- Recomeçando escrita por HungerGames


Capítulo 64
Capítulo 64


Notas iniciais do capítulo

SIM, eu sumi!
SIM, eu demorei muito!
Mas, NÃO, eu não me esqueci de vocês,
mas como eu disse minha vida está a 220, então tava complicado...
Espero que me perdoem!



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Mesmo depois de quatro meses ainda não tem um único dia que eu não me pego sorrindo como um idiota quando me lembro que Katniss está grávida de novo, todos os dias é como se eu recebesse a notícia pela primeira vez, a mesma emoção e ansiedade que faz meu coração acelerar cada vez que penso que em breve terá mais um pedaço meu e dela, junto com a gente, correndo pela casa, rindo e aprontando todas aquelas coisas que as crianças fazem, agora, quinze anos depois, passaremos por tudo novamente e isso é incrível, Katniss ainda tem alguns momentos que fica nervosa com essa realidade voltando, mas comparada com a gravidez deles ela está bem mais confiante e segura, por enquanto sua maior preocupação é a reação de Pyter, desde quando demos a noticia a eles que ele simplesmente faz de tudo pra não tocar no assunto, sempre que começamos a falar algo sobre o bebê ele se afasta ou muda de assunto, Pérola por outro lado é encantada com tudo em relação ao bebê, e tenta colocar Pyter com o mesmo sentimento, sempre tentando fazer ele dizer sua preferência, mas ele apenas sorri e muda de assunto, depois do dia que contamos a noticia e ele disse querer um menino, nunca mais ele disse nada sobre isso, Katniss tem sentido isso e eu também mas acredito que ele apenas precisa se acostumar com a ideia, eu entendo que depois de tanto tempo pode ser um pouco estranho agora descobrir que terá mais um irmão mas eu o conheço e sei que em breve esse sentimento irá passar, o coração dele assim como o da Katniss é maior do que tudo isso e é isso que eu digo a ela sempre que começa a se preocupar e tem dado certo, tirando isso tudo está indo perfeitamente bem, mesmo que agora Katniss já esteja atrasada pra irmos a consulta.
– Eu disse pra você marcar de manhã e não a tarde – ela me acusa quando eu entro no quarto pela terceira vez atrás dela.
– Não tinha horário pela manhã, a culpa não é minha – eu repito pela décima vez e ela dá de ombro como se não se importasse.
– Nem minha – ela afirma e finalmente passa por mim saindo do quarto, nós descemos e ela pega a bolsa dela que estava no sofá, logo Pérola também já está na sala arrumada, ela sempre quer nos acompanhar nas consultas, acho que ela espera mais por isso do que qualquer um de nós.
– Vamos? – ela pergunta ansiosa já passando a mão pela barriga da Katniss.
– E o Pyter? – Katniss pergunta olhando ao redor, Pérola me olha e depois força um sorriso.
– Ele tinha treino a tarde, então ficou por lá – ela avisa e Katniss parece um pouco decepcionada, ela sempre espera pelo dia que ele vai querer ir, mesmo que isso nunca tenha acontecido, nós saímos e em poucos minutos estamos no Hospital, mesmo um pouco atrasados assim que chegamos Katniss logo é chamada, nós entramos na sala junto com ela e seguimos todo o protocolo de cada consulta, mas é na hora do ultra som que as coisas começam a mudar.
– Já dá pra saber o sexo? Se bem que eu tenho certeza que é menina – Pérola fala animada sorrindo e o rosto da médica que geralmente é calmo e sorridente se fecha um pouco e suas sobrancelhas se juntam como se algo estivesse a preocupando e automaticamente me preocupa também.
– Aconteceu alguma coisa? – Katniss pergunta e eu tenho a certeza que não era apenas impressão minha, a médica tenta forçar um sorriso pra acalmá-la e isso me deixa ainda mais nervoso.
– Só um minuto! Vamos refazer isso aqui só mais um pouquinho... – ela fala com aquela simpatia forçada que tenta te manter tranquilo mas o efeito é completamente contrário, ela espalha mais gel sobre a barriga da Katniss e começa a passar o aparelho por cima, Pérola me olha um pouco confusa e curiosa e eu não consigo disfarçar minha preocupação.
– Tá tudo bem – ela me garante com a mão por cima da minha mas até mesmo ela sente que há algo de diferente, a médica liga o som do aparelho e as batidas fortes e aceleradas enchem o espaço, a mesma emoção que senti quando ouvi o coração da Pérola e do Pyter me invade de novo, abandonando qualquer outro sentimento, por cerca de quinze segundos o som continua disparado, depois disso ela começa a mexer em algumas coisas no monitor onde vemos o bebê, ela aperta alguns botões e varias coisas aparecem, ela parece ler com atenção as informações que pra mim parecem codificadas, então ela retira o aparelho e limpa a barriga da Katniss com um papel.
– Ainda não troca de roupa – ela avisa e se afasta indo até um armário branco no canto da sala, Katniss me olha assustada e eu tento sorrir para que ela se acalme, a médica volta e examina a Katniss novamente, medindo a pressão, auscultando o coração e até mesmo sua barriga – Pronto, agora você pode se trocar – ela fala com aquele sorriso e se afasta de Katniss pra ela se levantar – Vamos deixar ela se arrumar – ela fala e nos indica que saiamos da sala com ela, ela abre a porta que separa as duas partes do consultório e nos deixa passar primeiro, ela lava as mãos em uma pequena pia que tem no canto e vai pra sua cadeira, eu e Pérola nos sentamos.
– Tem alguma coisa acontecendo! O que é? – eu pergunto diretamente sem conseguir fazer nenhum jogo de adivinhação e ela não tenta desmentir, nem me acalmar.
– Nós vamos conversar sobre isso quando Katniss voltar, mas eu acredito que essa seja uma conversa apenas entre nós três... – ela fala sorrindo como um pedido de desculpas para Pérola.
– Eu não vou sair daqui – ela avisa tão firme que por um segundo eu acho que é Katniss quem está falando, a médica já ia contestar quando ela completa – Eu sou a filha e a irmã mais velha! Eu NÃO saio daqui! Nem se você pedir pai – ela avisa e me olha séria e decidida e eu quase enxergo Katniss nela.
– Ela fica – eu afirmo e a médica concorda vendo que não tem outra opção, logo Katniss se junta a nós, Pérola se levanta e a deixa sentar, eu tento oferecer minha cadeira a ela mas ela nega firmemente, ficando em pé, logo atrás de nós dois.
– Bom, eu tenho algumas noticias não muito boas – a mulher começa a falar e Katniss parece tensa ao meu lado, eu procuro e seguro sua mão e ela a aperta sem reservas – Katniss na sua ultima gravidez nós já tínhamos nos alertado quanto a sua pressão ter subido demais algumas vezes, e isso nos preocupou mas como vimos tudo deu certo, então o que vou falar agora é apenas para que possamos contornar e não nos desesperar, ok? – ela perguntou e acenamos com a cabeça – Katniss sua pressão está elevada de novo, dessa vez um pouco mais do que antes, no mês passado durante a consulta você reclamou de dor de cabeça e um certo desconforto pra respirar, você ainda sente alguma dessas coisas? – ela pergunta e Katniss me olha com receio, mas volta a olhar pra médica e confirma – Ok! E mais alguma coisa? Tontura, enjoos fora do horário ou sem motivo aparente como cheiro ou sabor? – novamente Katniss confirma – Bom, eu constatei uma pressão um pouco além do normal no útero, a placenta está um pouco deslocada e isso é o que está realmente nos preocupando, o bebê está um pouco agitado e isso não é o que queremos agora, por isso eu não vou aconselhar e nem recomendar, eu vou realmente exigir repouso, se você não quer ter nenhum problema e nenhuma complicação... REPOUSO! Nós temos que baixar essa pressão e evitar qualquer deslocamento da placenta, como eu disse não estou aqui pra assustar vocês mas preciso ser honesta, isso é preocupante, mais um deslocamento e as consequências podem ser bem... difíceis, sua pressão está muito acima do ideal e isso atingi diretamente o bebê... Qualquer coisa que você fizer daqui pra frente vai melhorar ou agravar a situação, então tudo que eu vou prescrever aqui tem de ser seguido, não mais ou menos, nem quase tudo, mas TUDO! Ok? – ela perguntou séria e Katniss confirmou ainda perplexa demais pra falar e eu a entendo por que eu estou do mesmo jeito, parte da animação que eu estava fugiu dando lugar a uma chuva de preocupação e medo, meu filho está em perigo, esse é o único pensamento que tenho, quase como uma voz gritando na minha cabeça. A mão no meu ombro tenta passar tranquilidade, Pérola me olha também preocupada mas com um sorriso de certa forma confiante, ela também acaricia o ombro da Katniss enquanto a médica termina de passar as instruções, que inclui alimentação equilibrada, nada de esforço, caminhar o mínimo possível, não ficar muito tempo em pé e o principal evitar qualquer tipo de emoção forte e estresse, nós saímos do consultório com essa preocupação nos rondando, Katniss não falou uma única palavra e apenas permanecia com as mãos por cima da barriga, nós entramos no carro ainda em silencio e permanecemos assim até chegar em casa, Katniss se sentou no sofá e Pérola foi junto com ela e se sentou ao seu lado, eu as observava a alguns passos.
– Vai dar tudo certo! – Pérola garantiu com um sorriso e colocou a mão sobre a barriga dela – Nós somos os Everdeen Mellark, como diria o Pyter, está em nosso sangue passar por tudo e vencer no final – ela fala tentando animar Katniss e consegue um sorriso, ela passa as mãos pelo cabelo da Katniss e beija sua bochecha, colocando a cabeça em seu ombro e ainda acariciando a barriga, então a porta abriu rápido demais e Pyter entrou quase como um furacão em casa.
– ô mãe, mãe... Você não vai acreditar no que eu fiz hoje... – ele entra pela sala animado, passando por mim direto, ele nem ao menos percebe como Pérola e Katniss estavam.
– Contanto que não termine com você colocando fogo na escola ou em qualquer outro lugar ... – ela fala com certa ironia abandonando um pouco sua preocupação.
– TRINTA metros – ele fala empolgado e todos o olham confuso.
– O que tem trinta metros? – ela pergunta sem entender.
– Eu acertei um alvo a trinta metros, no meio mãe, no meio certinho, sério, você tinha que ver, foi muito, muito certeiro, eu... tipo, sou o melhor do mundo, eu sei – ele fala orgulhoso e eu acabo rindo da animação dele mas Katniss pelo contrario se endireita e o olha mais séria.
– Eu achei que você tivesse treino de luta – ela fala e ele dá de ombros.
– É, é eu tive! Mas acabou mais cedo por que o Kauã se machucou aí depois não tinha nada pra fazer eu fui treinar com a Keyse e o Ryan – ele fala dando de ombros como se não tivesse o menor problema.
– Vocês entraram na floresta? – ela pergunta encarando ele.
– Não, claro que não! A gente conseguiu fazer uma parte de treinamento lá na Campina... não tá muito boa mas ficou legal. Nós pegamos alguns galhos secos e tinha umas...
– Espera, espera – Katniss o interrompe levantando a mão, ele para mas ainda da pra ver a animação dele - E você achou que era uma excelente ideia pegar o arco e as flechas e ir pra Campina treinar seu tiro ao alvo? Com o perigo de ter errado e acertado alguém? – ela pergunta e agora sim ele parece ter entendido onde ela quer chegar mas tenta ainda contornar a situação.
– Eu nunca erro, você sabe! Se fosse a Pérola, aí sim teria perigo – ele garante implicando com ela, mas sem toda aquela animação de antes.
– E se tivesse errado? – ela pergunta cruzando os braços e o encarando.
– Então talvez eu não precisasse fazer isso se você ainda estivesse treinando comigo – ele acusa perdendo qualquer animação restante.
– Você sabe que eu queria também, mas eu não posso, pelo menos não agora...– ela fala mais baixo, sem querer parecer irritada e sim culpada.
– Quer saber? Esquece! Eu nem devia ter falado nada... – ele fala e sai da sala com passos fortes, ele sobe a escada correndo e conseguimos ouvir a porta do quarto bater forte, Katniss passa a mão pelo rosto e pelos cabelos, então se levanta.
– Eu vou falar com ele – ela fala mas antes que eu a alcance Pérola a impede de andar.
– Não, e ele nem vai escutar ninguém agora, você sabe como ele é! Ele vai ficar bem! Você não pode se estressar, lembra? – ela avisa fazendo ela se sentar de novo e sem reclamar ela obedece.
– Vamos deixar ele quieto por um tempo, depois eu converso com ele – eu aviso e Katniss concorda – Enquanto isso eu faço o jantar – eu falo e me aproximo, beijo a testa da Katniss, acaricio sua barriga e saio deixando elas duas ligando a TV e sentadas uma ao lado da outra.
O jantar já estava quase pronto quando Haymitch aparece na cozinha.
– A pia do meu banheiro está vazando... tá tudo alagado! – ele fala já se aproximando do fogo e olhando as panelas.
– Então seria bom você chamar alguém pra consertar – eu falo tentando fugir da indireta.
– E por que você acha que eu vim antes do jantar? – ele pergunta com ironia.
– Por que você não paga alguém pra resolver isso?
– Por que eu tenho você! Pra que eu vou querer gastar dinheiro? – ele retruca e sai da cozinha levando um pedaço de bolo do café da manhã, eu termino de tampar as panelas e sei que ele irá me encher o saco se eu não olhar logo, então resolvo me livrar logo dele, saio da cozinha e ele está jogado na poltrona com o pé na mesinha e sem que Katniss reclame.
– O de cima ou o de baixo? – eu pergunto me referindo ao banheiro.
– O que estiver alagado, será que eu tenho que explicar tudo, se esforça garoto – ele fala dando de ombros.
– O que houve? – Katniss pergunta virando a cabeça pra trás pra me olhar.
– O banheiro dele está alagado – eu falo e ela o olha.
– E por que você não chama alguém que trabalhe com isso pra consertar ? – ela pergunta o mesmo que eu e ele dá de ombros.
– Por que vai demorar e enquanto estiver ruim eu vou ficar por aqui – ele fala e Katniss me olha de novo.
– Vai logo e só volta pra casa quando consertar – ela fala e eu acabo rindo, já estava saindo quando Pyter desce as escadas, então aproveito a chance.
– Você, vem comigo – eu falo e ele me olha confuso parando no meio do caminho na defensiva – Seu avô tentou fazer uma piscina no banheiro e preciso de um ajudante – eu falo e ele relaxa.
– Eu avisei que aquela goteira não era normal – ele falou apontando pro Haymitch, que fez uma careta, ele se aproximou de mim e saímos.
– Trinta metros ein! – eu falei fazendo uma cara de impressionado, ele liberou um sorriso orgulhoso mas antes que se animasse muito ele deu de ombros e colocou as mãos no bolso olhando para o chão enquanto chutava algumas pedrinhas pelo caminho – E no alvo certeiro? Não sei se acredito... – eu falo implicando com ele mas ele apenas sorri sem me olhar ainda - Eu diria que isso se chama sorte de principiante – eu falo e finalmente ele me olha negando.
– Qual é? Sorte de principiante? Você tentou uma vez e não acertou nem a dois metros – ele fala sorrindo e eu tento parecer ofendido.
– Aquela era a segunda vez então a sorte não tava valendo – eu falo e então ele abandona o receio e finamente ri de verdade – Além do mais, eu sou seu pai! Deveria ter alguma regra sobre não fazer piadas com minhas limitações – eu falei e ele riu de novo abrindo a porta pra eu passar primeiro.
– Foi mal aí, perneta – ele implica comigo rindo quando eu passo.
– Aí me magoa – eu falo com a mão no coração – Uma vez você queria uma dessas, então... pega leve – eu falo colocando a mão sobre a prótese, ele ri mas dá de ombros, eu me aproveito da distração dele, e passo meu braço pelo seu pescoço em uma chave de braço, ele tenta escapar mas não consegue e acaba batendo no meu braço em desistência, eu sorrio vitorioso.
– Sorte de principiante – ele fala e sorri passando por mim, ele abre a porta do banheiro e para – Legal, então parece que o vovô conseguiu mesmo a piscina – ele fala e eu me aproximo e olho o banheiro completamente inundado.
– Mas que merda, isso deve tá vazando a sei lá... mais de uma semana – eu falo olhando toda a água.
– A goteira começou mês passado – Pyter fala e eu reviro os olhos por que esse é o tipo de coisa do Haymitch mesmo.
– Ok, acho que vamos precisar de algumas ferramentas – eu falo e Pyter ri me olhando.
– Você acha? – ele pergunta com ironia – Legal, já vi que isso aqui vai demorar – ele acrescenta com mais ironia.
– Então o Senhor esperto, vai pegar a caixa de ferramenta enquanto eu... espero aqui – eu falo sem saber por onde começar, ele se afasta rindo, eu tiro meus sapatos, dobro a calça e ele volta carregando a caixa – Melhor tirar os seus também – eu falo apontando para os sapatos dele, ele se abaixa e faz o mesmo que eu, a água cobre os nossos pés e está por toda parte, eu me aproximo da pia e o cano por trás dela está meio descolado e água vaza rapidamente.
– Então? – Pyter pergunta me olhando com diversão.
– Temos que parar o vazamento – eu falo tentando parecer sério e ele ri.
– Por que a gente não chama alguém que saiba o que está fazendo, daí amanhã conserta e nós não pegamos uma pneumonia – ele sugere implicando comigo.
– Por que seu avô disse que vai ficar lá em casa, sua mãe não aprovou a ideia e eu gosto de dormir na cama – eu falo e ele ri.
Então nós começamos a tentar conter o vazamento, vários minutos depois o máximo que conseguimos foi diminuir o fluxo da água.
– Parece que estamos avançando – eu falo um pouco orgulhoso.
– É, talvez a gente não se afogue antes da meia noite – ele fala fingindo otimismo.
– HÁ HÁ HÁ muito engraçado... - eu falo e ele ri de verdade – Agora que já sabemos de onde vem o vazamento, vai lá fora e fecha o registro – eu mando e ele se levanta saindo do banheiro.
– Onde fica? – ele para na porta do banheiro.
– O gênio não sabe? – eu implico com ele que me faz uma careta, eu explico onde é e ele sai rapidamente, eu continuo mexendo na pia e então a água para de sair, indicando que ele fechou o registro, ele volta e nós nos concentramos em consertar, ele me entregando ferramentas, eu apertando parafusos e o ciclo se reiniciando de novo.
– Posso perguntar uma coisa? – ele pergunta enquanto me ajuda a tirar o cano do lugar, eu indico que ele fale – Quando que você descobriu que gostava mesmo da mamãe? Eu sei que você sempre gostou dela, já ouvi isso um monte vezes, mas tipo... quando foi pra valer mesmo, que você teve certeza? – ele pergunta meio ansioso, ele me olha mas logo desvia o olhar, eu paro o que estava fazendo e olho pra ele.
– Quando eu percebi que nada fazia sentido se eu não estivesse com ela, se ela não estivesse por perto! Quando você ama alguém é como se as coisas só fizessem sentido quando você tá junto com a pessoa e todo o resto do tempo fosse só... o resto do tempo! – eu falo e ele me olha com certa concentração que não é muito típica dele – É isso que você sente? – eu pergunto e ele parece surpreso e nega já me entregando uma das ferramentas.
– Eu só queria saber... curiosidade – ele fala sem me olhar nos olhos.
– Qual é? Eu sou seu amigo certo? – eu pergunto e ele me olha ainda decidindo o que falar – Anda, fala comigo! Tem vantagens em ser velho, você já passou pela maioria das coisas – eu falo e ele sorri.
– Eu acho que eu to gostando da Keyse – ele fala baixo e desvia os olhos do meu, eu sorrio.
– E por que você acha isso? – eu pergunto mesmo já tendo certeza disso, ele dá de ombros.
– Sei lá... Eu só... gosto de ficar com ela sabe? Tipo... as outras garotas são todas, sei lá, igual a Pérola... – ele fala e me olha levantando os ombros – Desse jeito fresco sabe? E ela não! A gente joga vídeo game, ela nunca fica conversando sobre roupa ou penteado, a gente conversa maior tempão sobre um monte de coisas e... – ele pausa remexendo os dedos na água ainda acumulada.
– E? – eu pergunto esperando ele completar.
– As vezes eu prefiro ficar com ela do que com o Ryan... mas eu gosto dele, ele é meu melhor amigo, só que...
– Você gosta de estar perto dela – eu completo e ele me olha confirmando.
– É! Eu acho que sim!
– Tem mais alguma coisa que você não tá me contando? – eu pergunto estranhando o jeito como ele parece inquieto, ele me olha novamente decidindo o que falar.
– A gente se beijou – ele fala rápido como se fosse perder a coragem, eu espero ele continuar – A gente tava na praça depois da escola, aí tinha umas garotas perto, uma delas veio e falou que a amiga dela queria ficar comigo, aí a Keyse falou que eu já tava com ela e me beijou... – ele fala e eu sou pego de surpresa.
– Ela que te beijou?
– Foi!
– E como foi? – pergunto e ele libera um sorriso malicioso.
– Foi legal! – ele fala tentando esconder o sorriso mas não consegue, eu o olho esperando mais detalhes – Muito legal – ele completa sorrindo sem disfarçar.
– E o que aconteceu depois?
– Nada – ele fala dando de ombros.
– Nada? – eu pergunto confuso já abandonando o serviço e me concentrando nele.
– Nada! Ela só disse que me ajudou a me livrar das garotas e que eu não precisava agradecer, era só levar o trabalho que a gente tinha pra entregar no outro dia e saiu – ele falou e eu ri.
– E o que você fez?
– Levei o trabalho no outro dia – ele fala como se fosse óbvio.
– Só isso? Você não falou mais nada? Vocês não falaram sobre o beijo? – eu pergunto meio surpreso, ele nega – E é você que se acha o esperto? – eu pergunto com ironia.
– Ela disse que foi só pra se livrar das garotas – ele fala sem entender.
– Pyter, Pyter, Pyter... – eu falo passando o braço pelos ombros dele – De esperto você só tem o seu pai – eu falo implicando com ele e rindo e ele me olha confuso – Ela estava com ciúmes, por isso ela te beijou! – eu falo e ele ainda parece em duvida.
– Você acha?
– Não acho! Eu tenho certeza! E você deveria ter feito mais alguma coisa do que não ter feito nada! A garota te beijou e você não fala nada?
– Mas eu tentei e ela mudou de assunto!
– Por que agora ela tá esperando você fazer alguma coisa – eu falo e ele pensa por alguns segundos.
– Então eu tenho que beijar ela de novo? – ele pergunta confuso, eu acabo rindo.
– Não é assim! Ela já mostrou que gosta de você, agora é a sua vez de mostrar que também gosta dela, mas isso não quer dizer que você tem que chegar já beijando ela, com certeza não – eu falo e ele me olha com atenção - Por que você não chama ela pra...sei lá... tomar um sorvete! Só vocês dois, por favor não vai levar o Ryan... E bom, sei lá, você fala pra ela que tá gostando dela mais do que um amigo...
– Aí ela vai ficar se achando depois disso... – ele fala negando, eu acabo rindo de novo.
– É um risco que você vai ter que correr OU... – eu falo e paro.
– Ou? – ele pergunta ansioso.
– Você pode não fazer nada e outro garoto tomar a iniciativa – eu falo e ele fecha o sorriso.
– Eu vou falar com ela amanhã – ele garante rapidamente, eu sorrio de novo, enquanto bagunço o cabelo dele - Tem como você não contar isso pra Pérola? Por que ela vai ficar me enchendo e depois vai falar pra Hazel e amanhã o colégio inteiro já sabe – ele fala revirando os olhos.
– Eu não vou falar! Mas.. caso vocês se entendam você tem que falar com seu tio Benny e a tia Grace – eu aviso e ele faz uma careta jogando a cabeça pra trás – Relaxa você sobrevive! – eu garanto apertando o ombro dele – Quem não irá sobreviver sou eu se não consertar logo isso – eu falo e ele ri então voltamos ao conserto do vazamento, levamos mais um bom tempo nisso, mas quando Pyter volta pra abrir o registro e eu abro a torneira confirmamos o fim do vazamento.
– Nada mal – ele fala fazendo uma cara meio esnobe, eu passo meu braço pelos ombros dele o apertando em mim.
– Posso te pedir uma coisa? – eu pergunto e ele me olha meio desconfiado mas sorrindo – Não briga com a sua mãe – eu peço e o sorriso no rosto dele fecha imediatamente, ele desvia os olhos do meu – Ela te ama! Eu te amo! Sua irmã te ama... todos nós amamos, não tem motivo pra você ter ciúmes – eu garanto e ele se solta de mim.
– Eu não to com ciúmes – ele garante pegando as ferramentas e colocando na caixa.
– E nem tem motivos pra isso – eu concordo e me abaixo junto com ele - Olha, sua mãe não pode ficar se estressando, ela precisa ficar de repouso, a médica exigiu isso hoje, e ela não consegue ficar tranquila se você começa agir como agiu hoje a tarde – eu falo e ele me olha sério.
– Não vai mais acontecer – ele garante e se levanta levando a caixa.
– Pyter – eu o chamo e ele para no caminho e se vira pra mim – Você tem alguma dúvida que nós te amamos? – eu pergunto e ele demora alguns segundos pra me olhar nos olhos.
– Nenhuma – ele garante e eu me aproximo dele.
– E não é pra ter nunca – eu afirmo e ele confirma – Não importa o quanto nossa rotina mude, o nosso amor por vocês NUNCA vai mudar! Entenda isso. NUNCA! Eu amo você, você é meu filho mais velho, mais charmoso, mais conquistador... – eu falo piscando e ele acaba rindo – Só... Pega leve com a sua mãe, ok? Se alguma coisa não tiver legal pra você, fala comigo pode ser? – eu pergunto e ele confirma – Ótimo, agora vai guardar isso pra gente se livrar dessa roupa molhada logo – eu falo e ele sai indo guardar a caixa de ferramenta, quando ele volta nós vamos para casa.
– Sem vazamentos – eu anuncio quando entro em casa, Katniss que estava saindo da cozinha nos olha dos pés a cabeça.
– Troquem de roupa ou vão pegar uma gripe – ela avisa apontando pra mim e pro Pyter, nós dois nos olhamos e levamos a mão até a testa em sinal de obediência, ela ri, e eu tenho certeza que não apenas por esse gesto de ironia mas por que Pyter o fez e isso já mostra que ele está bem novamente - Anda, se não a comida vai esfriar – ela fala e ele sobe as escadas rapidamente, eu me aproximo dela e lhe dou um beijo rápido nos lábios.
– Como foi? – ela me pergunta ansiosa e eu sei que não tem nada a ver com o vazamento.
– Ele tá bem – eu garanto e beijo sua testa – Agora eu também preciso me trocar – eu falo e me separo dela também subindo as escadas, entro no quarto pego uma roupa seca e entro no banheiro, acabo tomando um banho rápido e me visto, quando saio do banheiro encontro Pérola subindo as escadas.
– Pai!! – ela me chama como se tivesse muito tempo sem me ver – Preciso falar com você – antes que eu pudesse dizer alguma coisa ela já estava grudada ao meu braço e me guiando para o quarto dela, assim que entramos ela fechou a porta.
– Não me diz que você quebrou nada do Pyter de novo... – eu falo já que a menos de uma semana ela conseguiu quebrar um boneco que ele tinha a alguns anos, o que obviamente gerou um grande escândalo em casa, mas conseguimos contornar, ela nega mas ainda parece ansiosa demais – Manchou as roupas de tinha de novo? Por que se for isso, eu sinto muito mas não posso ajudar, sua mãe já tinha avisado e eu prefiro ficar neutro nessa história – eu aviso levantando as mãos, ela ri mas nega.
– Eu não quebrei e nem manchei nada – ela fala com as mãos na cintura.
– Então? – eu pergunto esperando a noticia.
– Você sabe em que mês nós estamos? – ela me pergunta levantando a sobrancelha.
– Abril! – eu falo sem ter que pensar muito.
– E sabe o que isso significa?
– Que mês que vem é aniversário da sua mãe? – eu pergunto e ela parece surpresa.
– Droga, eu tinha me esquecido disso – ela fala mas então balança a cabeça como se estivesse afastando algum pensamento – Mas não, não é isso! Significa que falta dois meses pra junho ou seja, dois meses pro desfile...
– Mas que desfi... – eu parei assim que olhei e vi de novo a ansiedade nos olhos dela. O Desfile. Ela deve ter percebido minha expressão por que ela logo me deu um sorriso.
– Tá tudo bem, quase que eu esqueci também – ela fala e se aproxima e se senta na cama me fazendo sentar com ela.
– É que com a gravidez, essa história toda hoje, eu...
– Pai, relaxa, tá tudo bem mesmo! – ela me garante sorrindo sem se abalar – Mas eu preciso falar com você antes de confirmar algumas coisas – ela fala e coloca uma perna dobrada sobre a cama e se vira ainda mais pra mim – Eu andei pensando em alguma coisas e acabei conversando com o Ian e a Hazel, e bom, nós meio que achamos uma solução... – ela fala e eu a olho com atenção, então ela me conta tudo que andou conversando e planejando com eles e eu tenho que confessar que nunca senti tanto orgulho antes, é incrível a maneira como ela se preocupa com a Katniss, com todos na verdade, mesmo ainda nova ela já consegue ter essa preocupação e eu admiro isso nela, depois que ela me conta tudo e me pede ajuda para as ultimas decisões nós temos pelo menos um ponto resolvido e só resta contar as mudanças e esperar por dois meses.
Então, dois meses depois eu estava correndo pelo Distrito pra poder levar até o Edificio da Justiça uma caixa de presilhas que ela havia esquecido em cima da cama, foi uma grande prova passar por tantos fotógrafos e curiosos mas consegui entrar em uma das salas transformadas em camarim, quase não a encontro no meio de tantos tecidos e rodeada por tanta gente, mas lá estava ela, ainda de calça preta e uma camiseta branca, o cabelo enrolado no alto da cabeça, terminando de fazer bainha na calça que um dos modelos estava vestindo, eu parei apenas a observando de longe por alguns minutos, ela realmente parecia saber o que estava fazendo e todos pareciam encantados e prontos pra ajudar de qualquer jeito. Com a ideia dela posta em prática, hoje pela primeira vez na história, o Distrito Doze será palco de um dos eventos mais badalados, um desfile de moda, nós entramos em contato com o pessoal do concurso e Pérola colocou suas ideias, de que o Desfile acontecesse aqui, usando o Edificio da Justiça e o Centro de Convenções, eles pareceram meio indecisos mas ela já havia pensado em tudo, e se tornou difícil encontrar algo que pudesse impedir, por isso a manhã foi tão agitada com trens chegando a todo instante lotados de profissionais, e tecidos, e caixas e mais caixas, todos só falam nisso e todo o Distrito está se arrumando e se preparando para a noite.
– Pai! – ela parece aliviada assim que me vê parado próximo a ela, eu sorri e ela se levantou deixando que um rapaz terminasse o que ela estava fazendo.
– Como a mamãe tá? – ela pergunta assim que se aproxima de mim.
– Em casa com seu avô, é melhor ela vir mais tarde ou então vai ser impossível segurar ela parada – eu falo e ela sorri concordando, eu lhe entrego a caixa e ela a abre verificando o conteúdo.
– Obrigada – ela fala e sorri aliviada.
– Pérola – ela é chamada e eu lhe dou uma piscada antes dela correr até uma outra sala, eu me mantenho por perto tentando ignorar as câmeras que surgem a todo instante, mesmo ainda na preparação, segundo eles estão fazendo um pequeno filme de como tudo funciona antes das passarelas, Pérola mesmo com muita coisa pra fazer não desfaz o sorriso um único segundo sequer mesmo que eu tenha certeza do quanto ela está cansada e isso aparece ainda menos quando os outros chegam, como se tivessem marcados, e eu acredito que sim, chegam juntos, Ian, Hazel, Hannah, Keyse, Pyter e Ryan e como sempre eles chegam chamando a atenção.
– E onde está a estilista mais linda de todo o mundo? – Ian pergunta e ela logo se vira na direção dele, o sorriso que ela abre é ainda maior que qualquer outro, ele abre os braços e sem nem pensar muito ela corre até ele e eles se beijam rapidamente.
– Você demorou – ela reclama mas continua sorrindo.
– Fala isso pra esses dois que vieram brigando a cada dois passos – ele fala apontando Pyter e Keyse e eles o encaram negando.
– Fala sério, vocês são o casal que mais brigam no mundo – Pérola fala implicando com Pyter.
– Nós não somos um casal – ele fala ainda irritado com algo.
– Ah Não? – Keyse pergunta encarando Pyter e eles começam a rir e zoar ele.
– Eu quis dizer um casal igual eles... você sabe do que eu to falando – ele fala tentando se justificar, ela cruza os braços e o encara alguns segundos.
– Bom, é melhor do que viver que nem mel e açúcar igual vocês dois – Keyse fala dando de ombros e Pyter sorri aliviado.
– OK, OK! Momento casais encerrado, agora papo de adulto. Onde nós devemos ficar? – Hazel pergunta entrando no meio deles, então Pérola começa a dividir e separar os garotos das garotas, por que uma das sugestões também incluía que eles seriam modelos do desfile, e é claro que eles aceitaram sem nem pensar muito, por isso logo estão sendo levados pra fazer a prova da roupa, maquiagem, cabelo e todas essas coisas, as horas vão passando e eu vou pra casa pra buscar Katniss, ela já tinha começado a se arrumar e estava impaciente, me encheu de perguntas a cada segundo, mesmo quando eu estava no chuveiro, ela queria saber de tudo, como Pérola estava, como estavam os preparativos, se tinha muita gente, se estavam muito em cima dela, absolutamente tudo ela queria saber e eu obviamente respondi a cada uma de suas perguntas mesmo quando elas eram repetidas mas não me atrevi em dizer isso pra ela que já parecia nervosa, nos arrumamos e pela primeira vez era ela quem me apressava já me jogando as chaves do carro, enquanto fazíamos o caminho até o Edificio da Justiça a quantidade de pessoas a deixava impressionada e confesso que poucas vezes vi a praça tão movimentada, quando parei o carro e descemos em direção as escadas principais uma câmera rapidamente nos encontrou, Katniss segurou firme minha mão mas procurou sorrir de uma forma não muito apavorada e depois de tantos anos finalmente as câmeras não nos seguraram por muito tempo e logo estávamos entre as pessoas que circulavam pelos salões do Edificio, desde pessoas famosas na Capital até professores da escola, todos nos dirigiam sorrisos simpáticos e alguns olhares demorados, principalmente na barriga de Katniss que esta cada vez maior e mais linda, por um minuto eu também apenas a observo ali a minha frente, tão linda e grávida, de novo. Katniss fez questão de ir ver Pérola antes do desfile começar então fomos até os camarins e lá estava ela terminando de ser arrumada, em um vestido laranja suave, com desenhos e bordados delicados, os cabelos loiros soltos que pareciam cair em cascatas pelos seus ombros, uma mecha presa atrás de sua orelha, os olhos cinzas destacados e aquele sorriso que me fazia sorrir de volta em qualquer situação, ela logo correu até Katniss, se abraçaram, beijaram, ela beijou a barriga de Katniss enquanto ela a desejava sorte, ficamos por ali até o momento que o evento começou então tomamos nossos lugares a frente, ao lado do Haymitch que já estava impaciente com a demora, finalmente o desfile começou e era impossível escolher um modelo melhor, todos eram lindos, e todos estavam fascinados com cada detalhe, cada cor, corte e desenho, tudo absolutamente perfeito, além disso ainda tinha a alegria visível no rosto deles, Ryan, Pyter, Keyse e Hazel eram os mais animados, entraram na passarela como se já tivessem feito isso muitas e muitas vezes, roubaram atenção, aplausos e sorrisos de absolutamente todos.
– Eu disse que ele levava jeito – a voz triunfante e inconfundível nos fez virar para trás e lá estava Effie com um vestido verde e um chapéu combinando – Aquele rosto não podia ficar escondido por muito tempo! Eu nunca me engano – ela falou implicando com Katniss que revirou os olhos e voltou a olhar pra frente – Ele se parece tanto com você... Olha como ele é simpático, tão lindo... – ela completou com a mão no meu ombro suspirando enquanto Pyter saia da passarela, eu ri, mas fechei o sorriso quando Katniss me olhou.
Depois que todos os modelos tinham sido apresentados foi a vez de Pérola receber o aplauso e entrou vestindo também um modelo dela mesma e foi aplaudida de pé, Ian entrou logo em seguida com um buquê de flores, lhe entregou e eles se beijaram rapidamente o que acabou causando uma euforia ainda maior, sendo encerrado o desfile nós fomos até eles de novo e seguimos juntos para o Coquetel que ia ser no Centro de Convenções, seguindo mais um dos pedidos de Pérola todo o evento do Coquetel foi organizado pela equipe da Delly que não cansou de agradecer a ela pela oportunidade, assim que chegamos ao local todos queriam fotos e qualquer coisa de Pérola, enquanto ela posava ao lado do Ian e dos outros nós nos mantínhamos por perto observando cada um que se aproximava dela e mesmo com todas as câmeras e ainda aquele sentimento de proteção, era impossível não sentir orgulho do que ela estava conseguindo alcançar, e sei que Katniss sentiu o mesmo por que o sorriso no seu rosto não a deixava esconder.
O evento foi um sucesso, todos estavam elogiando tudo e Delly mal se aguentava de tanta emoção, mas no final de tudo a verdade é que todos já estavam cansados e exaustos, quando chegamos em casa já estava no meio da madrugada e até mesmo Pyter que sempre reclama na hora de ir embora dessa vez não reclamou, o cansaço falou mais alto em todos.
No dia seguinte acordamos tarde e o dia pareceu passar rápido demais e pareceu continuar assim pelas semanas que vinham, o tempo parecia voar cada vez mais, Katniss teve mais duas consultas, descobrimos o sexo do bebê, mais um menino, impossível dizer o quanto eu estava feliz, Pérola mesmo que estivesse torcendo para uma menina vibrou com a noticia, já planejando em como podemos pintar o quarto e as roupas e qualquer outra coisa que ela julga importante, já Pyter soube a noticia com a expressão de quem acaba de saber sobre o clima do tempo, Katniss ficou visivelmente decepcionada com a reação dele, naquele dia eu vi quando ela chorou assim que se deitou, mas eu lhe disse que aquilo era só uma fase, que ele ainda estava se acostumando com ideia de um irmão, ainda mais agora que ele sabe que é um menino, até então ele era o ''homem'' da casa depois de mim, enfim, disse todas essas coisas que ele precisava ouvir, que ela queria ouvir, ela pareceu um pouco mais calma, ainda chorou abraçada a mim e pegou no sono assim enquanto eu acariciava seus cabelos, mas a verdade é que eu mesmo não dormi naquela noite, em parte pela alegria da noticia mas principalmente por que não sabia como fazer Pyter enxergar isso como uma coisa boa, eu tentei de tudo, conversar mais, entrar no assunto do bebê de forma descontraída, mas nada dava certo, ele fugia do assunto com uma rapidez ainda maior, e eu realmente já não sabia o que fazer, mas também não podia dizer isso a Katniss, essa preocupação teria de ser apenas minha, até por que ainda tinha uma outra preocupação, por que mesmo que a pressão da Katniss não tenha aumentado, ela também não estava completamente normalizada e a medica ainda manteve todos os cuidados prescritos assim como a recomendação de menor esforço possível, o que nos rendia um trabalho árduo para convencer Katniss a seguir todas as ordens medicas, e como sempre ela ainda conseguia fugir de algumas regras e acredito que esse seja o motivo dela estar tão cansada hoje.
Ontem enquanto as crianças estavam na escola eu tive que ir até a padaria pra finalizar uma encomenda grande, quando cheguei em casa na hora do almoço encontrei o varal cheio de roupas pra secar e ela estava terminando de varrer o quintal, é claro que isso gerou uma pequena discussão, por que por mais que eu diga pra ela não fazer ela faz e ela sempre contradiz dizendo que ficar muito tempo parada também não faz bem pra ela, então tive que praticamente levar ela no colo para dentro de casa e fiz ficar o resto do dia pelo sofá já que ela se recusava a ir pro quarto.
Eu acordei primeiro que ela e fui tomar banho, quando sai ela já estava acordada mas ainda parecia cansada.
– Você parece com sono ainda – eu falo e ela passa as mãos pelo rosto.
– Eu to, mas eu odeio ficar nessa cama – ela fala fazendo uma voz irritada.
– Mas é aqui que você vai ficar hoje, ontem você já se esforçou muito, aliás se eu ver você com uma vassoura na mão outra vez eu amarro os seus pés na cama – eu aviso, subindo na cama e parando meu rosto de frente pro dela, ela revira os olhos e tenta se manter séria mas eu a beijo assim mesmo, ela corresponde o beijo mas quando acaba ela faz uma cara de dor – Que foi? – eu pergunto e ela se afasta se encostando na cama com a cabeça olhando pra cima - Katniss? – eu a chamo começando a me preocupar.
– Nada... eu to bem, foi só... uma tontura, meio forte... mas eu vou ficar bem – ela garante com a mão na testa.
– Eu disse pra você ficar sentada, você nunca me escuta – eu reclamo preocupado e nervoso.
– Aí Peeta por favor, cala a boca, a ultima coisa que eu preciso é você reclamando – ela fala irritada e tenta se levantar.
– Onde você pensa que vai? – eu pergunto segurando seu braço, ela me encara irritada.
– Fazer xixi, posso? – ela pergunta e ergue a sobrancelha esperando, eu libero seu braço e ela passa por mim, então a voz do Pyter gritando um ‘’até logo’’ invade o quarto e ela devolve um ‘’até logo’’, ele fala mais alguma coisa mas não consigo entender, me levanto mas o barulho da porta batendo indica que eles já foram, eu desço as escadas e separo algumas frutas, suco, leite, pães e subo de novo, ela estava saindo do banheiro quando vê a bandeja nas minhas mãos, ela revira os olhos mas sabe que não vai adiantar reclamar então se senta e aceita.
– Você não devia tá na padaria essa hora? – ela pergunta me olhando enquanto termina uma maça.
– Eu não vou hoje – eu falo dando de ombros e ela já ia reclamar – Você pode falar o quanto quiser mas eu não saio de casa hoje, ontem eu fui e olha no que deu... – eu garanto com certa reprovação mas me deito ao lado dela que revira os olhos mas acaba sorrindo quando eu apoio a cabeça nas suas pernas, então eu me estico e a beijo, ela termina o café e eu levo a bandeja pra baixo deixando ela ainda deitada, Haymitch aparece pro café e depois se joga pelo sofá enquanto eu faço algumas coisas pela sala e pelo escritório, indo ver a Katniss algumas vezes e na maioria delas ela está dormindo, é estranho ver ela assim mas acho melhor do que ter que discutir até ela aceitar ficar em repouso, já estava com o almoço pronto apenas esperando eles quando ela entra na cozinha, se aproxima da mesa e pega um pedaço de pão de queijo.
– Já tá com fome? – eu pergunto enquanto a observo como a barriga está ainda mais redonda, ela acaba de completar oito meses e a barriga está mais linda do que nunca.
– Um pouco, mas eu vou esperar eles – ela fala enquanto ainda mastiga o pão, eu sorrio e termino de tampar as panelas, já estava indo até ela quando a voz da Pérola gritando o Pyter nos assustou ela parecia realmente desesperada, eu passei pela Katniss direto e ela veio logo atrás de mim, Haymitch que estava cochilando também acordou, um barulho de algo sendo jogado me fez correr e abrir a porta, ainda entrando pela Aldeia estava Pérola, ela parece ter vindo correndo, mesmo de longe é possível ver que ela respira forte, Pyter está se aproximando de casa, a bicicleta dele está jogada no meio do quintal e ele está suando e parece furioso.
– O que aconteceu? – eu pergunto saindo de casa e indo até ele que para no caminho.
– O QUE ACONTECEU? – ele devolve a pergunta gritando e eu sou pego ainda mais de surpresa pela raiva dele.
– Pyter! PARA, eu to mandando, para! – Perola o alcança e segura seu braço, mas ele puxa rapidamente.
– Pyter – Katniss briga com ele e se aproxima de nós.
– Tá tudo bem mãe, vai lá pra dentro, você tem que ficar deitada – ela pede indo até a Katniss e tentando fazer ela entrar, mesmo com tudo confuso sei que ela está tentando proteger Katniss e isso só me deixa mais nervoso.
– O que tá acontecendo aqui? – eu repito enquanto Katniss se solta da Pérola e também olha pra ele, então Pyter se vira pra mim e só agora eu vejo que ele segura algo mas antes que eu possa entender o que é ele atira em mim, o objeto bate no meu peito e cai no chão antes que eu pegue, quando olho levo apenas um segundo pra reconhecer. Um troféu. Agora quebrado, no momento que reconheço sinto a culpa me atingir, ele deve ter percebido por que logo acrescenta.
– É isso que aconteceu! – ele fala me olhando e apontando pro objeto no chão, eu não sei o que dizer, por que nada do que eu falar vai conseguir diminuir o efeito do que aconteceu – Você não quer falar nada? – ele pergunta com ironia.
– Me desculpa – eu peço realmente envergonhado e culpado, ele ri e chuta o troféu mais pra perto de mim.
– Desculpa? Por que? Por que você se esqueceu de mim? Por que vocês dois esqueceram de mim? – ele pergunta em um tom acusatório apontando pra mim e depois pra Katniss – Ou desculpa por que eu fiquei que nem um idiota parado lá na frente esperando um de vocês ir lá e me entregar essa porcaria de troféu? – ele fala ainda mais alto e ainda mais do que irritado ele está com raiva, magoado e eu não lhe tiro a razão, hoje, era a cerimônia para premiar os melhores atletas da escola, e é claro que Pyter era o primeiro, a cerimônia incluía a entrega do troféu que deveria ter sido feita por alguém que o próprio aluno escolhesse, e Pyter escolheu a mim, era uma das coisas que ele mais esperou durante todo o ano e eu não estava lá – Você é um mentiroso! – ele fala apontando pra mim e me encarando, seu rosto está vermelho e com uma raiva que eu ainda não tinha visto mas então ele solta uma risada meio abafada – ‘’Nada vai mudar’’, ‘’Você ainda é meu filho e é tão importante quanto ele’’... – ele fala repetindo minhas próprias palavras.
– E é! – eu garanto.
– Não mente pra mim! – ele grita e Pérola o repreende – Cala a boca! – ele fala pra ela que parece assustada – Você é a preferida dele, é claro que não faz diferença pra você, por que quando você precisou dele, ele estava lá não é? No dia do grande desfile, ELES estavam lá...- ele fala e Pérola se cala.
– Pyter me escuta... – Katniss pede dando um passo pra mais perto dele, tentando manter a calma.
– Eu não quero escutar mais nada – ele fala ainda alto demais – Eu que fui muito idiota de achar que vocês iam aparecer lá, de achar que eu ainda podia competir com esse... – ele pausa um minuto olhando pra barriga da Katniss.
– Eu sei que você está magoado e eu te dou toda razão mas me deixa pelo menos conversar com você, como pai e filho, como dois amigos, pode ser? – eu peço e ele solta uma risada de novo.
– Agora você lembra que é meu pai, que é meu amigo? – ele pergunta me olhando nos olhos e é impossível não ver a magoa neles.
– Pyter, isso não é justo, seu pai... – Katniss fala tentando me aproximar dele.
– Não é justo? O quê que não é justo? Você sabia que eu fiquei lá esperando ele, esperando VOCÊS esse tempo todo, todos os pais estavam lá, todo mundo tava lá, menos vocês, isso é justo pra você? – ele pergunta encarando a Katniss eu me sinto ainda mais culpado, ela me olha sem saber o que dizer.
– Me perdoa... – eu peço e ele nega.
– Não, eu não perdoou. Você me disse que eu podia contar com você, só esqueceu de dizer que se esse bebê precisasse também era ele que você ia escolher – ele fala com desprezo.
– Isso não é verdade, você sabe que sua mãe não pode fazer esforço, ela não estava se sentindo bem... – eu falo e ele não se abala.
– Pyter, nós erramos com você e você tem todo direito de estar com raiva e magoado, nós deveríamos estar lá, você está certo... – Katniss tenta novamente falar com ele mas é interrompida.
– Deveriam, mas não estavam! – ele completa olhando diretamente pra ela – Do mesmo jeito que não estava quando eu consegui acertar aquele alvo naquela vez e nem estava quando eu ganhei a ultima luta... Você nunca mais ‘’esteve’’ em lugar nenhum – ele a acusa e vejo quando as lagrimas escorrem no rosto dele mas ele as enxuga com uma rapidez ainda maior.
– E eu sinto muito, eu sinto muito mesmo – ela fala sinceramente.
– Eu também... Eu sinto muito que esse bebê tenha aparecido! – ele fala sério e magoado.
– Pyter não fala isso, é nosso irmão – Pérola pede indo até ele mas ele recua.
– Você queria saber o que eu penso disso, não queria? – ele pergunta olhando pra Katniss.
– Pyter – Pérola fala o nome dele quase como um pedido urgente.
– Eu odeio que você tenha ficado grávida e que tenha mentido pra mim, por que você não é mais a mesma de antes, odeio não poder ir com você pra floresta, odeio que você só sabe se preocupar com isso, odeio que você passe mal por causa dele, odeio que todo mundo só sabe falar do bebê, me perguntar do bebê e mais ainda... Eu ODEIO esse bebê! – as palavras foram ditas certeiramente para Katniss, mas me atingiram tanto quanto a ela.
– NUNCA mais fala isso! Não importa o quanto você esteja furioso, isso é comigo, então fale pra mim, mas nunca mais repita algo assim. Pede Desculpa, AGORA! – eu exijo me aproximando mais ainda dele, mas ele apenas me encara, então volta a olhar pra Katniss que está logo atrás de mim junto com Pérola, ele volta os olhos pros meus e me encara sem dizer uma única palavra – Pede desculpa agora, pra sua mãe e pro seu irmão – eu exijo novamente.
– Esse bebê não é meu irmão! Ele não é nada meu! – ele fala com raiva e é então que minha paciência se vai, já estava com a mão no ar quando Katniss me grita e segura meu braço.
– Não! – ela fala apertando a mão em mim e assustada, mas Pyter me encara do mesmo jeito.
– Vai lá! Me bate! – ele fala com um sorriso triste e dando de ombros, parado no mesmo lugar, eu abaixo a mão assim que percebo o que ia fazer, ele solta um riso abafado e irônico – Agora me diz que nada mudou... – ele fala e nos lança um olhar que não carrega mais aquela fúria de antes e sim apenas magoa que faz meu coração se apertar de culpa, ele se afasta, pega a bicicleta que estava jogada, monta e sai, assim que ele sai da Aldeia meu corpo parece voltar a funcionar e eu corro na direção que ele foi.
– Pyter! – eu grito mas a ultima coisa que vejo é ele disparado fazendo uma curva em direção a Campina, já estava começando a correr de novo quando o aperto no meu braço me faz parar.
– Deixa ele – Haymitch fala sério e decidido.
– Ele não pode ficar andando sozinho desse jeito por aí...
– Parece que ele já fez muita coisa sozinho – ele fala e eu já estava pronto pra responder – Olha, não importa o que aconteceu antes, eu sei que agora aquele garoto não vai falar com você, então... na boa, deixa o garoto sozinho por um tempo, eu garanto que vai ser melhor pra ele – ele fala e solta meu braço me deixando a escolha, eu ainda penso sobre isso – Por querer ou não, vocês magoaram ele, a ultima coisa que ele vai querer agora é conversar com um de vocês – ele conclui e mesmo sabendo que é verdade não consigo saber que meu filho está por aí me odiando, já estava dando as costas pra ele e indo atrás de Pyter.
– PAAAI – o grito da Pérola que me fez parar, quando olhei pra trás ela estava amparando Katniss que já estava quase caindo no chão, em menos de um segundo eu estava ao lado dela.
– O que aconteceu? – eu pergunto segurando Katniss, ela geme e cerra os dentes de dor enquanto coloca a mão na barriga.
– Eu vou pegar o carro – Haymitch avisa já correndo, eu mantenho Katniss nos meus braços até ele parar o carro ao nosso lado, mas quando pego Katniss no colo sinto algo errado, minha mão parece molhada e quando eu olho para o vestido dela está sujo, de sangue, no mesmo instante ela me olha desesperada.
– Não, não... Peeta, eu não posso perder esse bebê Peeta, eu não posso – ela começa a pedir enquanto chora, ficando ainda mais agitada, eu tento me manter calmo e a coloco dentro do carro, entrando logo em seguida.
– Vai dar tudo certo, só respira... por favor... você tem que se acalmar – eu peço enquanto Haymitch já esta saindo com o carro, Pérola no banco da frente com ele, Katniss continua chorando e gemendo de dor, enquanto eu seguro sua mão tentando acalmar ela.
– Peeta, me promete... me promete que o bebê vai ficar bem? – ela pede me olhando nervosa.
– Vai dar tudo certo – eu garanto tentando me convencer disso, mas é como se em uma fração de segundos todo meu mundo começasse a desabar.
– Jura Peeta, Jura, nada pode acontecer com ele... – ela insiste ficando mais nervosa.
– Eu juro – eu garanto a ela pra que ela possa se acalmar. Nós chegamos ao Hospital e assim que o carro para eu saio do carro e a pego no colo de novo, um homem se aproxima de nós com uma cadeira de rodas, eu coloco Katniss nela e mais enfermeiras aparecem, fazendo perguntas e verificando ela, a médica dela aparece e se apressa em nos levar para a sala de emergências, eu sigo Katniss a todo instante, mas quando eles entram numa sala sou barrado.
– O que? Não, eu não vou sair daqui – eu falo já empurrando o homem que tenta me barrar, ele me empurra de volta e eu quase lhe acerto um soco.
– Peeta! Chega – a médica aparece entrando no nosso meio.
– Eu não vou sair de perto dela – eu falo sem desviar os olhos dele.
– Você não vai entrar aqui, são ordens minha! E se você não quiser deixar ela mais nervosa e piorar a situação, saia agora – ela fala firme como não tinha visto antes, eu olho na direção de Katniss e ela já está em uma maca rodeada de pessoas, mesmo querendo entrar eu aceito e recuo um passo, a porta se fecha e eu me sinto mais impotente do que qualquer outra vez.
– PAI! – o grito assustado me faz virar em direção a ela que vem correndo e se joga nos meu braços, eu a aperto forte tentando acalma-la e me acalmar também e ela corresponde ao aperto – Cadê a mamãe? – ela pergunta olhando na direção da porta.
– Não me deixaram ficar – eu falo tentando controlar meu desespero, ela segura meu rosto entre as mãos e me olha diretamente nos olhos.
– Vai dar tudo certo! Eu tenho certeza – ela me garante com uma confiança que me faz acreditar nisso também, logo Haymitch nos encontra.
– Não me deixaram ficar lá – eu repito e ele concorda com um aperto no meu ombro como se quisesse me dizer mais alguma coisa, mas não sabe como.
– É melhor a gente sair do corredor – ele fala nos conduzindo em direção a sala de espera, o lugar que mais me causa arrepios – A garota é forte! Vai dar tudo certo – ele fala tentando me encorajar mas diferente de Pérola seus olhos não trazem toda certeza que os dela, a sala de espera está vazia e eu começo a andar de um lado pro outro e como sempre acontece quando estamos aqui, os minutos parecem horas, finalmente depois de quase quarenta minutos a medica retorna, ela diz que Katniss está sobre efeitos de remédio e está dormindo, a hemorragia foi controlada e ainda tentam abaixar sua pressão mas que por enquanto apenas devemos esperar, ela me deixa entrar e ver Katniss, assim que entro no quarto sinto aquela angustia que sempre me invade nesse lugar, eu o odeio, odeio todo sentimento de incapacidade que ele me traz e ver Katniss deitada cheia de aparelhos, com a aparência cansada mesmo que dormindo me deixa ainda mais incapaz, eu me sento na cadeira ao lado da cama, seguro sua mão e levo aos lábios, com a outra mão acariciando seu cabelo, pedindo e implorando pra que ela acorde e tudo fique bem, mais minutos se passam, então uma enfermeira entra e pede que eu saia por que ela precisa descansar, volto a sala de espera e o sentimento de ser inútil só aumenta ainda mais, volto a andar em círculos novamente, me sento, fico abraçado a Pérola, busco agua, busco café, repito tudo e nada me acalma, até encontro algo em que posso ser útil.
– Pyter – falo e paro de andar.
– Ele tá bem – Haymitch me garante mas eu não me conformo. - Não, eu preciso ver ele! Eu... preciso ver meu filho – eu falo começando a ficar ainda mais nervoso, se alguma coisa acontecer com ele eu nunca vou me perdoar, eu errei com ele da pior maneira possível - Eu preciso achar ele – eu falo e já estava saindo da sala de espera quando a médica aparece, eu recuo e quase avanço nela pra ter noticias.
– A pressão dela está muito alta, ela acordou e estava nervosa e extremamente agitada, nós tivemos que lhe dar um outro calmante, mas isso não está ajudando a pressão a baixar, ela ainda está com baixa dilatação mas sofreu uma hemorragia que embora controlada ainda traz riscos... – ela começa falando todo o relatório que só consegue me deixar mais impaciente.
– E o que isso significa? – Haymitch pergunta cortando ela.
– Katniss acaba de completar oito meses e um parto agora não seria o mais aconselhável, por isso vamos tentar adiar isso o máximo possível... Mas, a situação dela é delicada, por isso talvez a cirurgia seja a melhor opção – ela fala e eu sinto minha cabeça girar rapidamente mas me concentro no que ela diz – Mas eu preciso dizer que existem riscos – ela espera que eu absorva a noticia e continua lentamente – Por isso caso tenhamos que escolher a cirurgia preciso saber qual será nossa prioridade... – ela fala e me olha aguardando a resposta mas eu me sinto confuso.
– Prioridade? Como assim? – eu pergunto temendo ter entendido.
– Eu sei que é difícil, que essa situação é extremamente delicada mas dentro da sala de cirurgia temos que tomar decisões rápidas... Nem sempre podemos estabilizar os dois, eu preciso saber como devemos agir caso isso aconteça... – ela esclarece e eu fico em choque.
–Você tá me pedindo pra escolher entre minha mulher e ... meu filho? – eu pergunto completamente aterrorizado com a escolha.
– Peeta, escuta...
– Não! – eu a corto e começo a alterar a voz – Eu não posso e eu não vou escolher entre eles! Você é a médica, isso aqui é um hospital, eu quero os dois!Eu quero a minha esposa e meu filho vivos, não me importa como você vai fazer isso, mas eu quero os dois! – eu falo aumentando minha voz.
– Peeta, é o que eu quero também, todos nós, mas decisões precisam ser tomadas, claro que faremos o impossível, mas precisamos de uma decisão – ela exige e eu estava pronto pra gritar novamente.
– O bebê! – Haymitch fala firme e alto – Façam tudo pra salvar o bebê – ele fala e eu me viro pra ele empurrando-o.
– Você não tem o direito – eu falo e Pérola nos separa – EU decido – eu falo alto, mas ele não se abala.
– Faça o que eu disse e tenho certeza que você sabe o por que... – ele fala pra médica que o olha concordando, então eu me distraio com essa compreensão dela, ela confirma e sai da sala.
– O que foi isso? – eu pergunto e ele não diz nada, eu me desvio de Pérola e o alcanço segurando a sua camisa – O que foi isso? Por que ela ouviu você? – eu pergunto sacudindo ele, enquanto Pérola tenta me fazer parar.
– Tenho certeza que você sabe o por que – ele fala e eu o solto – Ela sabia que você nunca ia conseguir fazer isso – ele revela e eu me sinto ainda mais confuso – Se tivesse que escolher você escolheria ela, mas não é o que ela quer – ele fala e eu me apoio em uma das cadeiras, Pérola segura meu braço – Você a ama demais pra ter que escolher algo assim – ele completa e eu me sento com as mãos apertando minha cabeça tentando parar tudo que está acontecendo.
– Pai – Pérola me chama com as mãos por cima da minha – Pai, por favor, fala comigo – ela pede mas eu mantenho essa posição por mais alguns minutos, eu já não sei o que pedir, o que esperar, que tudo seja um pesadelo mesmo que eu tenha certeza que não é, que meu filho viva mas sem que isso custe a vida da Katniss e que ela viva sem que isso custe a vida dele, meu mundo acaba de ser virado de cabeça pra baixo e não a nada que eu possa fazer para mantê-lo no lugar, eu só queria que tudo continuasse como antes, eu não posso imaginar ou sequer cogitar a ideia de não ter um deles comigo, mesmo esse bebê que ainda não nasceu, eu preciso deles, de todos eles, inclusive o Pyter, a imagem dele me olhando com tanta magoa, dor e tristeza me invade novamente e então eu sei a única coisa que eu posso fazer, a única coisa que talvez dependa de mim, e é esse sentimento que me faz sair da cadeira, eu me levanto rápido demais e decidido a pelo menos não ficar apenas parado esperando tudo ser tirado de mim.
– Onde você vai? – Pérola pergunta também se levantando.
– Achar seu irmão – eu falo já em direção a saída.
– Eu vou com você – ela fala correndo até a mim.
– Não, você fica com seu avô! Eu resolvo isso – eu falo sem dar a ela chance pra me fazer mudar de ideia, eu saio correndo do Hospital, a noite já está caindo e continuo correndo até em casa, entro na esperança que ele tenha voltado pra casa, mas depois de verificar todos os cômodos vejo que ele não voltou pra cá, saio de casa e vou até a casa do Haymitch onde geralmente ele se refugia quando brigamos com ele, mas também não passou por lá, saio da Aldeia e vou até a Campina, também não o encontro, vou até a parte da cerca onde ele usa para entrar e não encontro a bicicleta por perto, ele nunca entra lá de bicicleta então descarto essa possibilidade também, vou até a praça perto da Escola, circulo todo o espaço, mas também não o encontro, começo a andar pelas ruas do Distrito mas não consigo pensar em nenhum lugar onde ele possa ter ido e isso me deixa ainda mais frustrado e aterrorizado, volto a Campina e acabo sentado no chão com a cabeça entre meus joelhos implorando pra que ele apareça, pra que alguma coisa aconteça, eu não posso perder eles, eu não posso, é tudo que eu fico repetindo na minha cabeça, o choro não consegue sair mas a angustia me domina completamente.
– Eu não posso perder eles, eu não posso perder eles – o pensamento se repete, e se repete até que se torna meu único pensamento, então no meio disso o nome parece brilhar na minha cabeça, só existe uma pessoa que vai saber onde ele está.
– Keyse – o nome escorrega da minha boca, me levanto correndo em direção a casa dela, agora já está realmente escuro mas vejo Grace abrindo a porta quando eu alcanço a casa.
– Eu preciso falar com a Keyse – eu peço sem tentar disfarçar meu desespero.
– Peeta! – ela fala ainda sorrindo mas parece confusa quando me olha melhor – Aconteceu alguma coisa? – ela pergunta olhando pra mim dos pés a cabeça.
– A Keyse tá ou não em casa? – eu pergunto me aproximando dela.
– Eu não sei, acabei de chegar, deixa eu ver – ela fala e abre a porta entrando com algumas sacolas, ela chama por ela e logo Keyse aparece.
– Cadê o Pyter? – ela me pergunta assim que me vê e corre até a mim.
– É o que eu ia te perguntar – eu falo e ela me olha por alguns segundos me avaliando – Keyse, por favor, se você souber pra onde ele pode ter ido, qualquer lugar, por favor, me fala... – eu imploro mas ela ainda parece decidir algo.
– Eu não posso – ela fala lamentando.
– Keyse, por favor – eu peço deixando que ela veja como eu estou desesperado.
– Eu não posso, ele nunca ia me perdoar... Ele tava com muita raiva! Eu... eu não posso – ela fala se desculpando e posso ver que ela parece realmente dividida.
– Como assim não pode Keyse? Pode falando logo – Grace exige e ela a olha como se ela não entendesse.
– Eu não vou falar – ela garante e cruza os braços.
– Olha aqui garota, ou você fala... – Grace começa a ameaçar ela mas eu a interrompo.
– Keyse eu sei que você quer o bem dele, e eu te agradeço muito por isso, mas eu também quero, ele é meu filho, tudo que eu quero é ver ele bem também – eu falo e ela me olha nos olhos.
– Por isso você deixou ele lá sozinho? – ela pergunta me acusando e eu sei que ela está certa – Você precisava ver como ele ficou, ele ficou lá parado na frente de todo mundo e você não apareceu, eu nunca vi o Pyter daquele jeito! – ela fala e nega com a cabeça – Eu não vou trair ele também – ela fala e eu concordo.
– Você tá certa, ele tá certo, eu só... preciso falar com ele. Eu errei! Eu fui um péssimo pai, eu só quero pedir o perdão dele, se eu pudesse voltar atrás eu voltaria! Ele é uma das coisas mais importantes da minha vida, a ultima coisa que eu queria da minha vida era magoar ele e eu fiz, e pode ter certeza que eu nunca vou me perdoar por isso, nunca vou me perdoar pelo que eu fiz ele passar e talvez nem ele me perdoe também, mas eu preciso tentar, ele é meu filho. E eu nunca vou desistir dele! – eu falo e ela escuta cada palavra com atenção – Mas eu não vou te pedir pra trair a confiança dele, não depois de tudo que eu já fiz! Eu só te peço que então você fale com ele, que fale pra ele que eu só quero conversar com ele, por favor? – eu peço e ela parece realmente emocionada e concorda.
– Eu vou falar com ele – ela garante.
– Obrigado! Eu tenho que ir... Katniss está no Hospital – eu falo e ela e Grace se apavoram.
– No Hospital?
– É, ela ficou nervosa depois da briga com Pyter, passou mal e está no Hospital, eu só queria pelo menos ter ele junto nesse momento – eu confesso sinceramente e Keyse confirma.
– Eu vou falar com ele agora – ela fala e sai de casa correndo.
– Como ela está? – Grace pergunta e eu sinto um nó na garganta que me impede de dizer qualquer coisa – Ei, você sabe que pode contar com a gente não sabe? – ela pergunta e eu confirmo temendo que se falar alguma coisa eu comece a chorar, ela coloca a mão no meu ombro e me garante que tudo vai ficar bem.
– Eu... tenho que ir – eu falo e ela concorda, eu saio de lá prometendo dar noticias, eu sigo pelas ruas mas é como se minha cabeça girasse a cada passo, mal vejo o caminho que peguei, só quando ouço a voz Philip que olho pra padaria, eu estou na frente dela e ele agora me olha confuso e preocupado.
– Você tá bem? – ele pergunta mas eu não digo nada, então ele me leva para os fundos da padaria, todos estão lá inclusive Delly que corre até a mim assim que eu entro pela cozinha.
– O que aconteceu com você? – ela me pergunta mas eu apenas balanço a cabeça sem querer falar nada e vou pra dentro do escritório querendo me livrar de todos os olhares e perguntas, assim que eu entro me sento no chão encostado na parede ao lado da porta, mal a porta se fecha e Delly já esta entrando atrás de mim, ela para na minha frente avaliando a situação e então se abaixa ao meu lado.
– Você não precisa falar nada se não quiser, só... – antes que ela terminasse a frase o choro preso se solta, eu não consigo mais segurar e me manter imune, por que eu não estou assim, eu simplesmente choro, sinto meu corpo tremer a cada soluço sem me importar com mais nada, os braços me puxam pra mais perto e ela apenas fica ali, sem perguntar, sem querer saber o que houve, sem me pedir pra me acalmar, não sei quanto tempo mas quando paro o choro ela permanece em silencio, eu me sento mais reto com a cabeça jogada pra trás encarando o teto.
– Eu estraguei tudo – eu falo e ela não diz nada – Eu.. fiz tudo errado! TUDO! – eu repito com raiva de mim mesmo.
– O que seria tudo? – ela finalmente fala algo, sua voz parece tão normal como sempre.
– Tudo! Eu sou um péssimo pai, eu ... ele nunca vai me perdoar, e ele tá certo! – eu falo enquanto bato levemente minha cabeça na parede – Eu esqueci! – eu falo e então olho pra ela que já estava me olhando com atenção mas sem acusação. - Vocês brigaram – ela conclui mas espera eu terminar de falar, eu confirmo.
– Ele me odeia!
– Ele está magoado – ela fala dando de ombros – É normal, mas ele não te odeia – ela fala e eu nego.
– Ele me odeia, eu vi! Nos olhos dele! – eu afirmo e ela concorda.
– E se isso for verdade, o que você vai fazer? Ficar aqui chorando? – ela pergunta e eu volto a encarar o teto.
– Katniss está no Hospital, ela ficou muito nervosa com a briga, teve uma hemorragia e está no Hospital em risco! Ela e meu filho! – eu falo e agora ela parece realmente surpresa, ela coloca a mão no meu ombro.
– O que a médica disse?
– Me mandou escolher entre ela e meu filho – eu falo e volto a chorar – Entre Katniss e meu filho! Como eu posso escolher entre eles? – eu pergunto e agora ela me olha com dor também – Eu não posso Delly, não posso perder eles três, não posso ter estragado tudo desse jeito – eu falo e ela me abraça.
– Você não estragou nada! As coisas acontecem e nem sempre podemos controlar tudo – ela fala tentando me acalmar – Mas agora você precisa voltar pro Hospital! Eu tenho certeza que Pérola precisa de você e Katniss também pode precisar – ela fala me fazendo ficar de pé – Presta atenção – ela fala me olhando séria – Você é o pai e é o marido, você precisa estar lá! Não se preocupa com o Pyter, ele vai ficar bem! – ela me garante então vai até o banheiro, volta com uma toalha na mão e me entrega, a toalha está úmida, eu passo pelo meu rosto e ela me olha de forma encorajadora – Bem melhor – ela fala e me força um sorriso.
– Obrigado – eu falo e ela finge não escutar, abre a porta e me espera sair primeiro, os olhares me encontram de novo, Philip se aproxima mas espera que um de nós fale algo.
– A gente se vê daqui a pouco – ela fala e me força um sorriso.
– Obrigado – eu repito mas ela apenas me leva até a porta dos fundos e eu sigo o caminho pro Hospital, mesmo com toda apreensão, nervoso e medo de certa forma eu me sinto mais leve.
Quando chego no Hospital vou direto para a sala de espera Pérola está lá abraçada a Haymitch e assim que me vê corre pros meus braços, eu a abraço e afundo meu rosto no seu cabelo, sentindo seu cheiro que me acalma.
– Você achou ele ? – ela me pergunta e eu nego.
– Mas Keyse sabe onde ele tá e vai falar com ele – eu falo um pouco mais confiante que antes e ela força um sorriso – Alguma noticia?- eu pergunto e ela fecha o sorriso negando.
– Nada – ela fala e volta a afundar o rosto no meu peito, eu deixo que ela fique assim e aperto mais nos meus braços, tentando proteger a única pessoa que ainda posso, alguns minutos se passam quando a médica aparece, Pérola se solta de mim e nós três damos atenção total a médica.
– Conseguimos estabilizar o quadro, a pressão não está mais subindo... – ela fala mas não parece muito animada com isso e Haymitch também percebe por que me lança um olhar preocupado.
– Então está tudo bem? – eu pergunto mesmo sabendo que ainda tem algo.
– Nós vamos ter que operar ela – ela fala e eu sinto como se tivesse sido derrubado no chão.
– Mas você disse que ela estabilizou – Pérola é quem fala.
– Estabilizamos a pressão e a hemorragia, mas o bebê ainda está um pouco agitado e com baixa oxigenação, nós temos uma chance melhor se fizermos o parto agora – ela fala e espera nossa reação.
– Eu posso acompanhar? – eu pergunto e ela me dá um sorriso fraco.
– Eu não tentaria te impedir – ela fala e eu sinto um pouco mais de alívio.
–Você quer falar com sua mãe antes? – a médica pergunta e Pérola nega.
– Eu falo quando ela voltar – ela fala e me força um sorriso. Eu sigo a médica e passo por todo o ritual que passei nas outras duas vezes, preciso me limpar, trocar de roupa, colocar touca e aquele avental azul, depois aguardo numa sala com alguns enfermeiros enquanto a sala de cirurgia é preparada, alguns minutos depois e sou liberado pra entrar, Katniss está deitada, um pano azul está preso impedindo que ela veja a partir de sua barriga, ela parece estar dormindo mas quando me aproximo e toco seus cabelos ela abre os olhos.
– Peeta... – ela chama meu nome e seu rosto se enche de alivio, mas ela parece um pouco tonta provavelmente efeito do calmante e da anestesia, eu aproximo meu rosto do dela, acaricio seus cabelos e beijo sua testa – Você tá aqui – ela fala levando a mão até meu rosto, como se para comprovar que é verdade, eu beijo a palma de sua mão.
– É claro que eu estou – eu falo forçando um sorriso – Eu sempre estou aqui! Juntos, lembra? – eu falo e ela sorri mas então seus olhos se tornam preocupados. - Pyter – ela fala e suas sobrancelhas se juntam – Cadê ele? Como ele tá? – ela começa a se agitar.
– Katniss por favor, tem que se acalmar, não podemos te dar mais remédios – a médica avisa e ela continua apreensiva e eu faço a única coisa que posso.
– Ele tá bem! Tá lá fora, só está preocupado com você mas se você ficar bem ele também fica – eu minto e ela parece mais calma.
– Onde ele estava? – ela pergunta desconfiada.
– Não sei, foi Keyse quem achou ele, mas ela não quis dizer, com certeza é um dos esconderijos dele – eu falo forçando um sorriso e ela também sorri mais tranquila.
– Vamos começar – a médica anuncia e então todos tomam seus lugares e o ambiente parece todo focado na Katniss, eu seguro sua mão e acaricio seus cabelos, ela me olha e coloca a mão por cima da minha.
– Pelo menos não dói! Eu deveria ter feito isso nas outras vezes – ela fala e me sorri, eu beijo sua testa, passam-se alguns minutos e o choro enche a sala, eu olho pra Katniss e ela está com lagrimas nos olhos, eu sorrio dessa vez sem precisar forçar, é um sorriso de felicidade verdadeira, eu beijo sua testa e depois seus lábios.
– Nosso filho – eu falo e ela sorri com lagrimas escorrendo pela sua bochecha, espero a enfermeira trazer ele e então um pequeno embrulho azul se aproxima de nós, ele é menor do que Pyter e Pérola, mas seu choro é bastante forte, a enfermeira o coloca no nosso meio mas apenas o tempo de Katniss lhe dar um beijo e ele é levado.
– Eu queria pegar ele – eu falo me virando pra mulher.
– Depois! Ele precisa ir agora! Logo vocês poderão ver de novo – ela fala e sai acompanhada de mais uma enfermeira.
– Eu quero meu filho, cadê meu filho? – Katniss começa a se exaltar e a medica aparece ao lado dela.
– Katniss ele nasceu antes do tempo, é apenas rotina, ele está bem, mas precisa ser examinado melhor, você precisa continuar calma – ela fala e Katniss estica a mão pra mim e eu a alcanço rapidamente, a medica volta ao seu trabalho e eu continuo de mãos dadas a Katniss até que ela também é liberada para ir para o quarto, então deixo-a com eles e vou até Haymitch e Pérola, quando chego na sala de espera, descubro que eles não estão mais sozinhos, Delly, Grace, Ian, Hazel e Keyse estão com eles, Pérola abraçada a Ian mas assim que ela me vê corre até a mim e todos a seguem.
– Nasceu! Eles estão bem – eu falo e todos soltam o ar aliviados, só então com todos a minha volta é que eu o vejo, no canto da sala, sentado com a cabeça entre os joelhos, Pyter, não preciso nem ao menos pensar, eu passo por eles e vou até ele, assim que paro na sua frente ele levanta o rosto, seus olhos estão vermelhos e ele se levanta, mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa ou ter qualquer reação, eu o abraço, aperto meus braços nele como se eu pudesse fazer ele sentir tudo que eu estou sentindo, minha culpa, meu arrependimento, o medo dele nunca mais me olhar como antes mas acima de tudo que eu o amo, eu esperava que ele fosse me rejeitar, mas ao invés disso ele me aperta ainda mais e quando sinto os braços dele me apertarem ao invés de me empurrar, eu acabo chorando de novo e sinto quando ele faz o mesmo.
– Me Perdoa, me perdoa... me perdoa... eu te amo! Eu te amo tanto – eu repito varias vezes enquanto me recuso a soltar ele e ele não tenta sair também – Eu deveria estar lá, eu sinto muito, muito mesmo – eu falo e continuamos abraçados por mais um tempo, então nos soltamos, eu seguro o rosto dele entre minhas mãos – Eu te amo! Eu sinto muito pelo que eu fiz! Você estava certo, eu errei! Eu devia estar lá, eu fui um péssimo pai – eu falo e ele nega.
– Você não é um péssimo pai – ele garante sem desviar os olhos de mim – Eu só estava com raiva! – ele completa – Eu te amo e eu queria que você estivesse lá – ele confessa e isso me faz ficar ainda mais mexido.
– Eu sinto muito!
– Eu sei que sente! Eu também ... Eu não queria dizer tudo aquilo, não queria que a mamãe passasse mal por minha culpa – ele fala e volta chorar.
– Ei, não é sua culpa – eu falo mas ele nega.
– É sim! Eu sei que é! Eu não devia ter gritado com ela, não devia ter falado tudo aquilo – ele fala sinceramente e arrependido.
– Eu sei que não! – eu falo e enxugo as lagrimas dele – Vem, eu quero que você veja uma coisa – eu falo segurando a mão dele e o conduzindo, nós passamos pelos outros mas ninguém nos pergunta nada, eu sigo o corredor e ele me acompanha sem dizer nada, então alcanço o a sala com vidro onde ficam os bebês, bato no vidro e chamo a enfermeira enquanto Pyter se mantém do meu lado.
– Mellark – eu falo o sobrenome e a mulher sorri.
– Olha, vocês tem um garoto muito forte e corajoso aqui sabia? – ela fala enquanto anda entre alguns berços - Geralmente os bebês prematuros ficam em incubadoras, mas esse garotão aqui... Parece melhor que todos os outros – ela fala e para ao lado de um berço em forma de cesta, e lá está ele se mexendo e chorando, Pyter me olha meio assustado e impressionado.
– Eu queria que você fosse o primeiro a pegar ele – eu falo e ele arregala os olhos.
– Não, eu... eu não posso... eu nem sei pegar – ele fala nervoso, a mulher sorri e pega ele do berço.
– É mais fácil do que parece, tenta... – ela fala oferecendo ele pro Pyter que me olha novamente.
– Só se você quiser – eu falo mas torcendo para que ele aceite, ele olha novamente pro bebê que começa a ficar ainda mais agitado, chorando mais alto e mais forte, o que deixa ele nervoso mas então ele respira fundo, ajeita os braços e a mulher o coloca nos braços dele, mesmo nervoso e um pouco desajeitado ele sorri assim que o pega, ele se ajeita nos braços do Pyter e como um passe de mágica ele para de chorar.
– Parece que ele já tem um colo preferido – a mulher fala sorrindo simpática e Pyter sorri enquanto olha pra ele, que parece tão calmo e seguro, então ele me olha sem saber o que dizer.
– Pyter, seu irmão...Seu irmão, Pyter – eu falo e o bebê ameaça chorar, ele ri.
– Acho que ele não gostou de ter um nome como ‘’seu irmão’’ – ele fala rindo.
– É acho que não, mas ainda não temos um nome... – eu falo e ele volta a olhar pro bebê.
– Que tal... Pietro? – ele fala e me olha esperando eu dizer algo – Ela disse que ele é forte... Pietro quer dizer rocha! E bem, ele também é meio pesadinho – ele fala e nós rimos.
– Pietro... – eu avalio o nome e o bebê parece sorrir, nós rimos de novo – Acho que Pietro é uma ótima escolha! – ele ainda o segura por alguns minutos, e a cada segundo que passa ele parece mais encantado, e aquela imagem que ele tinha do bebê parece ter sido quebrada.
– Posso? – eu peço e ele sorri e me deixa pega-lo – É o papai! Eu to bem aqui... e eu te amo, muito, muito... tá? - Você sempre falava como um bobão quando pegava a gente também? – Pyter pergunta e eu sorrio.
– Um completo bobão – eu afirmo e ele sorri.
– Vou chamar a Pérola – ele fala e sai bem mais animado do que antes, quando volta Pérola se encanta com ele e quando dizemos o nome, ela parece adorar, mas a enfermeira avisa que temos que sair, mas logo poderemos ver ele de novo junto com a Katniss.
Nós voltamos a sala de espera e damos as noticias para todos que festejam e parabenizam de novo, quando a médica libera Katniss pra visita, entramos eu, Pyter, Pérola e Haymitch juntos, mesmo que não seja a rotina, ela sabe que não ia conseguir impedir que nós entrássemos, Pérola é a primeira a correr até a Katniss, ela beija, parabeniza, conta como ele é lindo e forte e segundo ela, se parece com Katniss.
– E ele já tem um nome – eu falo e Katniss me olha surpresa.
– Achei que íamos escolher juntos – ela fala mas sem estar irritada.
– Pyter escolheu – eu falo e ela para com surpresa como se não entendesse – Não foi Pyter? – eu pergunto e ele que estava afastado junto do Haymitch confirma e se aproxima.
– A enfermeira disse que ele é muito forte... – ele fala meio sem jeito – Eu acho que Pietro combina – ele fala e Katniss sorri e o chama pra se aproximar, ele vai rapidamente e eles se abraçam, posso ver Katniss chorando e desconfio que Pyter também, eles ficam vários segundos abraçados, dizendo alguma coisa um pro outro, até que a enfermeira entra trazendo Pietro para se amamentar.
– Ele tem a fome da mãe – Haymitch fala enquanto Pietro mama rapidamente, ela sorri mas faz uma careta pra ele.
Eu me aproximo dela e me sento na beirada da cama segurando sua mão, ela me olha e sorri, um sorriso que eu já não via a algum tempo, um sorriso puro, sincero, sem aquela preocupação ou fingimento pra me tranquilizar, apena um sorriso sincero e isso não tem nada no mundo que consiga substituir, eu também sorrio pra ela e aproximo meu rosto do seu.
– Eu te amo – eu declaro e ela sorri ainda mais, eu lhe beijo rapidamente.
– Obrigada – ela fala e sorri enquanto seus dedos descem pelo contorno do meu rosto.
– Obrigada? – eu pergunto e ela confirma.
– Obrigada! – ela repete sorrindo e me beija, dessa vez um beijo um pouco mais demorado.
– Ok, ok! Guardem pra quando estiverem sozinhos – Haymitch fala implicando com a gente e pra implicar com ele eu a beijo de novo.
Nós ficamos com eles por um tempo maior do que o que provavelmente é permitido e aos poucos tudo parece se encaixar, Haymitch implica com Katniss como sempre foi durante todos esses anos, Pérola continua tão animada e cuidadosa quanto foi durante toda gravidez e Pyter pela primeira vez desde que descobrimos a gravidez está sorrindo com isso, toda aquela distancia e frieza que ele colocava em relação ao bebê parece ter sido quebrada quando ele o pegou, e no lugar estabeleceu uma ligação que é impossível de não ser notada, por que basta Pyter se aproximar dele e ele se acalma e é impossível dizer o quanto isso também me acalma, eu achei que depois de hoje mais cedo tudo fosse desabar, fica pior, cheguei a pensar que tudo estava perdido mas agora, finalmente consigo respirar aliviado e completamente realizado.
A família cresceu mais uma vez e eu sei que esse é apenas o começo pra uma nova fase das nossas vidas e eu tenho a certeza que iremos passar por tudo de novo, por que olhando pra esse quarto, vendo eles, olhando todas as possibilidades que tinha pra tudo dar errado, e vendo como tudo deu certo, eu sei que nada pode nos derrubar, desde que estejamos juntos e é assim que iremos ficar. JUNTOS!


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Notas finais do capítulo

Bom, gente, como disse tá tudo muito corrido e mesmo que eu queira muito continuar, agora não posso, ainda tinha tanta coisa que eu queria fazer aqui mas infelizmente, não tô achando tempo pra me dedicar a fic, e vcs merecem atenção, é horrível ficr longe, como se faltasse um pedaço do meu dia, não escrever aqui é horrível, mas infelizmente por agora é necessário, como disse estou com um outro projeto também, de um livro, além da faculdade e de toda correria da vida, então é com o coração apertado que me despeço de vocês, vocês são lindos e maravilhosos e sempre me incentivaram a continuar, agradeço muito e talvez vcs não tenham noção do quanto me deixaram e me deixam feliz, obrigada por tudo, até a próxima!