Belinda sentiu a cabeça latejar fortemente e se jogou na cama, estava completamente exausta, mas seria obrigada a descer para o jantar, com a alegação de Mark que se caso ela não comparecesse, ele não ficaria nada contente, o que ela sabia ser uma ameaça para seus amigos, não somente pra ela.

          Lestrange se enfiou dentro da calça jeans e bata preta, o cabelo longo estava solto e levemente úmido, a sapatilha era de um veludo negro e macio. A menina se encarou no espelho, os machucados causados por Mark não eram aparentes em sua pele pálida, mas ela poderia indicar cada lugar que fora ferido. Uma leve batida na porta a distraiu e Belinda viu Narcisa entrar com uma caixa grande em mãos, Draco vinha atrás dela e parecia levemente irritado.
–Belinda. —Narcisa lhe sorriu.
–Sim?
–Querida, algumas pessoas irão jantar conosco hoje e seria bom que você se vestisse de acordo. —Ela colocou a caixa sobre a cama e a menina ergueu uma sobrancelha.
–Pessoas? Mark está aqui, Narcisa, se alguém vê-lo acabará atraindo o Ministério, não que eu vá reclamar de ver aquele desgraçado em Azkaban, mas...
–Belinda. —Narcisa interrompeu e a menina bufou.
–Que seja.
–Vista-se e desça as sete horas, tudo bem?
–Tenho escolha por acaso? —Perguntou sem se importar se soara grossa.
        Narcisa a encarou, cogitando se brigava ou ignorava, mas parecia que a segunda alternativa era menos irritante, então se virou e retirou do quarto.
–Quem merda virá jantar com a gente? —Ela questionou Draco, que havia se jogado na cama.
–Não sei, mamãe não disse. —Ele bufou. —Mas disseram que é algo relacionado aos seus 15 anos.
         Draco a encarou e viu a menina fazer careta.
–Eu quase esqueci disso. —Resmungou. —Depois de tudo o que aconteceu, eu deixei claro que não perdoaria ninguém se tentassem fazer qualquer coisa relacionado ao meus 15 anos, acabou que eu mesma esqueci que a data já passou.
         Lestrange pareceu cansada de repente, sempre ficava daquela forma ao citar a morte de Cedrico. Draco não disse nada, mas a observou abrir a caixa e puxar um vestido preto de dentro e logo sapatos com pequenos saltos.
–Sério? —Ela perguntou enquanto encarava o sapato como se fosse um velho inimigo, o que fez Draco sorrir.
–É só um sapato.
–Não sei porque tem que ser alto, será que todo mundo esquece que eu sou alta? —Bufou e ele riu baixinho.
–Vai se vestir, se não daqui a pouco é capaz de alguém vir nos arrastar pra sala. —Ela assentiu e seguiu para o banheiro.
         Belinda encarou seu reflexo no espelho e suspirou audivelmente. O vestido de alcinhas lhe apertava o busto, onde havia uma bonita e elegante renda cinza bem escura, e era solto no resto do corpo, um pouco acima dos joelhos, o salto lhe proporcionou uns bons seis centímetros a mais. A menina puxou a franja pra trás e prendeu com um pequeno broche dourado, deixando o rosto exposto, a faixa negra em seu antebraço estava bem enrolada e provavelmente chamaria a atenção, como sempre ocorria quando ficava a mostra.
          O vestido não tinha bolsos, o que deixava Belinda extremamente nervosa, não confiava em um jantar com Mark, principalmente sem a Varinha. A menina puxou um shortinho colado, exatamente igual aos que vestia por baixo da saia do uniforme de Hogwarts, do armário e o vestiu, prendendo a Varinha entre o lado externo da coxa e short. A sensação de estar com a Varinha lhe deixava bem mais segura.
        Draco a encarou assim que ela voltou ao quarto, não parecendo nada feliz.
–O que tinha de errado com meu jeans? —Ela quis saber, enquanto ele se erguia e ajeitava a lapela do paletó preto.
–A pergunta certa seria o que tem de errado com você, o jeans tava bem.
       Lestrange rolou os olhos e ele sorriu.
–Idiota.
–Vamos, você tá até parecendo uma garota decente. —Ele brincou. —E eu não sei o que me deixa mais surpreso, você parecer decente ou parecer uma garota.
–Cala a boca. —Disse dando um leve tapa no braço dele, que sorriu.
         Os dois desceram as escadas em silêncio, tentando captar qualquer vestígio de quem estivesse na sala, mas não havia nada. Belinda e Draco seguiram para a sala de estar e se depararam com os Malfoy, Mark e mais três pessoas, sendo uma mulher e dois homens. Belinda os conhecia, pelo menos a mulher, de algum lugar, mas não recordava de onde.
        Os olhos escuros da mulher esquadrinharam Belinda, que começou a se sentir desconfortável e nervosa.
–Boa noite. —Cumprimentou o mais educada possível, mas com uma inquestionável nota de irritação.
–E esses pirralhos são? —Belinda ouviu a voz grave e desdenhosa do homem e o encarou.
       A pele parda parecia um pouco ressecada, assim como o cabelo levemente ondulado e castanho-claro, que estava solto e pendia delicadamente em seus ombros largos e magros, os olhos extremamente escuros a observavam com atenção, assim como a todos na sala. Belinda percebeu que ele, embora parecesse um homem elegante, era o tipo de pessoa que acreditava estar sendo seguido constantemente, por tanto vivia olhando ao redor de maneira nervosa, como que esperando um adversário surgir do nada.
–Draco Malfoy e Belinda. —Mark disse sorrindo sombriamente. —Essa é Belinda Black Lestrange. —Anunciou de modo divertido.
–Eu sei me apresentar, Mark. —Cortou duramente. —Não precisa fazer isso por mim.
       Belinda não esperava atrair atenção, mas com aquelas palavras fez com que todos os olhares recaissem sobre si e os três convidados riram divertidamente, porém a risada mais escandalosa era da mulher de cabelos escuros, cacheado e inacreditavelmente cheio, porém não de forma bonita e bem tratada, parecia mais que ela não se importava em cuidar e pentea-lo. Os dentes mal cuidados eram visíveis em seu riso debochado.
–Tome cuidado com o que fala, Belinda. —Mark devolveu e ela rolou os olhos.
–Por que estou aqui? —Questionou sem paciência.
        Belinda percebeu que aquelas pessoas, seja lá quem fossem, eram próximas a Mark, o que queria dizer que ela não devia educação alguma a nenhum deles.
  -Comemorando seus quinze anos. —Zombou Mark e ela bufou.
–Honestamente Mark, fui chamada pra isso? —A impaciência ameaçava explodir a qualquer momento.
        Belinda notou Draco pelo canto do olho, ele parecia mais pálida que o comum enquanto analisava os convidados, o que atraiu atenção da menina. Lestrange olhou para Lucius, que também parecia bem mais pálido, Narcisa embora não com mais cor que o marido e filho, sentava ao lado da mulher e parecia até mesmo confortável, o que era incomum.
–Por que, prefere ser chamada somente pra treinar?
–Quando é pra olhar pra você, eu prefiro nem ser chamada. —Rebateu e a mulher riu de novo.
–Insolente. —Disse divertida, mas isso fez um calafrio percorrer a coluna de Belinda.
–Quem são vocês? —Questionou.
–Você realmente não sabe?
        Belinda sentiu algo estranho ao ser analisada pelo segundo homem, aqueles olhos negros e extremamente gélidos, ele aparentemente era tranquilo e o tipo de pessoa que ninguém desejaria como inimigo, sua postura calma escondia uma loucura assustadora e Belinda notava isso somente pelo olhar. Ele abriu um sorriso predatório, que ressaltou seu furinho no queixo quadrado, e passou a mão esquerda no cabelo negro curto e ondulado, o antebraço forte estava a mostra e ela engasgou quando viu aquela marca ali. A Marca Negra se destacava na pele parda do homem.
–Eu deveria? —Ela manteve a voz o mais controlada possível.
–Você usa nosso nome, mas não sabe quem somos?
        Belinda sentiu o ar desaparecer dos pulmões, jamais imaginaria que aquilo aconteceria um dia.
–Rodoplhus Lestrange. —A voz mal saíra e isso provocou um sorriso aberto e perverso no homem, assim como fez a mulher ao lado de Narcisa gargalhar.