Dawn mal prestava atenção na classe, preferindo ficar olhando a mão que segurava por baixo de sua carteira. Ela mal podia imaginar que tinha conseguido fazer isso com Paul em público, ainda mais em sua sala, mas a vida era feita de oportunidades e ela definitivamente não estava reclamando da que conseguira.

Ela suspirou, alegre. Mal percebera o amigo de infância de May entrando pela porta, só que ele se sentara atrás dela. A outra garota, Hitori... Ou algo assim, tinha ido para o fim da sala, faltando só mais um aluno novo.

Gravitando seus olhos azuis escuros na direção da porta, ela esperou o último garoto aparecer com um sorriso distraído... Para desfazê-lo assim que o reconheceu.

Ruivo, olhos laranjas, alto, cabelo espetado... A garota apertou a mão de seu príncipe instintivamente, e percebeu-o responder o gesto.

– Dawn?

Ela se virou para ele, olhos arregalados. O garoto tinha um olhar preocupado no rosto, o que não era muito característico – mas também, não é todo o dia que ela passava de um rosto feliz a um assustado em menos de três segundos.

– Paul... – Ela engoliu em seco, observando o garoto ir sentar-se – longe delas, felizmente – com receio. – Você lembra o que eu te falei sobre a Yellow? De como ela teve que sair da escola antiga?

Ele piscou, voltando os olhos discretamente para o aluno novo. Depois, virou-se para ela.

– É ele?

– Sim... – A garota murmurou em um tom vacilante. – O que ele quer aqui? Não me diga que ele veio atrás da Yellow-

– Vocês dois, podem parar de conversar? – A voz de Roxanne a interrompeu, e Dawn largou a mão do namorado com o susto.

– D-desculpa, professora! – Ela exclamou, rosto vermelho. Algumas pessoas da sala riram, e a professora suspirou pesadamente.

–... Tudo bem. Deixem para flertar na hora do recreio, ok? – A mulher os repreendeu, voltando-se para a lousa. A garota de mechas azuis suspirou aliviada, para depois virar-se para Paul novamente.

O olhar preocupado dela estava influenciando-o a se preocupar também. O garoto não ligava tanto para os amigos de Dawn, por só recentemente ter começado a sair com eles, mas conhecia a loira do grupo o suficiente para saber que ela não era de se abater por qualquer coisa.

Parece que é mesmo sério. Ele observou-a em sua carteira, olhos grudados na mesa. O garoto voltou-se para sua namorada, vendo-a com um olhar preocupado também voltado para Yellow. Paul suspirou; não era nem um pouco bom em animar pessoas, isso era trabalho dela.

Mas, bom... Ele supôs que, pelo menos, tinha que tentar fazer alguma coisa.

–Vai ficar tudo bem, Dawn. – Ele murmurou, tomando sua mão novamente. A garota virou o rosto para ele, corando, e assentiu levemente. Vê-lo se preocupando com ela sempre fazia seu coração bater mais rápido, e não se acostumara com essas demonstrações de afeto repentinas partindo dele.

A garota suspirou, sentindo-se um pouco mais calma depois disso. Ele sempre conseguia deixa-la furiosa quando queria, mas também sempre a acalmava com os gestos mais simples...

Eu só espero que ele esteja certo quanto a isso. Dawn pensou para si mesma, voltando os olhos para o quadro. Aquele garoto ter surgido ali do nada, depois de tudo que acontecera com sua amiga... Não era justo.

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Misty estava contando os segundos para o recreio. E não, não era pelos motivos que as pessoas normalmente esperariam, mas porque ela mal via a hora de levantar e tirar sua prima dali. Depois de, claro, dar uma boa surra naquele garoto que não parara de olhar para ela desde o começo do dia.

Como ele teve a ousadia de se transferir para cá? Ela trincou os dentes, encarando mortalmente a lousa como se ela fosse Lance. Depois de tudo o que aconteceu, eu pensei que isso tinha acabado... Mas...

Finalmente, ouviu-se o som estridente do sino do lado de fora. O som de cadeiras sendo empurradas mal pôde ser ouvido antes que a ruiva pegasse sua prima – ainda sentada, congelada – de seu lugar e partisse em direção à porta.

May não demorou a seguir, arrastando Drew – que ainda estava confuso com aquilo tudo, pois estivera a aula inteira encarando com raiva o amigo de infância de sua namorada – e Dawn foi logo atrás, com Paul acompanhando-a com passos rápidos.

Sapphire piscou, não entendendo nada – e espiou pelo canto do olho quando Crystal levantou e, puxando um Ash confuso por um dos braços, o levou junto segundos atrás do garoto novo da sala também passar pela porta.

– O que...? – Ela ouviu a voz de Brendan murmurar um pouco atrás dela, e virou-se para vê-lo encarando a porta com uma expressão confusa.

A garota encarou a porta novamente, lembrando-se da expressão de Yellow que vira antes. Alguma coisa acontecera entre aqueles dois, e se aquele ruivo estava indo atrás dela, Sapphire não podia deixar que a encontrasse.

Ela se levantou, virando-se para o amigo confuso de sua prima.

– Acho que o garoto novo fez alguma coisa com a Yellow. – Saph falou para ele, chamando sua atenção. – Vamos, temos que ajudar!

Brendan não se moveu, piscando para ela. Trincando os dentes e repreendendo-se mentalmente por perder tempo com aquele idiota, a garota girou seu corpo para frente e saiu correndo pela porta, na esperança de ainda poder alcançá-los.

Felizmente, o grupo estava apenas andando rapidamente, com Lance seguindo-os calmamente alguns passos atrás.

Eles não vão conseguir despistá-lo assim... Ela estreitou os olhos, tendo uma ideia. Apressando o passo, passou por Lance – aproveitando para trombar nele com um dos ombros no caminho – e chegou até o grupo, puxando Yellow por uma das mãos e cruzando o corredor mais próximo.

Sapphire conseguiu ouvir alguém a chamando – sua prima, provavelmente – mas não podia parar se quisesse que o plano desse certo. Ela cruzou mais corredores aleatórios, quase bateu de frente com uns cinco alunos diferentes e, finalmente, parou quando percebeu que não eram mais seguidas.

– Hah... Desculpa, eu achei que seria melhor fazer isso... – A garota de olhos azuis falou, ainda ofegante para a corrida. A loira à sua frente, ainda confusa com o que acabara de acontecer, também tentava recuperar seu fôlego.

– Não tem problema... – Yellow murmurou, abrindo um sorriso pequeno. - ...Obrigada, Saph.

A outra corou, surpresa com o uso de seu apelido. Olhando para os lados, ela puxou a pequena para um canto, ao lado de uma máquina de refrigerantes.

– Bom... De nada. – Sapphire tirou algumas moedas do bolso do casaco, depositando-as na máquina. – Você quer algo? – Yellow balançou a cabeça em negação, e ela clicou em um dos botões. Após tirar a latinha e tomar um gole de refrigerante, olhou para os lados.

– Sabe como voltar? Eu estou meio perdida...

– Sei sim. A porta que dá para o outro prédio é bem ali. – A loira apontou para o fim do corredor, sorrindo.

– Ok... Quer tentar achar o resto do pessoal?

–... Podemos esperar mais um pouco?

– Ah, claro, sem problema. – Saph piscou. Ela ainda devia estar transtornada com tudo aquilo. Isso trouxe uma pergunta para sua mente – o que exatamente acontecera entre ela e aquele ruivo?

A loira pareceu notar sua confusão, pois abriu um sorriso sem graça.

– Desculpa, você nem sabe o que está acontecendo, não é? – Ela deu uma pausa, suspirando, e voltou a encará-la. – Acho melhor te contar, então.

– Não precisa! – Sapphire falou logo em seguida, para depois corar e coçar a cabeça com sua mão livre. – Q-quer dizer, deve ser um assunto delicado para você! E eu nem te conheço direito...

– Não, você me ajudou muito. Acho que seria injusto te deixar sem uma explicação. – Yellow respondeu, indo encostar-se à parede ao lado da garota de olhos safiras. Ela fitou o teto uns dois segundos, antes de começar.

– Foi no fim do ano passado...

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Hitomi percebera que havia algo errado no momento que notou que o garoto ruivo encarara a loira sentada na primeira carteira de um modo estranho. Mas, foi só quando ouviu o que a clone 1 dissera para o garoto de touca que teve certeza.

Agora, a garota andava pelo corredor depressa, procurando acompanhar o grupo que levava a desconhecida e o ruivo que andava um pouco atrás. Tinha mentido quando se apresentara – além de desmontar as coisas, ela tinha também o pequeno hobby de ler livros de suspense. Ser detetive particular era seu sonho...

E ela acabara de achar a oportunidade perfeita para resolver o primeiro caso de sua nova escola! Hitomi abriu um sorriso determinado. Yosh! Eu posso fazer isso!

Ah! A clone 1 está levando a vítima! Ela viu quando a garota surgiu e puxou a outra para outro corredor, fazendo o grupo parar – e também o ruivo, que as seguiu em seguida, apertando o passo. E o suspeito está seguindo!

Tomando impulso com os pés, ela correu para tentar alcançá-los, passando despercebida pelo grupo que chamava pelas duas. Hitomi tinha de pensar rápido; aquele ruivo era mais rápido que parecia, e logo iria alcançar as garotas.

Se houvesse algo para pará-lo... Pelo canto do olho, ela viu um garoto com um livro –grande, pesado, definitivamente derrubaria alguém se fosse jogado – e teve uma ideia.

Agarrando o livro das mãos do desconhecido com um “desculpa”, Hitomi atirou o livro com precisão na parte de trás dos joelhos do suspeito, que se dobraram com o impacto e levaram Lance a tombar para trás, caindo no chão do corredor.

A garota jogou-se em direção ao corredor mais próximo, escapando os olhos que viraram para trás para procurarem quem diabos tinha feito isso. Ela subiu os olhos para as garotas que haviam acabado de descer as escadas para o primeiro andar e sorriu satisfeita ao ver o ruivo tomar o lado oposto depois de levantar.

Ela riu, alegre, não se importando nem um pouco com os olhares que recebia dos alunos que viram a cena. O que faltava agora era seguir aquelas meninas e descobrir o que acontecera e, pronto, caso resolvido!

...Claro, ela teria feito isso se não fosse pela mão segurando-a pelo ombro.

– Qual é o seu problema?! – Ela o garoto de antes, encarando-a com um olhar mortífero e segurando seu livro nas mãos. – Você acabou usar a primeira edição da coleção de livros de Sherlock Holmes para tacar num garoto no meio do corredor da escola!

– Eh-!

– Olha isso aqui, está todo sujo! – Ele mostrou algumas páginas amareladas do livro bem na frente do rosto da garota, que deu uns passos para trás. – Isso é uma relíquia! Você sabe quanto tempo eu pesquisei para comprar isso?

– Uh... Umas duas horas? – Hitomi abriu um sorriso sem graça.

– Dois meses! – O desconhecido respondeu, rangendo os dentes.

– Olha, desculpa, mas é que eu estava tentando ajudar aquelas meninas! – A garota bufou, cruzando os braços. – Eu acho muito mais importante garantir a segurança de alguém do que a conservação de um livro velho.

– Livro velho? Ora, sua... – Ele iria gritar outra vez, mas respirou fundo. – Quer saber? Esquece. Mas isso vai ter troco, garota.

Hitomi piscou abobalhada para o garoto que agora se afastava com passos fortes, tentando compreender o que tinha se passado. Por que ele ficara tão irritado por causa de um livro? Dava para achar uma coleção de Holmes em qualquer livraria por aí, ela tinha montes de livros dele em casa...

Que garoto esquisito. Ela chegou à conclusão de que não perderia mais tempo com ele. Encarando a escada novamente, suspirou; nunca que encontraria as vítimas agora.

– Bom, eu posso tentar coletar dados depois... – Hitomi falou para si mesma, dando meia volta em direção à sala. Ainda tinha de desmontar o relógio novo que ganhara de seu tio...

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Dawn estava preocupada. Num momento, estavam tentando tirar Yellow do prédio e de perto daquele maluco que as perseguia, e no outro a prima de May surgira do nada e levara a loira por um caminho completamente oposto, sendo seguida por Lance.

A garota suspirou, encostando-se contra o tronco da cerejeira em que normalmente ficavam. O pátio de rosa do início do ano agora dere lugar a folhas verdes, resquícios do verão das férias. Tinham decidido, depois de procurarem em vão as duas, esperar no lugar de sempre, mas... Sem sinal delas.

– Ah, onde é que elas estão! – Misty exclamou depois de um tempo, de braços cruzados e olhos grudados em direção ao prédio do fundamental.

– Calma, Misty, já devem estar chegando. – May respondeu com uma gota. – Saph é ótima em bolar estratégias do nada, ela não deve ter problemas em despistar aquele estranho.

– Quem é esse Lance, afinal? – Ash perguntou em seguida.

– Ah, bom... Ele era colega de turma da Yellow na escola antiga dela. – A ruiva começou depois de um tempo, não tirando os olhos de onde estavam antes. Se Blue e os outros chegassem, poderiam ajudar também... – Costumavam ser amigos, só que...

– Esperem aí. – A voz de Silver interrompeu-a, e só aí Dawn percebeu sua presença. Era estranho vê-lo ali, sendo que o ruivo passava a maioria do tempo sozinho no recreio mesmo com Blue lá com eles. Teria ele ficado preocupado com Yellow? Eles se conheciam há um bom tempo, afinal...

O garoto levantou-se calmamente, cruzando os braços em seguida e grudando os olhos em um ponto fixo à sua frente. – Não falem isso com intrusos ouvindo.

– Eh? O que quer dizer-

Dawn parou de falar quando viu duas figuras saírem de trás de uma das árvores a sua frente. Ela piscou, observando os dois garotos – um loiro, outro moreno – enquanto eles, sem graça, se aproximaram do grupo.

– Espera...! Vocês são os garotos que me pediram ajuda hoje de manhã! – A garota apontou um dedo para eles, arregalando os olhos.

– O que vocês querem? – Paul perguntou, encarando os dois e fazendo não só eles como também a maioria do grupo estremecer. Ok, ele podia dar medo quando queria.

– Uh... – O garoto loiro começou, dirigindo seus olhos para Dawn. –Nós não fazemos ideia de quem é esse garoto de quem vocês estão falando...

– Viemos aqui para te ver! – O moreno, ao seu lado, falou com um sorriso para ela.

A garota de cabelos azuis escuros piscou uma, duas, três vezes. Aparentemente, Yellow não era a única que tinha stalkers.

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