A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 65
Capítulo 60 — Sangue por sangue


Notas iniciais do capítulo

Shun, que superou o oitavo sentido e alcançou o nono se tornando um deus, entra em uma batalha acirrada contra Oberon, o filho de Hades e deus da escuridão. Enquanto isso Seiya está a um passo de se encontrar com Atena, mas dois deuses que haviam caído em batalha surgem para impedi-lo. No Santuário, a malícia de Phobos leva o deus a converter o Coliseu em uma fonte de sangue escorrendo como um rio sem fim. Faltam apenas 4 dias para a batalha final.



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Capítulo 60 — Sangue por sangue


China – Cinco Picos antigos de Rozan – 5° dia

A urna dourada contendo a armadura de ouro de aquário cruzou o norte da Sibéria, Rússia e Índia até chegar em Rozan, atravessando a barreira anti-berserkers que foi erguida por Senkyou em toda China.

Ela aterrissou diante de um Shiryu ajoelhado e curvado, lamentando em lágrimas a morte do companheiro. O antigo dragão segurava a espada de libra com força, debruçado sobre ela. A mesma espada usada por Hyoga durante a luta contra Éris.

Da porta de casa Shunrei o observava em silêncio. Ela sabia o quanto Shiryu estava sofrendo e que precisava pôr para fora toda a sua dor. E para acompanhar a tristeza de Shiryu, o céu nublado chorou junto com ele, misturando suas lágrimas aos pingos de chuva.

— Hyoga... — sussurrou entre lagrimas. — A batalha final ainda não começou e nós já perdemos você, meu amigo. Mas seu sacrifício não será em vão. Eu prometo. Que seu espirito nos proteja até que venhamos nos encontrar novamente.

E então um grito de dor irrompeu de sua garganta e ecoou como o rugido de um dragão triste e ferido por toda região montanhosa como uma frequência cósmica.

...


China - Vilarejo de Rozan – 5º dia

— Mamãe!! — gritou preocupada uma garotinha de cabelos rosados. — A moça voltou a sentir dor!!!

A garotinha estava em pé ao lado da cama onde uma jovem de cabelos ruivos estava deitada, gemendo entre os dentes e enrugando o cenho. Seus cabelos estavam grudados na testa suada e enfaixada. Ela também balbuciava palavras em uma língua que a garotinha não conseguia entender, exceto o nome de uma pessoa que ela repetia com frequência.

A mãe da menina entrou no pequeno quarto às pressas, trazendo uma bacia de água com forte cheiro de erva e um pano encharcado. Era uma mulher magra, com cabelos castanhos bagunçados, usando um vestido encardido e de semblante cansado, com marcas expressivas no rosto deixadas pelo tempo. 

— Ela parece estar sofrendo, mas não é algo físico. — disse a mulher, com tom de preocupação, colocando o pano molhado na testa da jovem. — Em sua viagem até aqui ela deve ter tido um caminho bastante difícil.

— Será que ela vai se recuperar logo, mamãe? Ela parece triste.

— Espero que sim. Já usei todos os tipos de ervas possíveis para fortalecer o corpo e a mente dela com novas energias. Agora cabe aos deuses acorda-la dessa tormenta ou...

E como um milagre sendo ouvido e concebido pelos deuses, o céu trovejou e trouxe consigo um rugido de dor e lamuria cortando o vento dos cinco picos antigos de Rozan. A jovem acordou de seu tormento se levantando subitamente, e inconscientemente atacou a mulher. A bacia de barro foi partida ao meio com a mesma facilidade que uma lâmina corta um papel. Um corte afiado e com precisão.

Assustada, a mulher caiu para trás e se arrastou para longe, mantendo a filha segura logo atrás.

A jovem ruiva ficou parada na cama por um tempo. Demorou para que sua mente chegasse a conclusão de que ela não estava em um lugar conhecido. O quarto era pequeno e pouco mobiliado, com um pano no lugar da porta separando o cômodo do resto da casa.

Sua cabeça estava doendo, mas seu corpo parecia mais leve apesar de sentir pequenas pontadas no abdômen. Ao levantar a blusa, constatou que estava enfaixada e com manchas finas de sangue. Em seguida levou as mãos à cabeça e tocou na faixa que pressionava sua testa.

— Alguns cortes demoraram para cicatrizar. — disse a mulher, se levantando ainda desconfiada.

— Quem é você e onde eu estou? — perguntou a jovem. Ela olhou para o chão e viu a bacia partida e a água escorrendo pelo chão. — Eu... Sinto muito.

— Está tudo bem. — respondeu a mulher se abaixando para enxugar o quarto. —  Minha filha e eu achamos você caída no caminho que leva à esse vilarejo em Rozan...

— “Ainda estou em Rozan?!”  pensou ela, arregalando os olhos.

— De longe parecia que você estava usando uma roupa dourada, mas quando chegamos perto... ela sumiu. — disse a garotinha animada.

— Ela insiste com essa história. —  disse a mulher, sorrindo. — Vimos que estava ferida e cansada, então trouxemos você para nossa casa. Achei que você não fosse da região por causa das suas vestes. E agora ouvindo o seu sotaque, percebo que é uma estrangeira. De onde você é?

—  Eu...

— As vezes você falava sozinha enquanto dormia. —  disse a garotinha, interrompendo. —  Parecia que estava tendo pesadelos.

— E por quanto tempo eu dormi?

— Dois dias. Você estava com um corpo tenso quando chegou. Bastante rígido. Eu já vi isso antes. Era assim que o meu pai voltava da guerra. Você parece que também veio de uma.

— Quase isso. — disse a jovem se levantando.

— Não se levante assim tão rápido. — protestou a mulher. — Não acho aconselhável.

— Não posso ficar na cama. Tenho algumas obrigações.

— Com Atena? — perguntou a garotinha, curiosamente inocente. Ao perceber que a jovem ruiva estava lhe encarando, ela se apressou para se explicar. — É que você falava bastante esse nome. Era a única coisa que entendíamos. Ela... Ela é sua amiga? É por isso que você parecia tão preocupada e triste quando falava o nome dela? Você... Você parecia sofrer.

— Não... Ela não é...

— Não precisa responder caso não se sinta à vontade para isso. Perdoe a curiosidade da minha filha. Também não precisa ficar na cama se não quiser. Apenas não aconselho a partir agora. Pode me ajudar a preparar algo para comer ou sair para caminhar. Mas preciso pelo menos saber o seu nome.

— Meu nome é... Tourmaline.

—...—


Jamiel – Fronteira entre a China e a Índia – 5° dia

De dentro do palácio de Jamiel ecoavam batidas metálicas como a de um ferreiro trabalhando em sua forja. De cada batida resplandecia um feixe de luz dourada e pó de estrela pairavam no ar como nuvens de pólen.

Mas nem mesmo o som das ferramentas sagradas do mestre de Jamiel foram suficientes para abafar o grito estridente de Shiryu que percorreu até a fronteira entre a China e a Índia como uma ressonância cósmica. Kiki, que é o mais sensível a percepção psíquica, interrompeu o concerto da armadura de prata de Corvo e arregalou os olhos já ardendo em lágrimas.

— Não... Não pode ser verdade. — disse o ariano sussurrando incrédulo e deixando uma das ferramentas da armadura de bronze de Escultor cair.

O barulho da ferramenta quicando no chão chamou a atenção de Shina, que estava auxiliando com seu sangue na reparação das armaduras. Seus braços estavam enfaixados e manchados.

— kiki?! O que houve?!

— Shiryu... Ele está chorando. O Hyoga... O Hyoga está...

— Shalom também sentiu. — disse Jabu, arfando, parado na entrada do palácio acompanhado pelo Cavaleiro de Virgem. — Dessa vez foi o Hyoga, não foi?! Ele também está...

Lágrimas escorreram pelo rosto de Kiki e pingaram na armadura de corvo. Jabu cerrou o punho e Shalom colocou a mão em seu ombro para conforta-lo.

— Jabu... — chamou Kiki. — Avise ao Asterion, por favor. Hyoga de Aquário está morto.

— Mas... Está bem

— Não precisa avisa-lo. — disse Kastor, parado na escada. — Ele já sabe e aconselhou que ficássemos atentos.

Kiki estendeu a mão para a ferramenta que havia caído e a fez voar até ele.

— Delfos pode ter tomado todas as precauções possíveis para termos o menor número de baixas entre os cavaleiros, mas com a batalha final se aproximando, as coisas vão ficando cada vez mais tensas e imprevisíveis. —  disse Kiki, voltando a trabalhar na recuperação da armadura de prata. — Faltando menos de quatro dias... É preocupante que tenhamos perdido alguém como Hyoga.

— Jake capturado... Hyoga morto... Deveríamos reforçar as defesas de Jamiel. — disse Shina. — Ares já tentou atacar Jamiel uma vez. Pode tentar novamente sabendo que alguns cavaleiros estão reunidos aqui e...

Shina cambaleou um pouco tonta, mas Shalom se apressou e a segurou.

— Shina... Você está fraca. Quantos litros de sangue você já deu para auxiliar nas reparações?

— Não se preocupe. Eu estou bem. — disse a amazona, se afastando. — Algumas armaduras precisam de reparação. Perseu, Corvo, Sagita... Estão bastante danificadas.

— A sua também está. — disse Shalom, afastando a manga da própria camisa. Com um rápido movimento de mão, Shalom cortou o próprio pulso e derramou o seu sangue na armadura de corvo.

— Não Shalom! Pare! — protestou Shina. — Você é um Cavaleiro de Ouro. Seu sangue é mais importante do que o meu. E você precisa estar em boas condições.

Shalom sorriu.

— Está tudo bem, Shina. Não se preocupe. Meu sangue não é mais importante do que o seu ou de qualquer outro aqui. Toda vida é igualmente importante. Vá se deitar. Descanse. Eu ajudarei Kiki nas reparações. Está de acordo Kiki?

— Não tenho nenhuma objeção já que é isso o que você quer. Shina... Você ouviu a ordem. Descanse e... Obrigado.

—...—


Tártaro — Castelo de Oberon

As sombras na parede do grande salão se distorceram e uma fenda dimensional foi aberta. Dela surgiu Shun, emanando uma presença poderosa e trajando a armadura divina de Andrômeda.

— Shun de Andrômeda. — a espada negra se materializou na mão de Oberon. — Você veio para morrer.

— Essa aparência imponente... Esses olhos azuis... Ele é semelhante ao pai. Com certeza é ele.  pensou Shun. —  Você deve ser Oberon, o filho de Hades.

— Isso mesmo. — respondeu o deus. —  Sou filho de Hades e deus da escuridão. — havia cordialidade em seu tom de voz. — Andrômeda... Você chegou aqui primeiro que os outros. Estou curioso para saber... Como me encontrou tão rápido?

— Apís me guiou até aqui. Pelo visto ele ainda conserva a habilidade de caminhar nas sombras mesmo após ter sido libertado da estrela maligna que você usou para macula-lo.

— Ah, então você não o matou. Mesmo depois de toda aquela explosão de cosmo. Quanta bondade. Mas mesmo assim você estragou o meu mais novo espectro. Era um rapaz de grande prodígio. Onde ele está agora?

— Onde ele deve estar. Junto com os outros cavaleiros. Ele foi se juntar a Henry e os outros.

— E você veio até aqui achando que Oberon estaria com Atena, eu suponho. — disse um homem em pé no fundo do salão.

Os olhos de Shun passaram de Oberon para o homem que estava exibindo uma aparência semelhante a sua, igual ele fez quinze anos atrás. Era um Shun de cabelos vermelhos, pele pálida, olhos acinzentados e imponentes, vestindo um longo manto escuro com ombreiras.

— Hades!? — disse Shun, surpreso por ver o deus do submundo ali.

— E mais uma vez o destino se encarrega de colocá-lo diante de mim para responder as minhas necessidades. — disse Hades. — A minha alma ainda anseia pelo seu corpo, Shun.

— Já demos um fim a isso na Giudecca, e nossa batalha já foi encerrada nos Elíseos, Imperador.

— Está enganado, Andrômeda. — disse Hades. — Nada foi encerrado. Você está com esse destino traçado desde o dia do seu nascimento. É algo que você não pode mudar e já deveria ter percebido isso. Seu irmão impediu Pandora quando você ainda era um bebê, mas treze anos depois você apareceu diante de mim na parte mais profunda do Inferno. Fomos impedidos por Atena naquela ocasião e agora eu não posso tomar o seu corpo a força, mas você também não vai conseguir adiar isso por muito tempo. E uma prova disso é que quinze anos se passaram e o destino lhe trouxe aqui, diante de mim, na parte mais profunda do Tártaro. Ainda duvida do seu destino?

— Não importa quantas vezes o destino me jogue diante de você, eu...

— Não me faça perder tempo ouvindo um discurso vazio de negação. — disse o deus do submundo, indiferente. — Desde já eu lhe aviso que quando você encontrar a morte e estiver a um fio de perder a vida, eu irei aparecer diante de você e lhe farei uma proposta. É certo de que a minha ascensão se dará através de você, Andrômeda. É inevitável.

— Enquanto eu puder evitar, eu irei. — respondeu Shun, firme. — Nem mesmo na beira da morte eu permitirei que você volte a possuir esse corpo. Jamais irei promover o seu retorno.

— Você continua sendo um tolo teimoso!! — disse Hades, se movendo até Shun e ficando frente a frente. Os olhos do deus passaram de acinzentados para vermelho sangue. Sua voz se alterou. Estava grossa e pavorosa. — Se você pudesse ver as correntes que nos prende, você mesmo iria dizer que é perda de tempo resistir!! Mas você prefere insistir nisso. Tudo bem. — disse se afastando, retornando a uma postura serena e passando por Shun em direção a porta. — Estarei esperando pelo seu chamado no seu leito de morte. Por isso... Não o mate, Oberon, mas também não se contenha. Shun de Andrômeda é um homem poderoso, com uma força de vontade tão grande que é capaz de resistir ao meu controle.

E dito isso a alma do deus do submundo desapareceu como fumaça, deixando Shun e Oberon sozinhos no grande salão.

— Apesar de ser apenas um receptáculo, meu pai nutre uma sincera admiração por você, Shun. E agora eu compreendo o porquê. É interessante que um homem tão puro como você, seja também um combatente de pulso firme. E devo dizer... Vocês humanos são fascinantes. Nem mesmo eu sou tão tolo para falar com o meu pai de forma tão petulante como você se dirigiu a ele. Mesmo na forma de alma ele poderia ter matado você. Sabe disso, não é?!

— Se ele tivesse essa opção, ele teria feito. — respondeu Shun. — Mas ele não pode porque precisa do meu corpo ainda com vida. Ele não pode possuir um cadáver e não pode me possuir a força. Por isso ele pediu para você não me matar. Eu já senti o poder de Hades correndo nas minhas veias antes. Sei muito bem qual a dimensão e a capacidade de todo o seu poder. Na situação em que ele está agora, ainda se recuperando da batalha nos Eliseos, possuir o corpo do seu receptáculo faria com que ele pudesse restabelecer suas forças com mais rapidez.

Oberon sorriu.

— De fato. Mas mesmo fraco ele ainda é um dos três grandes deuses do Olimpo. E você está superestimando a sua importância em meio a tudo isso, Andrômeda.

— Isso não me interessa. —  disse Shun, interrompendo Oberon. — Resta pouco tempo, então me diga... Seiya, onde ele está? Pensei que ele já tivesse chegado até aqui. E Atena... Onde ela está?

— Atena está em outro cômodo do castelo, sendo vigiada. E como o Pegasos é o dedicado defensor de Atena, ele está naturalmente sendo atraído até onde ela está. Exatamente como esperávamos que ele fizesse.

— Uma armadilha. — concluiu Shun.

— Você deveria ter pedido a Apís para levá-lo até onde Atena está ao invés de supor que ela estaria aqui comigo. Teria sido mais inteligente. Perdeu a sua chance, Andrômeda.

— Não tem problema. Se Seiya está indo até Atena, não tenho o que fazer lá. Não importa qual for a armadilha que você preparou para ele, a missão de Seiya é salvar Atena e é isso o que ele fará. Portanto, aqui é o lugar onde eu devo estar.

— Você não tem o que fazer aqui. O que pretende? Me enfrentar?!

As correntes divinas foram tomadas por um cosmo dourado e se agitaram ameaçadoramente apontando para Oberon.

— Sendo um dos deuses aliados de Ares... É natural que eu faça isso. Principalmente se tiver a intenção de nós impedir.

— Andrômeda... Apesar de ter alcançado o nível de um deus, não ache que terá qualquer facilidade lutando contra mim. E não se engane achando que sou um deus inferior só por fazer parte da corte divina da guerra. Não sou um deus menor como Enyalios e Ênio.

— Não se preocupe com isso. — o cosmo de Shun se elevou. —  Não é o primeiro deus que eu enfrento.

Os olhos de Oberon se acenderam em cosmo.

— Sempre petulante. Fala como se o ato de enfrentar um deus fosse algo para se orgulhar. —  disse o deus, elevando o cosmo e segurando firme no cabo de sua espada negra. — Eu irei enfrenta-lo, mas saiba que não irei me conter. Se você se julga capaz de enfrentar um deus em toda a sua plenitude... —   com a mão livre o deus da escuridão desabotoou o blazer cor de ébano para ter mais liberdade em seus movimentos, revelando um colete preto com detalhes prateados sobre uma camisa social preta e gravata. — ... então sentirá na pele o peso da sua insolência.

O deus investiu contra Shun, que bloqueou a espada com a corrente divina e ainda assim sentiu a pressão emanada por aquele ataque.

— Também não se iluda achando que terá tanta facilidade assim.

— Interessante. Então isso é uma armadura divina... Capaz de até mesmo resistir ao corte da minha espada. Naturalmente deveria ter sido partido ao meio.

— Com essa armadura, eu posso lutar no mesmo patamar que você. — disse Shun, com bravura. — Apesar de não gostar de recorrer a violência, eu não estou aqui para pegar leve com você.

Oberon sorriu.

— No mesmo patamar que eu?! Ilusão sua.

— Você verá que não!!

Shun se moveu tão rápido quanto a velocidade da luz e atacou com a corrente pontiaguda, derrubando a espada negra e lançando Oberon contra o grande espelho que havia no fundo do salão.

O impacto espatifou o espelho, e enquanto uma chuva de vidro caia sobre eles, o tempo desacelerou retardando os movimentos, detendo os fragmentos do espelho no ar. Os cacos do espelho refletiram a expressão bela e serena do deus da escuridão. Oberon estava em pé, de postura ereta, segurando a corrente pontiaguda e sorrindo para Shun.

— A corrente deveria ter perfurado o seu coração, mas... Ele a parou com a ponta dos dedos!!  pensou Shun.

— Não me compare aos outros deuses que você enfrentou no passado. Principalmente aos deuses gêmeos. Eu não sou inferior a eles. Pelo contrário. — A ponta do dedo do deus brilhou e a corrente divina foi repelida. — Sendo filho de um dos três grandes deuses do Olimpo, estou no mesmo patamar que Atena, Ares e Apolo. Em outras palavras, você não é rival para mim.

Oberon flexionou os joelhos gerando uma pressão que esmagou o piso debaixo dos seus pés e avançou contra Shun, desferindo um soco no peito do cavaleiro que ainda assim contra-atacou com um soco que foi desviado pelo deus. Oberon estendeu a mão e disparou um golpe de forte pressão cósmica, lançando Shun contra o outro lado do grande salão. O cavaleiro de Andrômeda rasgou o piso pressionando o chão até esbarrar na parede.

— Assim como existe patamares no exército de Atena, também existe entre os deuses. —  explicou Oberon. —  Você superou o oitavo sentido, alcançou o nono sentido e dominou a forma completa da sua armadura divina. Você sem dúvidas agora é um novo deus, Shun. Está mais resistente, mais rápido e mais poderoso. É uma grande façanha que não é repetida a milhares de séculos.  Mas não está no mesmpatamar que eu. Existe deuses menores, e você seria um deles nesse momento.

— Então irei superar você!

Oberon sorriu.

De punho cerrado, Shun partiu pra cima de Oberon, que respondeu ao novo deus com a mesma investida. Potentes trocas de socos foram desferidas em velocidade absurda, emanando ondas de cosmo que danificavam o grande salão na medida em que os punhos colidiam.

Shun saltou para trás tomando distância e a corrente pontiaguda então se moveu, multiplicando-se em dezenas e avançando contra o deus da escuridão. Mas bastou o deus estender a mão para deter as correntes ao seu redor.

— Me superar?! Até mesmo você tem limites. — gritou Oberon.

— Está enganado!

— O que disse?!

— Esse é o diferencial entre deuses e humanos. Nós, humanos, não temos limites!! É isso que nos dá capacidade para enfrentar seres divinos como você.

— Mas Shun, você esqueceu de um detalhe importante.

— Qual?!

—  Você não é mais um humano. — disse o deus. — E com isso você perde todos os benefícios que o seu lado mortal lhe concedia.

Shun desfez as correntes e avançou de punho cerrado superando a velocidade da luz. Seu deslocamento foi como um tiro, rápido e quase imperceptível. Seu punho colidiu na defesa de Oberon e atravessou, girando para aplicar um chute no rosto do deus, mas o deus bloqueou o chute com o  braço e revidou com um soco no queixo de Andrômeda, aplicando em sequência um segundo soco que o lançou violentamente contra a parede. A parede foi derrubada e Shun foi arremessado para os cômodos posteriores.

O cosmo de Oberon se elevou e a sua espada negra levitou, acompanhando seu dono.

— Assim como o meu pai, eu não tenho prazer em derramamento de sangue, mas devo dizer que o Tártaro seria o local mais oportuno para você morrer e assim expurgar a sua pecadora existência. — disse ele andando em direção a cratera na parede. — Um humano se tornar um deus é um erro que deveria ser apagado, mas infelizmente também não tenho permissão para tirar a sua vida. Só me resta deixa-lo na beira da morte espiando os erros da sua audácia. 

O deus estava prestes a passar pelo buraco quando uma nebulosa surgiu no caminho interceptando seus passos.

—...—


Japão – Templo em Arashiyama, distrito de Kyoto

No alto da montanha, em meio a floresta de bambus, estava um solitário templo de madeira escura, teto pontudo e janelas redondas. No jardim havia uma pequena fonte que acumulava água e formava um pequeno lago, com pétalas de lírios brancos e flores de cerejeira boiando. Ao redor do templo crescia cerejeiras floridas de troncos grossos e marcados por socos e fio de espada.

Dentro do templo, em um quarto pouco mobiliado apenas com uma cama e um criado mudo, June estava deitada e sendo cuidada por Takashi.

— Como ela está? — perguntou June.

— Um pouco assustada com tudo o que aconteceu, mas é uma mulher forte. Vai superar. Ela está descansando no quarto ao lado. — respondeu Takashi, colocando uma pasta vermelha em cima de um ferimento profundo no ombro da amazona.

June fechou as mãos no lençol e apertou os dedos para suportar a dor.

— Dói, mas tem propriedades curativas e oferece rápida cicatrização. Somado com o cosmo, a recuperação é ainda mais rápida.

— Obrigada e desculpa por ter dado trabalho ao senhor.

— Não se preocupe. É normal que em tempo de guerra todos os soldados sejam convocados para o campo de batalha. Sobre a irmã do Pégasos, como deixou que os berserkers achassem vocês?! O Grande Mestre foi bastante exigente quanto a segurança de Seika.

— Eu fui uma tola. Achei que poderia dar conta, mas...

— Tiveram sorte, caso queira saber. Aquele berserker que enfrentamos era bastante poderoso. Irei pedir para Lino proteger a irmã do Pégasos enquanto você se recupera.

— Senhor... Sobre esse garoto... O Cavaleiro de Prata de Lira...  Ele me é familiar. — Disse June pensativa. — Lembro de tê-lo visto em algum lugar, mas... Não lembro onde poderia ter sido.

— Você participou de uma missão delegada por Delfos alguns anos atrás, não foi? Resgatar um jovem em sigilo e levá-lo até a Grécia.

Apesar do seu rosto está coberto pela máscara, a expressão de June era de surpresa.

— Sim, mas... Aquele garoto... É ele? Eu não tive acesso ao nome dele naquela época. Era uma missão de grande confidencialidade e fui requisitada por causa da minha habilidade de ocultação.

— Sim. Aquele garoto se tornou um excelente rapaz. Concluiu o treinamento pouco tempo depois, após passar por um período de treinamento na Ilha da Rainha da Morte. Ele também participou de algumas pequenas missões após isso.

— Ilha da Rainha da Morte?! Então o mestre dele foi...?!

— Ikki de Fênix. — respondeu Takeshi, levantando-se do banquinho ao lado da cama. — Por ser um aspirante à cavaleiro menestrel, todos achavam que ele iria morrer na ilha. Até mesmo o próprio Ikki, pelo o que fiquei sabendo. Tentaram envia-lo para Shun, mas o Santuário negou o pedido e Lino foi enviado para a Ilha da Rainha da Morte junto com um pequeno grupo de aspirantes. Lá ele superou todas as expectativas. Dentro do pequeno grupo de cavaleiros formados por Ikki, Lino é conhecido como o lírio resistente da ilha infernal. E apesar de ser um Cavaleiro de Prata, seu cosmo é promissor e se aproxima do cosmo de um Cavaleiro de Ouro.

— E quando foi que ele chegou aqui?

— Dois meses atrás, mais ou menos. Dias antes do santuário ser invadido. Alguns cavaleiros de grande importância e habilidades únicas, segundo a visão do Grande Mestre, foram retirados do Santuário e mandados para locais protegidos afim de livra-los do controle do deus da guerra. Lino é um desses cavaleiros e você também, caso queira saber. E proteger Lino também é meu dever. Por algum motivo ele é importante, e deve seguir vivo até o final dessa guerra santa. Bem... — Takeshi caminhou até a porta e parou dando uma última olhada para June. — Agora descanse. Conversaremos sobre isso depois. Agora é necessário que se recupere.

E então saiu do quarto, fechando a porta. Do outro lado, Lino estava encostado na parede, do lado da porta.

— Eu fui enviado com a missão de proteger o senhor... — disse Lino, ainda encostado na parede e olhando para o teto. — Mas então quer dizer que é o contrário? Sou eu quem está sendo protegido?

— Você me protege, cumprindo sua missão. E eu lhe protejo, cumprindo a minha. — respondeu o velho cavaleiro se afastando e indo para a cozinha levando a bandeja. — E ninguém lhe ensinou que não deve ficar ouvindo a conversa dos outros?! Lembre-se que você faz parte de um exército e que você é apenas um soldado. Você possui lideres e esses lideres tem planos que nem sempre serão apresentados para você, mas você deve obedecer sem reclamar. O Grande Mestre nos deu ordens e cabe a nós cumpri-las sem questionar.

— E por que eu seria importante em meio a isso tudo? — perguntou Lino, acompanhando Takeshi. — O senhor é um antigo guerreiro com habilidades poderosas, portanto é essencial para a guerra, mas eu sou apenas um jovem cavaleiro.

— Não espere que eu vá amaciar o seu ego dizendo o motivo de você ter alguma relevância nisso tudo. O Grande Mestre deve ter seus motivos para acreditar em seu potencial. Eu não o questionei quando ele me procurou. Delfos é semelhante ao antigo mestre, o senhor Shion. Ele é um homem inteligente que enxerga nas pessoas o que elas não conseguem. Então não cabe a mim lhe dar essa resposta. Sobreviva a essa guerra e torça para que o Grande Mestre também sobreviva. Aí você poderá questiona-lo.

Enquanto Takeshi e Lino conversavam, Seika estava deitada em um quarto reservado para ela. Era um quarto simples, mas bastante espaçoso, com uma cama de casal de frente para uma janela grande e redonda. Mas ao invés de estar descansando, Seika estava tendo uma noite agoniante.

Ela estava acordada, com os olhos vidrados para o teto e com a boca aberta emitindo um grito mudo, sufocada em busca de ar desesperadamente. Ela segurava os lençóis com força enquanto seu corpo tremia. As tentativas de se levantar eram frustradas com a sensação de estar paralisada apesar de estar tremula.  Sua expressão era de sofrimento e pavor.

E então ela ouviu o som de guizos, e aquele som lhe trouxe angustia e aflição. Aquele som lhe lembrava alguém que ela acreditava estar morto. Novamente o som de guizos cortaram o silêncio do quarto, e ela sentiu como se alguém estivesse do lado dela, em pé, e essa sensação fazia o seu corpo ficar arrepiado e a buscar com mais desespero o oxigênio que seus pulmões tanto queriam. Ela olhou apavorada para os lados, com os olhos cheios de lagrimas. Não havia ninguém ali. Mas ela podia jurar que havia sentido a presença de alguém.

Mas foi quando os seus olhos se voltaram para o teto do quarto que ela teve a certeza de que havia alguém ali. Ela se assustou e o susto foi como um soco em seu peito. Ela viu um rosto sorridente e maligno pairando nas trevas, e passou a sentir um peso em cima dela, pressionando o seu peito como se alguém deitasse sobre o dela. Por um momento sua visão escureceu e ela achou que iria perder a consciência, mas na verdade era o quarto que estava ficando cada vez mais escuro. A luz da lua parecia estar sendo barrada na janela.

— Tendo pesadelos, minha querida? — perguntou o rosto sorridente. Das sombras surgiu o berserker Clown de Pennywise, pairando em cima de Seika. — Me parece sem folego.

Seika arregalou ainda mais os olhos, puxou o ar com força e da sua garganta rasgou um grito desesperado.

— Você... Você foi morto! — disse ela, apavorada, recobrando o folego, mas ainda paralisada. — Impossível que esteja vivo! — Clown gargalhou. Uma risada pavorosa que provocou desespero em Seika. — Lino! June! Socorro!!

Clown se lançou em cima dela tampando sua boca e se aproximou do rosto de Seika.

— Não seja estupida, mulher burra!! — berrou ele dando um soco no rosto de Seika. — Não adianta gritar por eles. Você já estará bem longe daqui quando chegarem. E um moleque de prata me derrotar?! — ele apertou o rosto de Seika, comprimindo seus lábios e bochechas.  Só pode ser piada. Não sou um idiota como o Dolos que foi derrotado por um velho e por uma criança.

Passos apressados puderam ser ouvidos do outro lado do corredor, e em seguida a porta do quarto foi arrebentada.

— Seika!! — gritou Lino, entrando no quarto seguido por Takeshi.

— Falando nele... Lino de Lira. Você não morre mais. — disse Clown, sorridente. — Ou talvez morra.

— Não pode ser!! — disse Lino, surpreso vendo o berserker em cima de Seika. — Clown?! Mas você... Saia de cima dela!!

Lino correu investindo contra Clown, mas o berserker disparou uma rajada de cosmo que arremessou o cavaleiro de prata para fora do quarto, atravessando a parede e caindo no corredor.

— Você está bem, Lino?! — perguntou Takeshi. —  Você disse... Clown?! Esse não é o berserker que você havia derrotado na ponte?

— Sim! —  respondeu Lino. —  Eu... Eu tenho certeza que o matei. Por acaso os berserkers podem voltar dos mortos?!

Antes que Takeshi respondesse algo, Clown caiu na gargalhada. Tão alta e descontrolada que todos ficaram assombrados. A insanidade estampada na perversidade do soldado de Ares.

— Me matar?! Você não chegou nem perto, garoto. Você apenas viu o que queria ver. Eu fiquei imaginando que tipo de efeito aquela sua técnica teria. Mas quando eu comecei a ouvir os sussurros das minhas vítimas, eu longo entendi o quanto ela era previsível, mas ainda assim perigosa. A técnica afeta curiosos, inseguros e arrependidos. Principalmente os arrependidos. Se olhar para trás, encontrará a morte. Não é assim que a sua técnica funciona? Mas seu maior erro foi ter dado as costas para mim e ter se voltado para Dolos depois de ter aplicado o golpe, se gloriando por achar que havia me derrotado. Uma atitude que faz jus a sua infantilidade. Eu me retirei naquele momento e deixei uma mera ilusão para trás, a qual fez exatamente aquilo que você queria.

— Uma... Ilusão?!

— Você foi imprudente. — disse Takeshi, repreendendo Lino. — Jamais dê as costas para o inimigo. Seja para correr ou por vaidade. Inimigos se enfrentam cara a cara e não de costas, garoto. Essa sua atitude estupida causou essa situação.

Clown estampou um largo sorriso por trás da máscara.

—  Ah sim, muito imprudente. —  disse ele flutuando a poucos centímetros do chão diante dos dois cavaleiros. — Demasiadamente imprudente. Na verdade, imprudência é o que vocês vêm cometendo desde o início. Deixaram uma amazona cuidando da irmã do pégasos e depois mandam uma criança me enfrentar... Vocês são tão idiotas. Mas quem sou eu para criticá-los por isso, não é mesmo? Afinal, foi graças a tanta imprudência que eu pude ter sucesso nessa missão, Cavaleiro de Lira. E enquanto vocês perdem tempo olhando para mim enquanto eu falo sem parar, a irmã do Pégasos está sendo engolida pelas sombras e sendo enviada para o Santuário nesse exato momento. — disse Clown, em meio a risadas. — O senhor Phobos ficará bastante satisfeito! 

—  Não!! — gritou Lino, ao ver que o corpo de Seika estava desaparecendo, como se estivesse afundando na cama. —  Droga!! Lira, apareça!!

O cosmo de Lino se elevou e a armadura de prata surgiu vestindo o seu corpo. Lino avançou junto com Takeshi para salvar Seika, mas foram pegos de surpresa pelo Berserker que surgiu diante deles em meio ao percurso e os atacou. Lino foi o primeiro a ser golpeado, e em um rápido reflexo ele cruzou os braços para se defender dos fortes socos disparados por Clown.

Sem conseguir acompanhar os movimentos do berserker na velocidade da luz, Lino foi nocauteado. Restando apenas o velho cavaleiro de prata, Clown se voltou para Takeshi que havia materializado pétalas brancas de lírio envoltas em chamas branca-prateada. Takeshi estendeu a mão e as disparou como dardos flamejantes, mas Clown desviou das pétalas na medida em que avançava ao encontro de Takeshi.

Agora diante do antigo combatente, Clown iniciou uma sequência rápida de socos que Takeshi tentava acompanhar, mas sem muito sucesso. O berserker segurou o punho do cavaleiro de prata, salto poucos centímetros do chão e desceu desferindo um soco no rosto de Takeshi que o afundou no chão junto com o piso, abrindo uma extensa cratera.

— Senhor Takeshi!! — gritou Lino.

— Apesar de ser velho e acabado, conseguiu me acompanhar melhor que você, Lira. — disse Clown, levitando em meio a cratera com os olhos vermelhos do elmo acesos com um cosmo perverso. — Mas eu... — o berserker se interrompeu ao sentir que suas mãos estavam ardendo como se as peças da onyx estivessem esquentando. —  Mas o que é isso?! Não vejo chamas alguma e nem marcas, mas... Por um momento senti um calor intenso nas minhas mãos. Será que... Veio daquele velho?  pensou Clown — Não importa... Vocês não podem me vencer e nem salvar aquela mulher. Ela agora já deve estar caindo nos braços do Senhor Phobos.

— Não! Nem que eu precise ir até lá para salva-la... — o cosmo de Lino se converteu em chamas. — Mas antes disso, eu irei enterra-lo aqui.

Lino voltou a atacar e dessa vez disparou socos envolvidos em chamas vermelhas, mas o golpe foi contido por Clown e repelido, sendo bloqueado por Lino.

— Não me confunda com Dolos, garoto. Ele era um tolo igual a você e por isso foi derrotado. O mesmo não vai acontecer comigo. Eu já disse. E espero que você não tenha esquecido da minha técnica “Efeito coringa”.

— Essa técnica... É a técnica que você usou na ponte. Você soma o poder do seu inimigo ao seu cosmo. Dessa forma você é capaz de dobrar o seu cosmo.

Clown gargalhou.

— Boa memoria, garoto. Mas na verdade essa técnica desvia o cosmo do meu oponente para mim através do medo que ele sente. — o berserker elevou o cosmo causando uma pressão esmagadora e emitindo um barulho de guizo ensurdecedor. — Lá na ponte você não estava com tanto medo assim, mas agora... Seu coração bate tão forte e tão cheio de medo. — Clown levitou até ficar frente a frente com Lino, insinuando toca-lo, mas Takeshi se levantou as pressas e se lançou diante de Lino de braços abertos esperando o toque de Clown, mas o berserker se conteve, recuando a mão. — Agora eu posso ver... Sobre você existe a Manta da pureza e da glória.  disse dando alguns passos para trás. — A proteção da Katana Hojo Masamum. Por isso senti minhas mãos queimando depois de ter tocado em você. 

— Então você a conhece? — perguntou Takeshi.

— Ler e conhecer o meu oponente é uma das minhas habilidades. Eu deveria ter prestado atenção antes. Ter lhe olhado com mais cuidado. — Clown parou de falar e olhou para a parede. — Sinto um corpo débil tentando se arrastar até aqui. Esse cosmo... É aquela amazona de bronze. Que vergonhoso. Dolos morreu sem levar nenhum de vocês.

— Lino? Takeshi? O que está acontecendo?! Eu... — os olhos de June repousaram arregalados na figura que flutuava no centro do quarto, estampando o largo sorriso do seu elmo e com os olhos vermelhos brilhando. — Clown?! Mas... — ela procurou Seika por todos os lados, mas não achou a irmã de Seiya. A cama estava vazia. — Seika?! Onde... Onde ela está?!

— No Santuário, minha querida. — respondeu Clown.

— O-O que?!

— June, ele a levou. — disse Takeshi. — Ele a entregue à Phobos.

— Não! Isso... Isso não podia ter acontecido. — disse June entrando em desespero.

Ela estendeu o braço direito para o lado e seu cosmo materializou as peças do braço da armadura de bronze de Cameleão e o chicote. A arma de Camaleão estralou e avançou em direção a Clown, mas o berserker parou o trajeto do chicote e fez ele se voltar contra June, enroscando no pescoço da amazona e a estrangulando.

— Mal consegue se sustentar em pé e ainda me ataca. Você quer morrer, mulher?

— Deixe-a em paz!! Acorde Perfeito!!

Lino se afastou de Takeshi e avançou contra Clown tocando sua lira. Linhas prateadas voaram em direção a Clown com a intenção de envolve-lo e estrangulá-lo, mas mas o som dos guizos do berserker cortaram o som da lira e repeliram as linhas. Clown então avançou, agarrou Lino pelo pescoço e arrancou a lira de sua mão, jogando-a para fora do quarto.

— Já chega de brincar de cavaleiro, garoto. — o berserker apertou o pescoço de Lino com tanta força que ele achou que seu pescoço estava sendo quebrado, mas foi a peça da armadura que rachou e despedaçou. — Você é mais importuno do que possa imaginar.

— Solte-o, berserker!! — gritou Takeshi atacando com suas chamas brancas.

Clown se teletransportou com Lino na intenção de desviar do golpe, e no lugar onde Takeshi pousou as chamas brancas rasgaram o solo. O berserker  voltou a aparecer e soltou o cavaleiro de prata, e ainda no ar disparou golpes consecutivos contra os dois. Tekeshi saltou agarrando Lino pelo braço e o guiou desviando dos ataques. Os golpes de Clown acabaram provocando uma explosão, e os dois cavaleiros foram envolvidos por ela, sendo arremessados para o alto junto com o teto do quarto que explodiu.

Em meio aos escombros, Clown puxou Lino pelos cabelos e o ergueu.

— Ouvi falar que você é discípulo de um dos lendários. Ikki de Fênix. Talvez isso justifique tanta habilidade a ponto de chegar a me atingir com um soco, como fez lá na ponte. Eu poderia ignorar a sua existência por ser apenas um cavaleiro de prata, sem nenhuma relevância, assim como um deus não nota a existência de uma formiga, mas essa sua ligação com o Fênix coloca você na lista de prioridades para ser executado.

Lino foi lançado ao ar e Clown aplicou um soco tão forte no peito do cavaleiro que a peça da armadura trincou e explodiu. O cavaleiro de lira cuspiu sangue e foi arremessado com tanta força que seu corpo atravessou a janela e foi jogado para fora da montanha.

— Lino!! — gritou Takeshi.

— Vocês me deram bastante trabalho, sabiam? Três ratos pequenos incomodam bastante. E eu não posso sair daqui sem mata-los. Agora me diga... — Clown estendeu a mão para June e fechou o punho ordenando que o chicote pressionasse o pescoço da amazona. — Valeu a pena tudo isso?

— Do q-que... está... falando. — disse June, que estava ficando sem ar. Ela estava caída no chão e com as mãos no pescoço tentando se livrar da própria arma. Sua pele estava ficando roxa e seus olhos ficando vermelhos.

— Todas aquelas crianças que eu matei na “Academia Meteoro” onde a irmã do Pégasos trabalhava... Coitadinhas. Sabia que foi o grito delas que eu ouvi quando o Cavaleiro de Prata lançou aquele golpe lá na ponte? — disse ele gargalhando.

June e Takeshi arregalaram os olhos.

— Os seguranças da Mansão Kido... O mordomo que um dia serviu a própria Atena... Todas as pessoas que eu matei ao cruzarem o meu caminho enquanto eu perseguia vocês até aqui... Todas essas vidas que foram perdidas por causa de uma simples garota que não tem poder algum. Será que ela vale tanto assim?! Por que sacrificam a própria vida por uma humana comum?! É só por ela ser a irmã do Pégasos?! Que idiotas vocês são! Cavaleiros dando o próprio sangue e a própria vida para uma causa tão pessoal. Eu não me importo com as vidas que tirei nessa noite, mas eu sei que vocês se importam. Isso deve pesar na cabeça de vocês. E deve pesar mais ainda sabendo que falharam. Seika está no Santuário nesse exato momento, e vocês vão morrer aqui. Tudo o que fizeram hoje, foi em vão. Tudo!

— Não permitirei!! — gritou o velho cavaleiro elevando o seu cosmo e chamando a atenção de Clown.

— Achei que um de vocês diria algo desse tipo. É sempre tão engraçado ver esse lado heroico de um cavaleiro se erguendo. Mesmo sendo um ancião moribundo, você quer proteger os mais novos. Mas o que um velho sem armadura pode fazer?

— Ainda posso lutar!!

Takeshi avançou contra Clown disparando socos envoltos em chamas brancas, mas os punhos do cavaleiro estavam sendo bloqueados por uma barreira invisível que Clown havia erguido.

— Que patético. — disse o berserker sorrindo. — Não, ancião. Você não pode lutar. Não contra mim. Não sem despertar o desejo de matar, pois você seria o primeiro a ser morto pela própria espada que carrega em seu corpo.

— O erro de ser imprudente... Você está cometendo o mesmo erro, berserker!!

A barreira foi rompida pelas chamas e avançou envolvendo Clown, mas o berserker estalou os dedos e o som dos guizos se intensificaram expelindo as chamas em meio a gargalhadas.

— Isso aqui já foi longe demais, velho. — disse ele.

— Concordo! — do braço em chamas surgiu uma katana branca na mão de Takeshi. A materialização da energia de Hojo Masamun.

Takeshi atacou, mas os movimentos do berserker eram mais rápidos. Clown entendia que tudo que vinha de Takeshi era um perigo para ele. O toque, o corte da espada e as chamas. Qualquer contato mais intenso iria consumir Clown devido a sua impureza.

O antigo cavaleiro se abaixou e girou em seu próprio eixo afim de atingir os pés do berserker, mas Clown saltou, fugindo do percurso da lâmina. No ar, o berserker aparentemente não teria apoio, e por isso Takeshi girou a katana na mão e saltou desferindo várias investidas, mas Pennywise podia levitar e se locomover com mais liberdade no ar, diferente de Takeshi que precisava recuar.

Quando o velho cavaleiro pousou no chão, ele procurou por Clown, mas o berserker havia sumido. Aparentemente só estava ele e June, que ainda lutava tentando se libertar do chicote, mas o som de guizo e de uma risada medonha anunciou que Clown estava perto e entregou a sua localização. Takeshi aplicou um chute no local onde aparentemente não haveria nada, mas Clown surgiu de braços cruzados se defendendo com uma barreira, evitando o toque das chamas brancas que haviam sido lançadas no chute.

— Essa foi por pouco. — disse Clown, sorrindo.

— Apenas precisava da aproximação certa. — Takeshi fincou a katana no chão, se apoiou nela e aplicou centenas de chutes por segundo no mesmo ponto da barreira, intensificando os ataques com suas chamas. — Agora queime!! Chamas brancas purificadoras!! Consumir!!

A barreira explodiu em pedaços, mas as chamas se apagaram na explosão.

— Mas... Como?!

Clown tocou em um dos seus guizos pendurados no elmo e sorriu.

— As ondas sonoras emitidas pelos meus guizos podem repelir seus ataques. — respondeu Clown, elevando o cosmo e abrindo os braços. — Enquanto suas chamas consomem o mal, os meus guizos podem repelir qualquer mal que possa me assolar. Agora é a minha vez.

— Ainda não acabei. Ainda me resta uma técnica.

— Tarde demais. Venha pra mim e flutue!!  o cosmo de Clown se ampliou em um tornado cinzento e tudo foi arrastado, exceto June, que permaneceu presa ao chão. Takeshi, os moveis, a casa... Tudo estava sendo tragado pelo tornado violento que subia ao céu como uma gigantesca torre, mas então tudo parou, flutuando lentamente em espiral, formando uma coluna com mais de cinquenta metros de altura. — Enquanto você morre aí em cima... — disse o berserker para Takeshi, caminhando calmamente no centro do tornado. —  Observe...

Clown cravou as garras na cabeça de June e a ergueu diante dele. A amazona de bronze gritou de dor e sentiu o sangue quente ensopando seus longos cabelos loiros. Ela tentou chuta-lo, mas o cosmo do berserker provocava uma pressão no corpo dela que a deixava paralisada.

— Amazona de Camaleão... Você deveria ter morrido no fundo daquele rio. Seria menos doloroso. Mas você voltou pra mim, e eu não costumo deixar uma vítima sobreviver.

— Clo... — Takeshi tentou falar o nome do berserker, mas não conseguia.

Aquele tornado não era um tornado qualquer. Ele podia ouvir gritos e choros vindo do vento. Como se centenas de pessoas desesperadas, aos prantos, estivessem ali com ele, mas ele olhou e viu que não havia ninguém ali. Ele estava sozinho, e sentia que seu corpo estava sendo rasgado lentamente. Apesar do tornado estar girando tão lento quanto um carrossel, ele estava afetando o corpo de Takeshi aos poucos com o mesmo efeito que ele provocaria em um corpo humano caso estivesse em total velocidade.

Aquilo era uma prisão de tortura, onde ele sentiria sua carne rasgar até os ossos, e isso poderia durar horas ou dias até que morresse.

No alto do tornado Takeshi pôde ver Clown pressionado June contra uma parede do quarto que resistiu e ficou em pé. O berserker levitou pequenas barras de ferro que estavam entre os escombros e cravou no corpo de June, mantendo-a presa na parede sem atingi-la em seus órgãos vitais, para assim prolongar a sua morte. June gritava e chorava de dor.

 Tenho tempo de sobra para estender a morte de vocês mais um pouco. Enquanto o velho morre ali em cima, você aqui sofrerá tanto quanto ele. E logo depois irei atrás daquele cavaleiro. Agora, como vamos começar... Que tal...  — Clown começou a aplicar fortes socos no rosto de June, que ainda usava a máscara de sua armadura. Os socos trincavam e amassavam a máscara, machucando o rosto da amazona que gritava e se debatia.

Um dos socos despedaçou a máscara, mas ele não parou. A boca de June agora estava rasgada, alguns pedaços da máscara ficaram cravados em sua pele e alguns dentes foram fraturados, caindo no chão. O nariz da amazona estralou e quebrou, fazendo ela urrar e cuspir sangue. Os seios maxilares afundaram, a mandíbula fraturou em seus côndilos e seu osso supra orbital direito afundou na orbita, cegando o seu olho direito.

Takeshi tentou elevar o cosmo para escapar do turbilhão e ir salvar a amazona, mas a sua tentativa de fuga fez intensificar o movimento giratório, e com isso os efeitos do tornado se tornaram mais intensos. Suas pernas rasgaram como terra seca e seu sangue se espalhou no vento como uma neblina vermelha. O seu grito de dor foi tragado pelo turbilhão, e agora ele podia ouvir os próprios gritos gravados e girando naquele vórtice junto com os gritos de milhares de vítimas que Clown já matou desde o início da sua existência.

O berserker interrompeu a sua tortura para ouvir os gritos de Takeshi trazidos pelos ventos cósmicos de sua técnica.

— Não adianta tentar fugir, velho. Você se quer tem forças para sobrepujar a minha técnica. E nem mesmo a benção da sua katana será suficiente para impedir a sua morte. Daqui a alguns dias haverá outros dos seus gritando e girando nesse turbilhão. Soube que Atena pretende regressar do Tártaro e que os rebeldes que estão  espalhados irão se reunir com a deusa caída para enfrentar o Senhor Ares. — Clown sorriu. — Não conseguirão tal milagre. Nós, os berserkers, somos mais poderosos e mais numerosos.

— Vo-c... — June tentou falar, mas sua língua estava morta e sua borca já não obedecia mais a sua vontade. Estava deformada, repleta de fraturas, babando saliva e sangue.

— Está querendo dizer alguma coisa, minha querida? — perguntou Clown, debochando. Ele apoiou um dos pés no joelho de June e pisou com força, fraturando, e depois o outro.

Mais urros e choros rasgaram da garganta da amazona e se propagaram pela montanha. Ela já não sentia mais as pernas e seu corpo agora estava apoiado completamente nas barras de ferro presas em seu corpo. O peso intensificou a dor nos ferimentos, e rios de sangue escorreram.

— Tanta dor... Deve ser nessas horas que vocês amaldiçoam o destino por terem se tornado cavaleiros de Atena. — Clown cravou uma das unhas no centro do peito de June, e como uma lâmina afiada ele começou a rasga-la lentamente enquanto ela gemia de dor. —  Não vale a pena, não é? Vidas e mais vidas são abatidas nas guerras santas. Enquanto nós berserkers vivemos eternamente dedicados a guerra, vocês cavaleiros possuem suas vidas únicas e passageiras, e as perdem tão prematuramente apenas para adiar a guerra por mais algumas centenas de anos. — enquanto June gritava e se debatia sentindo seu tórax e abdômen serem abertos, sangue jorrava sem parar ensopando seu corpo e Clown. — Nessa noite centenas morreram por uma mulher inútil que será torturada no Santuário.

June chorou ao ouvir aquilo e usando suas últimas forças ela elevou o cosmo e controlou o chicote através da força de vontade. Uma última tentativa ofensiva para pelo menos morrer tentando derrotar o berserker, mas foi inútil. Clown bloqueou o ataque, e vendo aquilo como algo ultrajante, ele decidiu acabar com a vida dela. Com um rápido movimento da mão ele rasgou a garganta de June, separando corpo e cabeça.

A cabeça caiu e rolou até parar nos escombros, e o peso do corpo escorregou pelas barras de ferro. Órgãos e sangue caiam na medida em que o corpo tombava.

Do alto, Takeshi gritava de dor e angustia ao ver a amazona sendo cruelmente morta.

  — Agora tenho que procurar o outro verme. — disse Clown. —  Mas onde será que ele caiu? Será que eu o lancei para tão longe assim? — disse sorrindo. —  Enfim... Não tenho tempo para ficar procurando um verme perdido na floresta. Matarei todos de uma só vez. Observe bem, velho... — Clown levitou no centro do turbilhão, subindo até o topo dando gargalhadas. —  ... o motivo para que o uso das armas de Libra tenha sido necessário nas guerras santa anteriores. A força de um verdadeiro berserker. 

 Lá do alto, ainda dando gargalhadas, Clown soltou uma pequena esfera de cosmo. Tão pequena quanto uma bola de golfe. A esfera caiu e ao tocar no chão ela explodiu em uma vasta fornalha que se espalhou por toda a montanha e subiu pelo turbilhão como uma coluna de fogo. Os gritos de Takeshi podiam ser ouvidos enquanto o fogo crepitava e se espalhava. Por fim, a montanha explodiu por completo e Clown desapareceu em meio a fumaça gargalhando.

—...—


Palácio Valhalla, Asgard — Extremo norte da Sibéria

Hilda e Eos conversavam no terraço superior do palácio quando foram surpreendidas por um vento quente, suave e agradável, seguido por bater de asas e cascos.

O vento turvo se agitou rodopiando, e dele surgiu dois cavalos de pelos loiros com flores coloridas de jacinto enfeitando suas crinas. Montados nos cavalos havia dois homens magros e alados, trajando armaduras azul claro com detalhes de flores douradas em alto relevo. E entre os dois cavalos havia um homem alado em pé. Ele era belo, alto e forte, de cabelos alaranjados claro, olhos azuis e um belo par de asas, com penas de diversas cores de amarelo, indo do tom mais claro ao mais escuro. Ele usava uma coroa de flores de jacinto em sua cabeça, e mantos azuis de seda flutuando por cima de sua armadura.

Ao se aproximar de Eos e Hilda, um aroma doce de primavera se espalhou, deixando o ambiente aconchegante. O frio cortante já não mais castigava a pele. Ele fazia curvas para desviar do terraço.

— Mãe. — disse o homem fazendo uma significativa reverência. Sua voz era tão suave e agradável quanto a sua presença. — Perdão pela demora. E a senhorita deve ser a Princesa Hilda de Polaris. — ele estendeu a mão para Hilda e tomou a mão da princesa, dando um singelo beijo.

Por um breve momento Hilda sentiu como se o calor da primavera tocasse em sua pele.

 — Hilda, esse é o meu filho Zéfiros. O deus do vento Oeste. — disse Eos, apresentando-o.

— Prazer! — disse Hilda.

— Mãe, precisamos tira-la daqui antes que Bóreas, o deus do vento Norte, perceba a minha presença e venha pessoalmente. Não é comum que o vento Oeste chegue tão longe assim no extremo norte.

— E para onde você irá leva-la? — perguntou Hilda.

— Pensei em leva-la para o Palácio do Oeste, mas seria uma viagem muito longa e Apolo tem seus olhos espalhados por onde o sol toca. Não poderia arriscar.

Eos olhou surpresa para Zéfiros.

— Então para onde eu...

— Irei leva-la para a cidade de Utqiagvik, localizada no estado americano de Alasca, no Distrito de North Slope. Apesar de ainda ser na região norte comandada por Bóreas, a cidade fica localizada em um ponto de encontro dos ventos norte e leste e por isso é uma cidade intensamente nublada. É o local ideal e mais seguro para a senhora nesse momento. Utqiagvik está passando por um período de forte tempestade de neve, o que ocultaria ainda mais a nossa chegada na cidade. Hoje também é um dia favorável para deixa-la longe de qualquer investida de Apolo, pois hoje é dezoito de novembro e o sol está se pondo para a cidade, que passará os próximos sessenta e cinco dias sem ser banhada pela luz do sol. O sol passará os próximos dias abaixo do horizonte. Eles chamam isso de “Noite Polar”. Dessa forma os olhos de Apolo não lhe alcançarão.

—  E será tempo suficiente para o nascimento da criança. — disse a velha curandeira do palácio parada na entrada do terraço.

— Essa é Bygul. — disse Hilda, para Zéfiros. — Ela está responsável por cuidar da senhorita Eos nos próximos dias até que a criança venha ao mundo.

—  Agradeço pela ajuda, princesa. — disse o deus. — Meus soldados, os Westerlies, cuidarão da segurança da senhora Bygul.

Um dos homens alados estendeu a mão para a velha curandeira. Ao toca-lo ela foi erguida por ventos suaves, que a deixou em cima do cavalo, protegida entre os braços do soldado.

— Mãe... — Zéfiros segurou na mão de Eos e a guiou até o outro cavalo. O Westerlie desceu para dar espaço a deusa e estendeu a mão para o cavalo, criando rédeas douradas para guiar o animal. — Esses cavalos sãos os mais velozes. Deixarão vocês em Utqiagvik antes mesmo que Bóreas e seus homens percebam. E mais uma vez princesa... — o deus virou-se para Hilda. — Eu lhe agradeço por ter cuidado dela. O vento Oeste será eternamente grato.

Zéfiros deu alguns passos para trás, ficando entre os cavalos, e abriu as asas, emanando um vente caloroso e perfumado. O ar girou com pétalas de jacinto e os cavalos galoparam para as nuvens acompanhando Zéfiros, transformando-se em figuras de vento até desaparecer.

— ... —


Tártaro - Castelo de Oberon

— Do outro lado dessa porta... — disse Seiya, tocando em uma alta porta dupla de ferro. — Atena está cada vez mais perto. Eu posso sentir. — Ele estava parado no final de um longo e alto corredor, com altas janelas em sua lateral mostrando a paisagem sombria do tártaro. — Mas tem algo estranho. Sinto uma presença hostil do outro lado. Mas não importa! — Seiya colocou as duas mãos nas portas e as empurrou com força. As portas rangeram e se abriram pesadamente. 

Agora escancaradas, Seiya passou por ela e entrou no salão. Ele era alto e espaçoso, com janelas altas e empoeiradas em ambos os lados. Fileiras de pilares sustentavam um tento alto e escuro. E no fundo do salão havia um quadro gigantesco com a imagem de uma família bem vestida com trajes gregos. 

O homem estava sentado em um trono escuro. Ele tinha cabelos pretos, olhos azuis e vestia um manto preto com adereços na cintura e punhos. Ao seu lado, sentada no braço direito do trono, estava uma bela mulher. Ela usava um longo vestido de seda cor de azeitona e adereços dourados nos braços e punhos. Seus olhos eram verdes com uma sutil linha dourada nas bordas. Seus cabelos eram longos e dourados, e algumas mechas eram trançadas com flores de papoula e narciso. Ao lado da mulher estava uma jovem de longos cabelos negros, pele pálida, olhos verdes apagados, lábios vermelhos e trazia na cabeça uma coroa de flores de um vermelho muito vivo. E do lado esquerdo do homem, trazendo uma espada negra na mão esquerda, estava um jovem belo de cabelos negros e olhos azuis semelhante ao homem sentado no trono. 

— Hades! — disse Seiya com antipatia na voz, reconhecendo o homem sentado no trono.

— E sentado ao lado dele está a sua esposa, a rainha Perséfone, e seus filhos Macária, a deusa da boa morte, e Oberon, o deus da escuridão. — disse uma mulher, parada diante do retrato.

Seiya não havia percebido a presença dela ali, mas era dela que emanava o cosmo hostil que ele havia sentido a pouco tempo atrás. Ela tinha longos cabelos brancos, olhos totalmente negros e pele morena. Seu corpo estava coberto por um longo vestido branco de seda.

— E quem é você?

— Eu sou Aracne. Uma berserker a serviço do Senhor Ares. E estou aqui para impedi-lo de chegar até Atena. 

— E onde ela está?

— Atrás desse retrato. — respondeu Aracne. — É uma passagem secreta que dá para um segundo salão. Atena está la junto com aquele humano. Estão sob os cuidados de vossa majestade Perséfone. 

— Então saia da minha frente. — disse Seiya caminhando em direção ao retrato. — Não tenho tempo a perder com mais uma serva de Ares.

— Por que tanta pressa para salvar uma deusa sangrenta? Qual a diferença entre ela e Ares? 

Seiya parou.

— Do que está falando?

— Do sangue derramado por Atena. Ela é a maior causadora de guerras na Terra. As batalhas acontecem por causa dela. Ela é a provedora. Afinal, ela é a deusa da guerra, não é? Sem conflitos, Atena não representa nada.

— Está falando bobagens. Atena é a deusa justa que enfrenta deuses malignos.

— Ah pégasos, como você é inocente. Não lembra o que ela fez comigo na era mitológica?

— Na era... Na era mitológica?

— Eu sou a mesma Aracne que foi amaldiçoada por Atena. A deusa invejosa me transformou em um monstro por causa de uma aposta idiota. Atena é bastante vingativa quando tem seu ego ferido, sabia?

— Eu já entendi. Você está tentando fazer a mesma coisa que a Medusa tentou fazer. Ares primeiro enviou a minha mãe e depois você. Ambas mulheres injustiçadas que foram erroneamente punidas por Atena em um excesso de orgulho, mas deixa eu dizer uma coisa a você... Atena não é perfeita. Ninguém é. Todos nós podemos cometer erros. Até mesmo os deuses. 

— Mas...

— É perda de tempo, Aracne. — disse uma voz masculina ecoando no salão. — O pégasos é fiel demais para cair nessa ladainha. Se nem mesmo a mãe dele o convenceu, não será você que irá fazer isso.

— Quem está ai? — perguntou Seiya, olhando de lado para um dos pilares. Era de lá que a voz e a presença maligna vinha. 

— Permita-me apresenta-los. — disse Aracne.

— Apresenta-los?! — pensou Seiya.

— Esse é o senhor Enyalios. Deus menor da guerra. — disse Aracne, enquanto Enyalios se revelava saindo da sombra do pilar. 

Era um homem pardo, cabelo preto azulado curto e espetado, mas em suas laterais era raspado em três riscos finos. Usava um brinco em sua orelha direita. O brinco era uma miniatura de um crânio com três penas negras penduradas. Nos pequenos olhos do crânio brilhava pequenas pedras de rubi. Vestia um colete preto, sem manga e de gola alta, com botões vermelhos e uma calça escura. Seus braços eram musculosos e repleto de cicatrizes finas. Calçava as botas de sua onyx, uma vestimenta negra com detalhes vermelhos, que cobria até os joelhos. Seus olhos eram castanhos e tinha uma expressão séria e assassina, acompanhada de um sorriso insano. 

— E esse a sua esquerda... — Aracne estendeu a mão apontando para um dos pilares. De lá surgiu um homem alto, de porte atlético, trajando uma onyx negra. Seus cabelos eram curtos e prateados, e na lateral do seu rosto havia uma cicatriz profunda. — É o senhor...

— Deimos!!! — disse Seiya, cerrando o punho com raiva.


Santuário, Grécia — Prisão de Oubliette

— Abram a cela! — gritou um soldado para os outros dois guardas que vigiavam umas das selas no extenso corredor da prisão.

Apressados, os guardas obedeceram e se curvaram para os dois homens que se aproximavam. Phobos, o deus do medo, vestia um manto escuro preso na ombreira cobrindo sua onyx. Ao seu lado estava Kydoimos, o espirito da guerra que personifica a batalha. Mais alto do que Phobos, Kydoimos era um homem de pele acinzentada, quase negra, olhos completamente vermelhos, cabelos curtos e uma expressão facial dura. Ele vestia uma onyx marcada de suas batalhas anteriores e carregava uma espada presa na cintura.

— Algum progresso? — perguntou Phobos.

— Nenhum, senhor. — respondeu Kydoimos. — Não falaram nada apesar dos nossos métodos.

— Não imaginei que fossem falar alguma coisa. São bastante orgulhosos pra isso. Capazes de até mesmo suportarem algumas sessões de tortura.

Dentro da cela estavam Jake e Nachi. Ambos estavam nus, e cada um estava acorrentado e suspenso nas extremidades laterais da cela. Eles estavam de frente para a parede, exibindo as costas e nádegas desfiguradas por chicotes e açoites de ferros banhados em salmoura. A carne estava rasgada e sangue escorria pelas costas, nádegas e pernas até formar uma poça no chão.

As correntes no pulso estavam rasgando a carne lentamente devido o peso do corpo dos cavaleiros. Seus corpos estavam suspensos a quase um metro do chão. Sem apoio algum. Seus músculos estavam cansados e doloridos

— Quanto trabalho em vão. — disse Phobos avaliando as feridas dos cavaleiros. — É a minha vez de interroga-los. Tirem eles das correntes, coloquem algemas nos braços e nas pernas, e tragam cadeiras para os nossos hospedes se sentarem.

Dois soldados entraram na cela para tira-los das correntes enquanto outros dois soldados trouxeram cadeiras de ferros e colocaram lado a lado no centro do cômodo. As cadeiras eram repletas de espetos e agulhas de ferro em seus assentos, encostos, braços e nas argolas que prendiam as mãos e os pés.

— O que estão esperando? — perguntou Phobos para os soldados. — Ofereçam as cadeiras aos nossos meninos.

Jake e Nachi foram postos nus a força na cadeira e tiveram seus braços e pernas presos nas argolas de ferro. A força com que foram colocados foi o suficiente para terem seus corpos perfurados e soltarem gritos de dor. Jake serrava os dentes para tentar suportar a dor e assim não agradar a Phobos e Kydoimos que olhavam satisfeitos para os dois.

Sangue escorria pela cadeira e serpenteava pelo chão. Tanto Phobos quanto Kydoimos ficaram parados em silêncio observando os dois cavaleiros. Aquilo durou trinta minutos até que dois soldados vieram e derramaram baldes de salmoura nos dois cavaleiros. A salmoura era utilizada para exercer uma cicatrização mais acelerada dos ferimentos promovendo maior tempo de vida evitando infecções, mas também para provocar uma dor inimaginável.

Ambos gritaram e se contorceram. A dor agoniante das feridas ardendo como fogo e dos espetos perfurando seus corpos era enlouquecedor. A dor era tanta que Nachi defecou e urinou, arrancando risos dos soldados.

Outra cadeira foi posta na cela, mas agora para Phobos. Uma cadeira acolchoada e feita de mármore. O deus se sentou serenamente diante dos dois prisioneiros e cruzou as pernas.

— Então prontos para falar, rapazes? — perguntou o deus. — Existe meios de estender tudo isso e ainda assim mantê-los vivos. Mas sei que não querem isso. Imaginem passar dias e noites sofrendo. Vocês não precisam disso. Então me digam, o que Atena e Delfos pretendem fazer após saírem do Tártaro.

Para a surpresa de Phobos, Nachi caiu na gargalhada.

— Idiota. Você é um tolo idiota. Nós não sabemos. Não sabemos de nada a respeito da guerra. — e fez mais uma pausa para gargalhar. Ele já estava no limite da sanidade, querendo esconder a dor no desespero da loucura. — Você deveria ter capturado Asterion, mas até nisso você foi tolo. Deus idiota!!

— Lobo... — Phobos ergueu a mão e sinalizou para os guardas. — Se você não tem nada para me falar... — um dos guardas segurou a cabeça de Nachi por trás e abriu a sua boca, enquanto outro prendeu um alicate na língua do cavaleiro e a puxou, fazendo Nachi arregalar os olhos aflito. — ... então pare de uivar.

O soldado que segurava o alicate puxou uma adaga e cortou a língua de Nachi. Jake arregalou os olhos cheios de lagrimas e serrou os dentes vendo o sofrimento do amigo. Nachi gritou desesperado e cuspiu sangue sem parar. O soldado se afastou colocando o alicate em cima de uma pequena mesa e trouxe um copo com salmoura e colocou na boca de Nachi, fechando-a por alguns segundos. O cavaleiro de bronze se engasgou, expelindo o líquido ardente com sangue pelo nariz e em seguida vomitou aos berros quando o soldado se afastou.

 — Já chega!! — gritou Jake. — Pare com isso!! Já!!

— Ora, ora... — Phobos ergueu a mão mandando os soldados se afastarem. — Parece que o pomposo e orgulhoso leão se importa com aqueles que são inferiores a ele. E então, Jake?! Está disposto a colaborar?

— Eu não disse que ia falar. Apenas mandei parar com isso. O que Nachi falou não é mentira. Nós não temos informações a respeito do dia da guerra.

— Mas talvez tenha outras informações que sejam importantes.

— Mesmo se tivesse, eu não falaria.

— Ah, será que não? Temos meios peculiares de arrancar respostas, Jake. E sempre será mais doloroso na medida em que resistem. — Phobos aguardou, mas Jake se manteve em silêncio. — Está bem. Guardas! Tirem eles das cadeiras e levem para o Coliseu. Se depois disso você não falar, Jake, eu liberto os dois.

Os guardas tiraram os cavaleiros da cela e os arrastaram pelos corredores.

— Está tudo pronto, Kydoimos?

— Já estão nos esperando, senhor. O senhor já esperava que isso fosse acontecer?

Phobos se levantou com um sorriso fino e maligno.

— Não. Mas de qualquer forma eu faria isso. Dará um bom espetáculo.

— Senhor Phobos... — disse um homem parado na entrada da cela. Ele era tão alto quanto Kydoimos. Sua pela era negra como ébano e havia marcas finas e alaranjadas em ambos os braços. As marcas pulsavam como brasa viva. Seu rosto, com ângulos duros, era marcado por cicatrizes. Uma delas desregulava sua barba pontiaguda na lateral do rosto. E seus olhos eram vermelhos como os de Kydoimos.

— Senhor Mikhai. — disse Kydoimos, segurando na espada e inclinando a cabeça.

— Concluiu a missão? — perguntou Phobos.

— Não. — respondeu Mikhai sem arrodeio. — Havia uma armadilha. E os berserkers foram abatidos.

— Héstia não é uma deusa de combate. — disse Phobos, passando pelos espíritos da guerra. — Já esperava que isso acontecesse.

— Senhor...

Phobos parou e olhou para o Espirito da Guerra por cima do ombro.

— Na próxima vez que for me enviar para abater uma divindade do Olimpo... Me informe com antecedência. Assim eu não vou acompanhado de inúteis.

Phobos sorriu.

— Já que está aqui, Mikhai, me acompanhe.

— Sim, meu senhor.

Feridos e nus, Jake e Nachi foram levados pelos corredores da prisão de Oubliette e depois por um tortuoso caminho de pedras. Cansados e com fome, os cavaleiros tropeçavam prestes a perder a consciência. Jake olhou para Nachi e viu que o companheiro estava pálido e continuava a cuspir sangue e saliva, que escorriam pelo seu pescoço e tórax.

Após alguns minutos de caminhada, eles chegaram ao Coliseu. O anfiteatro estava lotado e Jake sabia o que aquilo significava. Uma execução ou um evento de diversão. Se bem que para o exército de Ares não existia diferença entre execução e diversão.

As arquibancadas estavam mais lotadas do que o comum. Os soldados comentaram que com o passar dos dias, após a “morte de Atena”, as pessoas do Santuário que um dia serviram a deusa passaram a compactuar com os ideias de Ares por livre e espontânea vontade, acreditando que o deus da guerra seja a nova justiça já que ele destronou Atena e segue governando a Terra. Mas ao abraçarem a causa sanguinária de Ares, eles também se tornaram sanguinários. Abriram o coração e a mente para as perversidades e malícias espalhadas pela corte divina para corromper o coração dos homens. Havia ali soldados rasos, aspirantes, cavaleiros, berserkers, e até mesmo homens, mulheres, idosos e crianças do vilarejo de Rodorio.  

No centro do coliseu foram postas três esfinges de bronze oca na forma de touro mugindo, com duas aberturas, uma no dorso e uma na parte frontal localizada na boca, em cima de rodas de carvão. E a poucos metros deles havia uma base com longas e grossas correntes presas em argolas.

Quando os dois cavaleiros entraram na arena e foram vistos pela multidão, a plateia se levantou aos gritos, comemorando o início do espetáculo. Os guardas os levaram até a base e prenderam as correntes nos pulsos e nos pés. Apesar deles poderem se locomover, as correntes limitavam até onde eles poderiam ir, e com certeza seria poucos metros. Mas o que eles mais queriam naquele momento era descanso, e por isso ambos cederam de joelhos.

Não tardou para que Phobos aparecesse na arena acompanhado pelos espíritos da guerra, levando a plateia aos gritos novamente.

— Restam apenas quatro dias... — começou Phobos, e o agito foi diminuindo até restar apenas o deus discursando. — ... para o retorno da falsa deusa da guerra. Como já devem saber, Atena está viva no Tártaro e planejam traze-la de volta. E é de nosso conhecimento que ainda existe rebeldes que resistem ao império do Senhor Ares, e que estão tramando uma batalha para nos derrubar no dia em que Atena retornar. Mas eu posso garantir que isso não irá acontecer, pois estou disposto a fazer de tudo para impedir.

“E hoje vocês terão uma ideia da dimensão de tudo isso. Temos aqui presente dois cavaleiros de Atena que fazem parte dos rebeldes. O mais inútil se chama Nachi, o cavaleiro de bronze de Lobo. Já o outro... É ninguém menos do que Jake, o cavaleiro de ouro de Leão. Um dos mais poderosos a serviço de Atena.  Apesar de ser um excelente assassino, Jake se rebelou e nos traiu. Ele derrotou o deus Enyalios, ainda que com uma inconveniente ajuda, e derrotou alguns dos meus berserkers. Incluindo o líder do meu exército. Mas ele não está aqui nesse estado por questão de vingança. Afinal, em uma guerra, soldados morrem. Mas o que é a morte para vocês que dedicam as suas vidas para a guerra?! Não é nada. Já para eles... é uma perda dolorosa. E é mais dolorosa ainda quando é a morte de alguém que tanto amam. E é por isso que eles estão aqui. Para fazer uma troca. Uma vida por uma informação. Se para eles a vida de quem amam é algo inestimável, para mim as informações sobre a guerra também são. Veremos até onde vai o empenho de manter o segredo. Tragam os tributos.” — e o deus se afastou, subindo para a plataforma em meio a plateia do coliseu, de onde assistiria o evento.

Um dos portões de ferro do Coliseu foi aberto, e dele saiu uma berserker. Era uma menina pequena, aparentando ter dez anos. Sua pele era clara, os olhos eram vermelhos mergulhados em esclera negra e seus cabelos eram longos e loiros. Ela trajava uma onyx adequada ao seu tamanho e trazia uma foice comprida e curvada na mão direita, enquanto guiava uma criança na outra mão. A criança era um menino de três anos, que mal sabia andar e ainda tropeçava nos próprios passos. Seus cabelos eram escuros e seus olhos eram azuis.

Atrás da garota vinha dois soldados berserkers. Cada um trazia um prisioneiro. Um era um homem de cinquenta anos, aparentando ser um rico empresário. O outro prisioneiro era uma mulher de quarenta anos, com seus cabelos loiros soltos e bagunçados. Na medida em que caminhavam em direção ao centro do coliseu, os murmúrios da plateia aumentavam. Curioso com a movimentação, Jake ergueu a cabeça e avistou a berserker com a criança. Seu coração logo se apertou, pois estavam trazendo um ser inocente para o meio daquele inferno, mas foi quando seus olhos alcançaram os outros prisioneiros que seu coração apertou e disparou.

A mulher prisioneira também o reconheceu e gritou pelo seu nome:

— Jake!!!

— Mãe!!! — gritou Jake, surpreso e com medo. — Mãe!! Pai!! Mas o que vocês estão... — Jake olhou para os seus pais e depois olhou para os touros de bronze, e foi aí que ele entendeu e começou a chorar. — Não... Por favor, não façam isso! Phobos!! Por favor!! Eu imploro!! Não faça isso!! — Mas o deus apenas sorriu. Lagrimas e desespero suplicavam dos olhos de Jake. Ele tentava arrebentar as correntes, mas não conseguia. Não eram correntes normais. — Por favor!! Não façam isso!! Por favor, Phobos!! Eles não tem ligação alguma com o Santuário. Eles são inocentes!! Não faça isso com eles!! Eu imploro!!

— Claro que tem. — disse a berserker, com uma voz meiga, mas com uma expressão maliciosa. — Você é o que liga eles ao Santuário. Sangue por sangue, Cavaleiro de Leão.

— Não... Eu imploro. Não façam isso! Mãe... Pai...

—  Filho... — disse o pai de Jake, chorando.

— Não vai dar um ‘oi’ para o seu irmão, Jake? — perguntou a berserker.

— I-Irmão?! — Jake olhou para a criança. Ele estava assustado e chorando, e Jake se viu nele. Por muito tempo ele foi uma criança assustada e chorona, fingindo ser forte.

— Por favor, poupem a vida do meu filho. — suplicou a mãe de Jake, aos prantos. — Façam o que quiser comigo, mas não matem o meu menino.

— Tudo vai depender do seu outro filho. — disse a berserker.

— Como uma menina como você pode fazer tudo isso tão friamente?! — perguntou a mãe de Jake.

A berserker sorriu.

— Meu nome é Alecto de Erínia. Uma berserker a serviço do meu senhor Ares desde a era mitológica. Você não deveria se preocupar comigo, pois já sabe que eu estou disposta a mata-los. Deveriam se preocupar com Jake, pois é ele quem irá decidir se vocês irão morrer ou não. Não é, Jake?!

— Parem com isso! Por favor! — suplicou Jake.

— A decisão de parar depende de você, Leão. Dê ao senhor Phobos as informações que ele precisa a respeito do retorno de Atena.

— Eu...

Jake hesitou, e Nachi olhou preocupado para ele. Ele não podia falar algo para o amigo, mas Jake entendeu a sua intenção. Era a guerra que estava em jogo. A vida de bilhões de pessoas contra a vida dos seus pais e do seu irmão. Jake fechou os olhos e abaixou a cabeça, chorando. Seus ferimentos não doíam mais do que a dor de decidir se sua família vive ou morre.

Antes de Jake sair de casa para começar seu treinamento de cavaleiro, seus pais lhe pediram desculpas por todo o mal-estar que haviam provocado a ele. Eles agora estavam bem, mas novamente a vida lhe colocou contra eles.

—  Ele não vai conseguir. — disse um rapaz surgindo repentinamente de trás de um dos soldados através da sombra. Sua presença era maligna e provocava calafrios. De pele clara e queimada, cabelos pretos e olhos castanhos vidrados e sem vida por ser cego, ele trajava uma surplice e estava acompanhado de figuras sombrias semelhantes a cães. — Imagine um assassino com a faca no pescoço da pessoa que você mais ama. Seja seu filho, sua mãe, seu pai, sua esposa... Quem quer que seja. É uma decisão pesada. Bem mais pesada do que decidir se bilhões de pessoas da Terra, as quais você se quer conhece, devem viver ou não. Não é, Jack?! Fale logo o que o Senhor Phobos precisa ouvir. Depois disso eu mesmo acabarei com a sua vida.

— Rick?! — disse Jake surpreso ao ver seu antigo rival. 

— Você não entende como isso aqui se tornou um centro de acertos de contas, não é? Você dá as informações, e eu mato você, me vingando e vingando o exército de Ares. Mas se você não der as informações, sua família morre, você morre, e eu fico ainda mais satisfeito.

— Jake... — disse a mãe.

— Mãe!! — chorou o irmão de Jake, querendo ir para o colo da mãe, mas Alecto segurou o braço da criança com força, fazendo-a se contorcer de dor e chorar.

— Não faça isso!! — gritou Jake.

— Isso... O que?! — apertando com mais força, o braço da criança quebrou e fraturou, expondo o osso. A dor foi tanta que a criança gritou e desmaiou.

— Não!!! — gritou a mãe. — Meu menino!!

Jake também gritou. Tanto quanto os seus pais. As lagrimas de raiva arderam em seus olhos.

— Desgraçada!!! Sua miserável!!

O cavaleiro de leão se levantou e correu em direção a Alecto, arrastando a corrente consigo, mas seu trajeto foi impedido quando a corrente foi puxada até o seu limite. A distância entre Jake e Alecto agora era mínima. Menos de um metro. Estavam face a face. No rosto de Jake havia ódio estampado, enquanto no rosto de Alecto havia um sorriso debochado. 

— Que bom que você se aproximou. — disse Alecto. — Assim sentira mais rápido o cheiro de carne queimando. Abram os touros e joguem eles dentro!! — ordenou a berserker.

Pequenas portas foram abertas no dorso dos touros. Era um para cada familiar. Eles foram jogados sob protestos de misericórdia e compaixão, mas os soldados berserkers não hesitaram. Alecto segurou a criança pelos cabelos e a jogou dentro do touro do meio com força. No interior havia um canal desenvolvido semelhante à válvula móvel de um trompete, presa na parte interior da boca do touro. Os soldados colocaram os canais nos prisioneiros, semelhante a mascaras de oxigênio, e fecharam a entrada da esfinge.

— Não!!! Não!! Parem!!!

— Informações, Jake. — disse Alecto, e apontou para Phobos. — Apenas ele salvará a sua família.

— Eu... — seu queixo batia involuntariamente enquanto chorava. — Eu não posso fazer isso, mas... Atena... Me perdoe.

Phobos estendeu a mão para Alecto e se inclinou para ouvir o que Jake tinha a dizer.

— Eu... Eu vou contar, mas... Asterion foi muito meticuloso para revelar as informações. E agora sabem a razão. Para evitar que coisas assim acontecessem. Ele me disse... Ele me disse que Delfos planeja encerrar de uma vez por todas a guerra santa entre Ares e Atena. E ele tomou medidas para que isso pudesse acontecer. Além de manipular a guerra desde o início, Delfos também afastou do Santuário todos aqueles que ele achou que possuem habilidades e importâncias únicas para o grande dia; Ordenou que o máximo de berserkers fossem mortos até o retorno de Atena; Também orientou Atena a treinar combate afim de se preparar para a batalha final; E ordenou que Ikki encontrasse a Onyx de Ares e quebrasse a lança da vitória que o deus carrega na mão direita; Assim, quando Atena regressasse do Tártaro, Ares estaria na desvantagem e ela teria seu exército a sua espera para derrubar Ares. Para sempre.

A plateia ficou em silêncio. Havia surpresa em tanta audácia do Grande Mestre. Alecto olhou para Phobos.

— Senhor... Ele mentiu?

— Não. Ele não mentiu. Ele disse a verdade. Do início ao fim. E não me parece que ele escondeu algo. Mas eu menti.

— Senhor?!

Jake percebeu antes de Alecto. Phobos ergueu a mão dando um sinal, e os guardas atearam fogo nos círculos de carvão embaixo dos touros.

— NÃO!! NÃO FAÇA ISSO!! EU FIZ O QUE VOCÊ PEDIU, PHOBOS!! EU FIZ!! EU CONTEI TUDO!! POR FAVOR, NÃO FAÇA ISSO!! EU IMPLORO!! PHOBOS!!

Não tardou para que os primeiros gritos ecoassem. Na medida em que a temperatura aumentava no interior do Touro, o ar ficava escasso, entrava pelo nariz queimando e deixando-os sufocados. Eles procuravam meios para respirar, recorrendo ao orifício na extremidade do canal presa no rosto deles. Os gritos exaustivos e desesperados saíam pela boca do Touro, fazendo parecer que as esfinges estavam vivas.

— PAREM!!!! — gritou Jack.

—...—


Tártaro — Castelo de Oberon

A nebulosa se ampliou diante de Oberon, e o deus deu alguns passos para trás.

— Você está enganado, Oberon. Eu jamais deixei de ser humano.  disse Shun, através do seu cosmo. — Como poderia abandonar a minha natureza? Não tenho a ambição de me tornar um deus. Isso é apenas algo temporário, necessário para o momento, pois esse é o nível do meu oponente.

Outras nebulosas surgiram pelo grande salão. Todas tomadas por um cosmo dourado divino.

— Eu não gosto de lutar apesar de ser um cavaleiro. Não quero ferir você apesar de ser um deus maligno que apoia as guerras sangrentas de Ares. Mas as condições exigem que eu lute, que eu faça aquilo que eu não gostaria de fazer.  Sons de correntes correndo podiam ser ouvidos vindo de dentro das nebulosas. — Por isso... — Shun surgiu andando em meio aos escombros sem nenhuma escoriação. —  Eu seguirei lutando! Onda relâmpago!

De dentro de cada nebulosa surgiu correntes pontiagudas, prontas para começar uma caçada divina. Com exímio o deus desviou das correntes agressivas e avançou com sua espada. Mas Shun não se moveu. Se manteve parado, sereno. Quando Oberon desceu para golpeá-lo, correntes douradas surgiram e envolveram o braço do deus, impedindo o ataque.

— Andrômeda... Você imagina Atena perdendo uma luta contra você?

—Como?!

— Você imagina, você entrando sozinho no Olimpo e destronando Apolo? Acredito que não. Então... — o cosmo escuro e sombrio do deus se espalhou, e as correntes douradas começaram a trincar com a pressão da espada. — O que lhe encoraja a achar que pode me derrotar?

—  O meu dever como cavaleiro. Tempestade Nebulosa!!

O cosmo de Shun explodiu em uma poderosa tempestade de ar e cosmo e Oberon foi lançado para trás apenas alguns metros. Rapidamente o deus se equilibrou em meio ao turbilhão, e com um corte de espada a técnica foi desfeita.

—  Lutar contra você faz parecer que estou tentando matar uma barata bastante resistente. — Oberon manuseou a espada e desferiu um corte no ar, abrindo uma fenda dimensional. —  Me acompanhe, Shun.

O deus passou pela fenda e desapareceu. Receoso, Shun o seguiu. A fenda o levou para planície de templos antigos em ruínas cercados por montanhas escuras.

—  Ainda estamos no Tártaro? — perguntou Shun.

—  É evidente que sim. — respondeu Oberon. — Se subir até o topo dessas montanhas, você irá avistar o castelo no horizonte.

— E porque me trouxe até aqui?

— Somos deuses lutando, Andrômeda. Como pretende dar tudo de si na luta sem transformar aquele castelo em escombros e ruinas?!

O deus explodiu o seu cosmo e avançou contra Shun, dando um salto e descendo com um corte de espada. Shun se esquivou no momento em que a espada atingiu o chão e abriu uma cratera, esmagando a planície como se um meteoro tivesse caído no local.

No céu Shun abriu as asas da armadura divina e elevou o seu cosmo, lançando replicas da corrente pontiaguda envolvida em descarga elétrica contra Oberon. Mas o deus surgiu em meio a fumaça da explosão desviando das correntes e se aproximando de Shun. A poucos metros de se chocarem, Shun e Oberon dispararam golpes simultâneos, provocando uma explosão no ar.

Oberon aterrissou com elegância, mas Shun foi lançado contra o chão e pousou com esforço, mas não tardou para que voltasse a atacar. Ainda de asas abertas, Shun correu em direção a Oberon. O deus estendeu a mão e disparou um golpe que explodiu, mas Shun saltou e desceu como um tiro de canhão em uma investida de punho cerrado. Oberon se lançou para o lado e o punho de Shun atingiu o chão, gerando uma força esmagadora que abriu uma cratera tão extensa quanto a que foi aberta pela espada do deus da escuridão.  

— Quanto poder...  pensou Oberon, estendendo sua espada e lançando uma rajada de cosmo.

— Defesa galáctica de Andrômeda!!  gritou Shun, estendendo a mão. O cosmo de Shun girou ao seu redor formando uma “cúpula escudo”, circundada por um espiral nebuloso girando em rápida velocidade. A técnica de Oberon então foi detida para a surpresa do deus. — Minha vez.

Os olhos de Shun brilharam tomados por cosmo e ele avançou rompendo o próprio escudo e cerrando o punho para uma ofensiva direta. Oberon estendeu a mão para pará-lo, mas Shun se teletransportou e surgiu acima do deus da escuridão, descendo com um soco no rosto de Oberon. Pego de surpresa, o deus foi lançado ao chão e perdeu sua espada. E antes que o deus pudesse se erguer, Shun voltou a atacar com uma sequência de chutes no abdômen de Oberon, se erguendo cada vez mais do chão na medida em que aplicava os golpes. O ultimo chute fez com que o deus rasgasse o solo até colidir com uma das montanhas que explodiu e desmoronou.

Arfando, Shun pousou, estendeu as duas mãos concentrando cosmo e disparou uma poderosa rajada, mas no meio do percurso a técnica foi dissipada e engolida pelo cosmo de Oberon que se elevou. O cosmo do deus girou, se concentrou e foi disparado como uma chuva de rajadas. Rapidamente Shun ergueu sua cúpula defensiva, mas a colisão do golpe estava fazendo com que ele fosse arrastado para trás.

Oberon se ergueu imponente em meio aos escombros, abrindo um par de asas negras e com seus olhos azuis tomados pela escuridão do seu cosmo. A energia emanada por ele, se concentrando ao seu redor, era tão pesada que parecia distorcer o espaço ao seu redor. E com um singelo movimento o deus disparou uma massiva e devastadora rajada contra Shun, mas dessa vez o novo deus não conseguiu escapar.

A explosão foi devastadora, provocando tremor e deslocamento de ar. A planície se tornou um abismo e as montanhas ao redor foram rasgadas pelo deslocamento expansivo do cosmo. E em meio a terra em chamas, queimando como brasa, Shun se erguia cuspindo sangue. Era a primeira vez que ele era ferido de tal forma após se tornar um deus.

— Ele tem razão. Ele é bem mais poderoso do que eu.  pensou Shun. — Mas se eu não o derrotar... Ninguém mais fará.

— Pronto para desistir, Shun?

— Nunca. — respondeu Shun, em pé e elevando seu cosmo.

As asas da armadura divina voltaram a se abrir e o cosmo de Shun se expandiu como uma nebulosa. Correntes pontiagudas voltaram a se formar e se multiplicar, mas dessa vez subiam em espiral ao redor de Shun que seguia avançando em direção a Oberon no céu.

— Essa sua técnica não vai funcionar comigo. Já deveria saber disso.

— Você nunca viu essa técnica. Redemoinho estelar de Andrômeda!!

O cosmo de Shun então se espalhou pelas correntes e elas se ergueram ao redor dele como uma chuva de estrelas cadentes em espiral contra Oberon. Eram mais de duzentos bilhões de estrelas cortando o espaço contra o alvo e cada corrente pontiaguda seguia atacando por vários pontos diferentes simultaneamente.

Oberon materializou sua espada para bloquear cada corrente que vinha por diferentes direções, mas o deus esqueceu que Shun também estava indo ao seu encontro. Andrômeda surgiu diante do deus da escuridão concentrando uma quantidade espessa de cosmo que explodiu violentamente, lançando o deus contra o chão.

Oberon caiu abrindo uma cratera, e do alto Shun ordenou que a sua técnica seguisse o deus. As bilhões de correntes estelares desceram feroz ao encontro do alvo. A sequência explosiva e destruidora deformou por completo toda a região. O que antes era um anel de montanhas, agora era apenas uma gigantesca cratera queimando com milhares de perfurações.

— Seu tolo! — gritou Oberon, e a coluna de fumaça foi dissipara quando o deus bateu suas asas e subiu ao céu como um raio furioso.

Shun apenas pôde ver os olhos do deus brilhando e passando por ele como um flash de luz. Em seguida sentir uma dor fina em seu peito e a sensação de ter algo quente escorrendo pelo seu corpo.

 A espada de Oberon estava agora cravada no centro do peito de Shun, e ainda sendo empunhada pelo deus.

— Você lutou muito bem, Shun. Tão bem quanto possa imaginar. Mas me enfrentar sozinho foi um grande erro. 

— Eu... Eu não posso morrer aqui. Eu não posso perder.

— Mas você já perdeu. — disse Oberon removendo a espada.

Sangue escorreu do peito de Shun e ele começou a cair como um anjo sendo expulso do céu. Ele caiu assim como Ícaro por ser aproximar demais do sol, e assim como Lúcifer caiu por querer ser superior a Deus. 

— Você sabe o que deve fazer agora, Shun. Eis ai o seu leito de morte.  

Oberon bateu suas asas negras e desapareceu, deixando para trás um Shun na beira da morte. 

—...—


Santuário, Templo do Grande Mestre - Grécia

— Ouvi aplausos vindo do Coliseu... — disse Dionísio, entrando no grande salão vindo por uma das portas laterais que dá acesso aos aposentos internos. — Está tendo alguma festa lá?

— Não é curioso que o deus das festividades não esteja ciente de uma... festa?! — ironizou Anteros, sentado no trono. — Fiquei sabendo que Phobos está se divertindo. Você sabe como ele fica quando abandona a serenidade. Parece que ele vai... sacrificar alguns leões. — disse sorrindo. 

— Sacrifi... — Dionísio arregalou os olhos e saiu as pressas do grande salão, fechando a porta com um estrondo.

Anteros sorriu.

— Esse seu apego com os humanos ainda irá destronar você, Dionísio..

...

Jake implorou, mas não houve socorro. Ninguém teve clemência. Nem mesmo da criança que não só gritava mais que os pais, como também se debatia em agonia. A execução durou alguns minutos, mas para Jake foram horas intermináveis. Ele chorou e gritou até sentir o gosto ferroso do sangue queimando na garganta. A dor do seu corpo não dia mais quanto a dor de ver a sua família morrendo ali, na sua frente, lentamente, sem puder fazer nada por eles.

Aos poucos os gritos foram sessando. Primeiro a criança, depois a mãe e por fim o pai. Os touros já não mugiam mais. Agora era apenas o corpo queimando e derretendo até os ossos, e a fumaça subindo por suas narinas. 

Os olhos de Jake percorreram a plateia. Ele estava odiando cada um deles, mas seus olhos pousaram em um homem de armadura dourada sentado na plateia. O cavaleiro de Escorpião estava lá, assistindo a execução.

— Foi um belo espetáculo. — disse Phobos. — Músicas para os meus ouvidos. Agora, vamos dar continuidade com as execuções. Alecto?!

A berserker caminhou até a base onde Nachi e Jake estavam e se posicionou atrás do cavaleiro de lobo, puxando sua cabeça para trás de forma que seu pescoço ficasse exposto. Nachi não reagiu. Ele concluiu que não tinha mais o que fazer. Seus olhos, cheios de lagrimas, viraram-se para Jake. Ele tentou falar algo para o amigo, mas não conseguia. Apenas balbuciava, sem a língua.

Agora de olhos fechados e respiração profunda, Nachi relaxou o corpo e aceitou a morte. A ultima coisa que ele sentiu foi o golpe dilacerador da berserker rasgando sua garganta. Depois tudo ficou escuro e em silêncio. Alecto chutou o corpo sem vida de Nachi, que caiu em sua própria poça de sangue. Nu e humilhado.

— Agora é a sua vez, Leão. — disse a berserker puxando a cabeça de Jake para trás.

Mas diferente de Nachi, os olhos de Jake estavam tomados por raiva e dor. Ele mirou os olhos da berserker em silêncio e por um momento ele viu que a aura de Alecto oscilou entre malícia e medo.

— Espere! — pediu Rick. — Eu irei mata-lo. Esse foi o nosso acordo.

— Se é isso o que você quer... — disse Phobos. —  Então mate o cavaleiro de leão, espectro, mas depois saia do Santuário. Não quero estrelas malignas rastejando por aqui.

— Também não tenho a intenção de continuar aqui por muito tempo. — disse Rick, caminhando em direção a Jake. Alecto se afastou, ainda que sem querer, e Rick ficou em seu lugar. Mas os olhos de Jake não mudaram. Mirar o seu executor era a única coisa que ele podia fazer já que as correntes restringiam seu cosmo e sua força. — A situação agora mudou. Você percebe, não é Jake? Graças a essa surplice eu pude sair do hospital. E a primeira coisa que eu vou fazer, é matar você.

Rick ergueu a mão prestes a matar Jake, mas parou quando ouviu o som de correntes sendo partidas. Não apenas o espectro, mas também todo o Coliseu ficou surpreso, e a plateia se levantou curiosa.

— As correntes... Foram partidas. Esse... Esse perfume de... Vinho?!

— Não é justo que um homem acorrentado seja executado em pleno coliseu. — disse Dionísio, surgindo sentado em cima de um bloco de pilar desabado. Ele trazia uma taça de vinho na mão e uma garrafa na outra. — Acho que agora as coisas estão mais... justas. Não acha, Phobos?!

— Dionísio?! Sempre você... — disse o deus, entre dentes, cerrando o punho.

— A situação agora mudou. — disse Dionísio, erguendo a taça para Rick. — Você percebe, não é espectro? Agora sim, senhoras e senhores, teremos um espetáculo. O Coliseu foi feito para que gladiadores lutem. Por tanto... Ruja, leão.

O cosmo de Jake se expandiu como uma represa sendo rompida. O cosmo dourado se elevou e tomou a forma de um leão dourado e furioso emanando raios dourados. A armadura de ouro surgiu se materializando e cobrindo o seu corpo nu e ferido.

Jake olhou para Rick e com apenas um passo ele se aproximou do espectro, segurando-o pelo pescoço. 

— Se você não morreu na floresta... Morrerá agora. — disse Jake. — E em seguida... — Jake olhou para Phobos por cima do ombro. — Eu irei atrás de você.

—...—


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Notas finais do capítulo

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Contato: 81 997553813

Próximo capítulo: Capítulo 61 - O despertar da deusa da guerra

Sinopse: indefinido

Data de publicação: indefinida

Olá galera!! Tudo bom com você?! Espero que sim. Esse foi o capítulo mais longo que eu já postei aqui (risos). Espero que não tenha ficado cansativo. Pensei em dividi-lo em dois, mas achei que as cenas deveriam ser continuas. Enfim... Ta aí. Espero que tenham gostado.

E como vocês já sabem, a critica de vocês é sempre bem vinda e fundamental para a história. Motiva bastante a escrever e caprichar.

Beijos e abraços!!



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