Fiquei temeroso que o milagre de ouvir o coração de Yuuki fosse passageiro, mas não foi isso o que aconteceu. Eu a vi, dia após dia, corando e voltando a ser a mesma Yuuki que conheci. Não, ela não era mais a mesma Yuuki, parecia alguém muito mais saudável, como se a morte nunca a tivesse tocado realmente e isso me encheu de felicidade. Eu acompanhei temeroso, pela sua recuperação no hospital sempre me dividindo entre meu trabalho (eu havia voltado a lecionar) e o hospital.

Não importa o quanto meu dia fosse nebuloso lidando com um bando de alunos desinteressados em aprender, eu me esquecia de tudo quando ia visitar Yuuki.

-Boa tarde. Eu posso entrar? –Disse assim que passei pela porta do quarto de Yuuki, dando alguns passos pela ante-sala até chegar ao seu quarto.

-Claro Zero! –Yuuki falou radiante. Ela devia saber que eu estava a caminho, não vestia o típico pijama oferecido pelo hospital e sim um vestido rosa rodado até os joelhos que trouxe de nossa casa a pedido dela. Um leve resquício de maquiagem no rosto. Caminhei até ela, desesperado para encurtar rapidamente o espaço entre nós dois e a agarrei em um abraço.

-Ah, senti sua falta, sabia? –Murmurei contra a pele de seu pescoço enquanto a mantinha em meus braços, seus pés não tocavam o chão. Yuuki ria.

-Eu também senti a sua. Afinal você me acostumou muito mal quando passava o dia aqui comigo Zero. –Falou e afastou-se me beijando nos lábios. Seus lábios tinham um gosto diferente agora, eles transbordavam de vida assim como todo o seu corpo.

-Isso logo vai acabar. Encontrei com o seu médico na recepção, ele disse que você será liberada amanhã de manhã.

-Nossa, sério? Acho que isso tem direito a comemoração. –Yuuki falou com um sorriso misterioso nos lábios e rapidamente entendi o que quis dizer. Desde que Yuuki foi internada há um mês nós não nos tocávamos, pelo menos não intimamente. Olhei para todos os lados, não havia ninguém no quarto além de nós, uma bela oportunidade. Tomei Yuuki nos braços e a beijei, Yuuki sorria entre os beijos.

-Zero seu menino levado! –Yuuki disse entre os beijos. Caímos na cama. Os braços de Yuuki envolta do meu pescoço e meus braços envoltos de sua cintura. Eu saiba que era muito errado o que estávamos prestes a fazer, mas eu tendia a me esquecer de qualquer coisa racional ou irracional quando estava com ela. Quando as mãos de Yuuki se apressavam em abrir os botões de minha camisa, um barulho na porta.

-Droga! –Murmurei. Yuuki olhou-me assustada. Eu escorreguei para o chão e me escondi debaixo da cama. Que coisa ridícula de se fazer, mas eu não queria que pensassem mal de Yuuki. Era uma enfermeira verificando se estava tudo bem com Yuuki. Procurei ficar imóvel sem fazer barulho algum. Após alguns minutos a enfermeira saiu.

-Pode sair debaixo da cama Zero. –Ela falou entre risos. Eu saí com a roupa incrivelmente amarrotada. Yuuki reprimiu um sorriso.

-Yuuki! –Pronunciei seu nome amuado. Ela sorriu como quem se desculpava.

-Acho que não foi uma boa idéia afinal. Melhor continuarmos isso amanhã após eu sair. –Ela disse e pude ver que estava descontente tanto quanto eu. Eu assenti contrariado.

-Bom, já que deixaremos a diversão para amanhã, isso não significa que não possa apreciar o restante do dia ao seu lado. –Sentei na sua cama e Yuuki se aproximou sentando bem próximo a mim, a puxei para que descansasse sua cabeça em meu peito. Muito mais do que tê-la quente nos meus braços, sorrindo, era sentir sua pulsação ainda mais forte do que antes.

No dia seguinte...

-Zero! –Yuuki falou meu nome enquanto ria. Ela achava cômico o meu desespero em levá-la para a cama. Havia recebido alta naquela manhã e eu havia tirado o dia de folga só para pega-la e para suprir minha necessidade em tê-la. Felizmente Yuuki me entendia por que ela sentia o mesmo que eu. Enquanto caminhava apressadamente para o nosso quarto com Yuuki nos meus braços, as cenas do dia em que eu quase a perdi estavam tão distantes e eu bendisse isso. Empurrei a porta aos chutes e a coloquei delicadamente na cama cobrindo seu corpo com o meu.

-Quero fazer amor com você o dia todo, sabia? –Sussurrei um seu ouvido. Yuuki sorriu, seu riso era algo que faltou em nossa casa.

-Então o que está esperando? –Disse desafiadora. Dei um meio sorriso e tomei seus lábios. E enquanto fazia amor com ela, a sentia com tanta intensidade como se nossos corpos fossem se fundir, eu soube que eu a queria o resto de minha vida e soube também que esse sonho não estava longe da realidade. Yuuki seria minha por que seu coração batia por mim hoje, amanhã, sempre.

Eu era realmente uma pessoa abençoada, eu e Yuuki.

E dois acontecimentos marcaram o fim de uma vida cheia de problemas e surpresas desagradáveis e o inicio de uma vida verdadeiramente feliz: primeiramente meu casamento com Yuuki.

Tivemos um casamento tradicionalmente japonês no litoral. Tivemos poucos convidados, mas os que vieram eram verdadeiramente amigos. Até Shizuka veio com seu namorado. Yuuki estava radiante, jamais imaginei que a veria mais linda do que ela já é, mas me enganei. Ela trajava um quimono tradicional branco, a face vermelha. O rubor em seu rosto era um espetáculo a parte.

-Está cansada amor? –Perguntei a ela enquanto a abraçava por trás. Ela virou-se e sorriu.

-Um pouco. Essa festa está um pouco cansativa, nem sentei ainda! Mas... Eu adoro sentir esse cansaço! –Virou-se completamente e me abraçou. –Além disso, eu creio que tenho que estar muito bem disposta para a lua de mel, ou o meu novo maridinho vai se cansar de mim.

-Yuuki, eu jamais me cansaria de você! Que conversa! –Falei falsamente chateado. Yuuki ficou me olhando e então me abraçou.

-Os médicos disseram que aconteceu um milagre comigo, mas eu sei que não é isso. Foi você Zero. Você fez meu coração bater por você. Eu sabia que você era meu melhor remédio. –Eu a abracei e não pude conter a emoção.

-Obrigado por tudo. –Disse e então, a pedido dos convidados, fomos para o centro do salão valsar.

E os dias se passaram tão rapidamente e tão lentamente, nós não parecíamos perceber isso. Estávamos presos em nossa bolha de felicidade e nada nem ninguém parecia ter poder me nos afetar. E agora sim tínhamos uma vida.

Formatura dos alunos do colegial.

-Yuuki Kuran Kiryuu. –O diretor pediu. Yuuki, linda com as vestimentas de formatura, subiu no palco, os olhos em mim que estava sentado em uma mesa bem em frente ao palco. Eu a aplaudia e Kaien, que era convidado, tirava fotos de Yuuki próximo ao palco.

Yuuki tinha os olhos marejados e eu entendia sua felicidade. Ela não imaginou que conseguiria se formar no colegial. Pegou o diploma das mãos do diretor cumprimentando-o e agradecendo. Desceu do palco e levou a mão na testa. Entendi o que se passava. Levantei-me da mesa e corri para perto dela antes que desmaiasse.

-Yuuki, tudo bem? –Perguntei aflito. Yuuki sorriu fracamente.

-Estou tonta. –Falou com a voz fraca.

-Acho melhor irmos ao hospital amor. –Sugeri nervoso. Yuuki se endireitou.

-Zero, não precisa disso! É só um enjôo de gravidez, isso é normal. Se você for me levar ao hospital toda vez que eu tenho esse sintoma então é melhor montarmos morada lá. –Falou divertida.

-Tem razão, mas me preocupo com você. Se você tiver uma recaída Yuuki eu... –Murmurei desesperado. Yuuki sacudiu a cabeça desaprovando.

-Não seja bobo, se antes meu coração já batia fortemente por você, imagina agora que ele bate pelo nosso filho? Meu coração trabalha por dois, não tem como ele parar. Então vamos? Quero comemorar a sós com você minha formatura. –Falou com um sorriso misterioso, tão misterioso quanto o sorriso de Monalisa.

-Proposta interessante, mas não seriamos apenas dois ou se esqueceu que tem um pequeno garotinho crescendo no seu ventre. –Falei divertido.

-Oh, isso. Realmente! –Tocou no ventre. –Desculpe bebê, quase me esqueci de você. –Falou com meiguice. Eu peguei sua mão e beijei.

-Vamos pra casa, para a nossa casa. –Falei e caminhei com Yuuki ao meu lado, plena, saudável, para a saída. Kaien nos viu e acenou sabendo que queríamos um tempo a sós.

Um futuro como nunca imaginei que eu teria ao lado da mulher amada e filho amado. A estranha que entrou em minha vida e a mudou irreversivelmente. Minha adorável estranha, minha amada estranha. Eu e Yuuki, juntos, até que nossos corações um dia cessassem.   

Fim.