As Crônicas de Anúbis escrita por Sonhadora


Capítulo 5
Eu conheço uma deusa-menina


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo será feito em consonância com a história do Tio Rick. Os diálogos entre os personagens principais foram retirados do Livro A Pirâmide Vermelha, pg. 94 em diante.
Mas o resto é loucura da minha cabeça, tá!



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– Você é um fantasma?

A criatura virou-se para mim. E eu perdi o fôlego. Não era um fantasma. Era uma deusa. Uma deusa em forma de menina. Ou seria uma menina em forma de deusa? Linda, não descreveria a criatura a minha frente. Deslumbrante? Ainda acho pouco. A pele dela era alva como porcelana trabalhada, os olhos eram de um azul profundo, escondiam fogo. Tive a impressão de já os ter visto antes.

As vestes egípcias que usava, moldavam delicadamente o corpo em formação. Ela tinha a aparência de uma jovem adolescente e era belíssima! Mas, foram os olhos que mais chamaram a atenção... Me perdi na profundeza azul. Tive a impressão de que meu coração parara de bater por alguns segundos para, em seguida, acelerar vertiginosamente. Não fazia sentido. Quem eu vim procurar mesmo?

Ísis. Eu estava procurando por Ísis. Seria ela em uma nova forma? Mas eu a reconheceria. Mesmo que aparentasse ser uma criança, eu a reconheceria. Aquela não era Ísis. Não podia ser. Aquela criança tinha força magica, mas eu podia sentir a força se esvaindo aos poucos. Inclinei minha cabeça com curiosidade. A deusa-menina, creio, percebeu que eu havia falado com ela e balançou a cabeça. Levei um segundo para entender. Me distraí quando seu cabelo balançou suavemente.

– Não é um fantasma, hein?

Observei a cena ao meu redor.

– Um ba então? (não houve resposta!)

Uma maga. Ela era uma maga. Eu podia sentir a magia exalando de seu ba. Eu apontei para o trono, mas sem tirar os olhos dela. Ela continuou olhando para mim, como se estivesse desinteressada da cena ao seu redor. Fiquei nervoso. Magos e deuses não se dão muito bem. Mas, eu... eu não queria ir. De repente, eu não estava mais tão interessado assim em encontrar Ísis. Eu queria, ao menos, perguntar o nome dela. Mas não podia arriscar. Deixaria para encontrar Ísis em outra oportunidade.

– Assista, mas não interfira.

E fugi.

...

É. Eu sei. Muito corajoso da minha parte. Mas, veja bem, por mais linda que seja a tentação, sempre existe uma boa razão para evita-la. E eu não podia arriscar que aquela deusa-menina-maga-eu-devia-ter-perguntado-o-nome-dela, me transformasse em um objeto egípcio qualquer. Eu estava muito bem morando no Duat, obrigado! Será que ela tem namorado?

O que é isso? Que linha de pensamento é essa? Acho que eu estou dando muito ouvido a minha avó! E, além disso, eu estou feliz solteiro. Não estou?

Certo. Melhor mudar de assunto. Minha busca pela deusa Ísis foi frustrada por um anjo loiro de olhos azuis. Eu podia conviver com isso. Estava de volta ao Salão do Julgamento, imerso em pensamentos distintos. Por um lado, eu teria que encontrar Ísis, ou vó Nut me esganaria. Por outro, tinha que encontrar aquela fantasminha camarada que possuía informações que muito me interessavam. E por outro ainda, seria bom encontrar o anjo loiro de novo. Melhor esquecer, por enquanto. Provavelmente eu a verei de novo. Quando ela morrer terá que vir a mim. Eu sorri com a possibilidade. Eu podia me dar ao luxo de esperar.

Foi nessa hora que o meu dia acabou.

Quando olhei para o trono de Osíris, percebi que tinha visita. Uma visita bem desagradável, para ser sincero. Meu pai!

Set estava sentado displicentemente no trono de Osíris e sorria diabolicamente para mim.

– Você não é bem-vindo aqui! – Eu disse.

Ele me olhou como se estivesse ofendido, pondo a mão sobre o lugar onde deveria estar o seu coração. Deveria. Por que Set não tem coração.

– O que é isso meu filho? Vai dizer que não sentiu minha falta? – Ele gargalhou. – Depois de tanto tempo preso, era de se esperar que me recebesse melhor.

– Sua presença ou sua ausência não me importam. Como sei que não importam para você também. E esse trono não é seu.

Ele se inclinou para mim, os olhos flamejavam de ódio.

– Meu querido filho desnaturado. Não é porque não foi criado debaixo de minhas vistas que deve me desrespeitar. Ainda sou seu pai, moleque. E acho bom que não esqueça isso.

Fechei meu rosto e olhei seriamente para ele.

– Pai é quem cria, quem se importa. – sorri com desdém – Que eu saiba, você não se encaixa em nenhuma dessas categorias.

Set me olhou pensativo.

– Não, acho que não. Você tem razão. Realmente não me importo. Se eu soubesse que teria um filho tão fraco, não teria permitido que sua mãe lhe desse a luz. Mas, agora que o mal já está feito...

Ele se levantou, caminhou até mim, me avaliando. Eu ergui minha cabeça altivamente. Eu jamais recuaria.

– Tenho uma proposta a lhe fazer. – ele disse.

– Suas propostas não me interessam. – rebati.

– Arre! Você tem o gênio de sua tia Ísis. – ele fez uma careta e se afastou.

E não pude deixar de sorrir. Tia Ísis era conhecida por sua ousadia, impertinência e altivez. Ela me criou. O que ele esperava?

– Agradeço o elogio. – disse.

– Não foi um elogio. – ele me olhou desgostoso.

Eu dei de ombros.

– O que você quer aqui?

– Direto ao ponto, não? - ele deu um sorrisinho de escárnio. – Muito bem, então! Quero que lidere um exercito de mortos contra a Casa da Vida e me ajude a assumir o trono dos deuses. Em troca, farei de você o novo Senhor dos Mortos e da Ressureição, Juiz da Corte dos mortos e blá, blá blá. O que acha?

Ele abriu um sorriso de crocodilo pra mim e aguardou. Foi quando eu percebi que ele estava falando sério. Resolvi dar uma resposta a altura.

– Não.

Virei as costas e comecei a caminhar em direção à saída.

– Não? Como assim não? Você nem considerou a proposta!

Set estava indignado.

Sem parar de caminhar ou me voltar para trás, respondi:

– Qual a parte de “sua presença ou sua ausência não me importam” você não entendeu?

Ele se materializou a minha frente, me impedindo de sair do Salão. Seu rosto era uma máscara de ódio puro. Eu recuei um passo antes que trombasse com ele. Podia sentir a aura do Caos se movendo ao meu redor.

– ESCUTE AQUI, MOLEQUE! NÃO ADMITO QUE VOLTE AS COSTAS PARA MIM. VOCÊ IRÁ ME OBEDECER, OU FAREI DE SUA VIDA ETERNA UM INFERNO!

Confesso que ele me assustou. Só um pouquinho. Eu já tinha visto meu pai furioso antes, mas nada como aquilo. Seus olhos giravam loucamente nas órbitas, e ele estava exalando tanto ódio, que as paredes ao nosso redor começaram a rachar. Mas eu sabia que não podia recuar. Se eu o fizesse seria o meu fim. Firmei meus pés ao chão, olhei dentro de seus olhos e impus meu melhor tom de ameaça na voz:

– Quero ver você tentar!

Passei por ele e saí do Salão. No mesmo instante, recebi um chamado. Era hora de visitar a vó Nut novamente.


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Notas finais do capítulo

Eu gostaria de agradecer imensamente a Sarah Black por sua recomendação.
Me emocionei enquanto lia, depois saí que nem uma doida mostrando pra todo mundo a minha primeira recomendação.
Idiota, eu sei! Mas eu fiz.
Obrigada por me acompanhar!

=D
Sonhadora