The Game escrita por diego_soquetti


Capítulo 2
Parte 1 - Capítulo 1 - Vanguard Fight!




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A sexta carta caía na damage zone. Margal. Um trigger, mas certamente não o que o jogador esperava naquele momento. Uma ironia comum, à qual o garoto sempre se pegava sorrindo. Mais um jogo terminara. Derrota

–Com isso fica... Er... Cinco a três, certo? – O jovem de cabelos castanhos marcava, sorrindo. Oito partidas. Três vitórias. Não era um resultado excepcional, mas quando o jovem parava para pensar no deck que montara ele só conseguia se pegar apreciando o desempenho de algo que certamente não deveria funcionar em primeiro lugar.

–O correto não seria três a cinco, sendo você a falar, Hélcias? – O outro jovem, este de cabelos loiros e levemente mais alto do que aquele a quem chamava Hélcias, parecia fazer questão de marcar quem havia vencido mais. Não se tratava, contudo, de pura arrogância: se se permitia tamanha brincadeira, era certamente devido há uma longa amizade que ambos os jovens partilhavam – Vamos lá cara, pegue um deck de verdade pra variar um pouco.

–Nem dá. Eu só trouxe esse aqui mesmo. Hum, talvez alguém possa me emprestar outro...

Hélcias observou o entorno. A loja especializada em card games e colecionáveis mantinha, logo atrás de seu balcão principal, um amplo espaço para os jogos mais diversos, a maioria algum tipo de card game. Pessoas jogavam e trocavam cartas, mas Hélcias não conseguia apontar qualquer conhecido naquele momento. Era natural. Era plena quarta-feira e a loja não devia contar nem com um quinto da lotação que alcançava nos finais de semana.

O jovem de camiseta azul clara estava prestes a se voltar para o amigo, resignando-se a talvez tentar modificar o deck com alguma carta que tivesse consigo, no máximo, quando o soar familiar de um sino chamou a atenção de todos. A porta da loja havia se aberto. Alguém entrava. Ouviu-se o familiar “bem vindo”, quase mecânico, de um entediado vendedor cujo maior interesse parecia algum jogo em seu celular e, então, um jovem de cabelos negros, calça jeans e camiseta branca um tanto quanto surrada adentrou a área de jogo da loja.

Os olhos de Hélcias imediatamente se desviaram do amigo para observar o recém-chegado, talvez na esperança de ser algum conhecido. O colar ao qual se prendia uma pedra lapidada em formato esférico, uma ágata vermelha, balançava em seu pescoço conforte este se movia. Nada. Certamente nunca vira aquele homem antes. E pela expressão que seu amigo fez ao se virar novamente para ele, também para aquele o sujeito era novo na loja. Nada fora do comum. Mas não lhes resolvia o problema.

–Boa tarde – Rapidamente ignorando o recém chegado e voltando-se para os próprios afazeres, ambos os jovens mal notaram quando aquele se aproximou, cumprimentando-os com um sorriso quase tímido – Olá, eu sou Duo.

–Ah, prazer Duo - Hélcias foi o primeiro a se recuperar daquele leve estupor que se tem quando um completo desconhecido lhe cumprimenta. – Eu me chamo Hélcias e este é o Alvim.

–Prazer – Duo cumprimentou, com um leve aceno de cabeça, sorrindo – Cardfight Vanguard? – Ele disse, abaixando a cabeça para as cartas que ainda estavam jogadas na mesa.

–Sim – Alvim respondeu, com outro aceno de cabeça – Você joga?

–Hum – Meneou Duo, confirmando com a cabeça – Ah, na verdade, eu queria justamente perguntar se posso ficar de próximo entre vocês. Eu estou com um deck que gostaria de testar um pouco, só pra ver como roda.

–Claro – Hélcias respondeu, prontamente, enquanto pegava suas cartas – Na verdade, eu já apanhei bastante. Se quiser, pode tomar o meu lugar – Dizia, com um sorriso gentil.

–Ah, b-bem, na verdade... Se não se importa, eu preferia jogar com você, er, Hélcio?

–Hélcias – O jovem respondeu, sorrindo, acostumado àquele erro – E você tem certeza? Eu acabei de perder um monte, não estou com um deck lá muito bom.

–Por isso mesmo – Duo emendou – Digo, não queira levar a mal, mas eu também não estou com um deck lá muito bom... Eu preferia não pegar nada muito forte agora, só quero mesmo testar o deck... tipo, consistência e tals, entende? – Duo parecia se embaralhar facilmente com as palavras, falando como se fosse se desculpar logo em seguida.

–Bom, eu acho que tudo bem então – Hélcias respondeu, sorrindo – Se importa Alvim?

–Nem um pouco. Eu já estou ficando cansado mesmo – Alvim respondeu, recolhendo as cartas e se levantando da cadeira, cedendo espaço na mesa – Eu realmente prefiro assistir um pouco – Acrescentou, sorrindo.

Ambos os jovens tomaram seus lugares na mesa. Hélcias era o único que usava um playmatch, ao passo que Duo tirou apenas uma deckbox azul da mochila de uma só alça que trazia consigo. Escolhidos o Vanguard inicial e feitos o draw e o mulling, ambos viraram seus primeiros Vanguards para cima, Hélcias revelando um Wingal Brave e Duo apresentando um Megacolony Battler C.

–Megacolony? – Hélcias apontou, levemente surpreso – Não é um clã que se vê com frequência, isso com certeza.

–Eu sei. – Duo limitou-se a responder, com um sorriso entre o tímido e o deboche – Ah, bem... se quiser, pode começar.

Hélcias respondeu com um menear de cabeça e um draw. Seu primeiro ride foi da grade 1 Lake Maiden, Lien. Por sua habilidade, Wingal Brave foi chamado para a rear guard e isso encerrou seu turno. Duo não fez muito diferente: Ride de Phanton Black e call da Battler C para a rear. Um ataque e uma checagem deixa a Hélcias com um de dano. A seguir, o turno de Hélcias. Após o draw, este da call de duas units: Barkgall e Flogal.

–Superior do Blaster Blader? – Duo pergunta. Era sua vez de ficar surpreso com a inconveniência das cartas do oponente – Alguém realmente ainda usa isso?

–Mais efetivo do que parece, ao menos neste deck – Hélcias responde, sorrindo. Por seus efeitos, barckgall chama a Lew enquanto que ao custo de um counter blaster e o posicionamento das três units, barckgall, lew e flogal, na soul garante o superior ride do grade 2, Blaster Blader. Wingal dá seu boost e a checagem é feita. Margal, um draw trigger. Duo recebe seu primeiro dano, ao passo que Hélcias compra uma carta e ativa o efeito de seu starter: envia-o para a soul e adiciona outro Blaster Blader à sua mão.

–Majesty? – Pergunta Duo, conforma dá o ride do grade 2 Bloody Hercules, chamando a outro igual para uma das rear guards, que realiza o primeiro ataque.

–Na verdade não – Hélcias responde, checando a seu segundo dano. Nada. Um ataque do Vanguard lhe lança ao terceiro dano. Três a um. E agora era sua vez. Um sorriso confiante se forma em seu rosto, muito mais advindo da certeza da expressão que seu oponente faria em breve do que efetivamente da confiança em seu deck.

Stand. Draw. Seu terceiro ride do jogo foi o grade 3 Demon Slaying Knight, Lohengrin, que tirou de Duo a exata mesma expressão de surpresa que Hélcias havia visto em Alvim, poucas horas antes, durante sua primeira partida. Soul charge, Lohengring ganha um poder adicional de dois mil. Call em Borgal e Palamedes. Este ataca à Rear Guard, prontamente eliminada, ao passo que aquele ataca ao Vanguard. Uma Epona na checagem, um critical trigger, garante o empate momentâneo do jogo.

Duo sorriu. Diferente das outras vezes, contudo. Olhando para o oponente, ele só poderia chamar aquele deck de torto, na melhor das hipóteses. Um deck aparentemente focado apenas em bater, sem grandes apelativos e que o próprio usuário havia eliminado sua maior força: o counter blaster que garantira o superior do Blaster Blader também eliminara qualquer possibilidade de megablast por parte do Lohengrin. Duo podia relaxar. Aparentemente, enfrentava um iniciante que mal sabia o que fazia. Uma partida fácil, ao que tudo indicava. Era bom ver que seus instintos para oponentes ainda funcionavam bem. Um ótimo recurso, quando se participa de um jogo em que a derrota certamente não é uma opção.

–Ride, Cyclomatus – Ele declarou, posicionando seu grade 3 em campo – Além disso, call desses dois – Completou, chamando a uma unit grade 2 e outra grade 1, respectivamente Tail Joe e Karma Queen, para a rear guard – E pelo efeito da Queen, Palamedes não estanda na próxima vez – Declarou, uma vez pago o custo de dois counter blasts

Hélcias meneou um aceno de compreensão conforme Duo atacava com seu vanguard. O “no guard” de Hélcias lhe custou caro: Machining Scorpio, um crítico, foi a primeira checagem de Duo, que agora criava uma considerável diferença entre os jogadores. Ou assim parecia: a segunda checagem de dano feita por Hélcias lhe revelou uma Eleine, um Heal. Quatro a três. O ataque da coluna lateral é bloqueado por um Barckgall que Hélcias ainda mantinha na mão.

Draw. Soulcharge. O call seguinte de Hélcias foi o do grade 2 Garmore. Descarte de uma carta lhe garante um Snogall na rear logo abaixo. O ataque do Vanguard iniciou sua battle phase, e desta vez foi Duo quem sentiu o peso de deixar o ataque passar: a segunda checagem do usuário de Royal lhe trouxe um crítico, Lew. Já quanto à Duo, seu primeiro dano foi o único relevante: um draw trigger. Sem melhores opções, o ataque da coluna lateral de Hélcias foi em direção à rear guard de Duo, que não se preocupa em defendê-la. Cinco a quatro. É o fim do turno de Hélcias.

–Eu acho que estou bem ferrado agora – Ele apontou, observando o campo de ambos os jogadores. Com cinco de dano, Duo tinha agora total acesso aos efeitos de seu Break Ride. E ele sabia muito bem disso.

Contendo sua vontade de responder ao comentário do oponente com um “você não faz ideia de quanto”, Duo apenas declarou seu Break Ride, dando o Ride em outro Cyclomatus. Pelo efeito, estavam agora todas as units de Hélcias proibidas de levantar em sua próxima stand phase. Novo Tail Joe entra no lugar do anterior e a battle phase tem inicio com o ataque do Vanguard, parado por uma Isolde de Hélcias: uma defesa perfeita. O segundo ataque, contudo, alcançou êxito, e Hélcias viu um draw trigger cair como seu quinto dano. Jogo empatado, mais uma vez. Porém, ao começar seu turno, o usuário de Royal tinha uma obvia desvantagem: todas as suas units, incluindo seu Vanguard, não podiam se erguer.

–Passou o turno? – Duo perguntou. O tom confiante e um sorriso talvez demasiado arrogante no rosto. Não que Hélcias notasse: estava imerso demais no jogo para perceber qualquer coisa que não o campo.

–Ainda não... – Ele respondeu. Apesar de descontente, optou pela melhor opção: Ride de um novo Lohengrin, bem como o call de um novo Borgal, por sobre o anterior. Soul charge. Ataque.

A defesa perfeita de Duo foi bem vinda: o drive check de Hélcias lhe trouxe um crítico, afinal. Turno encerrado. Era a vez de Duo, que prontamente deu novo Break Ride: mais um Cyclomatus entrava em campo. Calls de Blody Heracles e Phanton Black, respetivamente um grade dois e um, fecharam mais uma coluna. O ataque do Vanguard veio primeiro, parado pela defesa perfeita de Hélcias. Dois lews cuidaram de deter os demais ataques e o turno de Duo se encerrava.

–Na boa, essa coisa é apelo demais – Hélcias dizia, enquanto dava seu Draw. Para sua surpresa, valeu a pena: um novo Lohengrin. O ultimo, segundo seus cálculos, mas ainda válido para um Ride. Contudo, a falta de um boost certamente fazia falta: uma simples defesa de dez mil por parte de Duo já exigia dois triggers para passar. A checagem de Hélcias, por sua vez, lhe foi bastante generosa: um stand e um critico, ambos aplicados ao Palamedes, ainda na lateral. Sem alternativas, Duo teve de usar sua segunda defesa perfeita para defender aquele ataque. Com o fim do turno de Hélcias, o jogo ficava cada vez mais apertado.

Apesar da crítica, Hélcias certamente estava se divertindo. Ainda que sendo barrado pelos efeitos das cartas de Duo, seu deck estava rodando tão bem quanto poderia ser esperado. Já Duo certamente não parecia se divertir. Ao lançar um olhar para o oponente, Hélcias pode ver como este parecia sério. Não que ele já não tivesse enfrentado oponentes que mantinham uma expressão neutra, mas Duo parecia diferente, por algum motivo. Seus olhos emanavam uma urgência que beirava o pânico.

–Ride de outro Cyclomatus – O quase grito de raiva de Duo tirou Hélcias de seus pensamentos e o trouxe de volta ao jogo.

Hélcias estava acostumado a ver jogadores se frustrarem com o azar que fazia parte do jogo. Errar um grade, ou checar pouco trigger, mesmo não vir boas cartas na mão, tudo isso era comum e gerava frustração. Mas o que Hélcias via em Duo agora parecia diferente. Talvez fosse fruto de estar tendo tamanha dificuldade com um deck bastante fora do convencional. Poucas horas antes, Alvim mesmo ficara estupefato ao perder a primeira partida quando, olhando o deck do amigo ao longo do jogo, tinha certeza de que aquela coisa jamais poderia rodar bem.

Este pensamento era, em fato, bem próximo da verdade. Apesar de acostumado a lidar com a sorte do oponente, Duo ainda não conseguia entender como um deck que ele julgara extremamente fraco estava lhe causando tantos problemas. Ele fazia o possível para disfarçar sua expressão de raiva e frustração, mas o pânico que o assolava por se ver tão perto da derrota tornava difícil disfarçar qualquer coisa. Seus dentes trincavam e suas mãos tremiam quando ele declarou o ataque de seu Vanguard.

Hélcias estava ficando incomodado com aquela atitude, mas preferiu ignorar o que via. A partida acabaria em breve de qualquer forma. Diante daquele ataque, Hélcias colocou duas defesas de dez mil. Um trigger e o ataque passaria. E pelo pouco de trigger que, comparativamente, o oponente havia checado, Hélcias tinha certeza que esse trigger viria. A partida acabaria, Duo sairia como vencedor e poderia se acalmar um pouco. Ou assim parecia: para o desespero de Duo, seu deck lhe presentou com dois grades 3 no check. Uma defesa de dez mil parou o segundo ataque de Duo, ao passo que uma de cinco e seu único intercep encerrou o terceiro. O turno de Duo chegara ao fim.

–Mas que droga! – Duo precisou de toda sua energia para que isso não saísse como um grito.

Em uma situação normal, sua raiva chegaria a ser engraçada. Apesar de seu aparente azar, ele agora tinha a certeza de mais um break ride. Ainda que Hélcias pudesse dar um novo ride, defesa não lhe faltava, disso ele tinha certeza. Ainda assim, o fato de um deck torto, empunhado por alguém que ele julgara inicialmente como um noob, estar durando tanto naquele jogo lhe era frustrante. Era assim. Frustrava-se com facilidade quando seus planos não corriam exatamente conforme o esperado. Porém, agora era talvez um daqueles raros momentos em que um desvio no esperado lhe poderia custar muito caro.

–... o? ... Duo? Duo? – A voz de Hélcias o tirou de seus pensamentos, fazendo-o olhar para o oponente, que apresentava uma expressão preocupada – Cara, você ta tenso demais. Fica mais calmo

Aquelas palavras só faziam Duo desejar socar ao adversário. Se aquele imbecil soubesse o que estava em jogo ali, provavelmente estaria agora chorando em pânico, assim como Duo quase estava. Neste momento, um lampejo atravessou a mente de Duo. Um sorriso arrogante se formou em seus lábios.

–Diga-me, Hélcias... você... já olhou ao redor?


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