-Corra! –Berrou minha avó.

Sempre havia me preparado para isso. Ela me alertara que um dia a lua iria tomar-me de volta. Eu teria de estar pronta pra fugir. Teria que estar pronta pra mudar. Mas eu sabia bem o que me tornaria. A fera uiva em minhas veias. E hoje eu teria de deixá-la sair.

Corri para a floresta sem rumo algum. Tudo o que via eram as arvores negras e a neve branca pelo chão. Não olhe pra trás. Não olhe pra trás. Sussurrava em minha mente. Se eu olhasse eu iria querer voltar. Iria querer ajudá-la.

Os galhos pontiagudos deixavam cortes em meus braços e pernas, mas isso não me impedia de correr. Precisava ir pra longe. O mais longe possível.

Foi então que a vi. Sozinha no imenso céu em trevas. Sem estrelas, sem nuvens, só a lua. Cai no solo branco e gelado. Meu corpo tremia, mas não era de frio, era de ódio. Um sentimento que sempre me privei de sentir. Temia que ele liberasse a fera com mais facilidade, mas agora... Talvez eu pudesse...

Começou com um ruído fino e vindo de longe. Um ruído solitário. Depois mais alguns se juntaram a ele e eu pude ouvi-los. Uivos. Eram os lobos. Os uivos se aproximavam e ficavam mais altos. Meu corpo se arrepiava. Eu os sentia. Cada um deles. Estavam me chamando.

Dei uma última olhada para a lua. Havia chegado a hora. Eu teria de me entregar a ela. Direcionei o olhar para a neblina que havia se formado a minha frente e vi dois olhos vermelhos se aproximarem. Depois vi a quem pertenciam. Era grande e preto, como estava o céu aquela noite. Senti sua respiração no meu rosto. O animal uivou baixo e as imagens foram desaparecendo e me perdi.