Pensei em desviar o olhar e ignorá-lo, mas seria muito infantil e eu precisava enfrentá-lo.

– Pensei que ficaria por lá mesmo.

– Você tem um tempo?

– Pra você colocar a culpa em alguém ou dizer que as meninas colocaram algo na sua bebida? Me poupe disso Daniel.

– Desculpa. Eu não... não entendo o que aconteceu. Eu tô me sentindo um lixo sabe? Eu não quero te perder, você é a pessoa mais importante da minha vida. Foi você que esteve comigo, me ouvindo e me dando apoio nesse tempo todo e... Me perdoa?

– Ah que lindo. Agora você quer que eu te abrace e te beije e finja que nada aconteceu não é?

– Eu quero que você me perdoe. Eu sou humano, eu não sou perfeito e eu preciso de você. Eu quero você.

– Antes que você continue com seu discurso clichê eu tenho que contar uma coisa.

– Pode falar.

– Eu beijei o Luciano.

– Mas por quê?

– Aconteceu e agora não temos mais nada pra debater, hoje nos mudamos e eu nunca mais vou precisar dormir ao seu lado. Eu queria poder nunca mais te ver, mas isso não é possível, então me contento em saber que pelo menos não vou precisar ver você tanto.

– Maria Joaquina eu...

– Você o que? Você me ama? Olha Daniel nós já acabamos com tudo mesmo não é? Então vamos respeitar um ao outro.

– É engraçado você ficar magoada comigo sendo que você beijou um cara que até antes de ontem você odiava.

– Olha pelo lado bom. Pelo menos não te trai com dois não é? Tchau.

Segurei o choro até aquele momento. Foi só eu me virar que as lágrimas começaram a cair. Eram 08:35 e eu ia me atrasar. Apressei meus passos e quando cheguei me troquei em um pulo. Karolina me olhava como se eu estivesse louca. Eu realmente parecia uma.

– Você está atrasada Mari.

– Eu sei. Você nem imagina o que aconteceu.

– Vai atender as mesas e depois me conta tudo.

Na hora do almoço eu contei tudo pra Karolina e ela queria falar um "Eu te avisei, não era pra contar pra ele.", mas no caso o Daniel também errou então ela só ficou calada por minutos.

Eu já estava esperando pra ter que atender o Luciano e ouvir mais uma vez aquelas cantadas de programas toscos de "humor". Já estava entardecendo e ele não havia aparecido.

– "Que estranho. Será que aconteceu alguma coisa com ele". - Eu pensava.

Não que eu estivesse com saudades, mas já tava me acostumando. Era bom eu pensar no que poderia ter acontecido com ele para não aparecer, melhor do que pensar no Daniel. Eu poderia me mandar dali. Ir para outro lugar, ou até mesmo voltar para Patrulha e viver com os meus pais. Eu não aparecia no vídeo em que meus amigos roubavam o banco, portanto não tinham provas para me prender. Eu poderia fazer uma faculdade e até quem sabe encontrar um novo amor.

Eu tava cansada de tudo, mas eu não queria tomar nenhuma decisão nesse momento. Queria pegar meu celular, deitar na cama e dormir apenas.

– Já é o seu terceiro dia aqui em Maria Joaquina. Até que você tá durando.

– Como assim?

– A Claudia é muito exigente e ela demite funcionários muito fácil. Mas parece que ela está satisfeita com você.

– Que bom, eu preciso desse emprego amiga.

– Tô indo, até amanhã, se cuida.

– Tchau.

Finalmente aquele dia estava acabando. Essa hora todos deveriam estar no novo apartamento. O Jorge emprestou um dinheiro e a Valéria comprou os móveis também com o meu cartão de crédito. Nós iríamos pagar com o primeiro salário. Seria a mesma coisa. Valéria e eu em um quarto, Alícia e Carmen em outro. Eu tinha que me desacostumar a dormir abraçada com o Daniel. Pelo menos eu não perdi a minha virgindade com ele.

Sim, eu ainda sou virgem. Só tive uma pessoa em quem eu confiaria me entregar, mas olha no que deu. Eu tinha consciência de que também não era a santa da história. Será que o Daniel já sabia e fez isso pra se vingar? Mas como?

Fechei a lanchonete e segui caminho. Era o mesmo, já que o apartamento ficava bem em frente ao hotel. Nada me faria bem agora. Cheguei e as meninas estavam arrumando tudo.

– Finalmente chegou, pode começar a varrer. - Disse Valéria me entregando uma vassoura.

– Se vocês não se incomodarem eu quero ir pro quarto.

Todas fizeram um movimento com a cabeça concordando. Fui pro quarto e me joguei na cama. Valéria entrou no momento em que eu já estava chorando.

– O que foi em amiga?

– Várias coisas Valéria. Enfim, eu beijei o Luciano e o Daniel me traiu.

– Oi? Nossa eu tô... sem reação.

– Eu tô horrível, destruída.

– Eu vou deixar você sozinha, a última coisa que você precisa é de conselhos.

Dias depois...

Era domingo, dia de descansar. Eu não saía. Era trabalho e apartamento. Via todos meus amigos saírem pra curtir. Até no domingo passado eu fiquei em casa. Vi ele poucas vezes. Ele saía junto com os outros. Parece que ele já tinha superado tudo.

Luciano nunca mais apareceu na lanchonete. Ele era misterioso e eu queria saber o que tinha acontecido com ele. Eu queria sair, ir pra longe. Me limitei em ir com as amigas pra praia. Me arrumei toda para me sujar de areia, mas tá.

– Estão prontas meninas? - Perguntou Valéria.

– Eu estou. - Respondi.

– Eu também. - Responderam Carmen e Alícia.

– Maria Joaquina você está indo pra praia ou pro shopping?

– Me deixa Alícia.

– Gente eu quero contar uma coisa pra vocês.

– Fala logo Valéria. - Eu disse.

– Eu e o Jorge estamos ficando.

Nós nos entreolhamos e soltamos uma risada.

– Investe nele porque ele é bom de pegada.

– ALÍCIA.

– Já podemos ir gente? - Perguntei.

Fomos pra praia. Os meninos já deviam ter ido. Chamei a Karolina e ela disse que ia com o namorado. Eu iria apresentá-la pras meninas.

– Meninas, eu vou dar um mergulho. - Falei.

Tinham uns caras que estavam me olhando quase babando e eu dei um riso. Estava me sentindo bem. Já que eu não tinha mais a piscina da casa dos meus pais, só me restava à praia mesmo. Entrei na água e fiquei uns minutos. Voltei pra pegar o bronzeador porque o sol estava de matar. Ouvi uma voz dizer meu nome.

– Luciano.

– Oi, que surpresa você aqui.

– Eu que digo. O que aconteceu com você?

– Você não disse pra eu te deixar em paz? Então foi o que eu fiz.

– Aham, sei.

– Você tem um corpo lindo.

– Você já reparou no meu corpo? Safado.

– Impossível não olhar.

– Você costuma sempre vir aqui?

– Não, eu não sou muito chegado ao sol.

– Por um acaso você é um vampiro.

– Não sei, talvez.

– Fácil descobrir.

– Me ensina.

– Você não sente vontade de morder o meu pescoço?