Abri os olhos e percebi que tudo não se passava de um pesadelo. Eu estava trémula, mas já era quase a hora de levantar, então não adiantava tentar dormir mais.

Sonhei que o Paulo tinha encontrado eu e os meus amigos e ele matava um por um, até sobrar eu e o Daniel. Senti quando ele atirou em mim, foi tudo tão real. Levantei e fui tomar um banho e depois o café da manhã, a mesma coisa de sempre.

Mais uma semana de trabalho que se inicia. Eu nunca pensei que tudo isso poderia acontecer, deixar de ser a patricinha rica para se transformar na trabalhadora mais madura.

As meninas acordam sempre um pouquinho mais cedo que eu pra tomarem seu banho e irem pro trabalho também. Elas estavam reunidas na cozinha comendo pão com ovo. Não é o que eu esperava pro café da manhã, mas é o que tem.

– Bom dia meninas. - Falei.

– Bom dia. - Elas responderam.

– E aí Carmen, o que você vai fazer com o Jaime.

– Eu me arrependei de ter recusado o pedido de namoro dele e...

– O Jaime te pediu em namoro e você recusou?

– Sim Alícia, mas eu vou falar com ele e pedir desculpas por ter sido uma imbecil ontem, mas eu quero mudar sabe? Mudar meu estilo, meu cabelo, essas coisas, vocês me ajudam.

– Claro né amiga, domingo a gente vai no shopping e depois no salão de beleza. - Disse Valéria.

– Bom meninas, eu tenho que ir. - Falei.

– Mas você nem comeu Mari.

– Pois é Valéria, mas eu nem tô com fome e vou comendo essa maçã no caminho, bom trabalho.

Caminhei distraída até a lanchonete, não parava de pensar naquele pesadelo por mais que eu tentasse esquecer e pensar em outra coisa. Cheguei troquei de roupa e o trabalho começou e assim se foi o dia, hora de almoço, tarde.

– Olha quem voltou a aparecer.

– Tenho um convite pra você.

– Que convite Luciano?

– Quer sair comigo hoje?

– Não.

– Vamos vai, eu prometo que vai ser muito bom e você não vai se arrepender.

– Eu não tô com ânimo pra sair tá? O que você vai querer mesmo?

– Eu quero duas coisas, o mesmo de sempre e que você saia comigo.

– Diga um bom motivo para eu sair com você.

– Olha, vou te levar pra um lugar bem legal e a companhia é bem massinha também.

– No caso você?

– Sim, e aí?

– Tá bom eu saio com você. - Ele vibrou e abriu um sorriso.

As horas foram passando e finalmente eu estava livre de mais um dia de trabalho. Fechei a lanchonete e Luciano estava me esperando em um carro. Iria passar no apartamento pra tomar um banho e trocar de roupa.

– Esse carro é seu?

– É, gostou?

– É massinha.

– Vamos?

– Vamos

Chegamos no apartamento e ele ficou na sala esperando. As meninas já tinham chegado e Valéria puxou um papo com ele. Confesso que fiquei curiosa pra saber o que eles falavam. Fazia um tempo que eu não ia a um encontro. Não sabia o que vestir, qual penteado eu fazia. Peguei um vestido e deixei o cabelo solto.

Quando cheguei na sala ele estava conversando com as meninas sobre a tia dele ser gerente da lanchonete em que eu trabalhava e em como foi que nós viramos amigos.

– Estou pronta.

– Você tá muito muito muito linda.

– Obrigada. - Respondi meio sem graça. Vamos?

– Claro. Tchau meninas.

– Tchau. - Eu disse a elas e elas responderam o mesmo.

Ele abriu a porta do carro e eu entrei, fomos para um restaurante que aparentava ser muito chique. Eu lembro de ter ido em uma franquia que tinha em São Paulo com os meus pais.

Sentamos em uma mesa, fizemos os pedidos e ficamos um tempo em silêncio. Ele me olhava sempre com um sorriso.

– Você me trouxe aqui pra ficar nesse silêncio absoluto.

– Eu quero conhecer mais você Maria Joaquina, quero saber da sua vida, dos seus pais.

– Confesso que sempre quis saber um pouco mais de você também, você é muito misterioso.

– Misterioso? Apenas não vivo contando da minha vida por aí.

– Então começa você, conta tudo sobre a sua vida.

– Meu nome é Luciano, tenho 21 anos, moro sozinho em um apartamento, faço faculdade de administração pela noite, meus pais vivem em Nova York a negócios, quase nunca nos falamos e eu faltei faculdade pra estar aqui com você. É isso e você?

– Maria Joaquina Medsen, 19 anos, moro com minhas amigas, trabalho em uma lanchonete, meus pais moram em uma cidade de São Paulo, não tenho contato com eles e estou em um encontro com um quase desconhecido.

– Que interessante, por que você não fala com seus pais?

– Por alguns motivos que eu prefiro não comentar.

– E depois eu que sou o misterioso não é?

– Menos queridinho.

– Por que você não faz uma faculdade? Pelo sobrenome da família parece que são ricos.

– E são, mas eu sou independente sabe?

– Nossa, você é maluca isso sim.

– São seus olhos baby.

Jantamos, conversamos, rimos. Eu me sentia tão bem que queria dar replay naquela noite sempre que estivesse triste. Além de gatinho ele era gente boa e fui apagando a primeira impressão que tive dele. Mas como tudo de bom acaba, aquele encontro estava no final e já estávamos indo pra casa.

– Se você quiser pode dormir lá em casa hoje.

– Você tá achando que eu sou dessas que você leva pra um encontro e depois pra cama? Se achou, está enganado.

– Calma, você dormiria na minha cama e eu dormiria no sofá.

– Sei, mas eu prefiro ir pro apê mesmo.

– Então tá.

Chegamos e me despedi dele, ia dar um beijo na bochecha dele, mas ele se virou e acabou sendo um selinho. Entrei e estava tudo em silêncio. Vesti uma roupa mais leve e fui dormir, ou melhor tentar dormir, porque me perdi em meio aos pensamentos.

Será que eu deveria dar uma chance pro Luciano? Seguir em frente, não viver de passado. Eu ando tão confusa e não quero ficar magoada novamente. O que eu faço?