- Recomeçando escrita por HungerGames


Capítulo 19
Capítulo 19




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/483119/chapter/19

Eu estou deitado, tento me mover mais é inútil, meus braços e pernas estão amarrados, eu levanto minha cabeça pra conseguir ver alguma coisa mas não há nada, apenas mais uma cama onde outra pessoa está na mesma situação que eu, o silêncio na sala é perturbador, nunca fica assim.
– Peeta - a voz é baixa e rouca como se ela estivesse fazendo muito esforço e realmente deve ser isso, essa madrugada foi a vez dela, eu podia ouvir seus gritos enchendo essa sala, eu viro meu rosto pra ela, mesmo com a pouca luz ainda é possível ver as marcas no seu rosto e no seu braço, sangue escorre da sua testa – A gente tem que sair daqui - ela sussurra, o que é estranho, Johanna nunca sussurra, nunca é discreta, não sei se pela fraqueza ou para que ninguém ouça, eu só sei de uma coisa, nós nunca sairemos daqui, eu solto uma risada, não há nada mais para se fazer.
– A gente não vai sair daqui! - eu afirmo com toda certeza, não adianta ter esperanças e ela devia saber disso, a Johanna que eu conheci saberia perfeitamente.
– Eles virão... - ela continua sussurrando.
A porta abre com um forte barulho, a sala vazia começa a encher, os uniformes brancos invadem a sala e se espalham, eu não tento ver para onde estão indo ou o que pretendem fazer, depois desses dias eu já aprendi a apenas esperar, eu encaro o teto e espero.
– Bom dia! E como estão nossos hóspedes? - essa voz já é familiar, Snow é um visitante frequente – Eu tive alguns contratempos, peço que perdoem minha ausência ontem mas espero que tenham aproveitado bastante - ele fala com ironia e se aproxima de mim, seus olhos encontram o meu e eu não desvio meu olhar, eu não tenho nada a perder– Sua namoradinha tem me dado muito trabalho, mas isso vai acabar logo, logo! - ele fala de maneira calma e libera um sorriso e eu não consigo me manter indiferente a nada relacionado a ela.
– Onde ela tá? - eu pergunto com os dentes cerrados tentando controlar todos os tipos de emoções que surgem quando eu penso nela.
– Você ainda se importa não é mesmo? - ele me pergunta desaprovando, eu não digo nada apenas o encaro, a verdade é que eu já não sei o que sinto quando penso nela– Levem ele - ele ordena com a voz firme, logo mãos aparecem e me soltam, eles me arrastam e por experiência eu sei que não vale a pena lutar, só vai servir pra aumentar minha hora lá, depois de passar por um corredor nós chegamos a outra sala, eu mal sou jogado dentro da sala e começam, socos e chutes são apenas as boas vindas e já não me causam tanto efeito como no começo, quando outra voz ordena eles param dessa vez eu sou preso a mesma cadeira das outras vezes, os fios são colados em mim, na minha cabeça, no meu peito, nos meus braços, isso sim consegue me assustar da mesma maneira que a primeira vez, mas novamente é inútil e impossível lutar, apenas esperar, então o aparelho é ligado, o choque é ainda mais forte do que qualquer vez que eu me lembre, meu corpo continua a tremer mesmo quando já está desligado.
– Acho que agora nós podemos conversar - Snow reaparece – Você sabe por que está aqui não sabe? - ele pergunta mas eu apenas tento manter minha respiração, o gosto de sangue invade minha boca e eu me apego a dor na esperança de apagar, e quem sabe não acordar mais. Um homem aparece ao meu lado, ele injeta algo no meu braço e minha cabeça parece rodar, ele repete o processo, eu apoio minha cabeça no encosto da cadeira e tento fazer as coisas terem sentidos, fecho meus olhos e as diferentes imagens e lembranças se misturam, eu vejo meus irmãos, minha mãe está gritando por alguma coisa que eu não entendo, vejo Delly sorrindo e principalmente vejo Katniss. Um som alto invade a sala e eu abro os olhos, uma televisão foi ligada e mais imagens saem de lá, Katniss também está em todas elas, tentando me matar jogando um ninho de teleguiadas em mim, depois ela está rindo, beijando Gale, ela tenta me jogar de cima da Cornucópia, ela está do lado do Cato, ela está com Haymitch rindo de mim, a voz de Snow segue relatando, ele fala que ela e Haymitch me deixaram pra trás e agora eu fui descartado, todas as imagens passam rápidas e outras tomam seu lugar, imagens ainda pior, onde mostram quem ela realmente é.
– Você tem que matá-la Peeta! Ou ela vai te matar - a voz do Snow é firme e depois de olhar mais uma vez a televisão fica claro o que eu tenho que fazer.
Meus olhos se abrem e eu não estou naquela sala, estou em um quarto, minha respiração está ofegante, os flashes ainda acontecem, imagens parecem passar como um filme na minha cabeça.
– Peeta? Tudo bem? - ela se inclina sobre mim, sua mão no meu peito – Você tá sentindo alguma coisa? - ela passa a mão na minha testa e eu estremeço ao toque dela, eu me sento afastando sua mão.
– Ela quer te matar Peeta! Mate-a - a voz ecoa na minha cabeça e eu tento bloquea-la com as mãos no ouvido, eu tenho que me controlar, foi um pesadelo, um flash, eu não posso me deixar levar por isso.
– O que você está sentindo? - ela pergunta quando percebe minha reação, ela passa a mão pelo meu cabelo e meu braço de forma preocupada e tranquilizadora, mas isso mão me acalma pelo contrário, eu saio da cama rapidamente, tentando sair de perto dela, o quarto está escuro e eu acabo tropeçando em algo no chão, me apoio no guarda roupa, as vozes ainda estão na minha cabeça enquanto eu tento convencer a mim mesmo que isso não é real.
– O que foi? Fala comigo! - ela pede enquanto vem até a mim, quando ela me toca de novo o instinto é mais forte do que a minha verdadeira vontade e eu a empurro, ela cai sentada no chão.
– Eu preciso sair daqui - não posso deixar isso acontecer de novo, eu não posso coloca-la em perigo outra vez, eu corro do quarto antes que seja tarde demais, eu desço as escadas rapidamente, eu não posso ficar perto dela.
– Peeta! Espera... - ouço ela me gritando enquanto ela desce as escadas– Não é real! - ela fala me observando com calma enquanto para na metade da escada me esperando.
– Não chega perto - eu peço tentando controlar as imagens na minha cabeça, algumas delas eu reconheço rapidamente, as imagens são borradas e eu sei que não são reais, mas outras ainda me confundem.
– Peeta, olha pra mim... - ela pede descendo mais um degrau – Não é real! - ela fala lentamente – Nós estamos na nossa casa, nós estamos casados - ela mostra a aliança – Isso é real - ela afirma e para na minha frente, agora as imagens são mais claras, eu a vejo sorrindo enquanto assina o papel, um homem nos declara casados, ela parece feliz, eu pareço feliz. Minha cabeça dói, uma pontada muito forte, minhas mãos seguram e apertam minha cabeça tentando de alguma maneira amenizar essa dor, eu sinto as mãos dela em mim, eu caio de joelhos, inclinado pra frente, a dor não diminui e a cada imagem que surge a dor parece aumentar enquanto eu tento manter alguma ordem nessa bagunça que minha mente se tornou, eu não sei quanto tempo se passa assim mas quando as imagens param meu corpo parece extremamente cansado como se eu tivesse acabado de sair de uma briga, o que de certa forma aconteceu, uma briga comigo mesmo mas ainda assim uma briga e meu oponente é realmente forte, dessa vez mesmo com dificuldade eu consegui vencê-lo eu só queria ter a certeza que sempre seria assim.
– Peeta? - a voz baixa e preocupada que me desperta, eu estou sentado no chão, encostado na porta, minha cabeça entre os joelhos, sinto sua mão passando pelos meus cabelos e levanto o rosto, seu olhar é preocupado e ansioso– Você tá bem? - ela pergunta me avaliando, eu estico minhas pernas, apoio minha cabeça pra trás, respiro fundo encarando o teto e respondo a verdade.
– Por enquanto ...- eu falo sem animação mas nem mesmo ela pode negar ou tentar melhorar, por que essa é a verdade, dessa vez eu estou bem, ela está bem, mas na próxima ninguém pode afirmar nada e eu odeio essa situação, onde eu mesmo sou meu maior inimigo.
– Você tem que deitar! Ainda está se recuperando - ela avisa enquanto se levanta e estica a mão pra mim, eu olho pra sua mão e por mais que talvez o melhor pra ela seja ficar longe de mim ainda assim eu não consigo abrir mão dela, por isso minha mão encontra a sua, ela me da um sorriso fraco, eu me levanto e nós subimos novamente, eu vou até o banheiro, lavo meu rosto e me encaro no espelho, minha cabeça ainda dói mas nada comparado a minutos atrás, eu saio do banheiro e Katniss está deitada, eu também me deito embora eu sei que não vou conseguir dormir, assim que eu me deito Katniss apoia sua cabeça no meu peito, o quarto continua em silêncio mas apenas pelo modo como ela respira eu sei que ela também não está dormindo, eu vejo as horas passarem até que o sono me vence. Quando eu acordo Katniss já não está na cama, eu vou até o banheiro, saio de lá e a encontro na cozinha, ela está terminando de preparar o café, nós comemos enquanto ela me avisa dos cuidados que o médico disse que eu ainda devo ter, ela fala normalmente sem tocar no assunto dessa madrugada, é como se nada tivesse acontecido e sinceramente eu não tenho cabeça pra falar sobre isso agora, por isso eu apenas ouço sua lista.
– E você só volta pra padaria na próxima semana - ela fala terminando o assunto.
– Sem chance - desde que ela começou a falar essa é a primeira coisa que eu digo, por isso não sei se o modo como ela me olha tem a ver com isso ou com o fato que eu discordei.
– Isso não está em discussão! Você só volta semana que vem - ela alerta se levantando e tirando as xícaras da mesa.
– Eu fiquei quase uma semana preso no hospital, eu não vou ficar mais uma preso em casa - eu falo também me levantando, ela para encostada na pia e me encarando.
– Isso não é brincadeira Peeta! Você tem que se cuidar - ela fala parecendo irritada.
– Eu vou me cuidar! - eu garanto – Mas eu volto pra lá amanhã! - eu completo e ela bufa de raiva e me da as costas.
– Faz o que você quiser então - ela fala realmente irritada, eu respiro fundo, me aproximo mais dela e paro ao seu lado da pia.
– Eu entendo sua preocupação e é bom saber que você se preocupa mas eu não vou ficar bem aqui sem fazer nada! - eu esclareço calmamente e ela para e se vira pra mim.
– O médico disse que você ainda precisa de cuidados - ela fala cansada.
– Eu vou ficar bem! Eu tô bem - eu garanto e ela concorda com a cabeça, eu me aproximo mais dela e a beijo, conforme o beijo avança é como se recarregasse minha energia, eu a tenho aqui comigo e mesmo sem saber como as coisas ficarão ela me basta. Ela aceita que eu volte a trabalhar no dia seguinte mas avisa que irá comigo todos os dias até julgar não ser mais necessário, por isso seguindo nossa rotina de inverno todos os dias depois do almoço nós saímos em direção a padaria, a neve continua a subir conforme os dias passam mas conseguimos chegar sem problemas, o movimento da padaria diminuiu um pouco devido ao mau tempo mas ainda assim temos clientes fieis, Haymitch voltou ao seu velho hábito e todos os dias quando chegamos da padaria passamos pela casa dele apenas para encontrar ele caído pelo sofá ou pela mesa, acordamos ele e o lembramos de comer alguma coisa, quando perguntei a ele por que ele voltou a beber, ele simplesmente deu de ombros e disse que a bebida esquenta, não adianta pedir que ele pare ou discutir o quanto isso faz mal pra ele mesmo e confesso que também não tive coragem de tirar isso dele agora quando ele passa metade do dia sozinho em casa, por isso apenas sigo o plano de acorda-lo e dar comida. Cerca de duas semanas depois que eu sai do Hospital e que o inverno continuou ganhando sua força a padaria recebeu uma encomenda de bolo e pães.
– Quem encomenda bolo no meio de um inverno como esse? - Katniss reclama assim que o cliente sai.
– Pessoas que fazem aniversário no inverno! - eu respondo enquanto me sento e anoto o pedido.
– Por que você aceitou? - ela pergunta se sentando na cadeira de frente pra mim, eu paro de anotar e a olho, o inverno tem deixado ela mau-humorada.
– Por que eu não aceitaria? - eu pergunto e volto a anotar.
– Eu odeio quando você faz isso! - ela reclama irritada, eu paro de escrever e a olho.
– O que eu fiz? - eu pergunto sem entender.
– Eu te faço uma pergunta e você me devolve com outra pergunta - ela esclarece balançando a cabeça.
– Desculpa! - eu falo tentando não piorar as coisas, ela revira os olhos, solta a respiração e se levanta.
– Eu tô te esperando na porta! Não demora! - ela avisa e sai batendo a porta, dessa vez sou eu quem solto a respiração, fecho o caderno e espero uns segundos antes de me levantar e sair escritório, ela estava ao lado de Rory na porta, eles conversavam sobre alguma coisa com a voz baixa e quando me viram Katniss parou de falar.
– Vamos? - ela pergunta enquanto puxa seu casaco que estava pendurado ao lado da porta.
– Aconteceu alguma coisa? - eu pergunto percebendo um olhar que ela e Rory trocaram.
– Nada! Vamos que ainda temos que deixar o Rory em casa - ela avisa apagando a luz e abrindo a porta, como os outros já foram apenas nós três ainda estávamos na padaria, saímos direto pra casa dele, a neve começa a cair, seguimos o caminho com as mãos dentro do casaco, a cada palavra que liberamos a fumaça também é liberada.
– Entrem! Esperem a neve parar - Hazelle nos convida assim que nos vê chegar pela janela.
– Não precisa, nós estamos com pressa! E Haymitch deve está nos esperando - Katniss fala rapidamente sem nem ao menos me olhar em busca de confirmação, ela apenas parecia querer sair logo dali.
– Nos vemos amanhã! - eu falo para Rory e então nos viramos e saímos.
– Desde quando você se preocupa com o Haymitch está nos esperando? - eu pergunto quando já estamos no caminho de casa.
– Desde quando eu estou cansada e quero chegar em casa - ela fala sem nem ao menos me olhar.
– Ok! - eu encerro o assunto enquanto seguimos o caminho em silêncio. Katniss vai direto pra casa e eu paro no Haymitch para ver como ele está, a casa está escura e estaria silenciosa se não fosse pelos roncos dele que invadem cada pedaço da sala, ele está jogado no sofá, uma garrafa caída ao seu lado, segurando sua faca sobre a barriga, eu vou até a cozinha e acendo fogo, coloco a água para esquentar e volto até ele, levo vários minutos para conseguir que ele acorde e se levante, mas nada consegue fazer ele aceitar tomar um banho.
– Você está fedendo! - eu tento uma última vez.
– Eu não me lembro de ter pedido sua opinião - ele resmunga enquanto bebe seu café.
– Tudo bem! A vida é sua! - eu desisto erguendo as mãos em sinal de perda.
– Quando sair fecha a porta - ele fala se levantando e seguindo o corredor.
Eu saio e vou direto pra casa, entro e sinto o cheiro de hortelã, vou até a cozinha.
– Hortelã? - eu pergunto mesmo já sabendo a resposta, ela enche uma xícara e me entrega, em seguida pega a dela e se senta.
– Como ele estava? - ela pergunta enquanto observa a fumaça que sobe da caneca.
– Bêbado! - eu falo sem precisar explicar muito, ela me olha como quem sabe do que eu estou falando, voltamos a tomar o chá em silêncio e isso está me perturbando – Você prefere me falar o que está acontecendo ou vai continuar esse silêncio? - eu pergunto diretamente já sem aguentar todo esse clima estranho, ela apenas encara a caneca.
– Não tem nada acontecendo! Eu só estou cansada - ela afirma sem me olhar nos olhos.
– Cansada? - eu questiono encarando-a.
– É! - ela fala de forma direta porém nada convincente.
– Ok! Quando você quiser falar eu estou no escritório - eu aviso afastando a caneca e me levantando.
– Por que no escritório? - ela pergunta me olhando pela primeira vez.
– Por que eu ainda tenho algumas coisas pra resolver... E eu não vou conseguir dormir! - eu respondo e saio da cozinha, entro no escritório, fecho a porta e me sento, eu não menti quando disse que tenho coisas pra resolver, eu realmente preciso verificar umas contas da padaria que eu trouxe pra casa ontem, mas também precisava ficar sozinho pra pensar, é claro que alguma coisa está acontecendo mas Katniss insiste em negar, não consigo lidar com isso sem que minha mente comece a supor coisas e tente me confundir, por isso nessas horas eu preciso me afastar e pensar, tentar colocar alguma ordem e manter um foco, talvez Katniss esteja assim por tudo que aconteceu nas últimas semanas, o acidente, o Hospital que eu sei que não é seu lugar preferido, teve o flash e ela também teve um pesadelo esses dias nada muito forte como os outros mas ainda assim a abalou, é isso, só pode ser isso que a deixou desse jeito, eu tento me convencer mas alguma coisa dentro de mim não acredita nisso, eu termino o que tinha de fazer, já passa da meia noite mas eu ainda continuo sentado, o livro que nós terminamos está na primeira gaveta, eu o abro e começo a folhea-lo, a cada página uma lembrança prevalece, tantas pessoas que passaram por nossas vidas e infelizmente já se foram, pessoas que fizeram parte dessa história e hoje já não podem mais viver o futuro para o qual lutaram, acabo de passar pra foto do Finnick quando a porta se abre lentamente, eu levanto meu rosto e a vejo parando na porta.
– Você não vai dormir? - ela pergunta com a voz baixa.
– Vou! - eu confirmo com a cabeça – Só me distrai - eu completo e ela percebe o livro na minha mão, ela se aproxima, vem até a minha frente, se apoia na mesa e olha o desenho.
– Nós ainda não temos a foto do filho dele! - ela lembra já que nós não o conhecemos ainda, só soubemos notícias dele por Haymitch, ela me lança um olhar triste, eu fecho o livro antes que isso traga outras lembranças ruins a ela, eu coloco o livro na gaveta, fecho e continuo sentado olhando pra ela que parece pensar em alguma coisa.
– Desculpa - ela fala olhando pra janela bem atrás de mim, eu fico em silêncio apenas a observando, depois de alguns segundos ela me olha como se estivesse esperando minha resposta, eu respiro fundo.
– Vamos! Já está tarde! - eu falo e me levanto, eu sei que repeti pra mim mesmo que ela só está sobrecarregada com tudo que aconteceu mas eu não consigo evitar o fato que ela prefere esconder as coisas de mim.
– Você não disse se me desculpa! - ela fala enquanto eu estou parado esperando por ela.
– Eu não quero e não preciso das suas desculpas! - eu falo firme e ela me olha surpresa – Eu só queria que você confiasse em mim...Pelo menos uma vez! - eu completo e pela sua cara não era isso que ela esperava escutar.
– Mas eu confio em você! - ela afirma se aproximando de mim, eu nego com a cabeça.
– Você não estava cansada? - eu devolvo a desculpa que ela me deu por estar agindo daquela maneira, ela me olha sem saber o que dizer, mas antes que ela invente outra desculpa eu me afasto e saio do escritório, subo as escadas e vou direto pro banheiro, entro mo chuveiro e deixo que a água caía na minha cabeça na esperança de refresca-la por dentro, eu perco a noção do tempo e acabo demorando demais, quando saio do box eu percebo que entrei tão distraído que esqueci de pegar uma roupa limpa, eu visto o roupão e saio do banheiro, Katniss está sentada na cama, apenas a luz do pequeno abajur está acesa, eu vou até a gaveta e pego uma calça de moletom e a coloco, tiro o roupão e o coloco pendurado de novo, pego uma camisa e a visto, vou pra cama.
– Você se importa se apagar a luz? - eu peço com a voz mais neutra que eu consigo.
– Para! - ela pede com certa urgência na voz, eu a olho – Não faz isso - ela pede novamente se virando pra mim.
– Eu não estou fazendo nada - eu afirmo mesmo sabendo que não é verdade, eu estou fazendo algo, estou querendo a verdade, nossos olhares se encontram.
– Você é a única pessoa em quem eu confio! - ela afirma e eu continuo olhando pra ela, posso ver a sinceridade no seu olhar mas eu também vejo uma preocupação por trás.
– Então não me esconde nada! Eu sou seu marido! Se você tiver algum problema fala comigo, eu só quero te ajudar - eu peço sabendo o quanto ela pode ser independente, sempre querendo resolver tudo sozinha, então seu corpo se aproxima do meu e é ela quem me beija primeiro, não importa que tipo de discussão tenhamos, sempre que seus lábios se encostarem no meu não haverá a menor chance de que eu vá rejeita-los, por isso eu correspondo ao beijo afastando qualquer outro pensamento que não seja seus lábios e seu corpo.
Acordamos um pouco mais tarde do que de costume mas como só irei a padaria a tarde não é um problema, descemos e eu já estava fazendo o café quando Haymitch apareceu reclamando que eu deixei a sua janela aberta ontem e mesmo eu afirmando que tudo estava fechado quando eu sai ele já tem sua decisão e nela eu sou culpado, ele passa a manhã inteira reclamando disso e dizendo que a possível pneumonia que ele pegar será culpa minha, talvez toda essa reclamação dele tenha sido o motivo que fez Katniss querer ir pra padaria, ela tinha dito que não iria e até tinha reprovado eu aceitar a encomenda, mas assim que eu subi pra me arrumar ela também se arrumou, nós saímos depois do almoço e o deixamos na casa dele, chegamos a padaria em poucos minutos, entramos e eu logo ligo o aquecedor já que o lugar está realmente gelado, vou pra cozinha e logo Benny, Philip e Rory chegam, eles começam a trabalhar nos pães enquanto eu me concentro no bolo, as horas parecem voar e ainda não finalizei o bolo.
– Vocês sabiam que está chegando uma tempestade! - a voz anuncia enquanto entra pela cozinha, Grace se aproxima e pega um dos pães.
– Você não devia tá trabalhando? - Benny é o primeiro a perguntar.
– Não quando se tem neve para todo lado! - ela fala sem se abalar.
– Então você vai ficar sem trabalho por um bom tempo - Katniss fala sem muita simpatia, eu a olho e sei que ela não ficou muito feliz com essa aparição da Grace.
– Talvez eu possa ajudar por aqui – ela fala, o que só piora a situação.
– Resolve com o Benny, ele é o responsável pela divisão de tarefa - eu brinco tentando não deixar Katniss mais irritada, ela me olha de uma forma satisfeita com a resposta, ela se aproxima de mim enquanto Grace vai até os garotos, eu volto a atenção para o bolo e o termino poucos minutos depois que eles retiram a última fornada, o sino da porta avisa da chegada de alguém, Katniss vai até lá avisar que a padaria está fechada, mas ela volta na companhia de Delly que voltou para o Distrito logo depois que eu sai do hospital.
– Eu disse que era uma péssima ideia aceitar a encomenda - Katniss fala assim que entra na cozinha.
– O que aconteceu ? - eu pergunto confuso.
– Está uma tempestade la fora, mal se enxerga a rua - Ela explica e Delly confirma.
– Eu estava indo pra casa mas fiquei com medo por isso parei aqui na esperança de ter alguém aqui - ela conta e todos se olham e em seguida olhamos pela janela, a neblina já tomou conta de tudo, apenas o branco pode ser visto.
– Como que a gente vai embora? - Rory pergunta quando olha o tempo.
– Sem chance garotão, estamos presos aqui - Grace fala rindo.
– Maravilha! - Katniss fala com ironia se afastando de nós.
– Rory melhor ligar pra sua mãe enquanto ainda temos telefone - eu aviso e ele vai até o escritório.
– Então nós estamos presos aqui até a tempestade passar? Legal - Rory fala rindo quando volta do escritório, todos riem exceto Katniss, nós vamos para a parte da frente da padaria e nos espalhamos sentando no chão ou nas cadeiras.
– Então Delly como vão as aulas na escola? - eu pergunto puxando assunto.
– Bem...Quando tem aula! - ela completa já que as aulas dependem de como está o tempo ainda mais num inverno como esse.
– Vocês estudaram todos juntos? - Grace pergunta curiosa.
– Eu, Peeta, Katniss e Philip sim! - Delly responde sorrindo.
– Legal! Aposto que o bonitão ali tinha atenção de todo mundo né?! - Grace brinca me olhando e depois piscando.
– Isso por que você não viu o sucesso que eu fazia - Benny fala rindo, então Katniss se levanta e sai indo pro escritório, a porta bate assim que ela entra e por uns segundos apenas silêncio e olhares são trocados, eu penso em ir atrás dela mas resolvo esperar ela se acalmar e continuo sentado.
– E você Roy faz muito sucesso? - Grace corta o clima rindo e deixando o garoto sem graça.
– Não, não - ele nega ficando vermelho, todos riem.
– Conta verdade Rory! - Benny implica com ele.
– Você já tá namorando? - Grace insiste e ele apenas nega com a cabeça.
– Você deveria ir até lá - Delly sussurra quando se senta do meu lado, eu olho para os outros e eles estão sentados na nossa frente implicando uns com os outros e rindo, por um momento eu queria poder simplesmente me juntar a eles e rir, falar besteira e esquecer qualquer problema, como um "garoto normal" faria, exatamente como Haymitch me disse uma vez, mas ao invés disso eu não consigo discordar da Delly, eu deveria ir até lá.
– Você sabe que esse é o certo - ela fala como se lesse meus pensamentos– Ela só está com ciúmes - ela completa e me empurra com seu corpo pra que eu me levante.
– Não é ciúmes! Ela sabe que não precisa disso! - eu falo ainda sentado.
– Saber é uma coisa, não sentir é outra - ela insiste me olhando – Anda vai atrás dela! - ela fala com mais firmeza na voz, dessa vez eu me levanto, ela sorri e sussurra um " Boa sorte " eu vou até o escritório, abro a porta devagar e a encontro em pé olhando pela pequena janela que tem no canto da sala.
– Posso entrar? - eu pergunto parado na entrada.
– A sala é sua - ela fala dando de ombros mas sem desviar o olhar da janela, eu entro e fecho a porta novamente.
– Por que você tá aqui sozinha? - eu pergunto parando ao lado dela.
– Eu gosto de ficar sozinha - ela fala ainda me ignorando.
– É, eu sei - eu confirmo também olhando pra fora, dessa vez eu sinto seu olhar em mim e me viro pra olhar pra ela.
– Devem está sentindo sua falta lá fora - ela fala com ironia e se afasta da janela.
– Chega, eu não aguento mais isso - eu falo e vou até ela – Me desculpa! Se eu falei ou fiz alguma coisa, me desculpa! Eu só não aguento mais ficar assim com você - eu falo e meus dedos passam pelo seu rosto – Eu te amo! Eu odeio brigar com você ou te sentir distante de mim! - eu completo e encosto minha testa na sua, minha mão na sua cintura e nossos olhares se encontram – Eu te amo! - eu repito e dessa vez ela sorri, eu junto nossas bocas e a quando o beijo acontece nossos corpos se juntam, seus dedos se entrelaçam no meu cabelo e eu a grudo ainda mais em mim, eu a encosto na porta enquanto o beijo aumenta, só para quando estamos sem ar, mas dessa vez um sorriso aparece no rosto dos dois.
– Melhor assim - eu falo sorrindo e ela concorda, nós saímos do escritório e nos juntamos com os outros que estão rindo de alguma coisa, Benny como sempre é o mais animado sempre pegando no pé do Rory, a tempestade dura a noite inteira e nós ficamos presos na padaria, os pães da encomenda foram nosso jantar, nós nos espalhamos pelo chão da padaria, Katniss encosta seu corpo no meu, meus braços a envolvem, ela me cutuca e me aponta discretamente as duas figuras a nossa frente, Delly e Philip estão lado a lado conversando baixo e rindo, eu sorrio vendo eles assim, conforme a noite vai passando as conversas vão diminuindo, o cansaço e o sono começam a chegar e aos poucos o silencio vai tomando conta do lugar, acordamos assim que o sol nasce, nós nos levantamos e há uma pequena discussão pelo banheiro entre Grace e Benny, a tempestade passou e embora a neve ainda esteja alta demais, todos concordam em ir embora, nós levamos Rory pra casa e seguimos nosso caminho, chegamos em casa e Katniss sobe e se joga na cama.
– Na próxima vez a gente enfrenta a tempestade – ela murmura enquanto puxa o cobertor e se cobre – Minhas costas estão me matando – ela completa com a voz baixa, eu sorrio subo na cama e começo a massagear seus ombros, ela relaxa e solta o ar satisfeita, depois de alguns minutos eu percebo que ela pegou no sono, eu me levanto vou até o banheiro, tomo um banho, saio e mesmo sem sono me deito ao seu lado observando ela dormir, é incrível como ela consegue parecer tão forte e firme mas ao mesmo tempo agora quando eu já a conheço melhor sei que ela vai muito além disso, não importa quantas vezes eu a olhe assim eu sempre vou sentir a mesma coisa, ela é a mulher da minha vida e mesmo com seu mau humor ou seu jeito mais duro essa sempre será a minha realidade.
As semanas foram passando e o humor da Katniss foi piorando, cada dia ela parecia ainda mais irritada e inquieta, a noite ela começou a demorar mais no banho o que é estranho já que o frio tem deixado até a água morna mais fria, eu já perguntei o que aconteceu mas ela simplesmente diz que não aconteceu nada, mas depois de um dia que eu cheguei da padaria e a vi sentada na beirada da janela olhando na direção da floresta eu entendi o que está acontecendo.
– Você sente muita falta não é? - eu pergunto quando paro ao lado dela na janela, ela se assusta com a minha presença o que só mostra o quanto ela estava distraída, mesmo assim ela sabe exatamente do que eu estava falando e confirma com a cabeça voltando a olhar para o lado de fora.
– Eu não aguento ficar aqui o dia inteiro - ela fala desanimada.
– Você pode ir pra padaria comigo - eu sugiro mesmo sabendo que não é disso que ela precisa, ela me olha sem se animar o que só confirma o que eu pensei, eu passo a mão pelos cabelos dela sem saber o que poderia alegra-la.
– Eu vou ficar bem! - ela garante forçando um sorriso e se afastando da janela – Eu fiz o jantar - ela avisa indo pra cozinha.
– Eu vou tomar banho e já desço - eu aviso e subo correndo, tomo um banho rápido e desço, nós jantamos sentados no chão de frente pra lareira.
– Muito bom - eu afirmo depois de terminar meu prato, ela fez um caldo e realmente está muito bom o que é uma surpresa já que sua relação com a cozinha não é tão boa assim.
– Pelo menos ficar em casa tá me ajudando em alguma coisa - ela fala também terminando sua tigela, eu sorrio e ela me devolve um sorriso forçado.
– Eu não gosto de te ver assim - eu falo me aproximando dela e passando minha mão pelo seu rosto, ela apenas me olha sem dizer nada, eu aproximo meu rosto do seu e beijo sua testa – Eu te amo! - eu afirmo deixando nossos olhares se bloqueando, então eu junto nossas bocas, ela aceita o beijo e corresponde enquanto sua mão encaixa na minha nuca, o beijo avança e eu me inclino sobre ela, nossos corpos se juntam e já não preciso mais do calor da lareira pra me esquentar por que meu corpo já tem calor suficiente, suas mãos sobem a minha camisa e a tiram, suas mãos tocam minha pele e eu também retiro sua blusa, quando nossas peles se encostam ela já não é a mais a mesma figura angustiada de antes, a maneira como ela me toca e como corresponde ao meu toque mostram que ela deseja tanto isso quanto eu, não sou só eu quem necessito dela.
O inverno finalmente chegou ao fim e em um dia quando eu acordo a cama está vazia, eu me levanto olho pela janela e o céu já não está naquele nublado e escuro como costumava ficar, a neve finalmente derreteu e os sinais da primavera já começam a aparecer em uma brisa que não é mais aquela ventania fria de alguns dias atrás, percebo o silêncio na casa e vou até o banheiro, saio de lá e encontro o recado na minha gaveta de camisas.
"Não consegui te esperar acordar!" o papel cortado de maneira apressada estava logo por cima da minha blusa e não precisa de mais explicações, Katniss esperou cada dia pro fim desse inverno, nos últimos dias ela parecia fixa na neve que derretia como se a qualquer segundo tudo fosse simplesmente desaparecer, eu realmente já esperava que assim que possível ela voltaria pra lá correndo, confesso que estou feliz e aliviado, ela estava angustiada sem poder sair, nem mesmo a distribuição pelo Distrito conseguia anima-la, agora finalmente aquela Katniss de antes vai voltar e eu estou ansioso pra tê-la de novo, eu me arrumo passo no Haymitch deixo pão pra ele e saio sem muita demora, pelo visto não era apenas Katniss que esperava o fim do inverno, pelo caminho as pessoas seguem sorrindo, animadas, crianças também estão sorridentes enquanto seguem para escola, já tinha me esquecido como eram essas manhãs, chego na padaria e Benny está chegando também, nós entramos e logo Philip chega, começamos a preparar as coisas e logo a padaria já tem seu movimento de antes; acostumados com a rotina do inverno acabamos fazendo menos pães o que nos obriga a correr para aumentar nosso estoque, por causa disso a manhã parece muito maior, quando chega a hora do almoço, eu fico pela padaria, sei que Katniss não irá pra casa agora então não me preocupo, quando os garotos chegam eu já estou com os pães no forno, Rory chega depois deles e assume seu posto junto com Benny, novamente o movimento está grande e Rory precisa nos ajudar na cozinha, talvez seja por causa da diminuição que teve no inverno mas hoje o dia pareceu bem maior e a padaria muito mais movimentada do que eu me lembrava, já estávamos quase no fim da tarde quando Katniss apareceu, apenas vendo ela de longe eu já percebi a melhora em seu humor, ela está sorrindo grandemente como ela não fazia a alguns dias, ela parece mais leve apenas pelo andar.
– A floresta te fez bem - eu falo sorrindo enquanto ela se aproxima, eu a beijo rapidamente.
– Eu precisava disso! - ela afirma sorrindo animada.
– Eu amo te ver assim - eu falo e a beijo de novo.
– E aí como foi o dia hoje? - ela pergunta enquanto entramos na cozinha, ela pega um doce que estava sobre a mesa.
– Fala patroa! - Benny aparece animado.
– Eu não sou sua patroa Benny! - ela avisa rindo e voltando a morder doce.
– Hierarquia! - ele fala rindo e sai levando o lixo pra fora.
– Eu só tenho que pegar uns papéis e nós podemos ir - eu aviso, a beijo rapidamente de novo o que faz ela rir e eu adoro isso, ver ela tão bem de novo. Eu entro no escritório junto os papéis que preciso revisar e logo saio, não tem ninguém na cozinha por isso vou logo para o salão, Philip termina de arrumar a coisas, Benny fecha o caixa e eu vejo Katniss e Rory conversando disfarçadamente em um canto, ele entrega algo a ela que guarda na bolsa de caça, já estava me aproximando deles quando Delly entra.
– Oi! - ela fala sorrindo como sempre – Já estão saindo? - ela pergunta enquanto para na porta.
– Já! - eu confirmo e percebo a troca de olhar entre ela e Philip, eu sorrio por que conheço esse olhar - E o Philip já está dispensado também - eu falo sorrindo e ela fica vermelha.
– É que estava passando e... - ela começa a tentar se explicar e Benny ri cutucando Philip.
– Aê Philip! - ele fala deixando os dois vermelhos.
– Chega Benny, você vai matar os dois assim - Katniss pede percebendo a cara deles – Anda saíam daqui antes que ele comece de novo - ela fala rindo e Philip sai junto com ela.
– Juízo - eu falo no ouvido da Delly quando ela passa por mim, ela ri e eles seguem o caminho para a praça, eu fecho a padaria e eu e Katniss seguimos nosso caminho pra casa de mãos dadas.
– Eu já tinha esquecido como é bom andar sem neve pra todo lado - eu falo e ela sorri concordando mas parece que estava pensando em outra em coisa.
– Eu to morrendo de fome! - ela fala quando percebe meu olhar nela, eu sorrio, nós chegamos em casa e subimos as escadas direto pro quarto, ela tira a bolsa largando por cima da cama, tira a jaqueta e a blusa também, então entra no banheiro, eu ouço o barulho da água do chuveiro e também tiro minha blusa e minha calça e entro no banheiro.
– Pode esperar! Eu já vou sair - ela avisa quando me vê entrando no banheiro mas seu sorriso aparece.
– Pode continuar! Eu não me importo - eu falo já entrando no box e indo pra debaixo do chuveiro.
– Eu me importo - ela reclama mas ainda posso ver um sorriso no seu rosto, eu puxo ela pela cintura e nossos corpos se encostam, eu abro um sorriso e então nossas bocas se juntam e o beijo acontece intenso e faminto.
Quando saímos do banho eu desço pra preparar alguma coisa e ela termina de se vestir, eu faço sanduíches rápidos e já estava terminando quando ela aparece na cozinha.
– A Grace e o Benny estão namorando? - ela pergunta entrando pela cozinha, eu olho pra ela curioso em saber como que eles apareceram na cabeça dela agora.
– Não sei se estão namorando mas tá rolando alguma coisa - eu falo o que sei – Mas por que? - eu pergunto e ela da de ombros, eu sei que não é por nada.
– Curiosidade - ela fala pegando os copos e colocando os sucos.
– A Delly e o Philip parecem também está se acertando - eu falo me lembrando do jeito deles hoje.
– Algum problema nisso? - ela pergunta me observando, eu olho pra ela sorrindo.
– Por que haveria? - eu devolvo a pergunta.
– Você fez de novo! - ela fala apontando pra mim.
– O que? - eu paro confuso.
– Me devolveu outra pergunta! - ela explica me encarando, eu rio e a beijo, nós vamos pra sala e nos sentamos, começamos a comer e Haymitch aparece.
– Em cima da mesa - eu aviso assim que ele entra, eu sabia que ele viria, ele é como um dos gansos dele, é só ficar com fome que ele aparece, ele volta pra sala trazendo o sanduíche, se senta e come, nós ficamos por um tempo jogando conversa fora até que ele se despede e vai embora, nós subimos e vamos para cama, Katniss se aconchega em mim e meus braços a envolvem, sua perna se encaixa entre a minha e quando ela levanta o rosto pra me desejar boa noite o beijo é inevitável, assim como é inevitável que ele avance por que eu sempre terei fome dela.
Quando eu acordo ela ainda está dormindo, eu saio da cama e vou pro banheiro já saio de lá arrumado, abro a porta do banheiro e Katniss está acordando.
– Bom dia - eu falo me aproximo e lhe beijo rapidamente – Eu tenho que ir! - eu aviso enquanto ela se espreguiça.
– Já? - ela se surpreende.
– Preciso fazer uns pedidos pra padaria e tenho que adiantar as coisas, não sei se almoço em casa - eu explico e ela concorda.
Eu saio deixando ela ainda deitada, chego na padaria já trabalhando e adiantando as coisas, eles chegam e continuamos o trabalho, na hora do almoço eu ligo para os fornecedores e faço os pedidos, revejo algumas contas e separo o dinheiro para pagar os garotos, eles voltam do almoço e nós voltamos ao trabalho, Rory também já está na padaria e parece mais animado que os outros dias, o movimento é bom e mal temos tempo pra parar, o telefone toca e eu vou atender, era um dos fornecedores confirmando o pedido quando volto Rory está falando sobre o relógio de pulso que ele está usando.
– Meu irmão que trouxe pra mim! - ele fala orgulhoso e a frase me faz parar no caminho, não por que foi seu irmão mas pelo modo como ele disse.
– Trouxe? - eu pergunto tentando confirmar o que eu escutei, ele se vira e me olha surpreso – Seu irmão "trouxe" pra você? - eu reforço a pergunta.
– Foi! Ele me deu ontem! - ele fala sem saber se é uma boa ideia.
– Ele tá aqui no Doze? - eu pergunto começando a ligar os fatos, ele confirma com a cabeça– Ele veio de surpresa? - eu pergunto tentando entender.
– Não!Ele vinha no inverno mas as tempestades estavam muito forte, então ela teve que esperar o inverno acabar... - eu mal espero ele terminar de falar e saio da cozinha, minha cabeça parece girar, eu saio da padaria e paro na rua, as coisas começam a surgir.
– Não pode ser - eu peço em voz alta mas minha mente continua sua ligação dos fatos. Katniss passou metade do inverno inquieta e angustiada. Todas as vezes que nós levávamos Rory pra casa ela quase corria de lá. Eu a vi conversando com Rory por duas vezes e nas duas ela tentou disfarçar. Isso tudo não pode ser coincidência. Ela sabia da volta dele e me escondeu isso. Agora a pergunta é: "Por que ela me escondeu isso?".
Eu passo as mãos pelo cabelo e me lembro que ela disse que talvez iria na floresta a tarde, então é pra lá que eu vou, eu sigo o caminho e mesmo nunca tendo entrado aqui sozinho eu passo a cerca e tento me lembrar do caminho, eu tento não me atrapalhar muito, sigo o caminho que me lembro e então eu ouço a voz da Katniss, eu paro quando ouço outra voz lhe respondendo, eu me aproximo um pouco mais e a visão me faz parar novamente. Katniss e Gale estão abraçados. Eu sinto como se alguém tivesse puxado meu tapete, é como ver minha vida sendo bagunçada de novo. Talvez esse tenha sido o verdadeiro motivo dela ter ficado tão feliz com o fim do inverno, ela sabia que ele viria, eu olho mais uma vez pra eles e aqui nesse lugar eu tenho novamente a nítida sensação de estar sobrando, eu me viro pra fazer meu caminho de volta.
– Peeta?! - posso ouvir o tom surpreso na sua voz, eu continuo de costas tentando segurar o sentimento e as lágrimas que insistem em descer, eu junto todas as minhas forças pra conseguir me virar e olhar pra eles dois de novo e quando eu consigo não sei o que dizer apenas me sinto enganado e perdido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Geente, desculpa a demora mas eu estava de cama numa gripe horrorosa, então Perdoem-me'
Espero que gostem do capítulo... Beijos até o próximo