Reis e Rainhas. escrita por BlindBandit


Capítulo 3
Pequenas Rainhas.




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Melody era a perfeita princesa. Aos cinco anos, ela andava com a graça de uma dama. Os cabelos ruivos em sempre perfeito arranjo. Helena tinha as mãos magicas para penteados, e não era incomum Melody descer as escadas para o café da manha com os cabelos presos em uma elaborada trança.

Ela era queridinha em todo o castelo. Culta, ela começava a aprender a ler, e sempre pedia a mim e a Maxon que lesemos historias com ela. Ela era carinhosa, e muito inteligente. E não havia nada no mundo que ela amasse mais do que sua irmãzinha, dois anos mais nova : Lira.

A pequena Lira tinha vindo ao mundo fraca. Todas as enfermeiras diziam que ela dificilmente sobreviveria. Mas a mais jovem princesa foi contra todas as previsões e cresceu forte e vigorosa. Helena, que também fora sua ama, sempre comentava como a garota chorava alto quando estava com fome.

Ela tinha os cabelos do pai. Um castanho tão claro que parecia a luz da manha. Os olhos eram grandes e verdes como os meus. Ela era curiosa e vivia andando atrás de Melody.

Por mais que a princesa mais velha fosse bem portada, ela ainda era uma criança, e elas duas viviam aprontando pelo castelo.

Eu estava na sala de lazer com Maxon, aproveitando um de nossos raros momentos de folga, quando as duas entraram correndo pelas portas. Elas riam sem folego. Lira acompanhava sua irmã com passos desajeitados de uma garotinha de três anos.

Elas congelaram assim que nos viram. Os olhos arregalados. Com certeza elas tinham aprontado alguma.

– Vocês garotas estão tão encrencadas! Quando eu contar para seus pais! – nós pudemos ouvir a governanta do palácio gritar de fora.

– O que vocês aprontaram? – Maxon perguntou, bancando o pai sério.

Foi nesse momento que a governanta entrou, e nós soubemos exatamente o que elas tinham feito. A mulher estava toda branca de farinha. Eu segurei o riso. E senti que Maxon fez o mesmo.

– Vossa Alteza – a governanta disse, se contendo. – Essas garotas...

– Vão receber a punição para as ações delas, obrigada Gertrude, você pode ir se lavar. – Maxon disse, dispensando-a

A governanta corou por debaixo de toda farinha e saiu porta a fora.

– Vocês acham isso a atitude de duas princesas? – Maxon disse, repreendendo-as. Lira se escondeu atrás de Melody. Elas olhavam para o chão. Envergonhadas.

– Não – elas responderam em uníssono.

– Papai, por favor, não puna Lira, ela não teve culpa, foi tudo ideia minha – Melody disse.

– Admiro sua coragem e senso de justiça Melody, mas Lira teve sua participação, e ela sera punida por seus atos.

Melody assentiu.

– As duas, para seus quartos. Nada de sair até segunda ordem.

– Mas papaaaaai – Lira se pronunciou – Está um dia lindo la fora!

– Vocês deviam ter pensado nisso antes de encher sua governanta de farinha. Agora já para o quarto, as duas. Não, na verdade, Melody para o quarto, Lira, quero você no salão das mulheres.

Lira bufou. Ela odiava ficar sentada o dia todo. Ia contra sua natureza. E mandar as duas para o quarto não era uma sabia decisão, já que elas dividiam o aposento.

Elas assentiram, e saíram em silencio da sala. Quando a grande porta de madeira bateu atrás dela, eu e Maxon nos entreolhamos e explodimos em gargalhadas.

– Farinha! – ele exclamou, limpando lágrimas dos olhos – De onde essas garotas tiram essas ideias?

– Eu bem que gostaria de saber - eu disse recuperando o fôlego.

Era uma noite de inverno quando eu ouvi o ranger da porta. Na ponta dos pés, Lira e Melody entraram, com sorrisos travessos no rosto. Orgulhosas por terem passado por Helena, provavelmente. Elas usavam camisolas turquesa, combinando, mas botas de neve nos pés.

– Mamãe? – chamou Lira. Quando elas me viram olhando, ambas sorriram e disseram em sincronia.

– Quer construir um boneco de neve?

Eu as agasalhei com cachecóis e luvas antes de irmos para o quarto de Maxon. Ele dormia, e as garotas correram até a cama dele, saltando.

– Papai! Papai! Vamos brincar na neve!

Maxon me olhou confuso, e eu sorri. – Ora, vamos, parece que não temos escolha.

Os guardas nem hesitaram abrir os portões quando passamos por eles, no meio da noite, até o jardim. As garotas iam correndo na frente, jogando neve para o alto e gargalhando. Eu e Maxon íamos atrás, de mãos dadas, observando nossas filhas brincarem. Esses eram meus dias favoritos. Os raros dias que esquecíamos de tantas obrigações, e passávamos momentos como uma família comum. Mesmo que cercados de guardas, era fácil se esquecer deles quando sua filha de três anos gargalhava na neve. E por fim de uma divertida madrugada com guerra de bolas de neve, carregar as filhas adormecidas de volta para casa.

A imagem de uma vida mais simples que eu escolhera não ter.

Quando a sirene de invasão tocava, no meio da noite, eu já não hesitava e nem me confundia no que precisava ser feito. Quando minhas criadas chegavam, eu já estava amarrando o roupão. Nós corríamos para o quarto das garotas. Onde eu pegava Lira, e Helena carregava Melody. Maxon me chamava de mãe leoa por isso, mas eu não confiava a vida de minhas filhas a ninguém a não ser a mim mesma. Eu nunca me perdoaria se alguma coisa acontecesse a elas.

Já no abrigo, Lira custava a adormecer. Ela temia os ataques, e se enroscava em mim, ou no pai ou na avó para se sentir segura. Melody, por outro lado, agia com toda a naturalidade. Ela verificava se tudo estava em ordem e se sentava com os adultos. Uma vez ela até chegou a perguntar ao avô sobre os rebeldes, e mais tarde me confidenciou que discordava de varias de suas ideias. Imagine, uma garota de cinco anos, discordando do rei coroado.

Como previsto, o rei não largou a coroa tão facilmente. E foi acordado que Maxon só assumiria o trono aos trinta, ao invés de 20. Antes isso do que esperar a morte do rei atual.

Em uma noite nada diferente de todas as outras, eu tive um sonho do qual eu nunca esquecerei.

Era uma paisagem toda dourada. Como um nascer do sol em um campo de trigo. Lá ao fundo, estavam Melody e Lira. Elas acenavam para as crianças que estavam longe delas, mas perto do meu campo de visão. Uma garotinha que usava um vestido branco suspirou.

– Esse corpo não vai sobreviver – ela disse com pesar. – Mas não se preocupe, ela vai arrumar outro para você. Logo em seguida, fique pronto.

Um garotinho usando terno branco assentiu. Ele sorria com os dentes de leite.

– Todos nós teremos nossa vez. Depois de você, sou eu – explicou a menina.

Atras dela, dois garotinhos sorriam, mas eles estavam mais longe, não conseguia ver o rosto deles.

Eu acordei no meio da noite com um aborto espontâneo, de um feto que eu nem sabia que estava esperando. O medico disse que isso era natural, e que eu precisaria de alguns dias de repouso e depois estaria nova em folha.

Isso não me impediu de chorar durante uma noite inteira. Com Maxon me consolando. Mas mesmo assim, eu não conseguia parar de pensar no sonho que eu tivera, e que estava marcado a minha mente como ferro em brasa.

Dois meses depois, descobri que estava esperando outro bebe. E dessa vez, eu tinha certeza que seria um garoto.

Eu estava sentada na varanda, com um livro no colo, quando ouvi o barulho de pedaços de madeira se chocando. Quando decidi espiar, vi Lira e Melody, travando uma batalha, com sorrisos no rosto e gotas de suor pingando.

– Maxon? – eu chamei, a porta entre nossos quartos estava aberta.

– Sim America. Estou ocupado – ele disse.

– É importante.

– Qual o nível de importância? – ele perguntou.

– Nivel : aposto que você gostaria de olhar pela janela e ver suas filhas de quatro e seis anos esgrimindo.

Isso foi suficiente para ele largar o que quer que estivesse fazendo e correr ate minha varanda. Ele tinha um sorriso no rosto quando as viu e rapidamente saiu do quarto. Minutos depois ele estava la com elas. Maxon as conduziu para dentro. Eu sabia que ele estava as levando para o mestre de armas, onde, se elas quisessem, poderiam aprender a esgrimir com segurança.

~ A sirene tocou alto no palácio aquela noite. America, agora no começo da gestação, fora conduzida rapidamente para o abrigo, sem ter chance de ir buscar suas filhas em seus quartos. Helena corria segurando as meninas, elas estavam cercadas por guardas, nada podia, possivelmente, dar errado.

Lira tropeçou, e por uma fração de segundos, Um homem saiu na frende de onde a princesa tinha caído. E a segurou nos bracinhos. A garotinha estava a beira de lágrimas. Mais dois homens surgiram pela porta atrás deles, e com bestas, acertaram os três guardas que as escoltavam. Eles caíram contra o chão de mármore. Fazendo um baque quando seus corpos acertaram o chão. Helena estava congelada, sem reação.

– Acho que devemos levar essa daqui – disse o homem – ela pode ser uma boa barganha.

– Não – Melody disse, tão firme que nem ela mesma acreditou.

– O que você disse, garotinha? – uma voz feminina falou, foi então que ela notou que a pessoa com a besta era uma mulher.

– Deixem minha irmã em paz. Se vocês tiverem que levar alguém, me levem. Me levem no lugar dela, mas não machuquem minha irmã.

O homem sorriu. – Corajosa, essa dai. Que seja então.

Ele largou Lira, que correu de volta para Helena, que parecia lentamente acordar do transe. Ela tinha perdido a filha em um ataque, era natural que ela congelasse em uma situação como essa.

Melody caminhou até os rebeldes como uma rainha, de queixo erguido. Sabia que não teria como escapar se não quisesse flechas de bestas cravadas nas costas dela e da irmã.

De volta ao abrigo. America desesperou-se quando Helena entrou em transe, de olhos vidrados, e sem falar nenhuma palavra, carregando consigo, apenas Lira.

A garotinha de quatro anos explicou, entre lágrimas, o que tinha acontecido. Toda compostura de America se esvaiu enquanto ela ouvia o relato de sua filha mais nova. Ela chorou deploravelmente, afinal, sua filha poderia estar morta nesse exato momento.

America esperneou e gritou, dizendo que queria sair atrás de Melody, mas Maxon a conteve. Segurando-a a pulsos firmes, enquanto ele derramava silenciosamente suas próprias lágrimas de dor. America parou de lutar depois de duas horas, e se encolheu em um canto, ainda soluçando. Lira dormia no colo da avó, que tinha o olhar perdido. O rei estava com uma expressão carrancuda. Maxon abraçou America, no canto mais escondido do abrigo, e juntos, choraram por sua filha perdida.

Nesse exato momento. Melody era conduzida pelos rebeldes, por dentre as florestas onde ela nunca explorara. A garota achava tudo curioso. Ela sempre imaginava os rebeldes como monstros assassinos, e talvez eles fossem, mas se pareciam tanto com gente que era difícil acreditar.

Não gente como os nobres que as visitavam, mas como as cozinheiras e criadas. Pessoas comuns. Melody, com sua curiosidade insuprível, pensou que poderia aprender uma coisa ou outra enquanto estivesse com eles. Talvez o porque de tantos ataques, o que poderia fazer para o reino e os rebeldes serem amigos. Ela pensou em quanto seu pai ficaria orgulhoso se ela achasse uma solução para o maio problema do reino. ~


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Notas finais do capítulo

reviews em gente (:



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