Embaixo da Pele escrita por Ca_Dream


Capítulo 4
O jogo da música


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês. Aproveitem.



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Erik sabia que o que estava fazendo era perigoso. Estava arriscando seu segredo. Sua vida. Mas não conseguiu evitar. Quando viu Elise tomar o lugar no piano, ficou surpreso. Não sabia que ela tocava. E mesmo quando todos se foram, ela continuou a tocar. Ficou maravilhado por como ela colocava sua alma no instrumento. Ele já a tinha ignorado uma vez no telhado. Dessa vez se decidiu. Precisava falar com ela.

Voltou ao subterrâneo, pegando uma das rosas que guardara para Christine. Foi até o quarto da moça e depositou a rosa junto com o bilhete sobre a cama. Só precisava esperar.

Momentos depois, Elise adentrou o quarto. Com uma expressão sonhadora no rosto e um sorriso bobo nos lábios. Ela sentou-se na cama, logo encontrando a rosa e o pedaço de papel. Ela observou a flor por um instante e depois leu o bilhete.

Andou até o espelho. Erik prontamente estendeu-lhe a mão por entre a passagem. Percebeu o susto perpassar o rosto dela. Mas a expressão não durou mais do que um segundo. Em seguida, ela apertou a mão que lhe era oferecida com uma força surpreendente.

E agora os dois andavam por corredores e passagens escuras da ópera mais famosa de Paris. Elise escorregou ao seu lado, buscando apoio em seu braço. Teve que conter um sorriso.

–Cuidado, o terreno pode ser escorregadio. – Elise sentiu um arrepio em seu pescoço ao ouvir a voz dele pela primeira vez. Era incrivelmente melodiosa. Ele tinha dito apenas uma frase. Mas ela percebeu o quão poderosa era aquela voz.

O encantamento foi substituído pela irritação.

–Obrigado por avisar. – rebateu ironicamente.

Mas uma vez, Erik conteve um sorriso.

Eles continuaram a andar até alcançarem o lago. Ele a ajudou a entrar no barco e eles completaram o resto do caminho em silêncio. De vez em quando, Elise olhava para ele, como se quisesse falar algo. Depois, voltava a encarar a água.

Ele levantou o portão, chegando finalmente em seu covil.

Elise olhou ao redor, sua expressão um misto entre maravilhada e espantada. O lugar todo era esculpido em arcos de pedra. Iluminado por candelabros na parede e escondido por um lado subterrâneo. Havia belos móveis de madeira espalhados em cada canto. Pedaços e rolos de pergaminho jaziam em cada superfície. Frutos de um trabalho interminável.

Então, seus olhos recaíram sobre o majestoso instrumento no centro da sala. Caminhou até o órgão, admirando-o. Ela estendeu a mão e depois a abaixou. Como se tivesse medo de toca-lo.

Ela se virou para Erik.

–Você toca? – a excitação em sua voz era aparente.

Ele manteve a expressão passiva antes de responder.

–É claro. – Elise estudou-o demoradamente. Não sabia nada sobre o homem.

–Como devo chama-lo Monsieur?

Os olhos cinza dele assumiram um brilho estranho.

–As pessoas me chamam de muitas coisas. Mas eu não tenho nome.

Elise estudou novamente a figura do homem. Era alto, vestia roupas escuras. O cabelo preto estava impecável sob a máscara branca. A máscara cobria todo o lado direito de seu rosto e escondia, Deus sabe o que. Os olhos acinzentados dele pareciam cintilar na escuridão.

–Até onde eu sei – ela diz quebrando o silêncio. – todo homem nesta terra possui um nome.

Ele não diz nada por um momento. Senta-se em frente ao órgão.

–Erik. – finalmente responde.

Elise sorri, satisfeita com a resposta. Ao menos tinha um nome agora. Ela se senta em uma das poltronas e ele começa a tocar.

Era impressionante que Erik soubesse tocar tal instrumento. Ela sabia tocar piano, o que já era complexo o suficiente. Agora, manusear mais de um teclado? Estava fora de seu alcance.

A música dele ecoou pela sala. Dizer que era a coisa mais linda que tinha ouvido, seria um eufemismo muito pobre. Elise se sentiu arrebatada. Estava em estado de puro êxtase. Não havia palavras capazes de descrever o que estava sentindo. A música dele enfeitiçava, roubava-lhe o ar. Cada nota parecia expressar com exatidão os pensamentos de seu criador. Cada vez que você ouvia, seria impelido a esperar ansiosamente por mais. Era como ser atirado ao paraíso.

Quem era aquele homem? Quem era o gênio por trás de tanta perfeição?

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Estava voltando de mais de uma de suas excursões ao covil. Já estava tão acostumada que poderia muito bem encontrar o caminho sozinha. Sem a ajuda de Erik.

Nos últimos dias os dois tinham estreitado os laços dessa estranha amizade. Limites haviam sido impostos e histórias compartilhadas. Elise tinha contado sobre os seus pais e o motivo de estar vivendo ali. Erik, contava sobre os lugares que havia visitado e as belas paisagens que tinha visto. Ela não fazia perguntas sobre seu passado ou sobre a máscara. Na verdade, ela não fazia pergunta alguma. Tinha aprendido em pouco tempo que Erik era uma pessoa fácil de irritar.

Geralmente, os dois conversavam trivialidades ou coisas sobre a ópera. Ela apreciava o tempo que passavam juntos. Ele tocaria para ela. Ou mais incrivelmente, ela tocaria para ele. Quem imaginaria que ele teria uma sala de música. De todos os instrumentos que estavam lá, ela só conhecia o violino, o piano e a flauta. Ela matava a saudade que tinha do piano e, vez ou outra, ele a acompanhava no violino. Mais uma vez, Erik mostrou-se um exímio musicista.

Um dia, quando ia a biblioteca buscar um livro, Elise encontrou o manequim com o rosto de Christine. Não resistiu a curiosidade e acabou puxando a cortina. Não era preciso pensar muito para saber o que aquilo significava. As peças do quebra-cabeça se encaixavam sozinhas. Já tinha ouvido a moça falar do Anjo da Música que seu pai prometera que apareceria.

Ainda era difícil aceitar que seu amigo carregava o título de Fantasma da Ópera. Agora, ele também tinha o título de Anjo da Música. Tinha mais a ver com ele, pensou. Não comentou nada a Erik.

A realização daquela descoberta a atingiu com força. Erik amava Christine.

Saiu de seus devaneios diurnos, indo até o palco. Mais uma vez o ensaio tinha parado. Pelo que entendeu Monsieur Lefevre, o diretor, estava se aposentando e seria substituído pelos senhores Firmin e Andre. Mas a parte que mais a interessou foi a anúncio do novo patrono. O Vicomte Raoul de Chagny.

–É um prazer para meus pais e eu apoiar a ópera mais famosa de toda a França. – o jovem rapaz loiro de olhos azuis anuncia. – Mas, acredito que esteja interrompendo o ensaio de vocês. Não irei me demorar mais.

Sem mais delongas, ele vai embora. Passando direto por um grupo de bailarinas. Elise vai atrás dele.

Finalmente consegue alcança-lo quando estão sozinhos no salão.

–Monsieur Vicomte? – ela chama. Ele para, virando-se para ela.

–Elise é você? – ela sorri indo ao encontro dele. Ele a recebe com um abraço.

–É tão bom vê-lo Raoul.

Os dois aproveitam o reencontro. Elise e Raoul se conheciam porque suas famílias eram amigas. Os dois sempre ficavam juntos no jardim enquanto seus pais tinham conversas entediantes de adultos após o jantar. Ou então, passariam a noite dançando em um baile para o qual tinham sido convidados. Eram velhos amigos.

Ele a solta, olhando diretamente em seus olhos.

–Eu soube sobre seus pais. Sinto muito. – Elise apertou as mãos dele. Não era hora para falar de coisas tristes.

–Olha só para você, patrono de uma ópera. – Raoul concordou com a cabeça.

–Mas o que você está fazendo aqui? – até onde sabia, a família Villaford era bem de vida. Elise teria herdado uma fortuna suficiente para se manter por um bom tempo.

–Estou sob os cuidados de Madame Giry enquanto minha guardiã está fora do país. – ele olhou para a porta, apressado.

–Eu realmente tenho que ir. Nos vemos hoje à noite?

–É claro.

Quando retornou ao ensaio, Elise ouviu alguém cantar. E não era Carlotta.

Think of me, think of me fondly

(Pense em mim, pense em mim com carinho)

When we've said goodbye

(Quando tivermos dito adeus)
Remember me once in a while

(Lembre-se de mim de vez em quando)

Please promise me you'll try

(Por favor, prometa que vai tentar)

A voz parecia de um anjo. Era Christine.

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Seu anjo tinha se apresentado. Estava mais linda do que nunca. O vestido branco parecia fazê-la irradiar luz. Finalmente estava no lugar ao qual pertencia. Naquela noite, uma verdadeira estrela pisara no palco. Como o público deve ter se deliciado com a sua voz.

A teria assistido do Box 5, mas este estava ocupado pelo Vicomte. Quantas vezes tinha dito para o camarote ficar vago! Se fosse Elise ali, não teria se importado. Mas aquele almofadinha?

E qual não foi sua surpresa ao encontrar o Vicomte novamente, no quarto de sua Christine. Quem aquele menino insolente pensava que era? Aquele escravo da moda. Um tolo, tentado banhar-se em eu triunfo.

Estava decidido. Era chegada a hora de seu anjo conhece-lo.


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