Embaixo da Pele escrita por Ca_Dream


Capítulo 12
Resoluções


Notas iniciais do capítulo

Para recompensar vocês, resolvi postar mais de um capítulo. Mas tenho que dizer, estamos chegando perto do final. Aproveitem a leitura e beijos.



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Elise colocou Ethan de volta no berço e foi sentar-se ao lado de sua tia no sofá.

Isabelle pegou a mão dela, observando atentamente a pedra de safira.

–E então? – insistiu.

–Bem... Eu precisava mesmo falar sobre isso. – Elise parou de falar, sem saber como continuar.

–Você conheceu um rapaz? – sua tia ajudou. Apenas confirmou com a cabeça. – Você nunca o mencionou antes em suas cartas.

–É algo recente.

–Recente? – sua tia estava desconfiada. – Isto me parece um anel de compromisso.

Elise suspirou.

–Ele me pediu em casamento.

Isabelle permaneceu em silêncio, ponderando suas próximas palavras.

–Elise, eu fico muito feliz que você tenha conhecido alguém e que vocês tenham se apaixonado. Mas você não acha que isso é um pouco demais? Nós vamos voltar para Londres agora. Talvez vocês dois possam continuar a se corresponder e esperar mais tempo. Se conhecer melhor. Um noivado é algo muito definitivo.

–Mas você e tio Thomas não fizeram o mesmo? Eu era pequena, mas me lembro. Vocês dois se conheceram durante uma temporada de férias e decidiram se casar.

Isabelle suspirou sabendo que ela tinha um ponto ali. Não podia impedir que sua sobrinha fizesse algo que ela mesma tinha feito. Mas precisava proteger Elise. Não sabia nada sobre o rapaz.

–Qual é o nome dele?

–Erik Destler. – Elise respondeu tentando disfarçar o nervosismo. Como explicaria a sua tia quem era Erik?

–Destler? Nunca ouvi falar. – Isabelle estava disposta a fazer uma investigação a fundo. – Você conhece a família dele?

–Erik não tem família. – respondeu. O que era verdade. O pouco que ele sabia era que seu pai havia morrido antes de ele nascer e de que sua mãe não o queria por perto.

–O que ele faz? – aquela pergunta era um tanto perigosa.

–Ele é arquiteto. E musicista. – Elise respondeu. Bem, era verdade. Erik era ótimo com música e projetos de construções. Na verdade, ele era bom em praticamente tudo.

Isabelle sorriu.

–Deixe-me adivinhar. Ele toca piano, certo?

Elise devolveu o sorriso.

–Toca.

–Era de se imaginar. – uma das razões para esse tal de Erik conseguir conquistar Elise. Os dois eram afeiçoados por música. – Antoinette o conhece? Ela nunca mencionou nada em nenhuma carta.

Outra pergunta que deveria ter sido evitada.

–Não. Sim. Quer dizer. – Elise inspirou antes de continuar. – Ela o conhece, mas não sabe que estamos juntos? – sua afirmação acabou saindo em tom de pergunta.

Isabelle notou. Era bastante astuciosa.

–E por que ela não saberia? – sua tia estava desconfiada mais uma vez.

Elise sabia que estaria se pondo em maus lençóis. Mas tinha que responder.

–Talvez por que ela não aprovasse? Não me entenda mal, tia. Erik é bom, doce e gentil. Mas ele tem um passado. Um passado que muitas pessoas não conseguiriam superar.

Sua tia não disse mais nada por algum tempo. Como se estivesse absorvendo suas palavras. Isabelle tentava entender i enigma por trás do que Elise dissera. Que tipo de passado Erik poderia ter? Seria um passado tão ruim que as pessoas ao redor não conseguissem superar? Mas se fosse assim, por que Elise teria se apaixonado por ele?

Tinha mais uma coisa que precisava saber.

–Elise, você se deitou com ele? – as bochechas de sua sobrinha assumiram um tom rosado quando ela terminou a pergunta.

Elise estava surpresa que sua tia tivesse tamanha ousadia para perguntar algo assim. E também estava com vergonha.

Ela tinha dormido com Erik. Mas não desse jeito.

–Não. É claro que não.

Isabelle suspirou aliviada.

–Eu quero conhecê-lo.

Elise sabia que no final isso aconteceria. Que tipo de mulher deixaria sua sobrinha ficar noiva de um completo desconhecido?

Mas esse era o problema. Quando eles se conhecessem. Sua tia Isabelle era uma pessoa de ótimo coração. Mas não era qualquer um que aceitaria um relacionamento entre ela e Erik.

Só podia rezar para que tudo desse certo.

Sua linha de pensamento foi quebrada pelo barulho da porta se abrindo. Um homem alto entrou no quarto. Era muito branco e meio rosado. Como todo bom inglês.

–Tio Thomas! – Elise exclamou animada. Sua mente divagou dos problemas por um minuto. Correu para os braços dele.

–Olha só você, pequena. – ele respondeu com o sotaque forte. Abraçando-a e tirando-a do chão.

Os dois se afastaram e Thomas a olhou dos pés a cabeça para ter certeza de que ela era exatamente como ele se lembrava. Elise observou no tio os mesmo traços que Ethan tinha herdado. Os cachos loiros e os olhos azuis-escuros. Mil vezes mais escuros do que os de sua tia Isabelle.

–Você já conheceu o seu primo? – o homem perguntou.

–Já. – Elise respondeu. – Ele parece com o senhor. Mas é muito mais bonito. – disse em tom de brincadeira.

Seus tios riram.

Era maravilhoso estar com a família novamente.

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Elise observou a fachada da Opera Populaire. Sua tia tinha dito que queria conhecer Erik. E lá estavam elas.

Elise entrou no prédio e Isabelle a seguiu.

–O que exatamente nós estamos fazendo aqui? – sua tia perguntou.

Elise continuou a andar até as escadas.

–Tia, como eu disse, a senhora precisa confiar em mim. – cada passo que dava a fazia pensar em como tudo aquilo era uma loucura. As duas chegaram ao último andar. Elise abriu a porta do seu antigo quarto.

Isabelle olhou ao redor do cômodo mal iluminado.

–E então? – perguntou como se esperasse que a sobrinha lhe mostrasse alguma coisa.

A menina ergueu a mão para a beirada do espelho.

–Confie em mim. E não tenha medo da escuridão. – o espelho se moveu, arrastando-se para o lado. Um túnel apareceu em sua frente. Dissolvido em meio ao breu.

Isabelle olhou para aquilo espantada. Uma passagem secreta?

Elise entrou e ela a seguiu logo atrás.

O que estava acontecendo? O que Elise queria lhe mostrar? E o que aquele lugar tinha a ver com tudo isso?

Passaram alguns minutos andando no escuro. Elise não hesitou um momento se quer. Como se tivesse decorado o caminho que se desenrolava debaixo de seus pés.

Finalmente pode-se ver um pouco de iluminação mais a frente. A luz vinha de umas poucas velas acesas que estavam pregadas na parede.

A primeira coisa que Isabelle notou ao entrar foi a figura que estava sentada em frente ao órgão.

–Erik? – Elise chamou ao seu lado.

O homem se levantou, caminhando na direção delas.

Erik?

O homem era incrivelmente alto e pálido. Como se não conhecesse a luz do sol. Tinha um aspecto doente até. Era definitivamente mais velho do que Elise. Usava roupas escuras e impecáveis. Pelo menos ele era arrumado. O cabelo era preto e os olhos cinza. O detalhe que mais chamava atenção era a máscara que o cobria o lado direito do rosto.

Isabelle sabia muito bem a quem pertencia àquela máscara.

Ela era francesa afinal de contas. Conhecia as lendas. E não era preciso passar muito tempo em Paris antes que as fofocas dos mais recentes acontecimentos da Opera Populaire chegassem aos seus ouvidos.

Isabelle não podia acreditar. O fantasma da ópera! Sua sobrinha estava apaixonada pelo fantasma da ópera!

Elise se encaminhou para Erik, apertando o braço dele. Os dois trocaram um olhar. Ele sabia que isso acabaria acontecendo. Elise tinha lhe dito que quando sua tia Isabelle soubesse do noivado, iria querer conhecê-lo. Só esperava que o momento não tivesse que chegar tão cedo.

–Este é Monsieur Destler? – Isabelle perguntou. Irritada e assustada ao mesmo tempo.

Elise apertou ainda mais o braço de Erik, nervosa pelo olhar exasperado que sua tia lançava aos dois.

–Um assassino cruel e louco? Elise, você perdeu a cabeça?

Sua sobrinha ergueu a cabeça e ela viu um brilho repentino de coragem passar por seus olhos.

–Erik não é só isso. Ele é muito mais. E se a senhora não tentar conhecê-lo com o tempo. Nunca vai saber. – não pode acreditar no que ouviu. Ela o estava defendendo.

Isabelle virou-se para ele.

–E as histórias envolvendo uma paixão por uma certa soprano?

–Uma ambição. Uma obsessão. Nada mais. Elise me mostrou o verdadeiro significado de amar alguém. – sentiu um arrepio ao ouvir a voz dele.

O homem parecia extremamente calmo. Isabelle imaginou se aquilo não era uma farsa apenas na superfície.

–Se ela quisesse ir para Londres, você a deixaria ir?

–É claro senhora. Mas ela deseja ficar.

Ela os estudava cuidadosamente. Por que todo esse interrogatório? Por acaso era um crime se apaixonar?

Isabelle tinha que confiar na sobrinha. Elise jamais se apaixonaria por alguém que era o monstro que todos diziam que Erik era.

–Elise, volte para o hotel. Fique com Thomas. – ordenou.

–O quê? – Elise perguntou abobalhada.

–Volte para o hotel. – repetiu firme. – Não se preocupe comigo. Tenho certeza de que Erik poderá me levar de volta à superfície.

Os olhos azuis atravessaram Elise, parecendo fazer sua alma gelar.

A menina voltou pelo caminho no qual tinha chegado.

Aquilo não ia acabar bem.

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Bateu a porta do quarto ruidosamente.

–Cuidado. – seu tio Thomas avisou. – Ethan está dormindo.

–Desculpe. – falou, sentando-se ao lado dele no sofá.

–Quer um pouco? – gesticulou para a xícara de chá que segurava.

–Não.

O clima ficou silenciosamente estranho.

Thomas repousou a xícara de chá de volta na bandeja.

–O que aconteceu?

Elise virou-se para ele, sem responder.

–Onde está Isabelle?

–Ela decidiu ficar. Me obrigou a voltar para o hotel. Está conversando com Erik agora.

–Seu namorado? – a menina lhe lançou um olhar pouco amistoso. Thomas sabia que era puro nervosismo. – Não se preocupe. Tudo vai acabar bem. Isabelle pode bancar a durona, mas ela não é realmente assim. Acredite. Eu a conheço.

Elise pareceu não relaxar.

–O que realmente está acontecendo, Elise? Você não ficaria desse jeito à toa.

–Ela não vai me deixar ficar. – a voz dela tremeu.

–Como você pode ter tanta certeza? – falou calmo. – Não é porque vocês se conhecem há pouco tempo, não é? Você sabe que sua tia e eu passamos pela mesma situação. Todos achavam que nosso casamento era uma loucura. Ela vai entender.

–Não é isso. – Elise parou. – Tia Isabelle não está pronta para aceitar Erik. Duvido que a maioria das pessoas também esteja.

–Mas você o aceitou. – seu tio continuou. – Que segredos ele esconde que podem ser tão horríveis assim?

Ela suspirou.

–É uma longa história.

–Tenho a impressão de que teremos tempo.

Elise concordou.

–Muito bem. O que o senhor sabe sobre o fantasma da ópera?

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Isabelle olhou ao redor, prestando atenção pela primeira vez. O lugar era sombrio, sem dúvida. Havia alguns móveis de madeira e sofás espalhados pela sala. E um órgão. Só podia imaginar como aquele estranho instrumento tinha ido parar ali.

Erik observou a mulher caminhar pelo covil. Ela era quase tão bonita quanto Elise. Odiava admitir. Mas algo em seu olhar lhe causava arrepios.

Obviamente, era uma mulher de temperamento forte.

Ela sentou-se em um dos sofás e Erik achou melhor tomar um lugar ao seu lado.

A mulher lhe lançou um olhar penetrante. Erik devolveu o mesmo olhar.

–Por que o senhor usa uma máscara? – a voz dela era calma.

Tinha tocado exatamente na ferida. Erik levou a mão ao rosto. Um tanto incomodado.

–Para esconder uma deformidade de nascença.

–O senhor já matou antes? – Isabelle estava disposta a saber o quanto da lenda dele era verdade.

Erik não se surpreendeu.

Ela queria a verdade? Pois muito bem.

–Já. Não é algo de que me orgulhe. Mas às vezes é preciso fazer algo de que não gostamos para sobreviver.

Ele estava sendo honesto. Mas duvidava que isso de alguma forma fosse ajudar a ele e a Elise.

–Minha sobrinha já o viu sem a máscara?

Erik não pode deixar de sorrir.

–Sim. Não é uma visão boa de ser ter. Mas Elise nunca se importou. A maioria das pessoas sairia correndo. Ela, por outro lado, prefere que eu fique sem a máscara perto dela. Elise não costuma agir como o esperado.

–Não. Não costuma. – Isabelle sabia disso melhor do que ninguém. A menina parecia ter uma mente própria. Nunca fazia nada como os outros fariam. Era incrivelmente teimosa também. O que fazia dela uma pessoa única.

–Eu sei que ela o ama, Monsieur. Senão, não estaríamos aqui. Mas será que o senhor pode dizer o mesmo?

–Sim, Madame, eu a amo. Sei que dever ser difícil de acreditar em alguém como eu. Mas eu amo Elise como nunca amei ninguém.

Isabelle esmaeceu. Sabia que ele estava falando a verdade.

–A senhora acha que eu não sei que não sou digno dela? Que eu não sou o bastante? Elise merecia um homem mil vezes melhor. Eu nunca vou entender o que fez com que ela se apaixonasse por mim. Mas eu a amo. E ter Elise ao meu lado é a única felicidade que eu já conheci.

Erik parecia calmo, como se cada palavra que dissesse fosse calculada. Mas no fundo, estava desesperado.

–Você faria qualquer coisa por ela? – Isabelle perguntou.

–Sem hesitar. – ele respondeu firme.

Isabelle não podia negar, eles estavam apaixonados. Seria incrivelmente difícil separá-los agora. E desastroso também.

–Não me entenda mal, Monsieur. Mas que vida você e Elise poderiam ter aqui? Vocês casariam e depois o quê? Viveriam dentro do subterrâneo. Minha sobrinha merece algo melhor do que isso.

Erik sentiu suas esperanças esvaecerem.

–Eu não estou disposta a simplesmente abandonar minha sobrinha aqui na cidade. Tinha planos de que Elise fosse morar comigo agora.

Isabelle parou. Seus olhos ficaram mais doces de repente. Pegando Erik de surpresa.

–Só posso pensar em uma maneira para resolver toda esta situação.


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Notas finais do capítulo

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