Selfless and Brave. escrita por comfortablynumb


Capítulo 13
Fluorescent Adolescent




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Oh that boy's a slag
The best you ever had
The best you ever had
Is just a memory and those dreams
Weren't as daft as they seem
Not as daft as they seem
My love when you dream them up
Oh Flo, where did you go?

O resto do dia passara como um flash. O almoço fora monótono, todos tensos devido à exaustão causada pelas lutas. Elas pareciam estar exaurindo todos, até mesmo os que não lutaram, incluindo Eric. Por fim, observava a última luta do expediente: duas meninas, uma nascida e uma transferida. Como previsto, a nascida venceu a luta em menos de cinco minutos.

Ao ouvir o sinal soando, que significava o fim da iniciação, suspirei aliviado. A única coisa que gostaria de fazer naquele momento era fixar minhas raízes na desconfortável cama que estava usando e nunca mais sair dali. Mas era praticamente impossível. A histeria daquele local era enorme, ainda maior que a minha vontade de descansar. Desperto dos pensamentos com Joseph me cutucando.

— Ei, Quatro, parabéns pela luta de hoje! — ele exclama.

— Obrigado.

— Então, Amah está nos convidando para outro jogo. Você irá?

— Não. Agradeça a ele, mas estou exausto.

— Entendo. — ele diz, se afastando. — Então, até mais!

— Até mais — digo, observando o garoto desaparecendo.

Em passos lentos, caminho até o quarto, que estaria completamente silencioso caso não houvesse o soluço de uma garota. Ao entrar no quarto, pouco iluminado, tento me guiar pelo som e deparo-me com Maddie, que não esperava que eu estivesse ali.

— O que foi, Maddie? — pergunto, preocupado.

— Julia. Ela se foi.

Por alguns instantes, me lembro de seu corpo atingindo a escuridão e o horripilante barulho de seu corpo caindo.

— Não sei o que está acontecendo. Era pra ela estar sã e salva! Eu deveria ter salvado-a...

Sinto uma pontada de pena. Entretanto, estou acostumado com perdas.

— Infelizmente, terá que se acostumar com a ideia de que ela está morta. — pronuncio essas palavras de uma maneira tão casual que me sinto mal. — Desculpe-me. Não sou bom com conselhos. Mas, acredite, não deixe que isso abale o seu desenvolvimento. Se ela estivesse aqui, com certeza não estaria feliz de ver você choramingando pela morte de alguém.

— Não é simplesmente isso. O que direi aos seus pais quando eles vierem a visitar?

— Daremos um jeito nisso. - digo, dando dois tapas no ombro dele. — Daremos um jeito.

+++

Ao acordar com o despertador, sinto-me melhor que o dia anterior, porém, ainda com resquícios de exaustão. Olho ao meu redor e vejo Maddie, ainda com o semblante triste. Todos os iniciandos estão de pé, exceto eu. Em um pulo, estou de pé, ouvindo as instruções de Kira, a instrutora.

— Me encontrem nos trilhos. Hoje iremos fazer algo da tradição de nossa facção.

Caminhando pelos túneis da Audácia, ando lado a lado com Clary, que possui um sorriso puro no rosto.

— O que vamos fazer? — pergunto, confuso.

— Surpresa! — ela diz. Bufo, mas dou de ombros.

— Baseando-me nas teses que eu fiz até agora em relação à Audácia... — Joseph faz uma pausa, analisando seu comentário. — Provavelmente faremos algo imprudente, tal como matar criancinhas com uma metralhadora por pura diversão.

— Você pode parar de ser nerd pelo menos uma vez na vida? — Clary revira os olhos. — E respondendo o seu comentário impertinente, não, não iremos matar criancinhas com metralhadoras. Podemos ser agressivos, mas não sádicos!

— Mas crianças irritam! — ele continua.

— Não há nada mais irritante que você, Joseph. — Clary retruca, e entre risadas, chegamos nos trilhos.

Ao chegar lá, tudo que consigo enxergar é escuridão. Sigo os iniciandos nascidos na Audácia, e os transferidos fazem o mesmo. Estamos em uma única fileira, de frente a Amah e Kira. Atrás deles, consigo ver o céu repleto de estrelas e consigo distinguir alguns canos de armas e protetores de gatilho.

– Hoje, vocês irão participar de uma atividade tradicional em nossa facção. - Amah comenta. - Peguem suas armas, que estão atrás de mim. Agora! - ele exclama, e desajeitadamente, obedecemos.

Chegando perto da caixa onde há as armas, vejo "PAINTBALL" escrito nela. Enfio os paintballs no bolso de minha calça e seguro a arma, que é pesada, mas não o suficiente para não manuseá-la.

Quando todos já estão armados, encaro o horizonte e vejo o trem, que cresce aos meus olhos em questões de segundos. Chegando mais perto de nós, ele desacelera, e percebo que essa é a hora de pular. Sinto-me imprudente, audaz. Sinto-me corajoso.

E eu pulo.

Atrás de mim, vejo Amah e Kira, seguidos de Clary, Joseph, Maddie e outros iniciandos. Quando todos já estavam no trem, acomodei-me no chão do vagão ao lado de Pharrel e ouvi o anúncio de Kira.

— Nós dividiremos o grupo da Audácia em dois para um jogo de caça-bandeira...

— Iniciandos nascidos contra os transferidos? — questiona alguém. — Isso é injusto!

— Cale a boca. — Amah retruca e Kira prossegue.

— Cada grupo terá o mesmo número de nascidos e transferidos. Haverá um time que esconderá sua bandeira primeiro, enquanto o outro esperará. Eu e Amah lideraremos os dois grupos e, consequentemente, escolheremos o nosso time. Começando pelos transferidos. Escolha, Amah.

— Eu quero o Careta, digo, Quatro. — ele diz, e os olhares se voltam a mim.

— Mia.

— Joseph.

— Eric. — diz Kira, e o garoto se posiciona perto da instrutora. Lança um olhar malicioso a mim, porém dou de ombros.

— Pharrel.

— Jonathan. — ela pronuncia, e um garoto de cabelos loiros e olhos negros se levanta até ela.

— Zöe — se levanta uma menina de cabelos negros e longos, e pele num tom de oliva.

— Maddie.

— Tate.

— Nora.

Não presto atenção na escolha dos nascidos, apenas encaro o meu time e analiso o time adversário. É um grupo miscigenado, onde há garotos e garotas fortes e largos, mas ao mesmo tempo, meninos magros. Não consegui identificar algum critério utilizado para a escolha de Amah, mas dou de ombros, pois o trem está prestes a descer ao nível do solo. Isso significa que teremos que pular novamente.

Desta vez, dou lugar a Pharrel, que se lança e cai desajeitadamente no solo. Pulo, seguido de Joseph, Amah, Zeke e os outros iniciandos. Quando todos aterrissam, Amah corre em direção ao leste, e nós fazemos o mesmo.

A noite está fria, e o vento, ao bater em meu corpo, me traz uma leve sensação de adrenalina. me sinto bem, e percebo que posso levar uma vida como essa: repleta de amigos, momentos de glória e de paz. Tudo que preciso fazer é passar pela iniciação.

Quando estávamos alcançando a sede da Erudição, Amah para e todos nós fazemos o mesmo. A fim de recompor as energias, o instrutor se apoia nos joelhos por alguns segundos.

– Alguma ideia de onde podemos esconder esse negócio? - Amah levanta a bandeira.

– Pensei que já soubesse onde esconderíamos - respondeu um garoto de pele morena e olhos negros, um nascido na Audácia. Zeke. - Viemos aqui à toa?

– Vocês são o meu time, portanto vocês também deve tomar atitudes em relação a isso! - exclamou Amah. - Nunca sejam passivos...

– Ai, cale a boca, Amah! - murmurou uma nascida. Era uma garota bela, com cabelos castanhos até o pescoço e olhos meles. Embora fizesse uma careta, continuava atraente. - Estou cansada de ouvir os seus sermões.

Amah fitou a garota, rindo com escárnio.

– Está cansada de ouvir os meus sermões, Shauna? Então pressuponho que esteja preparada para liderar esse amontoado de maricas. - finalizou, arremessando a bandeira na garota, que alcança o objeto ainda no ar.

– Que seja. - ela retruca em um tom irônico, e agora, tudo o que podemos ver é a figura de Amah desaparecendo no horizonte, portando sua arma na mão.

– Maricas? - Zeke zomba. - Quem ainda usa essa gíria.

– Não sei - responde um outro menino, num tom mais sério. - Porém, devemos mostrar a eles que não somos os fracotes da história. Podemos nos virar sozinhos.

+++

Após uma breve discussão sobre onde esconderíamos a bandeira, decidimos escondê-la no topo do carrossel do Navy Pier. Ao fazer isso, Shauna e Zöe ficaram encarregadas de proteger a bandeira, enquanto o resto do grupo rumava em direção ao desconhecido. Ao meu lado, encontrava-se Joseph e Zeke.

Estávamos atravessando o pântano que costumava ser um lado. A lama fazia com que o ar do local cheirasse mal. Por fim, alcançamos a ponte que nos levaria para o outro lado do parque.

– Vocês têm algum critério a ser utilizado para seguirem esse caminho? - eu indago.

– Sim. - Zeke responde. - Não acredito que tenham percebido, mas um de nossos "soldados" não nos seguiu até o carrossel. Na verdade, ele permaneceu imóvel no local de partida, quase imperceptível. Estão vendo aquele pequeno ponto brilhante? - Zeke apontou à leste, e consegui observar uma luz, ainda que fraca, proveniente do Edifício Hancock. - Ali está ele, e naquele prédio está a bandeira.

– Isso não faz sentido! - Joseph exclama. - Por que diabos alguém esconderia a bandeira num local onde há um adversário?

– O cara é demais. - Zeke sorriu. - É o meu irmão. E, provavelmente, algum idiota do time adversário exclamou o destino da bandeira, o que fez com que Uriah ganhasse tempo e alcançasse o Edifício antes mesmo deles.

– E não existe ninguém patrulhando o local? - pergunta Joseph, ainda confuso.

– Provavelmente estão guardando a bandeira com alguém do time, em algum local próximo à cobertura. E este alguém não consegue enxergar Uriah, pois ele está em uma posição onde é quase impossível observá-lo.

– Eu não tinha reparado que você tinha um irmão gêmeo. - digo, enquanto alcançávamos o outro lado da ponte. O Edifício Hancock ainda estava longe, mas à medida em que nós corríamos, o prédio crescia aos nossos olhos, substituindo a exaustão pela euforia.

– E eu não tenho, Careta. - ele sorri e faz uma pausa na corrida. - Ainda faltam dois anos para a iniciação dele.

+++

Ao nos aproximarmos ainda mais do Edifício Hancock, Zeke, Joseph e eu desaceleramos os passos, a fim de tornar a invasão silenciosa. Os outros iniciandos, a poucos passos atrás de nós, fazem o mesmo. Após alguns segundos de silêncio, percebo que ser um soldado da Audácia é muito mais que correr, atirar ou lutar. É poder se adaptar a diversas situações e saber como agir perante ao que estamos enfrentando. É muito mais que força. É inteligência. E nesses breves segundos, penso que, de fato, esse é o meu lugar.

– Ei! - uma das iniciandas transferidas sussurra. Lauren. Zeke se vira.

– Eles estão ali! - a garota apontara para um dos trechos que não estavam iluminados à direita. Ao forçar a minha vista, consigo observar Maddie, um garoto com uma grande tatuagem no rosto e uma garota com um piercing localizado no septo nasal. Eles parecem distraídos.

– Nós três iremos invadir a cobertura, enquanto vocês os distraem, ok? - Zeke dispara. Ele não espera a resposta.

Estamos em frente ao Edifício Hancock, que está cercado de iniciandos armados com as tintas do paintball. Analisamos o local por alguns segundos até ouvirmos a lufada de ar da arma ao disparar a tinta colorida. Ouve-se um grunhido.

E a histeria começa.

– Mas que diabos! - reclama Joseph, desviando de um disparo vindo de um iniciando qualquer e continuando a correr. - E agora, o que fazemos?

– Devemos espreitar o inimigo. - respondo. - Quem você acha que está guardando a bandeira?

– Provavelmente Clary.

– Ou Eric.

– Ou os dois. - Zele diz e segue em direção ao Water Tower Place, que se localiza em frente ao edifício Hancock. Em meio à escuridão, nos guiamos com a pequena lanterna de Joseph. Zeke, ao perceber a luz, destrói o objeto.

– Qual é o seu problema? A luz pode alertar os outros de que estamos aqui!

– Tarde demais. - ouvimos a voz de Amah, que dispara uma lufada de tinta em Zeke, logo, apontando a arma em mim.

– Mas que merda! - grita Zeke, indignado.

Em uma fração de segundos, jogo minha arma no chão, me rendendo. Fecho os olhos e ouço a lufada de ar. Entretanto, ela não me atinge nem atinge Joseph. Atinge Amah. Observo um garoto magro aparecer atrás do instrutor.

– Mostramos a você que podemos nos virar sozinhos? - indaga Joseph, rindo.

– Ainda não, transferido, ainda não. - respondeu, jogando sua arma no chão e saindo dali.

– O babaca deveria estar nos ajudando. - disse Pharrel quando Amah já não estava a alcance.

– E agora, o que faremos? - pergunto.

– Entraremos no edifício. - respondeu Pharrel como se fosse óbvio.

Silenciosamente atravessamos a rua e fomos em direção à entrada do prédio. Com a histeria causada entre o embate, a entrada estava praticamente desprotegida, exceto por uma garota de cabelos roxos, que, por sorte, estava distraída. Quando fora atingida pela bala de Joseph, tombara para trás. Por fim, adentramos no local, os passos tão silenciosos quanto uma agulha.

– Escada ou elevador? - questiona Pharrel.

– Acredito que as escadas são mais seguras. - respondo. Ambos anuem com a cabeça e seguimos em direção à escada.

O local é precariamente iluminado por luzes azuis e o ar é rarefeito, fazendo com que eu sinta um arrepio em minha espinha. A sensação da claustrofobia em um local com pouco ar circulando me faz lembrar da paisagem do medo, o que automaticamente também me lembra de que somos treinados a encarar nossos medos. Meu novo nome também me faz lembrar disso. Logo, concentro minha mente na possível vitória e na glória de estar segurando a bandeira adversária. Tais pensamentos atenuam meu medo e eu sigo em frente. Desta vez, ignorando a cautela corremos sob os degraus e por breves minutos ficamos em silêncio.

O Edifício Hancock possuía cem andares, o que significava que ainda haveria trinta andares a subir. A fim de quebrar o silêncio, sussurro.

– Acho que deveríamos desacelerar nossos passos, agora.

– Concordo. Estou cansado e já estamos chegando perto - comenta Pharrel.

– Após aproximadamente dez minutos, estávamos no nonagésimo quarto andar. Quando estávamos prestes a subir, a luz começara a vacilar. Pus meu dedo em dicar em meus lábios, fazendo o sinal de silêncio e antes a luz, de fato, acabar, continuei parado e eles fizeram o mesmo.

E como uma voz ecoando num espaço vazio, conseguimos ouvir o barulho da tinta atingindo algo ou alguém. As luzes se acenderam novamente, e antes mesmo de eu conseguir observar quem fora atingido, o autor do tiro pressionava seu corpo contra o meu, e nós estávamos caindo pelas escadas abaixo.

Eric.

Atingimos a parede do nonagésimo terceiro andar. Minha nuca doía devido ao impacto, e agora as mãos de Eric se encontravam no meu pescoço. Suas unhas eram grandes e pareciam perfurar-me. Estava indefeso e não saberia como agir naquele instante. De repente, num ímpeto de coragem, decidi utilizar as minhas pernas, que não estavam sob o peso de Eric. Levei-as até a cabeça dele, encurralando-o. Ele continuava forçando seu corpo, a fim de continuar de joelhos, então, concentrei mais força nas pernas, fazendo-o desistir. Nossas armas estavam jogadas no chão, à minha direita. Desfiro um chute no rosto do transferido, que solta um grunhido de dor. Desajeitadamente, levanto-me e alcanço as duas armas. Sem me importar com qual arma me pertencia, segurei a mais próxima e apertei o gatilho. A tinta atingiu o pescoço do garoto.

– Eu fui atingido! - Pharrel solta, frustrado. - Como aquele merda é tão om de mira?

– Eu não sei - subo os degraus, alcançando Pharrel. - Onde está Joseph?

Ele apontou para cima.

– Em busca da vitória. - disse o menino, que havia sido atingido no tórax. - Vá em frente. E boa sorte, Quatro.

Assenti com a mão e subi os degraus. A adrenalina havia tomado conta do meu corpo, e as batidas de meu coração só não eram mais altas que o estrondo vindo do nonagésimo oitavo andar. Ouvi uma voz feminina familiar. Era Clary.

Ao alcançar o andar, vejo Joseph atrás de Clary, seus braços envolvendo o pescoço da garota.

– Agora estamos quites. - Joseph ri com escárnio e a joga no chão. Em um segundo, Clary tenta reagir, porém Joseph já havia a atingido. A bandeira e sua luz trepidante estavam nas mãos de Clary, que a arremessava para longe. Segurei o objeto, mas decidi oferecê-la a Joseph. Ele sorri em agradecimento e seguimos em direção à cobertura.

Com a respiração ofegante, abrimos a porta que nos leva a cobertura. Uma rajada de vento nos atinge. Olho Joseph de relance e percebo sua euforia. Sorrio enquanto o garoto se afasta de mim, alcançando a extremidade do Hancock. Ele grita, quase como um grito de guerra e os iniciandos do nosso time, localizados na rua do prédio fazem o mesmo.

Aceno para Uriah, que retribui com um sorriso. Decido não me aproximar de Joseph, ciente de um dos meus medos. Entretanto, observo o local. Em um dos lados do edifício há um cabo conectado que é utilizado como uma tirolesa. O céu está repleto de estrelas e a lua crescente ilumina o local.

Finalmente, percebo que estou satisfeito por ter dado a bandeira a Joseph. Afinal, não posso esquecer de minhas raízes. Sou altruísta.

Porém, sou mais que isso. Sou corajoso.


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