Bati em seu rosto mais uma vez, e mais uma. Até que ela caiu no chão. Não lhe dei chance para se levantar, mergulhei sobre seu corpo caído e continuei a sessão de tapas. Uma após a outra, até Jenn começar a gritar. Senti algo me puxando, braços fortes me envolvendo, me colocando longe daquela Capeta, de cabelo lindo e invejável, eu queria aquele cabelo. Balancei as pernas freneticamente, Jenn estava sentando-se e encostando-se à parede, quando um de meus chutes descontrolados bateu no seu nariz, e ela soltou o pior de todos os gritos.

– Por favor, Isabella, pare. Pare agora... – Uma voz conhecida gritou, ao mesmo tempo em que se colocava entre nós.

– Pai. – Murmurei.

– Pai, socorro, pai! – Jenn gralhou, tinha as mãos no nariz, virei pera encara-la mais uma vez, só então percebi que seu rosto sangrava. – Meu nariz, meu rosto... Por favor, pai...

– Bella. – As mãos de Edward envolveram meu rosto – O que diabos foi isso?

– Eu que te pergunto, Cullen. – Cuspi seu nome entre dentes – O que foi isso?

– Uma conversa normal, até uma louca chegar e começar uma porradaria sem fim.

– LOUCA? – Gritei e meu pai, que ajudava minha irmã, virou-se para mim. – Você estava lá... Me traindo com ela. COM ELA! Você não sabe o que ela fez, Edward. Foi ela. Foi por ela que Mike me trocou, ela me traiu durante anos, minha própria irmã. E agora... Agora ela quer você. VOCÊ!

– Mas Bella, nós...

Vocês não tem nada Isabella. Aquela voz, a de sempre, gritou em minha cabeça. Olhei para Edward, depois para minha irmã, dela para Charlie e então par Edward de novo. Ele falava, mas eu só conseguia ver sua boca mexendo, as palavras não podiam ser ouvidas. Não por mim. Eu não conseguia ouvir nada ao meu redor. Fechei os olhos e respirei fundo. Então tornei a abri-los, meu noivo me encarava como se esperasse uma resposta. Uma gargalhada rompeu dos meus pulmões. Tudo era tão idiota.

– Okay, Cullen. – Virei-me para Charlie. – Bem, espero que eu tenha quebrado ao menos o nariz dessa vaca que você chama de filha, pai. – Sorri ironicamente – Acho que está mais do que na hora de eu ir embora daqui. Talvez vocês me vejam no casamento.

– No seu casamento? – Ele perguntou. – E você diz talvez?

– Não haverá casamento.

A frase saiu curta grossa e direta, mas ela não saiu de mim. Olhei para Edward de olhos arregalados, então ele próprio havia decidido colocar um fim naquela farsa? Nosso conto de fadas, começado com era uma vez um homem muito, muito, muito gostoso, não terminara com um feliz para sempre. Ótimo. Eu sabia que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde, mas não consegui evitar as lágrimas que se formaram em meus olhos. Deixei que escorressem. Se era pra chorar, que fosse de uma vez.

– Não haverá casamento. – Repeti.

– Não. – Meu ex–noivo confirmou. – Agora vamos para casa, Isabella.

– Você acha que eu vou deixar você me levar para casa? – Revirei os olhos. – Você acabou de terminar tudo comigo, Cullen. Tudo! – Gritei a última palavra. – E por quê? Por causa dela? – Apontei pra vaca caída junto da parede. – De todas as pessoas da droga do mundo, eu achei que você seria a única que não me abandonaria. Que idiota...

– Cale a droga da boca! – Edward berrou e eu recuei dois passos. Ele estava claramente sobressaltado, nunca o vira assim antes. – Você sabe muito bem que eu a apoiei todo esse tempo. Mas você, você me magoou de verdade, Isabella. Não estou nem aí pra sua irmã. Ela estava dando em cima de mim? Estava. Mas eu não a quero. Eu não quero ninguém. – Aproximou-se de mim e envolveu meu rosto com ambas as mãos. – Eu quero você. Só. Você. E se eu sou idiota, você é duas vezes mais.

– Pode parar de fingir Edward! – Tirei as mãos dele de meu rosto. – Pare de fingir, pare de fingir. Por favor. Não vamos levar essa farsa adiante.

– Que farsa? – Um membro da minha família chegou na confusão. Acompanhado de vários outros, entretanto eu não conseguia identifica-los. A raiva estava me deixando cega.

– Farsa nenhuma. – Outra voz, que reconheci como a de Emett, interveio.

– Emett, pare... – Comecei o protesto mas ele tapou minha boca com a mãos.

– Isso aqui é mais uma briga de casal. A noiva pegou o noivo com outra mulher, uma vadia qualquer. – Olhou para Jenn com desdém. – Bateu na vaca até ela virar hambúrguer e pronto. Agora eles vão pro quarto, a sós. Brigar, brigar e brigar. Depois vão se entender e fazer muito sexo. Fim. – Sorriu largamente. – Agora que já estamos resolvidos. – Lançou-me um olhar de repreensão. – Fora. Tchau, tchau, família linda.

Aos poucos a multidão saiu de perto de nós. Voltando para festa de Vovó Abbie. Emett ainda me envolvia em seus braços quando meu pai levou Jenn para longe, sem me olhar nos olhos. O que significava que ele estava claramente magoado, muito magoado. Caminhei até meu quarto com a ajuda de Emett, Edward não veio junto de mim. Ficamos eu e meu cunhado, para todos os efeitos, em um longo silêncio durante muito tempo. Até que ele resolveu falar.

– Não brigue com meu irmão, Bella.

– Emett, eu quero parar com isso. – Disse-lhe ignorando seu pedido.

– Não, você não quer. E é tão burra por tentar fazer isso...

– Burra?

– É, burra por não enxergar a merda da verdade. Que o ventilador jogou bem pra frente do seu nariz. – Estalou o dedo na frente de meu rosto. – Acorde, Isabella Swan. Antes que seja tarde.

Então ele se foi.

Não consegui, mesmo que quisesse muito, ir até o banheiro e tomar um banho. Apenas joguei-me na cama. Observando minhas mãos, que estavam com os nós dos dedos machucados. Sorri abobadamente, eu havia socado Jenn, era algo que eu queria fazer a muito. Fechei os olhos, e a última imagem que me veio à cabeça foi a de Emett chamando-me de burra. Depois disso tudo ficou escuro. E eu agradeci por aquela ter sido uma noite negra, sem pesadelos. Nem sonhos.

– Bom dia. – Escutei a voz e Edward me acordando. Abri os olhos e encarei, estava com olheiras roxas abaixo dos olhos, como quem não havia dormido nada. Entretanto sua roupa estava em perfeito estado, seu terno, gravata, calça social, como sempre.

– Oi. – Murmurei um pouco sonolenta. – Você não dormiu aqui, porque eu não ouvi...

– Partiremos em vinte minutos. Se arrume rápido, por favor. – Falou. Com o mesmo tom do “bom dia”. Um tom frio.

– Precisamos conversar...

– Não se preocupe, seu emprego será mantido. – Sorriu, um sorriso que não chegou aos olhos. – Sua família não sabe que somos uma fachada. E não saberão. Não sei se você se importa com você, mas faça isso por meu irmão. Afinal, ele se meteu completamente nessa coisa toda, não quero que o chamem de mentiroso.

– Tudo bem, mas eu acho mesmo que precisamos conversar.

– Não. – Balançou a cabeça negativamente. – Eu entendi o recado ontem. Eu só quero que você entenda o meu, está bem? – Esperei que ele continuasse. – Quando eu disse tudo aquilo, sobre te observar pela janela, gostar do seu jeito atrapalhado e tudo mais, não era mentira. Quando eu disse que estava apaixonado, não era mentira. Quando eu disse que nosso casamento seria em uma semana, não era mentira. Se você se apaixonasse por mim, nós nos casaríamos em Las Vegas, um casamento, numa forma simbólica. Eu até comprei as passagens sabia? – Riu abafado. Não consegui falar nada, era informação de mais para mim. – Isso tudo. – Fez um gesto amplo com as mãos – Eu, você, nossa família. Nós. Nunca foi uma farsa. Não para mim.

– Eu não sei o que dizer – Suspirei, enquanto as lágrimas pulavam de meus olhos.

– Agora você tem quinze minutos para se arrumar, Isabella. – Dizendo isso, Edward virou as costas e saiu.

Acorde, Isabella Swan. A voz de Emett me veio à cabeça. Antes que seja tarde. Era tarde.

Era uma vez um homem muito, muito gostoso. E uma menina muito, muito burra. Os dois inventaram uma grade mentira. Que tinha um quê de verdade para ambas as partes. Mas a vida é estranha e louca. E por mais que aquilo parecesse um conto de fadas, eles não viveram felizes para sempre.