Memórias de Draco Malfoy escrita por Shanda Cavich


Capítulo 3
Capítulo 2 - Sonserina




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A grande estação King’s Cross, depois da passagem 9 ¾, estava cheia de bruxos e bruxas que eu conhecia. Mamãe me deixou com um beijo nos lábios e um abraço apertado. Suas mãos sempre geladas pousaram em minhas bochechas como despedida, e logo me pus a caminhar entre meus dois únicos amigos em direção ao trem. Nos corredores, pude ouvir sussurros a respeito do famoso Harry Potter, e mal podia esperar para me encontrar com ele. Perto das últimas cabines, Crabbe puxou um garoto esquisito, Neville, que estava meio choroso por não conseguir encontrar seu sapo idiota:

“Harry Potter está nesta cabine?” – perguntei, enquanto Crabbe segurava seu colarinho.

“Es-está.” – ele respondeu, e assim que foi solto, saiu correndo.

Abri a porta que Neville indicou e me deparei com o garoto que havia estado comigo na loja de uniformes. Ao seu lado estava um garoto ruivo, que pelas expressões vazias e vestes maltrapilhas, só podia ser um Weasley.

“É verdade?” – perguntei, procurando sua cicatriz. – Estão dizendo no trem que Harry Potter está nesta cabine. Então é você?


“Sou.” – respondeu Harry, com aquele olhar verde indicando alguma antipatia.

“Ah, este é Crabbe e este outro, Goyle – apresentei meus amigos a ele, com a melhor das intenções. – “E meu nome é Draco Malfoy.”

O garoto ruivo tossiu de leve, mas percebi que aquilo era um disfarce de risada. Olhei para ele, não com raiva, mas sim com algo semelhante a pena.

“Acha o meu nome engraçado, é? Nem preciso perguntar quem você é. Meu pai me contou que na família Weasley todos têm cabelos ruivos e sardas e mais filhos do que podem sustentar.”

Ronald Weasley ficou vermelho. Mas meu interesse ali não era com ele. Voltei-me para Harry:

“Você não vai demorar a descobrir que algumas famílias de bruxos são bem melhores do que outras. Você não vai querer fazer amizade com as ruins. E eu posso ajudá-lo nisso.”

Então fiz umas das coisas mais humilhantes de que consigo me recordar. Estendi a mão a ele, com sincera admiração. Esperei alguns instantes, e nada de ele segurar a minha. O que eu tinha feito de errado? Será que não fui sincero o bastante?

“Acho que sei dizer qual é o tipo ruim sozinho, obrigado.” – disse ele, com um ar de frieza.

Eu já devia ter imaginado que gente como ele não prestava. De um mestiço órfão, mas que por motivos controversos virou famoso, só podia se esperar um comportamento arrogante.

“Eu teria mais cuidado se fosse você, Harry.” – eu disse lentamente, imitando o mais fielmente possível a entonação da voz de meu pai. – “A não ser que seja mais educado, vai acabar como os seus pais. Eles também não tinham juízo. Você se mistura com gentinha como os Weasley e aquele Rúbeo e vai acabar se contaminando.”.

Harry e Rony se levantaram. E a partir dali iniciou a minha inimizade com Harry Potter, o menino que sobreviveu a Lord Voldemort. A inimizade dos Malfoys com os Weasleys já era antiga, portanto nem me importei com Ronald, aquele vermezinho de família traidora. Mas por que Harry preferiu ele a mim? Isso é algo que jamais pude entender. Quando mandei uma carta para minha mãe contando o que aconteceu, ela me disse:

“Não esqueça a verdadeira lealdade da sua família. Deixe Potter de lado.”

E me mandou chocolates. Sempre me mandava chocolates e galeões.

O chapéu seletor não demorou a decidir qual seria minha Casa. Assim que ele foi colocado em minha cabeça, ele disse “Sonserina!”, com uma convicção maior do que o normal. Eu já sabia que esta seria sua decisão, mas mesmo assim fiquei maravilhado. Sonserina foi a casa de meus pais, meus tios, meus avós, e de quase todos os meus parentes. Havia um ou outro Black que traíra a tradição.

Eu conhecia boa parte dos alunos novos da Sonserina, mas ainda não era muito próximo de nenhum deles, visto que eu só tive contato com eles em alguns eventos. Crabbe e Goyle ficaram encarregados de divulgar e enfatizar quem eu era para os outros alunos, o que fez com que eu me tornasse uma espécie de líder. Uma garota bonita, de cabelos dourados e olhos grandes, foi a primeira a vir me cumprimentar.

“Sou Pansy Parkinson.” – ela estendeu uma mão de dedos finos e brancos, como os da minha mãe. – É um grande prazer conhece-lo, Malfoy.

“Pode me chamar de Draco.” – eu disse, tentando pela primeira vez na vida, falar de modo agradável.

Fiz amizade com ela bem rápido. Mas ela sempre quis algo mais. E apesar de parecer gostar de mim, negava tudo que eu tentava dar para ela. Doces, presentes, enfeites. Talvez ela tenha pensado que minhas intenções eram ruins, e que com isso eu tentava comprar sua afeição. Mas dar presentes sempre foi algo de meu feitio. Gosto muito de presentear quem me agrada.

“Não estou com vontade, obrigada.” – disse ela, quando lhe ofereci chocolates. – “Sua presença é tudo o que me importa.”

No mais, Pansy era uma amiga leal. E bonita. Seus olhos tão grandes e azuis, sua voz gelada. Pansy Parkinson poderia ser um clone mais jovem, porém imperfeito, de Narcisa Malfoy. Blásio Zabini também se tornou um de meus amigos mais próximos. Particularmente, preferia a companhia dele ao invés da de Crabbe e Goyle. Ele era inteligente, diferente dos dois. E seu modo de pensar me agradava muito. Portanto, o presenteava regularmente. O primeiro presente que lhe dei foi uma bússola mágica de ouro branco, cuja seta apontava para os inimigos, quando se aproximasse deles.

Ainda no primeiro ano, Harry Potter tornou-se apanhador da Grifinória. Com onze anos, ele se tornou o apanhador mais jovem do século. Quando eu soube disso, fiquei indignado. Eu era muito melhor voador do que ele. Todo mundo sabia disso, fiz aulas desde pequeno. Já Harry nunca tinha pegado numa vassoura antes de vir para Hogwarts, e só por ser rápido o consideraram um deus. Como o time do primeiro ano já estava fechado, tive que esperar até o segundo para ter minha chance de me inscrever para o time de quadribol da Sonserina. Ao contrário do que muitos pensam, não fui escolhido por suborno. Afinal, meu pai comprou as vassouras Nimbus 2001 apenas depois que já tinham me aceitado no time. E quando aquela sangue ruim da Granger tentou me humilhar assim que descobriu, me limitei a dizer que ninguém lhe tinha pedido uma opinião.

Quanto às aulas, a de poções sempre foi minha favorita. O professor Severo Snape, que comandava esta disciplina, sempre foi um grande amigo dos meus pais. E o que eu mais gostava na aula dele, era quando ele humilhava o trio mais odioso daquela escola. Potter, Weasley e Granger. E como aquela garota era metida! Levantava a mão a cada cinco minutos e fazia questão em responder todas as perguntas em voz alta. Aqueles dentes salientes só a deixavam com uma cara ainda pior. Mas o professor Severo sempre arrumava uma forma de silenciá-la. E isto era muito bom. A melhor parte da aula.

O tempo em Hogwarts foi passando, e no meu terceiro ano, tive um incidente com uma besta estúpida chamada Bicuço. O hipogrifo fedorento de Hagrid me causou uma lesão do braço. Não foi algo assim tão grave, mas foi o suficiente para aquele gigante mestiço perder o emprego, e a besta ser condenada a morte. Meu pai costumava dar conta de assuntos deste tipo. Ele não era bem um exemplo de pai no sentido afetuoso da palavra, mas era um excelente protetor. Mais tarde fiquei sabendo que Bicuço sobreviveu, e aquilo me deixou furioso.

Quando eu não estava presidindo a corte da Sonserina sob qualquer motivo, estava pensando em Potter. Pensando em qual seria sua fraqueza, o que eu poderia fazer para superá-lo. Cheguei a conclusão de que uma de suas maiores fraquezas eram seus amigos. Por isso, toda vez em que o encontrava, arrumava um jeito de humilhar algum deles. Era fascinante ver seus olhos raivosos quando eu dizia algo ofensivo a qualquer um da família Weasley. Ou quando dizia que o sangue mais sujo da escola era o de Granger.

“De que adianta você saber dessas coisas? Você acha mesmo que seu pai vai te proteger pra sempre? Ou que sua mãe vai resolver todos os seus problemas lhe dando chocolates e brinquedos novos?” – disse Potter, quando zombei da falta de conhecimento dele do mundo bruxo.

“Eu não só acho como tenho certeza de que você e sua escória sangue ruim irão se extinguir. Não importa quanto tempo demore. Quem não nasceu para ser um bruxo, jamais será um bom bruxo.”

“Hermione tem as notas mais altas do nosso ano, Malfoy. Não venha com essa de que seu sangue puro o torna melhor.” – Ronald Weasley se arriscou a dizer, mas um gesto com os punhos de Crabble e Goyle o fez recuar.

“Não me importo. Notas não querem dizer muita coisa. Os verdadeiros bruxos são aqueles que irão sobreviver depois que uma nova revolução começar. Entendem o que eu quero dizer?”

É claro que eles entendiam. Por isso ficaram quietos, e se entreolharam assustados, como se eu tivesse confirmado o que eles já suspeitavam. Haveria uma guerra bruxa em breve. E o Lord das Trevas retornaria para fazer parte dela. E eu, como legítimo sonserino, estava satisfeito com aquela ideia. Naquela época, jamais pensei que alguém como eu, de sangue puro e família de nome milenar, sofreria tantas consequências.


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Notas finais do capítulo

Sem reviews, sem memórias do Draco (:
P.s.: Descrevi a Pansy Parkinson conforme o livro, não o filme.
P.s.: Não sei se vocês irão perceber, mas Draco apresenta, mesmo que pouco, alguns sintomas do complexo de Édipo.



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