Glimmer

Ainda não acredito no que aquele... aquele garoto disse. Ok, eu queria mesmo dormir com ele, mas não do jeito que ele deve imaginar. Eu não tinha culpa se ele era gostoso. Mas o que realmente me irritava foi aquela morta da Clove ter escutado tudo.

Quer saber? Esqueça aquela merda de Cato! Tenho muito mais garotos interessados em mim.

Na hora do almoço, encontro-me com Alison. Ela não havia pegado nada para comer como sempre, Effie ao seu lado só beliscava um pouco de uma barra de cereal. Eu era a única que realmente tinha pegado algo para comer.

–Você falou com Cato, Glim? –pergunta Alison com o celular colado no rosto.

–Ele é um bobo. –reviro os olhos. –Me chamou de vadia na cara dura.

Não comento que Clove havia escutado tudo, minha cabeça já estava doendo, não queria fazer as duas me encherem de perguntas.

–Mas ele é gostoso. –diz Effie. –Se não estiver interessada eu posso ficar com ele?

–Não me importo com ele! –dou uma enorme garfada nas batatas fritas. –Aposto que ele não passa de um galinha que se acha demais.

–Sem ofensas, mas acabou de descrever seu ultimo namorado. –fala Effie, e eu dou mais uma grafada no prato, nervosa.

–Cala a merda dessa boca!

–Glim, ainda quer aquele vestido emprestado para a festa de sexta? –pergunta Ali, abaixando o celular e me encarando com seus olhos verdes.

–Quero, por quê?

–O vestido já vai ficar apertado em você. Se continuar comendo desse jeito ele não vai passar nem pelas suas pernas.

Largo o garfo e olho para ela. Não sabia o que dizer, mas de repente sinto como se todas as roupas que eu estava usando estivessem ficando apertadas de mais.

–Tem razão. –suspiro. –Eu dou um jeito nisso.

...

Entro no banheiro e graças a Deus ele estava vazio, por causa do sinal que havia acabado de bater. Entro em uma das cabines e tranco a porta. Coloco o dedo em minha garganta e deixo tudo o que eu comi voltar.

Ignoro o gosto ruim na minha boca, assim como eu sempre faço.

Magicamente me sinto normal de novo. As roupas não pareciam mais apertadas. Tudo estava bem de novo.

Respiro fundo e ajeito minha roupa antes de abrir a porta. O banheiro continuava vazio, e eu estava perfeitamente atrasada.

Quando entro na sala de Historia, a professora me olha com cara feia, eu digo apenas que tive um imprevisto e entro desfilando. Vejo Cato no fundo da sala e desvio o olhar sentando-me ao lado de Ali.

–Onde estava? –pergunta sussurrando.

–Em lugar nenhum. –dou de ombros. –Quando vou poder experimentar o vestido?

Ali apenas sorri.

...

–Ficou incrível! –exclama Effie batendo palmas. –Viu Ali? Entrou direitinho, Glimmer não esta gorda.

Ali sorri pra mim, e algo no sorri faz com que eu desvie o olhar.

–É eu até podia estar errada. Mas não me invente de comer muito, Glimmer. –ela coloca a mão na cintura. –Queremos que ele continue servindo, não é?

–Não se preocupe, Alison, eu sei como cuidar do meu corpo. –digo a alfinetando.

–Eu sei que sabe. –ela se senta em na poltrona vermelha de coura. Ficava perto de minha cama, aonde Effie estava sentada.

Continuo a encarar o vestido no espelho, querendo esfregar na cara de Ali que o vestido ficava sim bom em mim.

–Sabe. –Ali começa a falar. –Um dia desses li uma matéria sobre bulimia na internet. –sinto meu estomago pular e posso ver os olhos de Ali com um brilho cruel que apenas eu poderia perceber, já que Effie é muito burra e inocente para notar também. –É tão triste ver que garotas que não conseguem manter o corpo perfeito de maneira saudável chegam a extremos.

–Eu tinha uma prima que tinha bulimia. –conta Effie. –Era nojento!

Ali ri.

–Qual é? Por que não vão comer direito, ou sei lá, se tocar que nunca vão ser perfeitas. –eu queria simplesmente virar um grão de poeira e desaparecer daquele quarto. –O que você acha, Glim? Horrível, né?

–Ah... claro. É muito triste.

Mas tarde, quando elas finalmente vão embora eu amaldiçoo Ali.

Como ela sabia que eu tinha bulimia? Como?

Me enrolo em minha cama com a cabeça enfiada no travesseiro. Sentia como se o mundo inteiro fosse explodir. E se mais alguém soubesse? E se Ali contasse a Effie, e Effie abrisse a aquela boca enorme? Que droga! Desde quando esse mundo tinha se tornado o inferno?

Lembro-me da época em que eu era pequena e comia um bolo de chocolate sem culpa ou medo de não entrar em vestido qualquer. Ou quando eu não tinha uma amiga que me lembrava o tempo inteiro de como eu iria ficar gorda se continuasse a comer. Também lembro da época que eu não passava tanto tempo pensando em garotos.

Escuto alguém batendo na porta do quarto.

–Glim, amor, desce o jantar já esta pronto. –avisa minha mãe.

Penso por um momento, se eu não comece, eu não iria engordar, e se eu não engordar não preciso vomitar depois de comer tudo.

–Obrigada mãe! –respondo. –Mas eu não estou com fome!

E com essas palavras e o resto de meus pensamentos, percebo que minha infância estava oficialmente ficando cada vez mais para trás.