Uma Infinidade de Chances escrita por Mandy-Jam


Capítulo 1
Invertido




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O celular tocava.

Tocava e tocava e tocava, mas ele não tinha certeza onde estava o aparelho. Ele passou a mão pelo cabelo sentindo os tufos castanhos entre seus dedos, enquanto olhava em volta e tentava lembrar-se do que estava fazendo. Era como se sua memória tivesse sido apagada.

Onde eu estou? O que eu estava fazendo?

O celular. Isso é meu?

O homem de aparentemente 20 e tantos anos estava em pé no maio de uma loja. Ele julgava ser uma loja, na verdade. Várias prateleiras com roupas dobradas, um largo balcão de madeira com computadores e manequins. Manequins com braços faltando.

E o celular continuava a tocar.

Ele respirou fundo, pois sabia muito bem que oxigênio era o combustível do seu cérebro. E glicose, mas como ele não tinha nenhuma comida a mão, resolveu só respirar fundo mesmo. Tateou seus bolsos tentando achar um o celular.

Encontrou.

Quem diabos é Michele?

Franzindo o cenho, ele atendeu a ligação e colocou o aparelho no ouvido.

- Rob? – Disse a voz feminina do outro lado da linha.

- Uhm... – Foi tudo que conseguiu pronunciar. Ele era Rob?

- Rob, onde você está? Sou eu, Micky.

- Micky... – Sua cabeça doeu. Sentiu-se tonto por alguns instantes e teve que se apoiar no balcão de madeira, mas ele lembrou. Deu uma curta risada – Micky. Sim.

- Onde você está, Rob? – Perguntou ela um pouco mais aliviada por ele ter respondido direito.

- Eu estou... – Ele murmurou e olhou em volta. Sua memória estava voltando – Eu estou na loja.

- Ainda? Achei que fosse sair mais cedo. – Respondeu ela um tanto impaciente.

- Não, não hoje. Acho que hoje sobrou para mim. – Disse lembrando-se do que estava fazendo há minutos atrás – Eu tive que ficar para fechar a loja.

- De novo? – Suspirou pesadamente – Bem, ok. Eu vou esperar você chegar em casa então. Me avise quando terminar aí, certo? Estou com saudades, amor.

Aquilo mexeu com ele.

- Eu também estou. E vou avisar quando sair. – Assentiu e deixou escapar sem perceber – Eu te amo.

- Também te amo. – E ela desligou o celular.

Eu te amo?, pensou franzindo o cenho. Aquilo era estranho. Não achava que tinha dito isso muitas vezes na sua vida, mas no momento pareceu muito natural. Ele olhou para os braços que tinha tirado dos manequins e pegou-os do chão.

O que faltava para ele fechar a loja? Ele achava que trabalhava ali. Na verdade, era a única coisa que ele lembrava direito no momento. Que ele trabalhava naquela loja e tinha que fechá-la para se encontrar com Micky. E que seu nome era Rob.

Não, não era Rob. Porque Rob não era nem mesmo um nome. Ou pelo menos não um nome digno de um ser humano. Talvez de um cachorro, ou de uma tartaruga, mas humano não.

E ele era humano, claro. O que mais ele seria.

- Lá embaixo... – Murmurou olhando para a escada que levava ao subsolo. Ele pegou os braços de plástico, colocando-os debaixo dos seus próprios e desceu devagar as escadas. Só precisava fazer aquilo. Colocar os braços lá e fechar a porta para sair e encontrar o seu provável amor.

Sentiu-se estupidamente burro por ter que ficar repetindo a mesmo coisa várias vezes em sua mente. Ele não era idiota.

Atravessou um corredor mal iluminado até chegar a uma sala. Tinham várias portas pelo caminho, mas seus pés o levaram para aquela porta. Por quê? Não sabia. Não sabia de quase nada.

Duvidava, no momento, até de suas habilidades para reconhecer os objetos. Como saber que uma lâmpada é uma lâmpada e não uma lata de refrigerante? [

Provavelmente, porque latas não acendem quando você as abre. Elas não são ligadas a circuitos elétricos e nem penduradas no teto.

Mas como saber que bananas sãos bananas e não peras?

Óbvio também. Bananas são boas. Mas peras? Peras são ruins. Horríveis. Terríveis. Argh.

E ele estava parado na frente da porta. Esticou a mão desajeitadamente com um mau pressentimento e com braços de plásticos roçando contra sua camisa de malha azul marinha.

Entrou devagar na sala repleta de manequins. Não tinha certeza do que fazer. Por que ele teve que descer mesmo? Para que deixar braços lá e não os manequins inteiros? Ele não sabia responder, por isso continuou agindo do jeito que achava melhor: embarcando no desconhecido.

Tinha algo de muito excitante nisso de embarcar no desconhecido. Não que ele fizesse isso o tempo todo, claro que não, não mesmo. Afinal, como um lojista faria isso? Não faria.

Mas ele gostava dessa emoção, dessa sensação de frio na barriga enquanto andava em lugares no qual não sabia por que visitava nem o que faria.

Colocou os braços no meio da sala depois de driblar alguns manequins e olhou em volta. Estava cercado de bonecos de plástico sem um rosto definido. Nada de olhos, nada de bocas, e nem cabelos. Ele gostava do seu cabelo. Gostava daquele pequeno topete bagunçado castanho, mas isso não vinha ao caso.

Ele virou-se para sair da sala, mas não chegou a sair do lugar. Tinha desviado o olhar dos manequins por alguns instantes. Olhou para ele novamente, e por alguns segundos não notou nada de diferente.

Mas tinha algo de diferente a ser notado.

Todos olhavam para ele. Não olhava de verdade, pois não tinham olhos. No entanto, todos estavam virados para a sua direção. Ele franziu o cenho. Um deles rangeu e Rob notou que tinha se movido. Não, era ridículo. Um manequim articulado o suficiente para se mexer? Não. Não mesmo.

Algo segurou seu ombro e ele deu um pulo com o susto. Não era um manequim, como já era de se esperar. Era algo mais provável: uma garota loira que tinha simplesmente aparecido com uma caneta brilhante e um largo sorriso.

- Oi. – Disse feliz, animada, ou algo assim.

- Oi. – Disse arregalando os olhos.

- Corre. – Falou sorrindo ainda mais.

- What? – Falou confuso.

- Corre. – Repetiu ainda sorrindo, como se aquilo fosse muito divertido.

- What? – Repetiu ainda confuso.

- Se quiser viver... – Ela teve que parar para conter sua empolgação – É melhor correr pela sua vida.

Ele olhou em volta sem entender o que estava acontecendo, quando percebeu que os manequins se moviam. Realmente se moviam. Tipo, de verdade. Andando de um jeito duro e desajeitado, mas ainda assim andando.

- What?! – Repetiu boquiaberto. A garota riu em voz alta.

- Allons-y! – Gritou saindo em disparada para a porta. Suas pernas bambearam por alguns instantes, mas logo correu atrás da garota. Os cabelos dela balançavam ao vento batendo contra seu ombro. Ele ainda conseguia ouvir sua risada de animação.

- Espera! – Gritou seguindo-a e fechando a porta atrás de si. Eles subiram as escadas em passos largos, de dois em dois degraus e saíram da loja pelos fundos. Rob trancou a última porta atrás de si e respirou fundo novamente.

Precisava de muito mais oxigênio para seu cérebro processar aquilo.

- Foi divertido. – Disse a garota suspirando e ajeitando o cabelo enquanto caminhava tranquilamente para longe dele. A rua estava deserta, ele não queria ficar sozinho ali de jeito nenhum.

- Espera. Espera...! – Ele chamou enquanto tropeçava em seus próprios pés ao tentar seguir a garota – O que foi aquilo? Ei!

- Ah, olá de novo! – Sorriu para ele, mas não diminuiu o passo.

- O que era aquilo? Os manequins...? – Ela o interrompeu.

- Ah, não. Eram aliens, não manequins. – Respondeu naturalmente. Ele arregalou os olhos.

- What?! – Ele disse.

- Você tem um vocabulário muito limitado, sir. – Respondeu.

- What? Aliens? – Repetiu chocado.

- Sim. – Assentiu.

- E quem é você? – Perguntou – O que estava fazendo lá?

A garota parou perto de uma cabine telefônica e sorriu para ele.

- I’m the Doctor. – Respondeu olhando-o. Ela tinha um sorriso lindo.

- Quem? – Franziu o cenho.

- Exatamente. – Assentiu.

- Doctor Who? – Perguntou confuso e ela riu.

- Sou eu! – Ergueu os braços – Agora, se me dá licença, senhor...

- Rob... Ert. – Respondeu confuso – Robert... Tyler?

- Senhor Robert Tyler, eu tenho que salvar a Terra. – Sorriu acenando para ele enquanto entrava na cabine azul – Até mais!

Ela fechou a porta e ele sentiu como se tivesse levado um tiro. Algo dentro dele praticamente gritava para não deixá-la ir embora. Ele começou a bater na porta da cabine, pedindo para que ela saísse. Tentou abrir a porta, arrombar a porta, mas nada adiantou.

- Doctor! – Gritou – Eu tenho que falar com você! Espera! – Ele socou a porta com mais força e desespero enquanto uma sirene tocava – Doctor! Por favor! Doctor!

E a cabine, de alguma forma, foi sumindo aos poucos. Ele viu-a, literalmente, desaparecer na sua frente junto com todas as suas esperanças e uma parte dele mesmo. Sentiu seu corpo pesar e acabou caindo no chão.

Olhou em volta e sentiu o mundo inteiro rodar.

O que foi aquilo? Quem era ela? Aliens? O que ia acontecer?

Não... Eu sei. Eu... Eu sou Doctor. Doctor. Doctor...

Ele sentiu sua cabeça latejar.

Aquela garota... Ela... E a cabine...

Ele fechou os olhos com força.

- Eu sou o Doctor. – Disse em voz alta – Eu sou o Doctor, Rose! Rose! O que está fazendo?! Sou eu! Para onde você foi?!

Quando abriu os olhos, não estava mais sentado no chão da rua.

- Você está bem? – Perguntou uma garota morena inclinando-se perto dele – Você está suando e começou a gritar...

Ele colocou-se sentado e olhou em volta. Tinha caído no sono sentado nos bancos de frente ao painel de controle da TARDIS. Estava dentro da TARDIS. Ninguém a tinha levado embora, nem mesmo... Nem mesmo a Rose.

- Eu estou bem. – Ele disse com seriedade depois de correr sua mão pela testa suada – Estou bem.

Seus olhos encontraram os da sua acompanhante e depois o painel de controle da TARDIS. Tentou relaxar os ombros tensos, tentou respirar calmamente de novo. Seus dois corações estavam batendo forte demais.

- Eu acho que você deveria dormir em uma cama para poder relaxar de verdade. – Comentou ela assustando-o levemente. Tinha esquecido a presença dela por alguns minutos – O que você acha?

Ela tocou seu ombro com sutileza e o acariciou com uma pontada de desejo. Doctor franziu o cenho ainda olhando para o painel da TARDIS e assentiu.

- Tem razão, Martha Jones. – Disse. Ela sorriu, mas aquela não era a resposta que ela esperava – Vou para o meu quarto.

E levantou-se deixando sua mão escorregar e pender livre no ar. Martha suspirou e assentiu.

- Claro. Boa noite. – Disse desapontada.

Por mais que ele olhasse me volta tentando deixar claro para sua mente de que estava mesmo dentro da TARDIS e que nada daquilo tinha acontecido, ele queria deixar outra coisa também muito clara.

Aquilo não tinha sido só um sonho.


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Notas finais do capítulo

E esse foi o primeiro capítulo. Vou tentar não me estender tanto nessa fic.
Espero por reviews para saber o que você achou da fic.

Sim, estou falando com você.
É, você. Não olha para o lado não, colega. É você mesmo.

Vejo você nos reviews e no próximo capítulo.
Tchau tchau!



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