Melissa acordou no outro dia e foi conversar com sua família sobre o convite que havia feito a Christopher.

Na sala estavam Jace, Clary, Isabelle e Max. Melissa reparou que seu irmão estava mais alegre do que o normal e sorriu, há muito tempo ela sabia da paixão de Max por Syrena e era obvio que algo havia acontecido entre os dois.

Melissa resolveu dizer logo o que precisava:

– Pessoal, eu convidei Christopher para almoçar com a gente.

Isabelle foi a primeira a falar:

– O quê?! Já não basta permitir que aquele demônio viva, e ainda tenho que dividir a mesa com o filho do monstro que matou meu irmão?!

Seu pai e seu irmão também eram totalmente contra a ideia, mas sua mãe tentava acalmar os ânimos de todos. Depois de muita conversa, conseguiram convencer todos a dar uma chance a Chris. Melissa perguntou:

– E onde estão os outros?

– Simon não está se sentindo bem, Jennifer saiu com um garoto e Syrena não pode mais deixar o Instituto- Jace disse.

Melissa assentiu e todos se dirigiram ao Taki’s.

Ao chegarem lá, avistaram uma mesa cheia de membros do bando de Luke. Lá estavam também Maia, Jordan e seu filho, Eric. Melissa reparou que Eric estava alto, mais musculoso do que antes. Seus olhos eram de um castanho-amendoado, doces e sinceros. Melissa reparou também que ele a olhava com certa intensidade e uma sensação estranha tomou conta dela.

Sentaram-se em uma mesa vazia e enquanto faziam seus pedidos à Kaelie, Melissa foi procurar Christopher. Ele estava do lado de fora, parecendo receoso.

Melissa caminhou até ele e disse:

– Ei, não vai entrar?

– Não sei- ele disse- não sei se estou pronto para ter um chicote enrolado no pescoço, se é que me entende.

Melissa revirou os olhos e disse:

– Isabelle me prometeu que não iria nem chegar perto de você, e meu pai não se atreveria a contrariar minha mãe.

– Está bem, eu vou- ele disse.

Ao se aproximarem da mesa, Melissa anunciou:

– Pessoal, este é o Christopher.

– Ele é o filho do Sebastian?- Isabelle disse com descrença.

– Por favor, não o chame de Sebastian. Sebastian Verlac foi uma boa pessoa, e o meu pai– Christopher disse a palavra ‘pai’ com certa dificuldade- bem, todos sabemos o tipo de pessoa que ele foi.

Isabelle ignorou o comentário e disse:

– Não se parece com ele.

– A aparência não importa, ele é um monstro!- Max disse subitamente.

– Max!- Clary o repreendeu.

Melissa sentiu uma súbita onda de raiva por seu irmão, ele estava saindo com uma sereia e seus pais não diziam nada, mas ela não podia nem fazer amizade com seu próprio primo? Ela disse:

– Não fale assim com ele! Ele é nosso primo, o mesmo sangue corre em nossas veias!

– Não! Ele tem sangue de demônio!- Max disse e um silencio arrebatador se seguiu.

Christopher olhou para Melissa com um misto de confusão e mágoa. Ele disse:

– Você... contou a eles?

Sem ter uma resposta, Christopher sai magoado do Taki’s. Melissa grita:

– Chris, espere!

Jace, para a surpresa de todos, se levanta e diz:

– Vou falar com ele.

Clary também se levanta e os dois vão atrás de Christopher.

Antes que qualquer um pudesse falar, Mia Penhallow aparece e diz com raiva a Melissa:

– O que você fez pra ele, sua vaca?!

– Não fala com ela assim- Isabelle diz, com o chicote tilintando em seu pulso.

– Eu falo como eu quiser! E se fizerem qualquer coisa contra meu irmão de novo, eu te mato, Melissa!- Mia diz.

Melissa percebe certo ciúme na voz de Mia e grita:

– Você está assim porque ele é seu irmão, ou porque está apaixonada por ele?

Mia perde o controle e segura o pescoço de Melissa entre os dedos. Ela diz:

– Se disser algo assim novamente, eu arranco seu coração e dou de comer aos lobos! Aposto que o seu amiguinho lobo ali seria o primeiro a experimentar. Ele está doidinho para te comer, dá pra ver nos olhos dele!- Mia diz e sai pisando duro.

Melissa olha na direção de Eric, que agora estava corando e a olhava envergonhado. Ele estava ouvindo a conversa esse tempo todo.

Melissa sente lágrimas de raiva se formando em seus olhos. Esse desastre era todo culpa dela. Tudo culpa dela. Quem mandou ela querer que fossem todos uma família feliz? Pelo visto, sua família nunca seria normal, ou perfeita. E principalmente, nunca esqueceriam de Sebastian. E agora tudo caíra sobre Christopher, e a culpa era toda dela.

* * *

Raphael andava desolado, havia acabado de ter uma briga séria com Mary, e tudo por causa de Allyson.

Mary havia tido uma conversa desagradável com Allyson após a saída de Raphael e havia dito coisas sobre ela que Raphael não podia permitir. Afinal, Allyson era tudo que havia sobrado de sua família. Era sua irmã adotiva, apesar de tudo, e ele queria que as coisas fossem como antes.

Enquanto caminhava por um beco escuro, sentiu o cheiro metálico de vampiro, acompanhado com o doce perfume de lilás e azaleias. Allyson estava encostada na parede do beco logo à frente, parecendo pensativa.

Ela o viu se aproximando e perguntou:

– Dia ruim?

– Está mais para século ruim- Raphael disse com sarcasmo.

Ela o examinou e disse:

– Brigou com Mary?

Ele se virou para olhá-la e disse:

– Como se você se importasse. Passou os últimos dezessete anos fugindo e se escondendo como um rato, sem se importar com nada além de você mesma!

Ela o olhou ressentida e falou com a voz baixa:

– Isso não é verdade. Tenho vigiado você faz tempo, irmãozinho. Me preocupo mais do que imagina.

Os dois permaneceram em silencio por um tempo, talvez se perguntando quando haviam se distanciado tanto um do outro. Allyson disse:

– Matei o Padre John na noite da festa. Talvez lhe interesse, já que ele matou amigos seus.

Raphael permaneceu em silencio. Ele não tinha o menor interesse em vingança. A única pessoa cuja morte desejava era Camille, e ela já estava morta.

Allyson então, se aproximou dele e disse:

– Espero que um dia você seja capaz de me perdoar. Eu só queria vingar Steve, meu irmão gêmeo, nosso irmão e melhor amigo. Será que não pode compreender meus motivos?

Depois de um instante em silencio, ele diz:

– Sinto falta dele todos os dias, não há um dia em que eu não pense em todas as maneiras com as quais poderia tê-lo salvado. Mas ele está morto, Ally. Não há nada que possa mudar isso, você tem que aceitar.

– Aceitar?! Você ‘aceitou’ quando Camille fez sua noiva se atirar de um penhasco? Ou quando eu matei seus “amigos” vampiros? Ein?!- Allyson gritou.

Raphael sente uma facada no estomago ao ouvir isso. Allyson diz:

– Você não é ninguém para me mandar “aceitar”!

Allyson sai correndo em sua velocidade vampiresca e deixa Raphael sozinho com a lembrança de seu primeiro amor morto.

* * *

Vingança. Era nisso que se resumiam os desejos de Vivian. Todos os dias ela emergia no lago escondido perto de sua antiga casa e olhava as ruínas queimadas de sua infância.

Os Nephilim haviam tirado tudo dela. Seu pai, sua mãe e agora sua irmã. Syrena era tudo que restava de sua família e agora ela estava nas mãos dos Lightwood.

Mas Vivian ainda teria sua vingança, e tudo que fosse feito com Syrena também aconteceria com os filhos deles. Qualquer ferimento, arranhão ou tortura seria retribuída.

Uma voz arranca Vivian de seus devaneios. Alarah estava diante dela, com um papel enrolado entre seus dedos. Vivian o pega e lê rapidamente:

“À Dama Vermelha, única e verdadeira Rainha do Fogo.

Escrevo-lhe para relatar que sua irmã passa bem, apesar de estar a muito tempo longe do mar. Os seus captores a deixaram sob os cuidados do vampiro de estimação deles.

Não fui capaz de adentrar ao Instituto, devido à suas proteções divinas, mas garanto que cedo ou tarde eles a transferirão e então teremos a chance de resgatá-la.

De seu fiel amigo,

M.”

Vivian enrolou novamente o papel e o entregou à Alarah, dizendo:

– Destrua isto. Não queremos que os Nephilim saibam que os estamos vigiando.

Alarah pegou o papel e deixou Vivian sozinha, contemplando o que sobrara de seu lar e de sua alma.