POV Anna

Não sei se era a falta de comida, se era o frio do ar-condicionado, se eram vermes dançando no meu estômago... Mas quando Luiz se aproximou de mim, pra me beijar, pela segunda vez, minha barriga embrulhou como se eu estivesse prestes a saltar de um helicóptero. Aquele garoto era o meu amigo e apenas amigo até alguns dias, eu nunca havia pensado (muito) em beijá-lo, e ali estávamos nós. Eu recém-comido um sanduíche de atum; ele, um caldo verde com ingredientes questionáveis. A mão dele, gelada, no meu rosto. Meus olhos automaticamente fechados. E os lábios dele levemente encostando nos meus. Tão leves. Tão macios. Do meu Luiz...

Quer dizer. Do Luiz. Os lábios do Luiz.

Meu?

Em três segundos tinha acabado. Abri os olhos, sentindo algo que... Não sei. Desapontada, talvez.

Com certeza, desapontada. Até me lembrar.

Flashback

— Anna, por favor. Ele vai te escutar. - a voz trêmula sussurrava ao telefone. - Diz pra ele que isso é um erro, por favor. Que nós temos que ficar juntos. 

Karen estava chorosa no telefone, e me pedindo algo que há duas ou quem sabe três semanas eu faria. Prontamente. Mas, agora... Era diferente. Ele não deveria ficar com ela.

Flashback off

— "Deveria ficar comigo!" - meu pensamento escapou. E eu o ouvi sozinha, com meus neurônios, meio surpresa, meio incrédula. Então, era isso? Eu não podia mais vê-lo como Luiz, meu melhor amigo que por acaso tinha um corpinho delicioso porém meu amigo. Mas Luiz, o cara que me beijou e eu senti todo o meu corpo tremer, minhas mãos suarem e... Ele é o meu melhor amigo. Não existe ninguém melhor no mundo do que ele. 

Fiquei perdida pensando nessas coisas, até focar naquele rostinho branco me olhando com preocupação. 

Eu definitivamente precisava pensar mais em tudo isso, e o rosto mais lindo desse mundo bem na minha frente estava me dando muito trabalho. 

— Humm... Luiz? Pode chamar a Mari?

Ele me olhou surpreso. Por alguns segundos. Assentiu com a cabeça e saiu.

Meus olhos o acompanharam até a porta. "Até mais, amor da minha vida", minha cabecinha delirou.

Bem, a comida eu resolvi. Precisava de um calmante.

POV Mariana

A conversa na recepção estava ótima. Entre Robert e Kauã. Eu parecia mais a vela. Eu esperava perto do balcão da recepcionista alguma novidade, quando Luiz apareceu com uma cara de poucos amigos. 

— Mari. Você.

Ergui a cabeça, a sobrancelha e fui até ele. Luiz se sentou ao lado de Kauã, mudo e calado. Robert observou um a um, levantou-se e pediu licença dos meninos. Em seguida fez um sinal com a cabeça para que eu o seguisse.

— Como está sua amiga?

— Ela já tá bem... Foi só hipoglicemia. Ela não comeu direito esses dias.

— Que bom que não é nada grave. Eu sinto que devo deixar vocês a vontade pra esperá-la sair. Ou você prefere que eu fique? Posso te deixar em casa.

— Não. Tudo bem, pode ir. Eu volto com os meninos. Acho que vou pra casa da Anna.

— Certo. Então, eu vou indo. Depois remarcamos pra comprar sua câmera.

— Tá bem. Obrigada por vir até aqui.

— Não precisa me agradecer. Qualquer coisa me chama.

— Tá... Humm, obrigada de novo.

Robert respondeu com um sorriso e um toque com o polegar no meu nariz. Acenou para os meninos e foi embora.

E eu senti meu leve crush voltando nas minhas veias.