

— Guilty!! — gritou Chertan. — Você está bem?

— Ele é forte. — disse Guilty, gargalhando enquanto se levantava. — Garoto miserável. Expandiu o cosmo ao abrir os olhos. O desgraçado estava acumulando. Quantos anos você tem, garoto? — perguntou.

— Seis anos.

— Tão novo e já é um cavaleiro de ouro com esse nível de poder... — Guilty olhou para Chertan. — Parece que você não tem mais idade para ser cavaleiro de ouro, Chertan. — disse sorrindo.

— Não fale bobagem. Vamos, senhor Shaka. Por aqui.

Chertan e Guilty acompanharam Shaka até as doze casas. Durante o percurso, os dois candidatos a cavaleiros apresentaram o Santuário ao jovem cavaleiro de virgem, mostrando o vilarejo, coliseu, as estruturas externas e por último a montanha das Doze Casas.

— Você deseja ser um cavaleiro de ouro? — perguntou Shaka para Chertan.

— Estou me esforçando para isso. — respondeu. — Já faz seis anos que eu iniciei meu treinamento. Não nasci predestinado como o senhor ou como outros cavaleiros já escolhidos. Então... Só me resta me esforçar.

— E qual armadura de ouro seria?

— Leão. Minha constelação solar é Leão. — respondeu Chertan.

— Você tem potencial para ser um cavaleiro poderoso, mas... Jamais será um cavaleiro de ouro.

— O... O que disse?

Shaka parou e abriu os olhos, mas dessa vez sem expandir seu cosmo de forma ofensiva.

— Algumas pessoas nasceram para ver os outros conquistarem aquilo que apenas podem sonhar em ter.

Chertan cerrou o punho.

— Pega leve, pirralho. — disse Guilty.

— E é aqui que começa as Doze Casas. — disse Chertan, passando por eles e ignorando o comentário de Shaka. — Vamos subir.

Após atravessar as doze casas, eles chegaram no Templo do Grande Mestre. Os soldados que faziam a guarda do templo abriram a pesada porta branca adornada com detalhes dourados.

No grande salão, estava o trono do Grande Mestre, onde Shion estava sentado esperando por eles. E diante do Grande Mestre havia um grupo de crianças, todas trajando armaduras de ouro e em pé formando duas fileiras, com exceção de um garoto que estava ajoelhado no centro ao lado de uma urna dourada.

— Finalmente vocês chegaram. — disse o Grande Mestre, se levantando. — Venha, garoto. Junte-se a Aiolia aqui na frente.

Shaka obedeceu e se dirigiu até o garoto que o Grande Mestre chamou de Aiolia. Ele tirou a urna e a colocou ao seu lado.

— Chertan... — disse Guilty, cochichando. — Aquela ali não é a urna da armadura de ouro de Leão?

Guilty olhou para o amigo, mas Chertan já estava de punhos cerrados novamente e com uma expressão de raiva. Shaka olhou para Chertan mais uma vez, como se quisesse reforçar o que havia dito alguns minutos atrás.

Chertan então deu as costas e saiu do templo. Guilty o acompanhou.

— Espere! Chertan!

— Aquela armadura deveria pertencer a um de nós dois. — disse Chertan, parando na escadaria. — Estávamos nos preparando para isso.

— Eu não. — disse Guilty. — Você estava. Todo mundo me imagina como Cavaleiro de Ouro de Leão, mas eu não teria saco para ficar parado em uma das doze casas bancando o guarda-costas do Grande Mestre. Isso é mais a sua cara. Mas agora não dá mais. Aquele garoto metido a cego estava certo.

— Está errado!! — disse Chertan. — Eu vou ser o cavaleiro de ouro de Leão!!

— Geralmente é você que diz isso, mas parece que chegou a minha vez... Não diga besteiras. O que você vai fazer? Matar Aiolia e assumir a armadura como sucessor?

Chertan virou-se para Guilty e o encarou. O vento soprou, agitando seus cabelos alaranjados.

— Exatamente isso. Esse garoto não se tornou cavaleiro de ouro por mérito próprio. Ele teve privilégio de ser irmão mais novo de Aiolos. Eu não vou deixar isso acontecer. Eu sou tão qualificado quanto ele.

— Então enfrente ele. — disse um jovem saindo da casa de peixes. Ele tinha cabelos loiros e olhos prateados, e estava trajando a armadura de prata de Altar. — Solicite um desafio ao Grande Mestre para disputar pela armadura de Leão.

— Byaku?! — disse Chertan.

— Se é realmente isso o que você quer, meu amigo... — continuou Byaku. — Deve solicitar. Não é comum um pedido desse ser feito. Ninguém nunca ousou enfrentar um cavaleiro de ouro para ocupar seu lugar. Mas é possível.

— Já que você é o auxiliar do Grande Mestre, você poderia fazer isso. — disse Guilty.

— Eu posso falar. Mas preciso saber se é isso mesmo que ele quer.

— Eu treinei para isso. — respondeu Chertan.

— Se tem confiança nisso, então eu não vejo problema algum. Aguarde o comunicado do Grande Mestre. — disse Byaku, passando por eles e se dirigindo ao templo.

Alguns dias se passaram e nenhum comunicado do Grande Mestre havia sido dado a respeito do desafio. Chegou então o dia de Guilty disputar no coliseu o direito de posse de uma das oitenta e oito armaduras.

— Nervoso? — perguntou Chertan, enquanto caminhava para o coliseu.

— O meu oponente com certeza deve estar. — disse Guilty, estralando os dedos e sorrindo.

— É só uma disputa. Não se exceda. Já sabe por qual armadura você vai concorrer?

— Já sim. É a armadura de...

— Ei garoto. — gritou um dos soldados. — Você é o Guilty, não é?! Venha. A luta já vai começar.

— Chegou a minha hora. Te vejo lá dentro. — disse se despedindo.

Chertan se direcionou para a arquibancada enquanto o Grande Mestre fazia o anúncio do duelo entre Guilty e outro jovem aspirante a cavaleiro. O coliseu estava lotado, e havia alguns cavaleiros de ouro ao redor do Grande Mestre para assistir o combate e fazer a guarda do representante de Atena: Saga, Aiolos, Shura, Mascara da Morte, Afrodite e Aiolia.

— Que comece o combate!! — ordenou o Grande Mestre.

— Essa luta não vai durar mais do que um minuto. — disse Guilty.

— Com certeza não vai. — disse o aspirante. — Te lançarei para fora dessa arena.

O cosmo do aspirante se elevou e o chão ao seu redor se desprendeu com a pressão. Ventos fortes passaram a girar ao redor dele, formando um furacão que se expandiu pela arena, isolando Guilty e ele no centro.

— Agora não tem como você escapar. — disse ele. — Essa técnica lhe condena a lutar comigo até o fim. Se você fugir, como um covarde que eu sei que você é, será tragado por esse vento cortante infernal.

Guilty sorriu.

— Que piada.

— Zombe o quanto quiser. Eu chamo essa técnica de...

 Guilty se moveu de punho cerrado, surgindo cara a cara com seu oponente.

— Eu não vim aqui para ouvir nome de técnica. Estamos aqui para lutar. — disse desferindo uma sequência de socos. — Fique tagarelando enquanto eu surro você até a morte.

O aspirante concentrou cosmo em suas mãos e disparou uma rajada para afastar Guilty, que foi lançado para trás rasgando o solo. Mas antes mesmo de parar ele impulsionou o cosmo e voltou a avançar para o ataque. Sua expressão era perversa. Seu sorriso maligno estava estampado em seu rosto, e seus olhos brilhavam por sangue.

— Está fluindo uma presença assassina desse garoto. — disse Aiolos, comentando com seus companheiros a respeito de Guilty.

— Ele é dos bons. — disse Mascara da Morte, satisfeito. — Realmente não vai demorar para essa luta acabar. Ele está irradiando ódio.

— Irei garantir que você não se torne um cavaleiro. — Guilty se moveu e surgiu atrás do oponente, que apenas sentiu uma presença hostil em suas costas. — Nunca mais. — disse aplicando um chute na perna do aspirante.

O grito de dor foi apavorante de se ouvir. O aspirante caiu na arena se contorcendo de dor e gritando. Sua perna havia sido fraturada e o osso estava exposto.

O coliseu inteiro se levantou em meio a murmúrios. Foi dada a ordem de suspensão do combate, mas Guilty ignorou e continuou.

 — Até parece que um fracassado como você iria me vencer e conquistar a armadura. Vamos! Levante-se! Essa fratura deveria significar nada para você!

— Já chega, Guilty! — gritou um soldado.

— Ele não vai parar. — disse Chertan. — Não até o garoto parar de respirar. Tirem ele de lá!!

— Já que você não se levantar... — os olhos de Guilty brilharam com cosmo e ele correu, deixando uma onda de impacto para trás.

Sem forças para reagir, o aspirante foi acertado em cheio pelo punho violento de Guilty, sendo jogado para o alto, e ficou preso na sequência de socos desferidos. Sua visão estava ficando turva enquanto cuspia sangue e gritava de dor. Enquanto seus olhos se fechavam e ia perdendo a consciência, ele viu soldados pulando da arquibancada para a arena afim de parar Guilty.

— Morra! Vou incinerar você!

O cosmo de Guilty converteu o tufão em chamas, erguendo uma coluna de fogo ardente em toda a arena. Os soldados que haviam entrado na arena foram incinerados quando a coluna de fogo recuou até Guilty, que estava concentrando as chamas entre as mãos para dispará-la em uma rajada concentrada contra o aspirante.

— Já chega! — disse Afrodite, disparando uma rosa vermelha que dissipou a coluna de chamas e atingiu as pernas de Guilty, debilitando suas ações e seus sentidos.

Envenenado, Guilty cedeu e caiu, mas em momento algum ele soltou o aspirante. Continuava segurando o garoto pelos cabelos.

— Ele é um demônio. — disse Aiolos.

— O menino não vai sobreviver. — disse Saga, preocupado com o aspirante. — Levem ele para a enfermaria! Urgente! — gritou para os soldados que estavam na arquibancada.

— Você é poderoso. Sem dúvidas. — disse o Grande Mestre. — Mas é uma pena que possa existir tanto ódio em seus punhos.

— É do ódio que eu tiro a minha força. — disse ele. — E é da força que vem o poder para manter a justiça.

— A justiça é preservada pela paz e pelo amor. O ódio um dia irá lhe matar. — alertou o Grande Mestre. — De qualquer forma, você venceu o combate, e isso lhe garante o direito de vestir a armadura. Use-a pela justiça e para proteger Atena. Duelo encerrado!

— Espere, Grande Mestre! Por favor. — alguém gritou, chamando a atenção do sacerdote de Atena.

— Quem é você? — perguntou o Grande Mestre.

— Meu nome é Chertan, senhor. respondeu, pulando da arquibancada para a arena. — Alguns dias atrás eu solicitei um desafio para enfrentar Aiolia e disputar o direito de vestir a armadura de ouro de leão.

O coliseu ficou em silêncio. Todos estavam surpresos com aquela atitude, que para muitos era tolice, ousadia e loucura.

— Me enfrentar?! — disse o pequeno Aiolia, incrédulo.

— Não há razão para isso. — disse o Grande Mestre. — Eu recebi o seu pedido através de Byaku, mas eu desconsiderei. Já existe um cavaleiro de ouro de Leão bem selecionado. Se quiser ser um cavaleiro, conclua seu treinamento e dispute por uma das outras armaduras disponíveis.

— Peço que reconsidere, Grande Mestre. Eu sou tão capaz quanto Aiolia para tal posição.

— E por que você acha isso?

— Mérito próprio do meu esforço, e não pelo privilégio de ter um irmão como cavaleiro de ouro.

— Você acha que o meu irmão se tornou um cavaleiro por influência minha? — questionou Aiolos.

O Grande Mestre ergueu a mão, interrompendo Aiolos.

— Podemos aproveitar o momento e tirarmos a dúvida. — disse o Grande Mestre. — Aiolia, você aceita o desafio?

— Sim, mestre.

O jovem leão desceu as escadas, expulsando a armadura de leão do seu corpo, e saltou em direção a arena, pousando frente a frente com Chertan.

— Chertan... Tem certeza?

— Saia da arena, Guilty.

— Está bem. E só para garantir, mate ele. — disse Guilty, dando um sorriso malicioso para Aiolia. — Assim não restará dúvidas de que a armadura será sua.

Aiolia sorriu.

— Me matar? Não é possível. Primeiro ele teria que ser capaz de me atingir. Ele não tem velocidade e habilidade para isso.

— Essa é a parte interessante. — disse Chertan. — Eu tenho. E quando foi que você me viu lutar para dizer do que eu sou ou não capaz?! — seu cosmo se elevou. — Lute para sobreviver, Aiolia.

Chertan avançou, e seu movimento foi imperceptível para a maioria dos observadores.

— Ele se moveu na velocidade da luz!! — disse Máscara da Morte.

Chertan cerrou o punho e desferiu centenas de socos na velocidade da luz. O movimento intensivo dos seus braços deixava rastros de luz como uma chuva de estrelas. Aiolia saltou, desviando dos socos, e contra-atacou desferindo socos com a mesma intensidade ainda no ar.

Ao posar ele se deparou com Chertan já diante dele, com punho fechado e concentrado indo em direção ao seu rosto. Surpreso, Aiolia jogou o corpo para o lado, e sentiu quando uma poderosa rajada foi disparada, quase atingindo o seu rosto de raspão.

Ele é poderoso e se move na velocidade de um cavaleiro de ouro. pensou o jovem leão. Mas eu não posso perder para ele. Eu nasci para ser o Leão Dourado desta era!! Aiolia concentrou cosmo em seu punho e desferiu um soco. Capsula do poder!

A rajada foi disparada e se expandiu, atingindo Chertan e o engolindo. Uma nuvem de poeira se levantou.

— O desgraçado morreu. — disse um soldado.

— Impossível sobreviver a isso. — disse outro soldado.

— Não falem besteiras! — gritou Guilty. — Ei pirralho! Acha que acabou a luta? — Aiolia olhou para Guilty. — Então toma cuidado! Ele não caiu ainda1 Tem que bater mais forte!!

Impossível! pensou Aiolia.

Ao se virar, Aiolia se deparou com Chertan em pé em meio a nuvem de poeira. Quando o ar girou e a poeira se dissipou, Chertan estava de braços cruzados e com a camisa caindo aos pedaços.

— Minha vez! Sinta na pele... O verdadeiro poder da Capsula do Poder!!

Ao invés de disparar o golpe a distância, Chertan avançou junto com o seu golpe, concentrando a rajada da capsula do poder na extensão do seu braço, e assim ampliando o poder do seu punho e o impacto de contato.

Aiolia desviou, mas tão rápido quanto Aiolia Chertan virou-se e avançou novamente, dando continuidade a aplicação do golpe. Mais uma vez Aiolia desviou para o lado, e novamente o golpe passou de raspão. E assim seguiu consecutivamente, nas dezenas de vezes que Chertan avançou e atacou, sem pausa.

— Isso é loucura! — disse Shura, surpreso. — Ele não apenas aprendeu a técnica básica de Aiolia, como também transformou a Cápsula do Poder em um golpe contínuo, perseguindo o oponente até atingi-lo. Mas como ele aprendeu?

— Através dos registros do Santuário. E não foi só o Cápsula do Poder.respondeu Byaku de Altar, sentado na arquibancada ao lado do pódio onde estavam os cavaleiros de ouro e o Grande Mestre. — As técnicas de Leão vem sendo utilizada pelos cavaleiros de ouro de Leão há séculos. Os golpes são de aplicação básica, mas bastante concentrado. Ele não teve dificuldade para aprender a aplicação, mas treinou muito para atingir o ápice do poder.

— Quanto empenho. — disse Saga, impressionado pela dedicação de Chertan.

— É disso que o Santuário precisa. — continuou Byaku. — Os aspirantes a cavaleiros precisam ser treinados até atingirem um nível igual ou próximo ao dos cavaleiros de ouro. Isso fará com que o exército de Atena se torne ainda mais poderoso, e sem dar importância a divisão de patentes.

 — Mesmo com todo esse empenho, ele não está no nível de um cavaleiro de ouro. — disse Aiolos. — Meu irmão já nasceu com esse poder e só precisa aperfeiçoar.

— Ao passo que Chertan não nasceu com esse poder... — disse Byaku, ainda sentado e observando a luta na arena. — Mas se esforçou nos seis anos de treino até alcançar o nível do seu irmão. Alguns já nascem em berço de ouro, mas outros precisam lutar para ter um. A pergunta é... — Byaku olhou para Aiolos e para os demais cavaleiros de ouro. — Isso incomoda?!

Chertan havia dando continuidade a sequência de golpes de forma interrupta. Mas Aiolia vendo que estava ficando cansado e prestes a cair na sequência de ataques de Chertan, resolveu agir. O Leão dourado girou aplicando um chute, mas Chertan se esquivou, surgiu atrás de Aiolia e recuou o braço cerrando o punho.

— Essa posição... — disse Máscara da Morte, enrugando o cenho. — Não é o...

— Vire-se e ataque, Aiolia!! — gritou Aiolos.

Aiolia virou-se e se distanciou saltando para trás, e durante o salto ele viu e reconheceu a posição de ataque de Chertan.

Relâmpago de Plasma!! disparou Chertan.

Eram centenas de socos na velocidade da luz sendo desferindo por segundos. Centenas de feixes de luz avançando pela arena com poder de retaliação.

Relâmpago de Plasma!! disparou Aiolia.

Ambos os golpes colidiram com máxima precisão. Seus cosmos rugiram e se ampliaram. Um tentava romper o ataque do outro e assim encerrar aquele combate.

— Mil dias. — disse Afrodite. — O combate irá terminar com a morte de ambos.

— Não. — disse o Grande Mestre. — Só haverá um vencedor. E quem irá decidir isso é a própria armadura de ouro de Leão. Vá Leão! Vista seu dono e encerre esse combate.

— O que está fazendo, senhor? — perguntou Byaku, se levantando.

— Essa luta já foi longe demais. — disse o Grande Mestre. — Os dois não podem morrer. E quando ele ver a armadura escolhendo Aiolia, ele entenderá que esse sonho não passou de uma ambição passageira.

A armadura de ouro brilhou e se desmontou, cobrindo o corpo de Aiolia. Ao vesti-la, o cosmo de Aiolia se ampliou ainda mais, somando com o cosmo da armadura de leão, e com isso o seu golpe se intensificou e sobrepujou os punhos de Chertan, rompendo a colisão e golpeando o aprendiz de cavaleiro.

Chertan recebeu os punhos furiosos de Aiolia em cheio, e foi jogado contra a arquibancada, com o corpo repleto de cortes e sangue.

— A luta está encerrada! — declarou o Grande Mestre. — Aiolia é o verdadeiro Cavaleiro de Ouro de Leão.

— Eu... Eu... Perdi? — perguntou Chertan, tentando se levantar.

Sua visão estava embaçada. Ele só conseguia ver a imagem distorcida do pequeno Aiolia em pé no centro do coliseu emanando poder com a armadura de leão em seu corpo. Ao redor dele os soldados do santuário zombavam da sua derrota, menosprezando seus esforços. “Fraco”, “idiota”, “patente baixa”.

— Não desmereçam o poder dele. — repreendeu o Grande Mestre. — Ele é poderoso. Mas não nasceu para ser um cavaleiro de ouro. Aceite a patente que você terá ao concluir seu treinamento. — disse para Chertan. — E largue de uma vez por todas esse desejo de se tornar um cavaleiro de ouro.

[A continuação desse fragmento de memória será em um gaiden de 3 capítulos chamado “Rebelião”, contendo essa cena inclusa na história]

...


Floresta sagrada de Atena — Santuário, Grécia — Manhã do 6º dia antes do retorno de Atena

— O... O senhor treinou para ser o cavaleiro de ouro de Leão?! 

— Exatamente. Mas eu fui vencido por Aiolia, e dias depois me tornei o cavaleiro de bronze de Girafa. Depois disso passei a ser ainda mais humilhado pelos outros cavaleiros e aspirantes, já que leões comem girafas. Pouco tempo depois houve uma rebelião liderada por Byaku contra o sistema de segregação do Santuário. Guilty e eu participamos. Mas os cavaleiros de ouro nos impediram. Então fomos julgados e condenados ao banimento. Guilty foi para a ilha da Rainha da Morte. Byaku foi enviado para Delfos. E eu fui enviado para o Grand Canyon. Nos tornamos ex-cavaleiros, mas com a obrigação de servir ao Santuário e formar novos discípulos. Anos se passaram e então a armadura de ouro de Leão surgiu diante de mim. Eu sabia que Aiolia estava morto, então achei que havia chegado a minha vez, mas ai a armadura me mostrou uma imagem. Era você, Jake. Caído em cima do corpo do seu namorado morto, coberto de sangue. A armadura estava me pedindo para ajudar você e lhe treinar. Eu me neguei. Achei aquilo humilhante no momento. Novamente eu estava vendo o meu sonho fluir entre os meus dedos. Mas ei eu olhei novamente para você e deixei as minhas questões de lado. Me compadeci. Aceitei você e a armadura foi ao seu encontro, e depois trouxe você até mim.

— Mestre... Eu...

— Emoções baratas podem nos prejudicar, Jake. Eu participei da rebelião movido pelo ódio, frustração e indignação. A consequência disso poderia ter sido a minha morte. Os cavaleiros de ouro me pouparam naquele dia, mas os berserkers não terão a mesma misericórdia com você. Com ódio você pode se tornar uma máquina de matar sem controle e assim descarregar toda a raiva que sente, mas também irá exigir o preço de ter toda essa força. A sua vida. Agora venha e me ataque. Atena está voltando para enfrentar Ares e vai precisar de todos os cavaleiros de ouro em campo. Portanto, se você não me vencer nos próximos dias de treinamento... Eu irei assumir a armadura de ouro e me tornar o Cavaleiro de ouro de Leão em seu lugar.

—...—


Observação:

* Byaku e Byakko são personagens diferentes:

— Byaku: Cavaleiro de Prata de Altar

— Byakko: Deus celestial da guerra em Senkyou


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá galera!! Tudo bom com vocês?! Espero que sim. Deixei vocês sem capítulos nos últimos dois meses, então pra compensar tá ai o capítulo especial.

Essas cenas estariam no capítulo principal, mas eu achei que tomaria muito espaço da trama principal e acabaria tornando o capítulo pesado demais em relação a informações.

Espero que tenham gostado desse especial de hoje. E enquanto isso, o capítulo principal segue em construção (será o próximo a ser lançado).

E como vocês já sabem, a critica de vocês é sempre bem vinda e fundamental para a história. Motiva bastante a escrever e caprichar.

Beijos e abraços!! Até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Saga de Ares - Santuário de Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.