O Garoto da Última Casa escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 48
Capítulo 47


Notas iniciais do capítulo

O fim está próximo....



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CAPÍTULO 47 - ESSE É O SEU PODER, QUERIDA.

Alexis Miller.

Minha cabeça doía e a umidade do piso, molhava minhas roupas.

Aos poucos, a escuridão que me prendia dentro de mim mesma, se dissipou e eu abri meus olhos.

Com dificuldade, eu me sentei em uma sala totalmente desconhecida, onde apenas uma janela minúscula e com grades, me fazia companhia. Uma goteira, pequena, pingava ao meu lado e eu percebi que era dela que vinha toda aquela umidade. Eu apertei meus braços em torno do meu corpo e me abracei. O medo me consumiu cada vez mais que eu lembrava da noite anterior – será que era noite ainda? Ou já tinha amanhecido mesmo?. Na verdade, eu não tinha ideia de onde estava ou de que horas eram naquele lugar. Tudo o que eu sabia dependia de fragmentos da minha memoria.

Eu me lembro de entrar na sala de aula, sozinha e nervosa pela prova. Lembro quando a senhorita La Canters chegou no local e sorriu para mim. Lembro ainda de, enquanto estava pegando meu caderno em minha mochila, ver perfeitamente uma marca em sua clavícula muito mais exposta do que em qualquer outro dia. Ela queria eu a visse, queria que eu soubesse quem era ela. E eu sabia. Mas, fingindo-me de ingênua, eu pedi para ir ao banheiro querendo na verdade correr daquele lugar. Mas meu temor deveria ter me entregado e quando caminhava até a porta, uma dor forte atingiu minha cabeça e eu desmaiei imediatamente. Agora eu estava ali. Sozinha e assustada.

Fechei meus olhos com força. Estava tão escuro que eu mal notei a diferença entre meus olhos abertos ou fechados.

Um barulho de ferro se chocando, fez com que meu sentidos fossem despertados e um minuto depois a sala foi completamente iluminada. Uma senhora, com olhos perigosos e afiados, me olhava divertida, cheia de maldade, com a porta – havia uma porta ali? – aberta.

–Menina Lancaster – ela disse, como um sussurro assustador – Que bom finalmente conhece-la.

–Quem é você?

–Sinceramente? Essa é a melhor pergunta que consegue pensar?

–Onde estou?

–Está melhorando – ela riu, comentando – Mas tenho ordens para não falar absolutamente nada. Então, por favor, levante-se.

–Por quê?

–Preciso leva-la a um lugar. Vamos, levante-se, garota, não tenho todo o tempo do mundo.

–Eu não...

Com uma rapidez impressionante, ela veio em minha direção com passos firmes e duros, e com um só puxão, com uma força desumana, ela me levantou em um salto e me empurrou para fora do lugar.

–Calliope, tem razão – ela resmungou, raivosa, enquanto fechava a porta atrás de mim – Você é tão mal educada.

–Quem é Calliope?

–Sua titia.

–Ela não é minha tia!

–Você é filha daqueles dois idiotas, é claro que ela é sua tia.

–Não ouse falar da minha família.

–Eu ouso o que eu quiser – rebateu. O corredor em que estávamos era estreito e fedorento, com sujeira e teias de aranhas por todos os lados. Eu não conseguia ver o que tinha no fim do corredor, apenas enxergava uma luz forte. – Você é bem magricela.

–Cale a boca – resmunguei, alto demais.

A Bruxa deu um beliscão em minhas costas e riu do meu gemido de dor.

–Mande eu calar a boca mais um vez e verá quem ficará realmente calada – ameaçou ela.

Me calei.

Porque, droga, ela era uma bruxa, tinha certeza que sim, então ela realmente poderia – e com facilidade – cumprir sua ameaça, sem esforço algum.

O resto do caminho foi em um terrível silêncio, que me deixava cada vez mais assustada. O medo me consumia como um tipo de fogo e em poucos minutos, talvez eu virasse apenas cinzas do que eu era.

Quando finalmente alcançamos a luz forte, meu olhos sofreram com a mudança de lugar. Em um segundo, eu estava em um corredor sujo e assustador e no outro eu já estava em um salão gigantesco, com várias ‘’pessoas’’ sorrindo e comendo, como uma grande festa. As pessoa estavam usando vestidos longos, antigos e extravagantes e seus cabelos tinham um formato esquisito. O salão tinha as paredes douradas e cheias de quadros de pessoas que eu não fazia ideia de quem eram. A música ambiente era doce e calma, vinda de uma orquestra no fundo do lugar. Tudo bem, eu estava louca. Agora definitivamente estava louca.

Quando a bruxa me empurrou para o meio da multidão, os risos e a música cessaram e os olhares caíram em cima de mim, avaliadores, assustados, raivosos e provocantes. Quem eram aquelas pessoas?

–Aproxime-se, querida – uma voz cortou o silêncio que a multidão fazia pela minha presença. A voz estava mais firme e mais poderosa, mas eu ainda a reconhecia. La Canters. Calliope.

Eu me mantive em meu lugar, enquanto as pessoas se arredavam para que eu pudesse ver minha tia com facilidade e ela pudesse retribuir o gesto. Nossos olhares se encontraram e em seus lábios um pequeno sorriso se formou.

–Aproxime-se – ela repetiu, um pouco mais doce dessa vez, mas ainda assustadora.

Me mantive no mesmo lugar.

–Eu disse para se aproximar! – ela gritou, furiosa e a bruxa que ainda apertava minhas costas, me levou com rapidez para perto de Calliope, que estava sentada em uma grande cadeira. Aquilo era um trono? Calliope era a Rainha? Que diabos...?

–Bom dia, querida – ela cumprimentou, sorridente – Como foi sua noite?

–Só seria mais perfeita se eu tivesse sua cabeça em uma bandeja, senhorita La Canters.

–Para você, querida, eu sou Calliope. Ou melhor, titia. Vamos me chame de titia.

–Nem que estivesse morta.

–Olha, que posso fazer isso acontecer, querida.

–Então faça, querida – disse com desdém.

Ela, ainda sorrindo, se levantou da cadeira, sem se mexer de seu lugar, me fitando intensamente.

–Haverá tempo para isso, Alexandra Lancaster.

–Eu não sou uma Lancaster! – gritei para ela, raivosa, recebendo mais um beliscão da bruxa atrás de mim.

–Você é querendo ou não – ela me disse – Muitos nessa sala queriam ser um membro de nossa família, sabia? Então sinta-se honrada, menina, porque você é.

–Eu sou uma Miller.

–Infelizmente, ninguém é perfeito.

–Acha que pode impedir que eles façam algo contra sua loucura de invocar Sarah, porque estou aqui? – perguntei, direta.

Ela me avaliou por breves segundos, como se tentasse entender minhas palavras e, por fim, disse:

–Não. – Calliope usava um vestido negro, que ia até seus pés. Os cabelos estavam presos e seu rosto tinha mudado um pouco de forma. Ela parecia mais nova, mais ainda sim, La Canters. – Sei que eles podem ser jovens, mas não são burros. Só que você não está aqui como um neutralizador dos seu amigos.

–Então por que estou aqui?

–Certamente, quero que saiba, que não é por causa de sua maravilhosa companhia, até porque você não traz, para mim, boas lembranças.

–Então por que estou aqui? – repeti a pergunta.

–Você se parece com aquela idiota, sabia? – Calliope comentou, já bem perto de mim. Suas mãos se levantaram, devagar, e acariciaram meu rosto, com doçura. – Você tem os olhos de Olaf, mas é muito parecida com Olívia. Vou adorar ouvir seu choro e seus gritos, como ouvi os dela.

–Do que está falando? – perguntei, fazendo ela retirar as mãos imediatamente.

–O sangue mais jovem, espero que saiba disso pelo menos, é muito importante. Não preciso daquele livro idiota, para descobrir isso, tenho meus meios – ela sorriu por cima de seus ombros e eu segui seu olhar, encarando por fim a imagem conhecida de Felipe – Bem, onde estava? Ah, sim. O Sangue Jovem é importante para a quebra de Maldições – ela me lançou uma piscadela – e a invocações de pessoas mortas.

Demorei apenas alguns segundos para que juntasse as peças.

–Você está dizendo que para invocar Sarah precisa me matar? – meu olhar deveria mostrar todo o pavor que ela esperava, porque Calliope sorriu de orelha a orelha.

–Não só preciso, como vou, querida – ela disse – Morrerá amanhã, amorzinho.

–Amanhã?

–Eu farei isso com minhas próprias mãos, como fiz com sua mãe. E não se preocupe só sofrerá um pouco.

–E o que significa isso? – perguntei, apontando para o lugar a minha volta – É um tipo de comemoração?

–Exato – ela confirmou – Mas não pela sua morte, embora seja bastante comemorável para mim, mas pela chegada de Sarah. De minha querida ancestral.

–Você sabe isso nunca vai funcionar, não é?

–Foi isso que sua mãe me disse, antes de eu mata-la – ela comentou, entredentes – E veja onde chagamos, Alexandra. Eu ainda estou por cima.

–Não por muito tempo.

–Por muito tempo – discordou rapidamente – Leve-a daqui, Merina. E deixe essa garota trancada até amanhã.

Merina, a bruxa, me segurou pelos braços e me puxou para fora do lugar.

–Você não vai conseguir nada! – gritei para Calliope, que caminhava de costas para mim – Você cairá!

Assim que Merina me levou de volta ao corredor, as risadas recomeçaram e a alegria voltou a imperar no salão. Meus olhos ardiam, mas me mantive indiferente. O que eu faria? Como estariam meus amigos? Eles me ajudariam?

Merina abriu a porta de fero, sorrindo, e me jogou lá dentro da sala escura novamente, com mais força do que o necessário, me fazendo cair na poça de água.

Eu era apenas uma garotinha medrosa e, pela primeira vez, estava com medo desse escuro todo. Me encostei na parede e me encolhi, abraçando minhas pernas. Ainda tentando evitar as lágrimas, escondi minha cabeça entre as pernas.

Um soluço escapou de meu lábios, sem que eu pudesse evitar.

–Eu preciso sair daqui – murmurei – Eu preciso de ajuda.

Um clack, fez com que eu me tornasse alerta novamente. Meus olhos, um pouco marejado, estavam atentos e temerosos.

Um vulto passou perto do que deveria ser a porta de meu cativeiro. Outro passou bem mais perto de mim. E outro, ao meu lado.

Soltei um gritinho e me coloquei de pé, ainda contra a parede.

–Quem está ai? – perguntei – Vamos, quem está ai?

–Senhora – alguém sussurrou – Senhora, senhora...

–Senhora, senhora – outra voz se juntou a primeira.

–Senhora, senhora, senhora – várias vozes falavam agora, como um tipo de mantra.

–Quem está ai?! – gritei, fazendo com que as vozes calassem.

Com um vestido esvoaçante e um sorriso terno, a imagem de Olívia apareceu em um dos lados do cômodo. Meu olhos desviaram de seu rosto perfeito, apenas quando a imagem do senhor Avery apareceu na extremidade oposta. Várias e várias pessoas, - não exatamente pessoas – começaram a surgir em minha frente. Eu vi a Horda dos Sete completa e Olívia, mas fora isso não conhecia mais ninguém. Naquela pequena sala, deveriam ter, pelo menos, cinquenta seres.

–Sabemos que chegou a hora, Alexis – Olívia falou – Chegou hora de fazer o qeu você nasceu para fazer.

–O que significa isso? – perguntei, ainda olhando para as pessoas em minha frente. Seus rostos eram transparentes e suas expressões pareciam carregadas de sofrimento.

–Essas pessoas, Alexis, são as pessoas que morreram por essa Maldição – Olívia explicou – Essas pessoas querem a verdadeira justiça agora e com você. Elas querem o fim da Maldição.

–Mas eu...

–Mas para termos esse fim, antes precisamos acabar com Sarah. Se sua invocação for completa, Sarah será imbatível. E perderemos muito mais do que a cidade, perderemos muitas vidas.

–O que posso fazer, Oívia? Eu sou só uma garota de Nova Iorque.

–Você sabe que não é.

–Então, o que eu sou?

–Você, Alexandra Lancaster Miller, é a Rainha dos Mortos, a nossa Esperança, a nossa Salvadora, mas acima de tudo, você é nossa líder.


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