Something Wrong - Pernico escrita por Lyra


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, eu queria agradecer a todo mundo que comentou/favoritou/acompanhou e etc. MUITOMUITOMUITO OBRIGADA MESMO, AI MEUS DEUSES.



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– Oi, Nico. Prazer em te conhecer – eu ainda tinha esperanças de que Leo não se lembrasse de mim, mas todas elas transformaram-se em pó quando ele deu uma piscadela para mim.

– Eu preciso ir – disse. – Eu realmente preciso ir. Tenho que falar com Quí...

– Ah, não! – disse Leo, e fez beicinho. – Fique mais um pouco. Dá pra falar com ele depo...

– Porra, eu tenho que ir – minha vez de interromper.

Botei minhas mãos nos bolsos da calça jeans e virei as costas para os dois. Caminhei até a enfermaria, sozinho, já que havia conseguido decorar o caminho. Quando cheguei, encontrei Quíron, sentado em sua cadeira de rodas na sua forma humana.

– Bom dia, Nico – disse ele.

– Oi.

– Só estou aqui para lhe dizer que... bem, você está ótimo. Sua saúde está em perfeito estado, e não vejo mais motivo para você continuar aqui. A segunda notícia é que, já que você ainda não foi reclamado, e o chalé de Hermes está lotado, teremos de arranjar um outro local para você ficar a partir de agora.

Franzi a testa.

– Desculpe, mas o que é ser reclamado?

– É quando sua mãe ou pai olimpiano confirma que você é filho dele.

– Ah... ok.

– Continuando... percebo que você e Percy são amigos. Estou errado?

– Não, senhor.

– Ótimo, pois estou pensando em alojá-lo no chalé de Poseidon enquanto não temos um local próprio.

Eu era um misto de um sentimento de agradecimento e de uma sensação de merda, não acredito nisso. Então, só concordei com um leve aceno de cabeça.

– Quer falar alguma coisa, filho? – pediu Quíron.

Abri minha boca para falar sobre o que havia acontecido, mas desisti. O medo me consumiu. O mesmo medo que eu devia ter tido antigamente, ao revelar minha vida a um cara como o Valdez.

– Não, senhor. Nada.

A cadeira de rodas eletrônica começou a se mover em direção à porta.

– Até mais, di Angelo.

#

Toc, toc, toc.

Já era a segunda vez que eu batia na porta do chalé 3, e ninguém atendia. Mas, finalmente, ouvi passos caminhando pelo piso de madeira.

– Já vou! – Perseus gritou lá de dentro.

Em questão de segundos, ouvi o barulho da chave girando. A porta rangeu ao ser aberta.

– Oi, Nico. – disse Percy, seus olhos verdes encarando-me, preocupados. – Tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

– Quíron me deu alta.

O rosto dele se iluminou.

– Mas isso é ótimo!

– ... e o chalé de Hermes está lotado – continuei.

Ele franziu o nariz.

– O que quer dizer com isso?

Bufei.

– Quíron não te contou nada ainda? Que merda! Ele disse para mim... pra eu ficar aqui, no chalé 3.

Meu rosto corou, pela quinquagésima vez desde que cheguei ao Acampamento.

Ele sorriu.

– Isso não é um problema! Tenho espaço de sobra, e ninguém mora aqui comigo desde que o Tyson foi para o território de meu pai. – ele fez beicinho. – Sou tão solitário...

– Entra – ele abriu ainda mais a porta e foi para o lado, deixando que eu passasse.

Entrei, e o que vi não foi um lugar desarrumado, desleixado e com roupas sujas jogadas para todos os lados, como eu imaginei inicialmente. A única coisa desarrumada era a cama, já que ele devia estar dormindo lá.

Havia uma grande fonte de água salgada no canto do quarto, uma escrivaninha repleta de cadernos, canetas e... desenhos. Quando ele notou para onde eu olhava, correu até lá, juntou os desenhos e guardou em uma gaveta.

– Você que faz? – pedi.

Ele coçou a cabeça, um pouco envergonhado.

– É.

– São legais – tentei soar animado. Não que não fossem legais; na verdade, eram simplesmente incríveis. Mas eu nunca sei soar animação.

– Obrigado.

E então a conversa acabou. Ficamos em silêncio por um bom tempo, Perseus escorado na parede azul clara do quarto, e eu, escorado à porta fechada, olhando pra o chão com uma concentração simplesmente improvável. Ele olhava para a gaveta onde havia guardado os desenhos com a mesma centralização.

Finalmente, o garoto dos olhos verdes quebrou o silêncio.

– Falou com Quíron?

Senti meu rosto ficando vermelho. Meus deuses, por que eu sempre fico vermelho?!

– É... não.

– Por quê?

Dei de ombros. Ficamos em silêncio novamente.

– Perseus? – chamei por ele.

– O que foi?

Suspirei. Eu não queria tocar tão cedo naquele assunto, mas aquilo estava me corroendo por dentro. Eu precisava saber.

– O que foi aquilo? Sabe, ontem. À noite.

Ele ruborizou.

– Ahn, ontem... o quê? Aconteceu alguma coisa?

Havia uma ponta de mentira em sua voz.

– Você não lembra? – Perguntei, baixinho.

– Desculpa... eu estava bêbado, sabe. Não me lembro de nada – mais mentiras. Mentira, mentira, mentira. Ele estava lúcido, completamente lúcido.

Ou será que não?

– Fiz alguma coisa de errado? – ele perguntou, apreensivo.

Estava prestes a responder que não, não havia feito nada de errado. Mas então a cena de Patrick falando me veio à cabeça.

“Ele falou sobre uma hora que vocês estavam lá, conversando... e você, bem, desapareceu. Do nada. Puf.”

Se ele contou isso para Patrick... ele não podia estar bêbado a ponto de não se lembrar de nada.

– Como você pode não se lembrar de nada se se lembra perfeitamente de quando saí correndo?

Ele olhou para mim, surpreso. Seu queixo caiu, mas voltou ao normal tão rápido quanto foi para baixo.

– Eu... acho que isso, não sei... Você desapareceu do nada, de uma hora para outra... isso foi tão impressionante que acho que me marcou. Daí acabei lembrando.

– Ãh-hã.

O ar se solidificou, e, de repente, ficou difícil de respirar. Eu mal podia acreditar. Então ele me beijava, ia embora sem se despedir e depois negava tudo?

“Vá embora. Eu sei que é isso que você quer fazer. Pode ir.” – disse.

“Não vou abandonar você, Nico.” Ele respondeu. “Nunca.”

Dois dias depois, ele havia ido embora.

#

– Nico – Percy sussurrou, da cama de baixo do beliche. Eu estava deitado em cima, achando que Percy já estava dormindo.

– O que foi? – sussurrei de volta.

Escutei ele se remexer nas cobertas.

– Podemos conversar?

Sentei-me na cama, quando ele acendeu a lâmpada do quarto. Quando ele não disse nada, entendi que deveria descer. Momentos depois eu já estava sentado no beliche com ele. Estávamos os dois sem camisa, e eu de repente me senti esquelético. Meu eu magricelo contra seu tanquinho poderoso? Nem pensar. Ok, Nico, pare de pensar nisso.

Ele estava escorado na parede que o beliche deixava aparecer. Segurava suas pernas rentes ao corpo.

– Sabe, Nico – ele disse – quando eu falei que sou solitário, não estava brincando.

Deu um sorriso desanimado, olhando para o nada em sua frente.

– Minha mãe morreu em uma batalha que eu estava enfrentando. Uma Manticore como a que te atacou ia lançar um de seus espinhos em mim... e ela se jogou na frente. Nunca consegui superar. Fiquei no Acampamento desde então. Pode não parecer, mas tentei me isolar o máximo que consegui.

Seus olhos ficaram úmidos, mas não houve nenhum sinal de que lágrimas iriam escorrer deles. Ele parecia imbatível.

– A questão é que as pessoas são como muralhas. Fortes, inabaláveis, intransponíveis. Mas sempre têm um ponto fraco. E o meu ponto era minha mãe. Então, em uma mínima ação... a muralha veio abaixo. – ele olhou para mim – Mas, sabe... sempre tem um jeito de reconstruir.

Ele suspirou. Encarei seus olhos verdes, quando ele encarou os meus escuros.

– Eu sei que aconteceu alguma coisa com você. Não finja que está tudo certo. – ele sorriu, novamente um sorriso triste. – Sabe, além de Quíron, você é a única pessoa pra quem eu contei isso. Sinta-se privilegiado.

Continuei em silêncio.

– Tudo bem se não quiser falar... mas o que aconteceu?

Sorri.

– Ordem alfabética, datada ou numerada?

Ele também sorriu.

– Numerada.

Suspirei.

– Ok – comecei. – Primeiro: minha mãe. Ela morreu quando eu tinha uns nove anos. Foi horrível. Depois, minha irmã. Nunca soube o que aconteceu com nenhuma das duas. Então, como eu nem conheci meu pai, eu fiquei com a minha avó. Mas ela morreu pouco tempo depois, alguns meses, até. Daí eu fiquei sozinho, sobrevivendo da herança da minha mãe. Então vim para cá. Fim.

– Estou enlouquecendo ou essa não é toda a história?

– Digamos que é a versão de bolso.

Ele assentiu.

– Eu tenho tempo, se quiser falar.

Olhei para minhas mãos, tentando decidir se contaria ou não para ele. Mal percebi quando comecei a falar.

– Eu ia para minha antiga escola. Acho que faz uns 2 anos. Isso foi antes de os médicos me diagnosticarem com autismo e tudo o mais. E eu não tinha amigos lá. Minha única amiga era minha irmã. Até que um garoto se aproximou de mim. Começou a frequentar minha casa, e a gente virou grandes amigos. Mas, então, eu contei algo para ele... um segredo. O maior segredo de minha vida. Achei que ele fosse zoar com a minha cara, me excluir, se afastar. Mas ele começou a dizer que nunca, jamais me abandonaria, nem na pior das circunstâncias. Dois dias depois, eu comecei a aparecer com uns putos hematomas em casa, tudo porque ele não me zoou: só contou para todo mundo. Foram eles que fizeram todo o resto. Dois dias depois, ele tinha ido embora, logo depois de me xingar e me bater o máximo que pode.

Ele ouviu tudo em silêncio. Esperou uma explicação, talvez o nome dele.

– E... esse garoto... ele está aqui, Perseus.

Seu rosto assumiu uma expressão mista de confusão, apreensão e raiva, talvez.

– Quem é ele? – ele estava com os punhos cerrados.

– Cara, isso não tem importância. Deixa pra lá.

– Nico... quem é ele? Me fala. Pode falar.

Arregalei os olhos, assustado. Ele estava nitidamente com raiva. E eu fiquei nitidamente com medo.

– Quem é ele, Nico?

– Ele me dizia que o nome dele era Leonard, mas aqui vocês chamam ele de... Leo.

– Leo? Você está brincando. Leo não faz mal nem a uma mosca – ele relaxou um pouco.

– Sabia que não devia ter contado. Merda! Por que, diabos, eu contei tudo isso para você?!

Levantei-me. Estava completamente cansado de ser desacreditado por todo mundo... como sempre.

Pus o pé no primeiro degrau da escadinha que eu usava para subir para a segunda cama do beliche, mas nem pude subir. Perseus me agarrou pela cintura.

– Me... desculpa – ele falou. Estava tão perto que pude sentir o ar quente de sua respiração em minha nuca. Fiquei arrepiado. – Mas é impossível acreditar que o Leo que eu conheço seria capaz de fazer alguma coisa assim, Nico. Mas eu acredito em você. – ele sussurrou em meu ouvido. Me desvencilhei de seus braços, finalmente subindo a escadinha. Deitei-me na cama, olhando para o teto, sem falar absolutamente nada.

Ele apagou as luzes.

– Boa noite – disse.

Mas não respondi. Estava confuso demais para fazê-lo.


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Notas finais do capítulo

Conseguiram entender agora? Se tiverem alguma dúvida, qualquer que seja, só pedirem :3
E OBG DE NOVO OXE