— Entra lá!

— Por que eu?

Quatro crianças discutiam no corredor. Três garotos e uma garota. Os três garotos eram idênticos, só diferenciados por seus suéteres, sendo que cada um contava com uma letra diferente. “J”,”H”, “F”.

Jeremy, Harry e Finn. Os três possuíam cabelos ruivos espessos e lisos, os corpos sardentos, a pele branquinha, e olhos azuis-acinzentados.

A garota era ligeiramente menor que os três, e possuía longos cabelos loiros, quase brancos, que lhe alcançavam o quadril. A pele era branquinha e cremosa, sem uma única mancha. Os grandes olhos azuis estavam estreitados, observando os trigêmeos. Seu suéter possuía uma grande letra “N”. Nikki.

— Porque você é a Nikki! — Exclamou Jeremy.

— Exatamente. Você é a filha mais nova, a mais queridinha e fofinha — Continuou Harry.

— E se mamãe souber que a gente esteve lá, ela mata a gente! — Finalmente completou Finn.

A garota mais nova fez uma careta pensativa, como se avaliasse sua situação. Os três garotos bufaram simultaneamente. Então Finn puxou a irmã para mais perto, olhou-a nos olhos e lhe apertou os ombros.

— Escuta Nikki, nós somos irmãos, e devemos nos unir contra a opressão da negação de informações aos mais jovens. Por isso, você vai entrar lá, e pegar o tal Manual. Tudo bem?

Nikki olhou atenciosamente para o irmão e então sorriu.

— Eu faço.

Os trigêmeos soltaram sorrisos aliviados. Mas a expressão da mais nova era determinada.

— Eu faço, mas quero algo em troca. Meu serviço não é grátis — Concluiu a mais nova com o queixo empinado.

Jeremy resmungou algo sobre a sociedade bruxa jovem já estar corrompida pelo dinheiro, e enfiou a mão no bolso. Tirou de lá algumas moedas.

— Alguns sicles servem pra você? — Indaga ele, mostrando três moedas de tamanho médio prateadas.

A garota agarrou as moedas e sorriu, enfiando-as no bolso da calça que usava. Com um grande sorriso ela estendeu a pequena mão a frente, que Harry apertou, como se fechassem um acordo importante.

— Foi bom fazer negócio com vocês — Disse Nikki profissionalmente.

Então a menina deu as costas para os três e começou a andar pelos corredores da casa, sendo seguida de perto pelos trigêmeos, que observavam-na atentamente. Nikki dobrou alguns corredores, até parar na frente de uma porta de madeira escura, como todas as outras portas do corredor, exceto pelo fato de nessa porta haver uma inscrição numa plaquinha dourada “Escritório de Rose J. G. W. Malfoy”.

A garota lançou um olhar ao redor, um último olhar para os irmãos mais velhos, e entrou no escritório.

As paredes do escritório eram claras, em contraste com os móveis de madeira escura. Em uma das paredes havia uma grande estante, que quase cobria toda a extensão da mesma. Vários livros cobriam as prateleiras, muitos deles sendo da autoria de Rose J. G. W. Malfoy. Além de livros haviam pequenas esculturas, fotos e caixas de madeira.

O chão era coberto por um carpete vermelho, e no meio da sala, havia uma escrivaninha de madeira escura, com um aspecto profissional, tirando o fato de que estava coberta de lixo e papéis. Havia também uma máquina de escrever no meio de tudo, e um laptop trouxa, equilibrado na lateral da mesa.

Mas na frente de todo o entulho haviam três fotos. Uma de Rose Weasley em sua juventude, toda sorrisos e sardas. A outra era de Rose em seu casamento com Scorpius Malfoy, que também sorria abertamente. A última delas era uma foto em família, Rose e Scorpius atrás, três garotinhos ruivos a frente, com sorrisos maldosos, e uma garotinha loira nos braços de Rose, que sorria sapecamente.

Atrás da escrivaninha havia uma cadeira confortável de couro negro, e a frente da escrivaninha, uma poltrona de couro vermelho.

Nikki observou o escritório da mãe atentamente, a procura do tal Manual da Família Weasley que seus irmão haviam mencionado. A garota fuçou em todas as caixas, procurou entre os livros, e até mesmo revirou os arquivos no computador, mas nada.

Foi então que ela ouviu uma voz.

— Procurando alguma coisa?

A garota se virou, e deu de cara com a mãe encostada no umbral da porta, com os óculos de leitura dourados equilibrados em seu nariz, e um sorrisinho torto no rosto.

A mais nova se encolheu, ficando vermelha na hora, mas a mãe não pareceu querer repreendê-la. Ela apenas entrou no escritório, fechou a porta e se sentou atrás da escrivaninha. Então ela indicou a poltrona vermelha para a filha, e andou até ela, se atrapalhou um pouco para subir na estrutura alta para sua estatura baixa, e então finalmente encarou a mãe, mesmo tendo que erguer a cabeça para fazê-lo.

— Oi mãe — Disse parecendo envergonhada.

Rose riu, e observou a filha, parecendo mais miúda do que realmente era naquela cadeira enorme. Então inclinou a cabeça e sorriu.

— Olá, Nikki. O que faz em meu escritório?

A mais nova ajeitou os cabelos, melhorou a postura na poltrona para poder ver a mãe melhor.

— Hmm... É que... Eu estava procurando um... Você sabe... — A menina se atrapalhou com as palavras, fazendo a mãe rir.

— Espere — Pediu Rose. Então ela procurou a varinha em meio a bagunça de sua mesa. Quando a encontrou, fez um floreio.

A porta se abriu, e três garotos ruivos desabaram no carpete vermelho do aposento. Os três ficaram em pé rapidamente, olhando para a mãe com receio. Então a mãe dirigiu um olhar para a filha acompanhado de um sorriso.

— Continue.

Nikki olha para os irmãos, pedindo ajuda, mas os três possuem toda a atenção voltada para o chão. Então a menina encara a mãe, que parecia se divertir com a situação.

— Bem... Jeremy, Harry e Finn ouviram você falando sobre um tal Manual da Família Weasley, e eles querem saber o que é, então eu vim pegar – Disse Nikki com um ar envergonhado.

Os irmãos se encolheram, esperando os gritos que a mãe lhes dirigiria, mas não houve nenhum grito ou sequer movimento da parte dela. Rose soltou um suspiro e massageou a cabeça, como se estivesse tendo dores.

— Eu esperava que um dia vocês descobrissem. Mas não tão cedo assim — Ela soltou. Levantou então o olhar para os filhos e sorriu. — Eu era só uma criança quando comecei a escrever, e olhando agora esse Manual me parece bobo. Mas mesmo assim acho que deveria passar ele para vocês.

Rose se levantou, andou até a estante, e tirou dela uma pequena caixa de madeira. Tirou então a tampa, e dali de dentro retirou um caderninho de com uma capa de couro vermelho. Suas folhas estavam estufadas, como se houvessem várias fotos coladas em suas páginas, como se em cada folha estivesse algo escrito. As folhas estavam um pouco amareladas e o caderninho não parecia estar em um bom estado.

Rose acariciou a capa em vermelho, como se fosse um gatinho de estimação, então esticou o braço, colocando o pequeno livreto nas mãos de Nikki, e o segurou com cuidado.

— Neste livro estão as minhas mais loucas aventuras, e o que aprendi com elas. Minha adolescência está aí — Comentou Rose, olhando com carinho para o caderno nas mãos pequenas de sua filha. — O que me dá razão para ter um pouco de ciúmes dele. Relutei em passá-lo para frente como prometi, pois comecei a ter muito apreço pelas histórias. Mas acho que vocês devem ficar com ele, e devem passá-lo adiante. Não acho que esse livrinho seja inútil, ele ainda pode ajudar algum Weasley no futuro.

Então Rose sorriu com carinho para seus quatro filhos, e andou até eles. Bagunçou os cabelos de todos, e logo depois lhes deu um beijo na testa. Então andou até a porta e abriu-a.

— Agora que tal descobrir sobre meu passado loucamente idiota?

Os quatro saíram correndo da sala, especulando animados sobre como seria o caderninho, e que tipos de história haviam nele. Rose sorriu olhando para seus filhos até estes sumirem de vista. Então alguém se recostou no umbral da porta.

— Não acha que são muito novos para testemunharem suas loucuras?

Rose então olhou para o marido e abriu um sorriso.

— Não. Eu acho que estão até mesmo velhos demais para as minhas idiotices joviais.

Scorpius sorriu e andou até a esposa, envolvendo-a em seus braços, e beijando o topo de sua cabeça. Rose afundou o rosto no peito de seu marido, olhando para o rosto sorridente do mesmo.

— Então você acha que era idiota por que era jovem? — Debochou ele. — Pois deixe eu te dizer uma coisa: você ainda é idiota, porque você nasceu assim.

— Você gosta do meu eu idiota! — Exclamou a ruiva indignada, fazendo Scorpius rir.

Então ele apertou o corpo da menor contra o dele.

— Correção: eu amo você inteira.

Rose riu, e então abraçou com mais força seu marido, esmagando o rosto em seu tórax.

Manual, espero que você ajude eles também.

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Olhei em volta, certificando-me de que não há ninguém ao redor, para só depois abrir a porta do quarto de Jerry, Harry e Finn. Ninguém.

Ótimo!

Entrei no quarto e então fechei os olhos. Vamos lá Nikki, você consegue! Lembre-se Passo 1: pegar o MFW no quarto dos trigêmeos.

Olhei para o quarto, em busca do baú em que eu sei que está escondido o Manual. Nossa! Há quanto tempo eu não o vejo. Andei até o guarda-roupa e fucei entre as roupas jogadas ali, até finalmente encontrar o baú.

Assim que o encontrei abri a tampa e enfiei minha mão lá dentro em busca do fundo falso. Meus dedos tateiam até achar a abertura, que eu puxo para cima. Enfio então a outra mão e pego o caderninho com capa de couro vermelho. Olho em volta. Ninguém.

Fecho o fundo falso do baú, assim como sua tampa e a porta do guarda-roupa, para finalmente sair do quarto.

Passo 1 completado com sucesso! Passo 2: entrar no meu quarto antes que alguém perceba que eu peguei o Manual.

Enfiei o Manual debaixo da blusa e entrei no corredor. Andei um pouco e logo Finn apareceu na minha frente. Ele olhou desconfiado para a protuberância em minha barriga.

— Oque está fazendo? — Indagou meu irmão mais velho. Sorri nervosa.

— Indo para o meu quarto, oras!

Ele encarou minha barriga novamente, e me olhou nos olhos, desconfiado.

— Fazer o que?

— Preciso dizer até o que eu vou fazer no meu quarto? Meu Merlin, que coisa! — Exclamei andando pelo corredor, a porta do meu quarto fica no final do mesmo.

Mas no caminho acabei esbarrando acidentalmente com Finn, o que fez o Manual cair de seu esconderijo. Nem dei muito tempo para Finn ver o que era, apenas agarrei o caderninho e corri desesperadamente para o meu quarto. Ouvi os passos de Finn atrás de mim, mas não parei até entrar em meu santuário e trancar a porta.

— Nikki Rose Weasley Malfoy, abra essa porta agora!

A porta balançava rudemente a cada batida de Finn. Escorei meu corpo na madeira e escorreguei para o chão, ignorando completamente o chamado incansável de Finn. Encaro o caderninho, fazendo um olhar feio para ele.

— Espero que você faça tudo o que mamãe diz que faz! — Repreendi o caderno. Percebi que pareço uma louca, então apenas balanço a cabeça e ando até minha escrivaninha.

Finn ainda bate na porta, e não parecia que ele ia desistir. Apenas ignorei aquela gritaria incessante de meu irmão e abri o caderno, reparando que ele estava sem folhas. Respirei fundo e abri minha gaveta, tirando dali a varinha da mamãe, esperando que aquilo funcionasse.

Mamãe usa magia o tempo todo, então talvez se eu usar a varinha dela não consigam localizar meu feitiço. Ou talvez sim, não sei. Fiz então um feitiço simples para aumentar a quantidade de folhas inutilizadas.

Lembrei-me de minha mãe dizendo como é relaxante escrever no Manual. Ela diz que alivia frustrações e tudo mais, mas eu nunca tentei algo parecido com o que ela sempre me fala. Mas talvez estivesse na hora de fazê-lo.

Peguei então minha pena favorita e um tinteiro. Molhei a pena na tinta e então pensei um pouco sobre como mamãe costumava escrever. Talvez eu devesse fazer igual, mas eu não sei. Suspirei e então levantei a pena, pairando-a a poucos centímetros acima do papel.

Ao fundo Finn gritava sem parar, esmurrando a porta com força. Fechei os olhos.

Muito bem Nikki, Passo 1 e 2 foram completados. Agora o Passo 3: continuar o que mamãe começou e passar minhas histórias adiante.

Engoli em seco. Perto disso, roubar de Jerry, Harry e Finn parecia moleza. Minha mão tremeu um pouco, e algumas gotas de tinta negra molharam o papel. Respirei fundo mais uma vez.

Vamos Nikki! Se você consegue sair viva de uma briga com Rose Weasley Malfoy, você consegue escrever essa besteirinha!

Então a pena tocou o papel. A princípio as letras eram apenas amontoadas nas linhas, até começarem a se transformas em palavras e logo depois em uma introdução completa ao tema.

Encarei orgulhosa a minha primeira linha escrita ali. Com um sorriso olhei para uma foto minha em cima da escrivaninha.

Eu sou filha de Rose Jean Granger Weasley Malfoy! Eu posso fazer qualquer coisa que eu quiser!

Encarei mais uma vez a linha que eu escrevi. Sorri.

E é assim meus amigos, que se começa uma nova geração!

MANUAL DA FAMÍLIA WEASLEY: LIDANDO COM IRMÃOS SUPERPROTETORES

…

Bem galerinha, essa é o fim da nossa história!

Mas lembrem-se, esse também é o começo de muitas outras aventuras!!!

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