You Only Live Once escrita por Vero Almeida


Capítulo 23
Cutucando a onça com vara curta.


Notas iniciais do capítulo

Olha quem chegou! Eu, o chapolin colorado! /Parei

LL's, bem vinda. Obrigada por ler e comentar, ok? Espero que continue gostando. Beijão.

Divirtam-se amores!



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PDV da Alícia

Joshua era ótimo na sinuca, fazia um jogo impecável. Eu já estava ficando irritada, porque além de derrubar as bolinhas dele ainda me impedia de derrubar as minhas. Poxa vida, eu já não tenho muita coordenação, custa facilitar? Não importa, de qualquer maneira em breve eu o arrastaria para o fliperama dos fundos e ele ia ver quem manja dos paranauê.

Eu estava realmente me divertindo, e isso era uma surpresa até mesmo pra mim. Joshua era um cara divertido no fim das contas.

Então porque é que a voz de Ryan ficava ecoando na minha cabeça, me pedindo foco e cuidado? Droga, talvez eu devesse diminuir o tempo que passo com ele, estávamos tão próximos que eu não precisava que me dissesse com todas as letras o que pensava, estava começando a entendê-lo através de meias palavras, tom de voz, expressões faciais.

Ele podia não estar ali, mas eu sabia que não ia aprovar a maneira imprudente como eu estava agindo. Ryan não confia em Joshua, e eu preciso descobrir porque.

– Josh... – Comecei. Era a minha vez de jogar, e eu posicionei o taco na direção da grande bola branca em que deveria mirar. Eu tinha que pensar bem no que dizer, precisava arrancar coisas dele me comprometendo o mínimo possível. – Porque Ryan partiu pra cima de você, no meu primeiro dia?

Acertei a bola branca, que deveria ter acertado uma das minhas bolinhas de número ímpar derrubado-a na caçapa, mas já que não tenho coordenação, acabou acertando a lateral da mesa e caindo no chão.

Os lábios de Joshua se contraíram em algo semelhante a um sorriso, enquanto os olhos acompanhavam o desastre que eu tinha causado.

– Assim vai ser fácil ganhar de você, cadê a emoção? – Brincou, abaixando-se para recolher a bolinha. – Vou te dar uma colher de chá dessa vez, tenta de novo.

Empurrou a bolinha em minha direção, e eu a acomodei no mesmo lugar onde estava quando a acertei. Permaneci em silêncio, esperando uma resposta. Pela maneira pensativa como mirava as bolinhas, sabia que só estava procurando um jeito de me responder.

– Talvez devesse perguntar a ele. – Disse por fim, contornando a mesa. – Agora vamos lá, posicione o taco.

Agachei-me diante da mesa ajeitando o taco entre meus dedos da maneira como Joshua me ensinara, e mirei a pontinha preta do taco bem no meio da bola.

– Espere, e respire. Pense, se você conseguiu uma bolsa, deve ser inteligente. Pense nisso como ângulos matemáticos, imagine pra onde a bola vai dependendo de onde você acertá-la.

Tentei me concentrar, focar na bola e prever seus movimentos. Talvez não fosse bom acertar o meio da bola... De repente no cantinho seria melhor. Acertei a bola com mais força do que previra, mas de algum jeito maluco deu certo. A bolinha branca bateu com força na minha bola de número 7, e tudo bem que eu mirei na caçapa do fundo, mas graças à minha força ela bateu na tabela da mesa e veio a cair na caçapa do meio. De qualquer maneira caiu.

– Hey, eu consegui! – Dei um gritinho histérico e corri até ele, ninguém nunca tinha me ensinado a jogar sinuca antes! Quase o abracei por impulso, mas quando estava prestes a fazê-lo, Ryan apareceu de novo na minha cabeça. Que Droga, ganhei uma consciência.

– Conseguiu, eu disse! – Se gabou, preparando-se para a sua jogada.

– Eu perguntei. – Insisti no assunto. Ele ergueu os olhos em minha direção com a expressão confusa, e percebi que não sabia do que eu estava falando. – Perguntei a Ryan porque ele te agrediu. – Esclareci. Toda a conversa que tivemos aquele dia no carro veio a minha mente com todos os mínimos detalhes. A maneira como ele me contou do cara que morreu, e a forma como eu o ignorei, tratando-o como uma criança num conto de terror. O pobre garoto também recebeu rosas macabras, também recebeu ameaças. E aquele seria meu destino se eu não arranjasse um jeito de acabar logo com essa história. – Ele não me disse nada.

Era mentira. Quer dizer, era parcialmente mentira, ele me contou suas teorias, mas nunca me disse com todas as letras qual o motivo de desconfiar de Joshua.

Ah Ryan Dawson, se esse cara não me disser nada de conclusivo, você se prepare que eu vou te espremer até que me conte essa história inteirinha!

De qualquer maneira, talvez eu estivesse diante de uma chance de descobrir mais. Se eu o pressionasse um pouco mais, talvez ele me respondesse algo. Quero dizer, se não fez nada de errado, porque haveria de se esconder?

Bom, se eu não fizesse nada ia me dar mal de qualquer maneira, então era melhor eu começar a arriscar.

– Me conta você. Eu estou saindo com você, não com ele. – É bem verdade que talvez eu preferisse que fosse ao contrário, também é verdade que eu tenho um encontro de verdade com outro cara amanhã, mas nessa vida a gente não ganha nada se não jogar verde.

Ele suspirou, e acabou desistindo de jogar, apoiando o taco no canto da mesa

– Você deve estar sabendo de um garoto que morreu na praça, foi o povo da sua república quem socorreu o pobre coitado.

Ah droga, eu me arrepiei dos pés à cabeça. Ele sabia algo sobre isso, sério mesmo? E ia me contar fácil assim? Ou ele era mesmo inocente ou era um bocó muito burro mesmo, qualquer das duas opções fazia com que eu me sentisse um monstro por estar usando-o dessa forma.

– S...Sei. – Tentei não gaguejar, mas não deu muito certo. Tentei forçar uma tosse pra disfarçar o engasgo na voz.

– Ryan acha que eu tenho alguma coisa a ver com a morte do garoto porque eu estava com ele na noite em que morreu. – Ele cuspiu as palavras todas de uma vez como uma enxurrada. – Mas não é nada disso, a gente tava dividindo o Ketchup, só isso. O cara acha que eu matei alguém, porque estava dividindo o Ketchup!

Tive que me apoiar na mesa para não cair, mas logo tratei de recuperar a postura. Ele me parecia sincero, mas eu tenho certeza que pessoas capazes de fazer um assassinato parecer acidente mentem muito bem. Ryan me disse que o garoto morreu de alergia, alergia a um corante. Um corante que poderia estar no Ketchup.

Mas por que, meu Deus? Porque ele me contaria se fosse verdade?

– Se você estava com ele dividindo o Ketchup, viu quando ele começou a passar mal, certo?

– Eu entrei em pânico, ok? – Eu nem tinha concluído o raciocínio e ele já estava se justificando. – Eu me arrependo de ter largado ele lá, mas nunca tinha visto ninguém morrer, ele parecia não conseguir respirar, ficou roxo em questão de segundos! Quando estava correndo pra longe, Ryan se colocou bem na minha frente e nós esbarramos. Ele me olhou como se eu fosse a pior criatura do universo, e desde então me trata da maneira como você viu.

Acenei afirmativamente, sem muito mais o que dizer.

– Alícia, eu não matei ninguém! – Insistiu.

– Mas não socorreu também. – Dei de ombros, ainda pensativa. – Eu quero ir pra casa.

– Tudo bem. – Ele murchou, e levou as mãos aos bolsos, retirando a carteira de lá em seguida. – Vou pagar a conta e pegar sua jaqueta na chapelaria. Tenta ver meu lado, ok? Eu me arrependo do que fiz aquele dia, mas as pessoas erram.

Acenei afirmativamente. Peguei meu celular preso ao sutiã (ah minha filha, quando não tem bolso a gente improvisa) e mandei um sms pra Ryan.

“Estamos indo pra casa, seus serviços de segurança estão dispensados por hoje.”

_/_/_

PDV da Stella

Aquela vaca disfarçada de dona de casa não estava brincando quando disse que ia me arrumar um emprego. Deve estar bastante empenhada para acordar tão cedo num domingo só pra ir ao centro falar com os comerciantes do bairro.

Pois é, eu vim parar em uma daquelas cidadezinhas de quinta que mais parecem um vilarejo, onde todos se conhecem, só tem um padeiro, um supermercado, um açougue, e as pessoas contratam umas as outras pelo boca a boca. Eu nem sabia que ainda existiam cidades desse tipo em pleno século XXI, ainda mais tão perto da minha casa.

Bom, o fato é que eu resolvi ligar pra Matt, eu precisava resolver minha vida antes que aquela piranha voltasse com um emprego de embalador de supermercado pra mim.

Eu iria até a república e falaria com Ana sobre a minha situação. Minha suspensão acabou ontem, e Ana é a rainha dos improvisos, tem que me ajudar a permanecer na faculdade mesmo sem a ajuda financeira dos meus pais.

Era isso, ou eu estaria perdida.

Cuidei de Joe normalmente, tomamos sol na varanda e conversamos. Falei que tinha ligado pra Matt, ele ficou meio chateado e apreensivo. Joe não gosta de Matt.

– Filha, esse garoto não é seu amigo, ele não é amigo de ninguém. – Argumentou ele, acariciando meus cabelos vermelhos de maneira gentil.

– Ele sempre me ajudou, Joe. Quando ninguém mais me estendeu a mão, ele estava lá.

– Eu sempre estive lá, minha menina. Não me deixavam ver você naquele lugar horroroso, mas eu rezei por você. Juntei um dinheirinho e procurei um advogado, mas ele me disse que não podia fazer nada, seus pais é que tinham autoridade sobre você.

– Eu sei... – Passei meus braços em torno de seu pescoço e beijei-lhe a testa. – Mas se não fosse por ele, eu teria enlouquecido lá dentro.

Joe me olhou de maneira triste.

– Eu acho que parte de você enlouqueceu de qualquer jeito. – Sussurrou.

. Não sei por que ainda me surpreendia com Joe, não importa quantos muros eu erga ao meu redor, ele sempre vai enxergar através deles. Isso não é bom, nem pra mim, nem pra ele. Me deixa vulnerável, e o faz sofrer. “O amor é uma fraqueza”. Aprendi isso com a Rainha malvada de Once Upon a Time, um seriado que eu assisto só por causa daquela mulher, ela é um exemplo!

– É impossível passar por um lugar desses e sair intacto, Joe. Parte de mim ficou lá, e eu nunca vou recuperar.

– Eu tenho certeza de que vai sim. – Deu um beijo demorado em minha testa. – Um dia eu sei que vai. E até lá, por favor tome cuidado com aquele garoto. Ele é o tipo de pessoa que não faz nada de graça, filha.

Revirei os olhos, rindo.

– Ok, eu prometo que vou tomar cuidado ok? Agora vamos, coma que logo ele vai passar pra me pegar e eu vou tentar falar com a Ana.

– Não acho que tenha muito que ela possa fazer por você, mas se insiste em ir, vá tranqüila que Martha sabe cuidar muito bem de mim. – Ele me sorriu daquele jeito que só ele consegue. Parte de mim invejava Isobel, eu daria tudo pra ser filha do Joe. Eu seria uma pessoa completamente diferente, eu seria pobre, mas feliz!

– Obrigada Joe! – Dei um último abraço apertado nele. – Vou aproveitar e falar com Ryan sobre a fisioterapia, ok? Quero deixar tudo pronto pra começar assim que retirarem o Gesso.

– Ok minha filha, vá com Deus. – Acenou pra mim. – E pelo amor de Deus, Stella, não explore os Dawson, eles estão sendo bons comigo.

– Pode deixar. – Prometi, antes de sumir porta adentro. Ainda precisava falar com Martha antes que Matt chegasse, ela não podia esquecer de dar a Joe os remédios.

_/_/_

PDV do Ryan

Sempre pensei que ninguém jamais superaria a habilidade que Stella tem de mexer com meus nervos, mas Alícia consegue.

Eu passei horas num café na esquina daquele maldito bar onde se enfiou com aquele psicopata, e não mereci nada além de uma porta na cara quando chegamos em casa.

Foram horas terríveis. Eu pedi um copo de suco de laranja que mal cheguei a tomar, e até levei meu caderno pra ver se minha inspiração dava as caras e eu conseguia fazer alguma coisa nova pra banda, mas simplesmente não rolou. Não rolou porque eu tinha que atualizar a tela do celular de 3 em 3 segundos, se ela precisasse de mim eu teria que ser rápido.

Eu me apeguei àquela baixinha encrenqueira, e não tinha percebido o quanto até ontem. Ela tem esse jeito todo espalhafatoso, chegou metendo o bedelho na vida de todo mundo e agora não dá mais pra imaginar nossa casa sem ela. Tudo o que eu conseguia pensar durante as horas em que esperei é que se ela voltasse com um arranhão sequer eu ia bater tanto na cara daquele infeliz que nem a mãe dele ia reconhecê-lo.

Na nossa casa somos todos uma família, e agora ela era da família.

Pois é, e no fim desse tempo de tensão, tudo o que eu ganhei foi uma mensagem fria e uma porta na cara.

E agora eu estou aqui, diante do meu café da manhã, descontando toda a minha raiva e frustração nos meus waffles.

– Bom diiia! – Marie cantarolou, sentando-se à mesa com a costumeira maçã nas mãos.

– Ah, aposto que pra você deve estar lindo mesmo. – Respondi, de má vontade. – Cadê a Alícia?

– Aaaai credo. Isola, mau humor. – Fez uma careta desgostosa e bateu na mesa de madeira três vezes. – Tá dormindo ainda.

Olhei pra ela, saboreando toda saltitante sua maçã matinal. Eu não tinha o direito de estragar o dia dela que estava começando tão bom com meu humor insuportável, não é?

– Desculpa, eu to meio irritado desde ontem. – Bufei. Resolvi parar de agredir meus waffles, e finalmente derramei a calda de chocolate sobre ele. Quentinha, do jeito que eu gosto. – Mas eu devia ser mais legal com você, principalmente porque vou ter que roubar Noah o dia todo.

– É, eu to sabendo, ensaio. – Ela suspirou, já resignada. – Mas quer saber? Eu acho ótimo, vocês precisam voltar a tocar logo. Aqueles caras da república da rua de trás estão achando que vocês estão acabados sem a Stella. Estão se achando, eu e Noah os vimos tocar na praça ontem.

Aquilo era música pros meus ouvidos. Se tem uma coisa que eu aprendi com o lado “Larry Stevens” do meu pai é que nesse ramo nós nunca podemos nos acomodar, por mais vantajosa que pareça nossa posição. Eles achavam que nós estávamos acabados, então é melhor que se preparem pra cair do cavalo.

Eu perguntaria mais a Marie sobre a apresentação da banda vizinha, mas ela provavelmente não prestou atenção em todos os detalhes que me interessavam. Além disso de qualquer maneira nossa conversa foi interrompida por um garoto de cachos castanhos e média estatura que irrompeu porta adentro como um cometa. Gritou um bom dia eufórico ao passar por nós, em seguida saiu rumo a ala masculina.

– Conhece esse cara? – Perguntei, enfiando um pedaço generoso de Waffles na boca. – Aliás, a porta dormiu aberta ?!

– Você foi o último a entrar, vacilão. – Deu um tapa na minha cabeça.

Ah, era verdade. Fiquei na esquina esperando a Alícia descer e Joshua sumir pelo outro lado, e então estacionei em frente à varanda e entrei como um raio atrás daquela louca transtornada que não me deu notícia nenhuma além de uma mensagem idiota. Esqueci de trancar a porta.

– Quem é o garoto? – Perguntei novamente. – E como sabe que eu fui o último a chegar? Já estava no quarto.

– Aaron, o amigo do Adam. – Ela respondeu a primeira pergunta, e pareceu se divertir com a segunda. Arqueou a sobrancelha, me fitando divertida. – Eu vi Alícia bater a porta do quarto na sua cara, bobão. Estava acordada. Depois fui lá segurar o cabelo dela diante da privada já que ela estava botando todo o jantar pra fora. Acha que Joshua fez alguma coisa com ela?

Bufei, contrariado.

– Era o que eu estava tentando saber quando ela bateu a porta na minha cara.

– Bom... – Marie desviou os olhos para a entrada do corredor. – Ta aí sua chance de descobrir.

Virei-me de costas na direção do olhar de Marie apenas pra encontrar Alícia parada que nem um zumbi na entrada da cozinha, a maquiagem que não se dera ao trabalho de tirar na noite anterior estava toda borrada, e os cabelos desgrenhados.

A infeliz conseguia ser bonita até assim. Seus olhos escuros me fitavam com um misto de sentimentos que eu não sabia diferenciar. Só sabia com toda a certeza que estava magoada comigo, mas não entendia por que.

– Hey... – Desci da cadeira e fui até ela, já preparando meus braços para envolvê-la, mas ela recuou. –Qual o problema? O que aconteceu?

Ela demorou pra responder, apenas olhou pra mim com aquela expressão intimidadora e ferida ao mesmo tempo.

– Alícia... – Comecei, mas ela ergueu a mão num pedido mudo pra que eu me calasse.

– Você me disse zilhões de coisas, Ryan. – Começou, a voz era tão baixa que eu mal a escutaria do outro lado da mesa. – Deixou bem claro que não confiava em Joshua, disse que eu não podia confiar em ninguém, atacou até mesmo Landon...

Ela fazia pausas esporádicas que estavam me levando à loucura. Onde raios ela queria chegar? O que eu tinha feito de tão sério?

– ... E não teve tempo pra me contar o que você viu aquele dia na praça. Não achou que era importante me dizer que desconfiava de que ele tivesse colocado a tal substância alérgica no Ketchup do garoto. – Sua voz falhava vez ou outra, estava trêmula, me parecia bem nervosa. Eu não estava entendendo, do que raios ela estava falando? – Ele me buscou bebidas, Ryan. Comprou uma porção de fritas. Quando eu cheguei aqui estava tão apavorada que me forcei a colocar tudo pra fora. Mas depois eu pensei, e percebi algumas coisas...

Abri a boca mais uma vez pra falar, mas achei melhor deixá-la prosseguir.

– De qualquer maneira, se houvesse algo na minha comida, eu não teria tempo de chegar aqui. E ele me contou tudo Ryan, me contou tudo logo na primeira vez que eu perguntei. Foi mais do que você fez por mim.

Eu não podia acreditar naquilo. Eu não estava ouvindo aquilo.

– Você está sendo injusta. – Eu disse, por fim. Marie a essa altura já estava bem longe, nem ao menos vi pra onde fora. – Eu não vi Ketchup nenhum, o que eu sei é que Joshua estava conversando com o garoto, e quando ele passou mal o covarde fugiu. E pelo amor de Deus, você não pode estar pensando com clareza se está me acusando de não te precaver. Nós sabíamos que ele não é confiável, eu te avisei, nem queria esse encontro pra começar. E eu poderia te dar um sermão de mais meia hora só por ter aceitado algo que veio das mãos daquele sujeito, Alícia. Me desculpe se achei que você fosse esperta o suficiente pra deduzir sozinha que não podia aceitar comida dele!

– Eu achava que estava a salvo de tudo com você no café ao lado. Na verdade nem considerava a hipótese de ele colocar algo na comida, pode parecer burrice, mas eu nunca pensei em Joshua como um gênio do mal. – Ela cruzou os braços e acariciou os ombros, estava arrepiada. – Eu estava preocupada em não aparentar estar fuçando onde não devia, pensava que ele poderia ser uma espécie de informante. Até cheguei a imaginar algumas maneiras bobas de morrer pelas mãos dele, mas nunca levei nenhuma delas a sério.

– Então o erro foi seu, não meu. Você foi descuidada, e eu te avisei desde o começo que estava sendo descuidada. – Eu não me deixaria magoar pelas acusações infundadas que ela me fazia, principalmente agora que parecia bem perto de enxergar os próprios erros. Alícia precisava de mim, e eu não podia me dar ao luxo de deixá-la na mão por orgulho idiota.

Ela me fuzilou com os olhos, por um momento pensei que fosse voar no meu pescoço, mas o que fez a seguir me surpreendeu.

– Eu... só não queria ter medo o tempo inteiro... – Ela se debulhou em lágrimas, bem na minha frente. Suas pernas tremularam e eu a puxei pros meus braços antes que se desequilibrasse e caísse. Pensei que fosse resistir, mas ao invés disso ela passou os braços pela minha cintura e me agarrou mais forte, molhando toda a minha camiseta. – Eu não quero me apavorar, não quero... Eu não quero acabar que nem aquele garoto, Ryan.

– Hey, shiiu. – Deixei meus dedos acariciarem-lhe o couro cabeludo. – Você não vai acabar como aquele garoto, nem pense numa besteira dessas. Só que negar os riscos não é uma boa maneira de se preservar, ok? Você precisa encarar os riscos de frente, e não precisa fazer isso sozinha.

Deixei-a chorar por um tempo, ela estava nervosa, precisava se acalmar. Murmurei palavras de conforto em seu ouvido e acariciei seus braços, até que seus soluços aos poucos se acalmaram.

– Olha pra mim, Alícia. Olha bem pra mim. – Ergui seu queixo, da maneira mais delicada que pude. Seus olhos sempre tão expressivos estavam tão apavorados que meu peito se partiu em um milhão de pedaços. Eu soube naquele momento que eu nunca deixaria nada acontecer a ela, eu a protegeria com unhas e dentes, não importando as confusões em que tivesse que me meter. – Eu juro que te contei tudo o que eu sei sobre aquela noite. Dou minha palavra. – Ela acenou em concordância. – Preciso que me conte direitinho essa história de Ketchup. E lembre-se que nada do que ele diz pode ser tomado como verdade até que tenhamos provas do contrário, ok? Ele provavelmente disse a você exatamente o que convém a ele que saibamos. Não podemos esquecer disso.

Ela concordou mais uma vez, e eu a sentei em uma das cadeiras da mesa. Eu faria um chocolate quente pra ela, e então íamos conversar.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!
Beeijos



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