A Saga de Ares - Santuário de Sangue escrita por Ítalo Santana


Capítulo 14
Capítulo 14 - A nova era


Notas iniciais do capítulo

Os cavaleiros de ouro se reúnem diante do Grande Mestre. A nova era começou, o reino de Ares teve seu inicio com a morte de Atena. Mas será que tudo está perdido?



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Capitulo 14 - A nova era


Israel (Getsêmani) - Noite da lua de sangue - Momentos antes de Atena morrer

Getsêmani é um jardim situado ao pé do Monte das Oliveiras, em Jerusalém. É um jardim repleto de Oliveiras. Arvores de pequeno porte, abundante em folhas, com troncos largos, grossos e retorcidos.

Próximo ao jardim existe uma igreja chamada Igreja de Todas as Nações, ou Igreja da agonia. Foi construída em torno de uma seção de solo rochoso onde se acredita que Jesus teria orado antes de sua prisão. É uma alta igreja com suas paredes externas de coloração rosada derivada de pedras extraídas em Belém. Sua fachada frontal, que lembra muito uma fachada de templo grego, está apoiada sobre uma fileira de colunas coríntias inseridas sob um mosaico moderno, que retrata Jesus Cristo como mediador entre o deus cristão e o homem. O teto com cúpulas, as grossas colunas e os mosaicos na fachada dão à igreja uma aparência arquitetônica bizantina. As grossas colunas formam três altos arcos que servem de acesso ao interior da igreja.

Atrás da igreja existe o jardim de Oliveiras com mais de dois mil anos, sendo elas volumosas em suas folhas e de grande porte em seus grossos troncos. No centro do jardim existe a maior de todas as Oliveiras, e aos pés da grande arvore havia um homem que estava ajoelhado ao lado de uma “estátua” dourada. A estátua tinha a aparência de um anjo ajoelhado, com as mãos unidas como se estivesse orando, cabeça erguida em direção ao céu e com suas asas abertas.

A noite estava sinistra com a lua vermelha. O jardim estava sombrio com as sombras das arvores, a grossa neblina se formando e o silencio da noite.

— Não negarei ao Senhor que nesse momento minha alma está triste. — disse o rapaz, ajoelhado diante da grande Oliveira. Era um jovem vestindo uma túnica laranja de manga longa e outra túnica de cor marrom aberta ao meio por cima. Em sua cabeça usava uma túnica longa cor de pergaminho, amarrado por um fino lenço preto. Ele chorava de joelhos e com a cabeça encostada ao chão, como sinal de reverencia. — Minha alma está em agonia. Estou com medo. 

— O que teme, Shalom? — perguntou uma grossa voz trazida pelo vento. — Saia de Jerusalém e vá para a Grécia.

— E o que farei lá? — perguntou o jovem, erguendo a cabeça e olhando para o céu noturno.

— Shalom, vá para a Grécia. — disse mais uma vez a grossa e serena voz pedindo ao garoto. — Deixe de ser um simples camponês, deixe de pescar peixes e farei de você um guerreiro dotado de grandes habilidades. O mundo está para entrar em um grande derramamento de sangue por causa das ambições de deuses malignos e orgulhosos. Estou enviando você para deter isso.

O vento soprou forte fazendo com que as nuvens se movessem e a grande lua vermelha fizesse sua luz sombria iluminar todo o jardim.

— O que vamos fazer? — perguntou Shalom.

— Mudar o mundo.

— Se possível, passe de mim este cálice.  disse Shalom, se levantando e enxugando as lagrimas.

Shalom era um jovem alto e magro. Ele tirou a túnica que cobria sua cabeça e a soltou no chão seco do jardim. Seus cabelos eram negros e ondulados, sua pele era clara e seus olhos eram verde oliva. 

Ele ficou de frente para a "estátua" dourada do anjo ajoelhado, e a encarou com curiosidade.

— Diante de você está o que os gregos chamam de “armadura”. — explicou a voz serena e firme. — Criada para vestir e proteger jovens, como você, que possuem o desejo de mudar o mundo e que tem disposição para se sacrificar por isso. Os que usam são chamados de “cavaleiros”, e esses cavaleiros se reúnem com a deusa grega Atena que vem defendendo a terra de outras divindades perversas.

— Irei me unir a deuses estrangeiros?

— Irá se unir a uma causa nobre. Proteger a paz na terra e os humanos. — explicou.

— Mudar o mundo. — disse Shalom, pensativo.

 Exato.

A armadura brilhou e se desmontou indo em direção a ele, e o vestiu.

— Agora eu entendi tudo. Que seja feita a Tua vontade e não a minha. 

A neblina se intensificou e cobriu todo o jardim. Uma luz dourada se elevou no meio da densa neblina e subiu aos céus.

—...—


Siberia - Extremo Norte - Geleiras eternas

No meio de imensas geleiras existe um oceano congelado por uma grossa camada de gelo, chamado de gelo eterno. Dizem que esse gelo não derrete desde a era mitológica.

Em meio ao vasto oceano congelado, dois pontos se destacavam na imensidão branca. De um lado, um homem de cabelos loiros caindo até os ombros e vestindo uma armadura dourada com uma capa branca presa nas ombreiras. Do outro lado havia uma mulher trajando uma onyx negra e de longos cabelos azuis escuros. Estavam um de frente para o outro, mas mantendo uma distância segura entre eles.

— Por que me trouxe até aqui? — perguntou Éris.

— Para lutarmos com todas as nossas forças.

— Lutar com todas as nossas forças?! — Éris estreitou os olhos. — Você compreende o que está dizendo, Aquário? Compreende o que isso significa?

— Claro que sim. — respondeu Hyoga, olhando para as grandes geleiras. — Um humano chamar um deus para lutar pode ser uma loucura para você, para nós é sobrevivência. Então que escolha eu tenho se os deuses vivem ameaçando a humanidade? Não é a primeira vez que eu faço isso e estou disposto a fazer um milagre novamente se for necessário. De qualquer forma, eu tenho que lhe deter. Tirar uma divindade poderosa como você do Santuário já é uma vantagem para o exército de Atena.

Éris gargalhou.

—Tolice, Hyoga. — zombou Éris. — Já falamos sobre isso. Essa sua ousadia terminará em sua derrota. Além da diferença entre nossos poderes, o fato de me trazer até aqui não muda em nada os acontecimentos nesse momento no Santuário da Grécia. Não olhou para o céu?  perguntou Éris, apontando para o alto. Hyoga olhou e ficou surpreso. — Creio que o céu da Sibéria não deveria estar escuro dessa forma não é? E muito menos com a luz boreal tão avermelhada.

Hyoga olhou para todas as extremidades do céu. Aquela escuridão se estendia por todos os lados. O céu estava totalmente negro, como se uma pesada noite tivesse surgido em segundos, e a luz boreal não estava mais reluzindo várias cores como sempre fazia. Agora era apenas um único e sinistro tom. Um vermelho forte como sangue.

— Mas o que é isso? — perguntou Hyoga espantado.

— É sinal de que tudo vai bem para o exército de Deimos na invasão.

— O quê?

— Hyoga, não posso negar que agiu de forma inteligente em ler os registros do Santuário e deduzir que eu estaria liderando a invasão, mas na verdade... — o vento soprou forte fazendo seus cabelos se agitarem. — Eu não passava de uma distração. Como lhe falei antes, enquanto eu chamava a atenção do Santuário, três outros invasores se dirigiram para as doze casas. Os três eram Phobos, Deimos e Anteiros.

— Os três homens a quem se referiu eram mesmo esses três deuses?

— Sim. — afirmou Éris. — Enquanto eu distraia o Santuário agindo no portão principal, os três invadiram pelo vilarejo de Rodorio. Acredito que quase todas as pessoas do vilarejo tenham sido mortas e serviram de altar para o sacrifício do despertar do Senhor Ares.

— Sacrifício... do despertar?! Como assim?!

— Atena e a deusa Hécate se uniram na Era Mitológica para selar Ares e seu exército de modo que o despertar total dos poderes não fosse completo até que todos os selos fossem rompidos. Isso daria vantagem para o exército de Atena assim que Ares começasse a dar os primeiros sinais de seu retorno. — explicou a deusa. — Mas tudo tem um preço, Hyoga. A primeira lua de sangue é o rompimento do primeiro selo e é costume ofertar sangue de inocentes para o deus da guerra.

Hyoga arregalou os olhos. 

— Ele não me falou nada sobre isso. — pensou Hyoga cerrando os punhos.

— Toda essa escuridão é as trevas tomando conta de tudo. A luz vermelha é o sinal da lua de sangue. Agora só falta apenas uma única gota antes do despertar do meu senhor...

— O sangue de Atena. — disse os dois ao mesmo tempo. 

— Eu já sabia disso. — disse Hyoga, cerrando os punhos. — Pelo menos quase tudo.

— O quê?! — disse Éris, surpresa. — Já sabia?

— Sim, sabia. — Hyoga deu um passo à frente. — Desci em sua direção, como falei antes, para tirar você de lá e assim não causar danos ao Santuário. Você acabaria matando todos os cavaleiros e soldados. Você realmente acha que eu não sabia da presença dos outros deuses lá? Inocência sua. Apenas não sabia que eles tinham matado as pessoas do vilarejo.

— Impossível! — gritou Éris, furiosa. — Como você poderia saber?! Os três estavam com os cosmos ocultados. Até mesmo Atena teria dificuldade para nota-los.

— Eu conheço o plano de vocês — disse Hyoga. — E Atena também.

Éris estreitou os olhos incrédula com o que estava ouvindo.

— Conhece?! O plano de Anteros era sigiloso e apenas os deuses aliados a Ares e os envolvidos tinham conhecimento. Nem mesmo os berserkers estavam cientes. — Éris arregalou os olhos. — Traição?! Fomos traídos!

— Finalmente percebeu.

— Miserável! — Éris disparou um raio contra Hyoga, mas o Cavaleiro de Ouro foi hábil e estendeu o braço criando uma grossa parede de gelo . O golpe de Éris despedaçou a defesa e teve sua energia dissipada, sem conseguir atingir Hyoga. — Se você realmente sabia, porque não ficou nas doze casas para proteger Atena? Por que você desceu as doze casas e foi até mim, se a vadia da sua deusa estava prestes a ser morta? — A fúria da deusa fez raios e relâmpagos se formarem entre as auroras boreais.

— Porque ela tinha que morrer. — respondeu Hyoga.

Éris ficou surpresa com a resposta.

— Afinal de que lado você está?

— Do lado de um plano audacioso.

Neste momento uma coisa inusitada aconteceu. A armadura de ouro de Aquário brilhou fortemente e começou a emitir um som. Uma ressonância.

— Isso é... — Hyoga colocou a mão no peito como se estivesse sentido uma angustia no peito. — Não pode ser. Essa sensação... Atena, você...

O cosmo da armadura envolveu Hyoga lhe trazendo sentimentos tristes. Era como se a armadura chorasse e usasse Hyoga como meio para expressar o que sentia. Lagrimas escorreram dos olhos do Cavaleiro de Ouro e ele entendeu o que significava aquilo.

A aurora vermelha brilhou com mais intensidade e um cosmo ao longe começou a se apagar. Éris olhou para o céu e logo entendeu o que estava acontecendo. Os deuses da guerra haviam tido êxito na missão. 

— Está chorando pela morte de Atena? — perguntou Éris, voltando sua atenção para Hyoga, que cedeu de joelhos no chão. — Poucos segundos atrás você disse que Atena deveria morrer, mas agora você chora pela morte dela. Não compreendo o que você quis dizer com "um plano audacioso", mas de uma coisa eu tenho certeza... — disse Éris, debochando. — Atena está morta e a partir de hoje o Santuário, os cavaleiros e toda a humanidade deverão se curvar para o Senhor Ares. A Terra agora é do deus da guerra. Chegamos aonde nem mesmo Poseidon e Hades conseguiram. 

— Não conte uma falsa vitória assim tão rápido. Ainda não acabou. — disse Hyoga de cabeça baixa colocando sua mão direita na grossa camada de gelo. — A verdadeira guerra santa mesmo... — Ele ergueu a cabeça e encarou Éris com os olhos cheios de lagrimas, mas também repleto de cosmo. — Ainda está para começar.

— O que você quer dizer com isso? — Éris tentou dar um passo à frente, mas teve seus pés congelados e o gelo continuou a subir até a altura de sua cintura. — Acha que uma fina camada de gelo vai me deter?

Éris elevou o cosmo e logo rachaduras começaram a surgir no gelo.

— Claro que não vai lhe deter. — respondeu Hyoga, ficando de pé e apontando o dedo indicador para a deusa. Do seu dedo surgiu círculos de gelo que foram em direção a Éris e envolveram o seu corpo. — Mas isso vai fazer eu ganhar tempo.

Éris ficou imobilizada. Quanto mais ela se mexia, mais os círculos de gelo lhe prendiam.

— Sou uma deusa. Um gelo fraco como esse jamais vai me impedir. — O cosmo de Éris explodiu e os círculos foram rompidos.

A deusa avançou contra Hyoga, mas foi surpreendida pelo cosmo do Cavaleiro de Ouro.

— Tarde demais, Éris! — O cosmo de Hyoga se expandiu e bloqueou o avanço da deusa, forçando Éris a recuar.

— Mas que cosmo é esse?! — pensou a deusa. — Em um rápido instante o cosmo de Hyoga começou a crescer infinitamente. Isso é... Impossível!!

— Quando lutamos no Santuário eu disse a você que quinze anos depois da batalha contra Thanatos eu consegui alcançar um frio que vai além do zero absoluto, capaz de congelar até mesmo uma divindade como você.

— Só pode estar blefando. — disse Éris, incrédula. — Alcançar o perfeito zero absoluto já é algo quase impossível para vocês humanos. Poucos são aqueles que alcançam. Ir além daquilo que vocês determinam como sendo o Zero Absoluto... É um frio intenso demais, Hyoga. Está fora da sua capacidade humana. Você e a sua armadura seriam congelados.

— Não subestime as minhas capacidades, Éris!!

— O quê?!

— Estamos no mesmo lugar onde eu fui treinado pelo meu Mestre Camus. Sempre aprendi que deveria me tornar forte como essas grandes eternas paredes de gelo que não derretem nem mesmo com a própria luz do sol. Esse gelo poderoso que se mantém de pé desde a Era dos deuses. — Hyoga olhou para o céu. — Mas só depois eu entendi que não era apenas para o meu cosmo ser forte como essas paredes, mas sim forte o suficiente para poder manipula-las ao meu favor.

— Manipular as geleiras eternas?! Impossível. É um desafio até mesmo para os deuses. Como ousa blasfemar falando uma besteira dessas? — disse Éris, irada. Seu cosmo se elevou e ela partiu contra Hyoga mais uma vez. — Você está passando dos limites, humano!!

Éris materializou seu tridente envolvendo-o com uma poderosa descarga elétrica e o lançou contra Hyoga, que jogou o corpo para o lado desviando da arma divina. Apesar de ter se esquivado, o deslocamento da arma divina provocou finos cortes em seu corpo e na armadura de ouro de Aquário. 

O tridente ficou cravado no gelo, mas Éris seguiu avançando e alcançou Hyoga desferindo um soco no rosto do Cavaleiro de Ouro. Hyoga tentou revidar com um chute, mas Éris era mais rápida e se esquivou.

A deusa concentrou uma esfera de energia em sua mão e disparou contra Hyoga, mas o Cavaleiro de Ouro contra atacou.

— Turbilhão de Gelo!!

Hyoga aplicou um soco em direção ao céu criando um turbilhão de cristais de gelo potencializado pelo ar frio. A força da técnica sugou o golpe de Éris e o dissipou. Apesar da pressão do turbilhão puxando tudo ao redor para lançar pelos ares, a deusa da discórdia não fez qualquer esforço e permaneceu imóvel.

— Apesar do seu repentino aumento de poder, sua técnica não me impressiona. Você está se colocando em um nível muito próximo dos deuses. Eu já lhe adverti. Nós, os deuses, não toleramos humanos que alcançam o patamar divino. Existe limites para tudo!

— Nós, humanos, também não toleremos a arrogância dos deuses!! — Hyoga elevou o cosmo, anulou o Turbilhão de Gelo e expandiu a sua cosmo energia por toda região. As geleiras foram tomadas pelo seu poder e então tudo naquele local começou a emanar um cosmo dourado e intenso. Hyoga ergueu os dois braços unidos e todo ar gélido começou a se concentrar em espiral ao redor das mãos de Hyoga, formando uma esfera de cosmo. — Esse lugar tem vida Éris, e deuses como você, cegos pelo orgulho do poder e do patamar que possuem, jamais conseguirão compreender e andar em sincronia com a vida.

Éris, espantada, olhava para todos os lados. Sentia sua cosmo energia sendo abafada pelo cosmo dourado que crescia cada vez mais.

— Hyoga recorreu ao poder das geleiras eternas para alimentar o seu cosmo e poder me enfrentar. — pensou a deusa. Pare Hyoga! — gritou Éris. — Levantar a mão contra mim, uma deusa, e me atacar acabará despertando ainda mais a ira dos deuses. Esse é o maior pecado que vocês, humanos, podem cometer!

— A ira dos deuses nessa geração já foi despertada há muito tempo, Éris. — respondeu Hyoga. — Desde o dia em que a flecha de Sagitário foi disparada contra Poseidon. Estamos cientes de tudo isso, mas o nosso dever de proteger a humanidade fala mais alto do que o nosso temor ao castigo que vamos receber. Se nós não pararmos vocês, quem irá?

— É um idiota se pretende suportar sobre si a ira dos deuses!

— Chega de conversa! Vocês, deuses, ameaçam a existência da humanidade e querem que a gente aceite as vaidades de vocês?! Não vamos tolerar! Enquanto eu tiver vida e cosmo, continuarei lutando pelos meus direitos de viver!! Receba o meu golpe mais poderoso! Suprema Execução Aurora!

 Hyoga abaixou as mãos unidas em direção a Éris e então o golpe foi disparado liberando uma forte rajada de cosmo. Éris elevou o seu cosmo e colocou os dois braços na frente do seu rosto para se defender, mas de nada adiantou. O golpe a acertou em cheio e ela foi arremessada, tendo sua Onyx congelada e danificada.

A deusa caiu rasgando a superfície da camada de gelo.

— Escute Hyoga... — disse Éris, tentando se levantar. A sua voz estava fraca e ela se esforçava para falar, enquanto isso uma grossa camada de gelo começou a cobri-la. — Isso não ficará assim. Ninguém levanta as mãos contra um deus e sai impune. Eu amaldiçoou você. — Um pequeno símbolo de uma maça dourada enrolada por espinhos surgiu diante do peito de Hyoga. — Já que faz tanta questão de viver, você pagará pelo seu pecado com a sua própria vida. — O símbolo dourado atravessou a armadura como se fosse fumaça e os espinhos negros se enrolaram no coração de Hyoga, fazendo ele colocar as mãos no peito e se curvar de dor. — Cada vez que você se voltar contra um deus, esses espinhos vão apertar o seu coração. Essa maldição só vai desaparecer com a sua morte, a qual será lenta e agonizante, ou com o perdão de algum deus a quem tenha blasfemado. Mas não conheço nenhuma que faria isso por você. Se eu não matar você, outro deus fará isso em meu lugar. Eu viverei para sempre, Hyoga. Sou eterna desde a criação do Universo. Comparada a mim, você não passa de um grão de areia.

O gelo a cobriu por completo, formando um grande esquife de gelo.

— Com ou sem maldição, Éris, continuarei lutando como um cavaleiro. — Hyoga estendeu as mãos e o gelo que cobria o mar abaixo do esquife começou a se desfazer e então o esquife de gelo afundou. — Esse gelo será tão eterno quanto você. Você ficará selada aqui, nesse mar mitológico, esquecida na escuridão do Oceano. 

— Se acha que isso vai me prender por muito tempo, está enganado Hyoga!! — disse Éris, gritando através do cosmo. — Vou caça-lo incansavelmente e mata-lo da forma mais dolorosa possível!!

O gelo voltou a tampar o buraco e Hyoga olhou para o céu mais uma vez.

— Atena!

—...—


Santuário de Atena - Grécia

O Santuário estava uma desordem. Algumas manifestações eram ouvidas de longe. A lua começou a voltar ao seu brilho normal e as nuvens de trevas começaram a se dissipar, ficando apenas as nuvens carregadas de chuva. As tenebrosas Moiras sumiram do céu como se fossem fumaça. Agora apenas uma forte tempestade caia sobre toda a Grécia.

— Seiya, você a quer? — pergunto Deimos, no topo das escadarias, segurando Atena pela cabeça com uma só mão. Seiya ainda estava caído e criava forças para ficar em pé.

— Solte-a Deimos! — disse Seiya.

— Tudo bem. Então vá pega-la! — disse o deus, jogando o corpo de Atena em direção as escadarias.

— Não! — gritou Seiya, se levantando. Ele tentou correr para segurar o corpo de Atena, mas Deimos estendeu a mão e elevou o cosmo restringindo os movimentos de Seiya.

— Cavaleiro patético. — disse o deus do Terror.

— Deimos! — chamou Phobos. — O corpo de Atena...

Não se ouviu o som do corpo caindo no chão. O deus não tinha notado esse detalhe e então olhou para trás.

— Deimos, não seja tão medíocre. — disse um homem carregando Atena nos braços.

Sua pele era escura, seus olhos eram brancos como a neve e sua pupila era bastante minúscula, um ponto negro na imensidão branca de sua íris. Ele era esguio, musculoso, com um rosto majestoso e sério, e cabelos negros modelados em dread's caindo até os ombros. Em cada dread existia fios de cabelos dourados que os enfeitava. Dois finos dread's caiam sobre seu peito.

Ele trajava uma robusta Onyx negra com detalhes e adornos dourados. Seu elmo tinha o formato da cabeça de uma pantera negra mostrando suas duas poderosas presas prateadas.

— Alceu, o berserker de pantera negra. — disse Deimos, com repudio na voz.

Alceu passou por Deimos, o ignorando, e foi para dentro do grande salão. Ele deitou Atena calmamente no chão, arrancou sua capa negra e cobriu a deusa morta. Olhou para todos que estavam ali presentes, mas fixou seus olhos em Phobos.

— Senhor Phobos... — disse se curvando. — Mesmo Atena sendo nossa deusa inimiga, ela é irmã do Senhor Ares e também é filha de Zeus. É uma deusa Olimpiana. Merece ser sepultada com todo merecimento a altura de sua grandeza.

— Está pedindo de mais Alceu. — disse Deimos. — Atena será jogada em uma cova rasa. É o que merece.

— A ordem foi dada pela minha Senhora. — disse Alceu, olhando para Deimos por cima do ombro. — Alguma objeção?

Deimos não questionou. Apenas olhou para Phobos, que o respondeu com um olhar silencioso. 

— Como pensei. — disse o berserker. — O senhor não pode ir contra as ordens da minha Senhora. 

Deimos estava pronto para saltar na garganta de Alceu e mata-lo, mas um símbolo vermelho brilhou nas costas do berserker, detendo o avanço do deus, e então o símbolo desapareceu.

— Ordens dela, Alceu? — perguntou Phobos. — Tem certeza?

— Sim, meu senhor!

— Iremos providenciar. — garantiu Phobos. — Também temos que pôr o Santuário em ordem.

Delfos colocou o elmo de Grande Mestre e se dirigiu até a porta.

— Vou anunciar as novas ordens ao povo e...

Deimos se colocou na frente de Delfos segurando-o pelo braço.

— Aonde pensa que está indo?! — disse o deus, colocando a mão no elmo de Delfos e o arrancado brutalmente. Delfos ficou parado, sem reação. — Eu serei o novo Grande Mestre e você vai voltar a ser um cavaleiro de prata qualquer.

— Mas... — Delfos tentou protestar, mas Deimos lançou um olhar frio que fez Delfos engolir as próprias palavras.

A expressão do deus do terror não era convidativa para rebater com ele, mas naquele salão tinha uma pessoa que não se importava com isso.

— Você não será o novo Grande Mestre. — avisou Alceu. — A minha senhora ordeno que o Senhor Anteros assume o posto de Mestre do Santuário. E os deuses gêmeos deverão atuar como conselheiros de guerra.

— Conselheiros?! — disse Deimos, incrédulo.

— Ela está certa Deimos. Não existe ninguém mais ideal do que o deus da manipulação como Grande Mestre. — disse Phobos.

Deimos, irado, jogou o elmo para Anteros, que o segurou.

— Não será um Grande Mestre de verdade. — disse Seiya, ainda caído.

— O que disse? — perguntou Alceu, se virando e dando atenção a Seiya.

— O Grande Mestre é alguém sábio e de coração puro. Determinado a manter a paz na Terra e guiar os cavaleiros, auxiliando Atena, para proteger a humanidade. Alguém como um deus orgulhoso e maligno não deve carregar esse título e nem deve se achar no direito de sentar naquele trono. — Seiya olhou com repudio para Anteros. — O verdadeiro Grande Mestre é eleito por Atena. Você será apenas um farsante.

— Farsante? — Anteros riu. — Concordo. Serei um farsante que manipulará o Santuário e os Cavaleiros igual ao homem que governou o Santuário durante treze anos nas custas da morte do verdadeiro Mestre. Ou então serei um farsante igual ao mestre atual que traiu Atena e ainda terminou de matá-la aplicando o golpe final com a adaga dourada. Parece que o Santuário não tem um bom histórico com os representantes de Atena.

Delfos não esboçou qualquer reação. Mantendo uma expressão de indiferença.

Seiya elevou o cosmo e fechou as mãos.

— Já chega, cavaleiro! Vocês perderam. — disse Alceu, com uma voz firme. — Minha missão aqui está cumprida. Peço licença aos senhores. Vou voltar para o palácio. A minha senhora e o deus Dionísio logo virão ao Santuário. Preparem um bacanal como comemoração.

Alceu fez reverência a Phobos e deu as costas, saindo do salão.

— Berserker inconveniente. — disse Deimos, olhando para Alceu que estava descendo as escadarias. — Um dia irei esmagar a cabeça dele e arrancar a benção que ela colocou nele.

— Alec! Tourmaline! Levem Seiya e Pavlin para a prisão. — ordenou Delfos. — Retirem as armaduras deles e os prendam nas selas do fundo.

Alec pegou Pavlin, ainda desacordada, nos braços. Tourmaline foi até Seiya e o levantou. Colocando-o de pé, o apoiando em seu ombro.

— Vamos Seiya. — disse Tourmaline

— Por que nos traíram? — cochichou Seiya, no ouvido de Tourmaline. — Por que uma sacerdotisa tão poderosa como você, do mesmo nível de um dourado, não defendeu Atena?

— Não me faça perguntas. — respondeu Tourmaline, o conduzindo para fora do salão.

— Delfos, leve o corpo de Atena para algum lugar do Santuário onde possa ser bem cuidado e depois enterrado. O enterro será após o anuncio feito ao Santuário durante o Bacanal. Ordene que os cavaleiros de prata aliados a causa do Senhor Ares contenham qualquer manifestação. E certifique-se de que Seiya e os outros não irão fugir da prisão. — ordenou Anteros.

— Irei providenciar. — respondeu Delfos, ajoelhado diante de Anteros. — Não se preocupe, a prisão é selada desde a era mitológica. Mesmo um cavaleiro preso terá seu cosmo drenado ao eleva-lo. Jamais terá forças se quer para rachar as paredes. — explicou. — Mas irei conferir mesmo assim.

Delfos se levantou, pegou Atena e a carregou nos braços. Deixando os três deuses sozinhos no salão.

—...—


Templo Egípcio - Egito

Fileiras duplas de pilares de pedra sustentavam um teto alto. Um tapete vermelho antigo e desbotado se estendia pelo meio do salão. Tochas de fogo estavam penduradas nos pilares de pedras iluminando o recinto e símbolos hieroglíficos cobriam as paredes e os pilares.

No final do salão havia um altar e nele um trono vazio. Uma cadeira de madeirada pintada de dourado. Diante do trono vazio tinha um homem de joelhos, em sinal de reverencia, com uma urna dourada ao seu lado.

Do lado esquerdo de um dos pilares próximos ao altar, saiu duas figuras encapuzadas, vestidas com um manto negro.

— Está pronto? — perguntou o homem. Sua voz firme e serena veio acompanhada de uivos distantes.

— Estou. — respondeu o homem ajoelhado.

Ele estava usando uma túnica marrom de manga curta. Seus cabelos roxos iam até seu ombro, mas duas mechas longas caiam de cada lado sobre seu peito e seus olhos eram dourados como ouro. Ao seu lado havia uma grande urna dourada emanando um cosmo poderoso.

— Sinto um cosmo turbulento vindo do Santuário. — disse a mulher.

— E o cosmo de Atena está se esvaindo aos poucos. — disse o homem encapuzado. — Fique atento.

— Está bem.

A urna se abriu e a majestosa luz dourada foi em direção ao rapaz cobrindo o seu corpo. A luz iluminou todo o salão, mas depois regrediu apagando todas as tochas e inundando o salão na escuridão.

—...—


Salão do Grande Mestre - Santuário da Grécia

— Grande Mestre! — chamou Tourmaline, entrando no grande salão acompanhada de Alec, o cavaleiro de prata de lagarto.

Ela estava trajando uma armadura de bronze. A armadura de Ave do Paraíso. Uma armadura de coloração roxa que protege quase todo corpo de Tourmaline, deixando apenas o seu abdome e braços desprotegidos. Seu elmo é uma tiara que ainda permite que seus longos cabelos vermelhos continuem amarrados em um rabo de cabelo.

Anteros estava sentado no trono do Grande Mestre usando as vestes oficiais do sacerdote. Apenas não tampava seu rosto com uma máscara. Agora o deus estava no controle do Santuário.

— Eles chegaram.

— Quem? — perguntou Phobos, que saiu de trás das cortinas que ficam ao fundo do salão.

— Os Cavaleiros de Ouro, meu senhor. — respondeu Alec.

— Com exceção de Aries, Libra, Sagitário e Aquário. Os demais estão diante do salão esperando pelo senhor. — disse Tourmaline

— Mande-os entrar. — ordenou Anteros.

Tourmaline foi a passos largos em direção a porta e a abriu, fechando-a em seguida, indo chamar os Cavaleiros de Ouro. Em poucos segundos a grande porta se abriu novamente e Tourmaline retornou ao salão, mas dessa vez acompanhada por oito Cavaleiros de Ouro. Alec e Tourmaline se posicionaram na lateral do salão, próximos as colunas. Os dourados se reuniram diante do Grande Mestre e de Phobos e Deimos. Os dois deuses se posicionaram ao lado do trono com olhares curiosos para os dourados.

Os dourados então se ajoelharam fazendo reverencia. Ficaram em três fileira. Na primeira fileira estavam os cavaleiros de Touro, Gêmeos e Câncer. Na segunda fileira estavam os cavaleiros de Leão, Virgem e Escorpião. E na terceira Capricórnio e Peixes.

Todos vestindo suas respectivas armaduras.

—...—


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Notas finais do capítulo

Próximo capitulo: Anteiros faz o anuncio oficial para todo o Santuário e assim começa a nova ordem. Deuses e bersekes poderosos se reúnem no Santuário para o festejo do retorno de Ares. Segredos serão compartilhados.

Capitulo 15: O Bacanal


Sobre esse capitulo: Não era pra ser assim (risos) mas no meio da construção vi uma necessidade de mudar. A historia finalmente ta saindo daquele ar de mistério e as peças se encaixando. E então, o que ta te agradando na historia? Deixa sua opinião ae ;)