Era uma vez no Oeste escrita por nina


Capítulo 25
Estrangeiro


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Post duplo, como prometido!
Espero que gostem e boa leitura =)



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Capítulo 25 – Estrangeiro

Uma semana. Fazia uma semana que eu estava de volta a El Passo e ainda sim eu parecia não conseguir me adaptar a rotina. Era estranho acordar e olhar para meu teto branco ao invés da lona marrom da minha antiga tenda e mais estranho ainda ficar no silencio dessa grande casa ao invés das conversas e agitação da comitiva.

Meu pai quase não ficava em casa, ele disse que estava tentando resolver o problema com o Nathan, já que o prazo vencia em dois dias, o que estava me deixando ansiosa e nervosa ao mesmo tempo. Então me restava ficar em casa com minha tia. Ela não me deixava sair de casa desacompanhada e ficava me lembrando durante todo o tempo das suas regras de etiquetas que a muito eu tinha deixado de cumprir.

Lissa também vinha me ver, mas suas visitas diminuíram depois que eu a apresentei ao Christian. Nos primeiros dias eles só brigavam e o próprio Christian não estava fazendo um trabalho muito bom em conquista-la, mas depois que eles ficaram presos no armazém do centro, bem, eles deixaram de ser teimosos e não se desgrudavam mais.

Eu estava feliz por eles, mas sempre que eu os via juntos meu coração se apertava e eu tinha vontade de chorar. Eles sabiam o porquê e durante as suas visitas faziam de tudo para me distrair. Mas Dimitri sempre estava nos meus pensamentos, durante todas as horas do dia. Mesmo este sendo um tópico proibido ali dentro de casa, segundo tia Kirova, eu não podia mandar nos meus pensamentos.

Eu queria saber onde ele estava, se ele estava bem e se algum dia eu voltaria a vê-lo, o que era totalmente contrário ao que a Rose racional dizia.

Mas a cada dia que eu me deitava na cama sem notícias suas mais eu me desanimava.

Nessa tarde eu estava um pouco mais animada. Meu pai não estava em casa e tia Kirova estaria indo tomar chá com uma senhora do final da rua. Isso significava que eu tinha uma chance de sair dessa prisão ao menos por algumas horas.

Assim que a minha tia saiu corri para calçar minhas botas, em seguida, coloquei o chapéu do Dimitri que tinha ficado comigo. Ele era grande o suficiente para cobrir boa parte do meu rosto. Eu continuei com o vestido vermelho e o espartilho preto que eu usava, pois colocar minha calça favorita só serviria para chamar a atenção.

Eu queria conseguir um cavalo, mas sabia que eu estava pedindo demais. Os empregados do meu pai me pegariam e adeus minha pequena liberdade. Por isso eu desci no primeiro andar e pulei a janela da dispensa, dando a volta por trás da casa e seguindo para o terreno do vizinho.

Eu respirei aliviada quando esperei alguns minutos e vi que ninguém veio atrás de mim. Ótimo.

Então, abaixando a aba do chapéu segui rumo ao centro da cidade. Hoje era dia de San Christovan, e a cidade estaria realizando feira e atrações no centro. Foi Lissa quem havia me dito na sua visita ontem à tarde, ela estaria indo com o Christian para apresenta-lo aos seus pais. Ela estava nervosa, é claro, seus pais eram de uma família tradicional e poderiam não aceitar que sua filha se envolvesse com um cowboy. Mas Christian não tinha o histórico do Dimitri e era filho de um banqueiro bem conceituado.

Quando estava a alguns metros do centro eu já podia ouvir a música alegre e o barulho de pessoas. A rua tinha sido enfeitada com fitas coloridas, presas de um lado a outro no alto. Várias barracas de comidas, bebidas e artesanatos disputavam espaços com tantas pessoas e uma enorme fogueira brilhava o local, atraindo os tocadores de banjo. Mas fora isso El Passo parecia a mesma. Eu via as mesmas jovens muito bem vestidas andando lado a lado com suas amigas enquanto paqueravam com os cowboys presentes, os cowboys sendo paparicados pela população, os saloons já estavam iluminados e atraindo muitos homens bêbados, e claro, as velhas fofoqueiras que não perdiam nada com os olhos.

Eu andava no meio da multidão, tentando não atrair atenção, enquanto procurava pela Lissa.

Enquanto dava voltas por ali eu encontrei alguns dos cowboys da comitiva que viajaram comigo. Eu queria falar com eles, mas isso poderia chamar atenções indesejadas, então eu apenas abaixava a cabeça e tentava não tropeçar em tanta gente.

Finalmente depois do que pareceu uma eternidade eu avistei a Lissa e o Christian de frente para a barraca de flores. Eles sorriam enquanto conversavam entre si, era obvio para qualquer um que eles se gostavam.

– Tudo bem, eu não quero ouvir o que vocês dois tanto cochicham um para o outro. – Eu me aproximei, elevando um pouco meu chapéu para que eles pudessem me reconhecer.

– Rose! – Lissa gritou. Eu revirei os olhos, é claro que eu deveria saber que minha amiga não seria discreta.

– Obrigada por informar minha exata localização. – Bufei.

– Desculpe. – Ela corou, e Christian sorriu para as cores da sua bochecha. – O que você está fazendo aqui?

– Fugindo da minha tia. – Dei de ombros.

Lissa riu e Christian finalmente desviou os olhos dela para mim.

– Eu não quero estar presente quando você for pega, isso provavelmente vai acabar com a minha reputação.

– Que reputação, Christian? Vamos lá, você vai impressionar o pai da Liss contando pra ele quantos cavalos você já domou?

– Parem, os dois. – Liss interrompeu. – Vocês são piores que crianças.

– Ele começou. – Apontei para o Christian.

– Não é essa a questão... – Bufei, é claro que a Liss ficaria do lado dele.

– Você perdeu Rosie, admita. – Christian tinha um sorriso triunfante.

– A única pessoa que vai perder alguma coisa aqui é você e serão seus dentes. – Christian sabia que a ameaça não era real, mas isso não o impediu de dar um passo para trás.

– Rose, eu amo o Christian assim então...

– Então faça seu cachorrinho calar a boca, ou não respondo por mim.

– Paz, Rosie. – Christian levantou os braços. – Tudo pela minha belezinha aqui. – Ele sorriu para Liss, para em seguida, beijá-la.

– Eu não preciso ver isso. – Cobri meus olhos, fazendo careta. – Já me arrependi de ter vindo.

– Desculpe, Rose. – Liss estava mais corada do que antes.

– É só continuar com os olhos fechados. – Christian retrucou.

– Isso quer dizer que a conversa com seu pai correu bem? – Mudei o tópico, evitando que eles voltassem a se agarram na minha frente.

– Sim, meu pai deu permissão para o Christian me namorar, mas ele disse que vai manter os dois olhos em nós. – Lissa tinha os olhos brilhando e um sorriso enorme. Tudo na vida dela sempre tinha sido mais fácil. E pela primeira vez eu senti inveja dela.

– Fico muito feliz. – Forcei um sorriso. Mas Lissa percebeu meu desconforto, assim como o Christian.

– Isso vai passar, Rose. – Lissa me deu um sorriso cúmplice.

– Eu sei, mas eu não quero falar sobre isso. Vamos aproveitar o restante de liberdade que eu tenho.

Juntos, fomos comer tortilhas e aproveitamos para assistir as montarias de cavalo. Assistimos aos incríveis tocadores de banjo e quando Christian tirou Lissa para dançar eu me vi cercada de casais apaixonados. Isso só podia ser piada do destino. Com um suspiro eu me afastei um pouco da música e acabei parando de frente a um saloon com luzes vermelhas enquanto os esperava.

Ao meu lado, um cavalo parecia assustado com o barulho e com a multidão de pessoas. Sorrindo, eu me aproximei e me empenhei em acariciar seu focinho macio. O cavalo era marrom e muito alto, apesar de não ser de raça, era muito bonito e imponente.

– Você também está se sentindo desconfortável aqui, não é? – Agora eu tinha certeza de que estava ficando louca. Eu estava falando com um cavalo.

– Não se preocupe, tudo vai passar. – Eu não sabia se estava me convencendo ou ao cavalo.

Mas parecia estar funcionando ao menos para ele, pois sua tremedeira diminuiu e ele abaixou a cabeça, aceitando meu carinho.

– Ei! O que você está fazendo? – Uma voz grave e limpa me assustou. Eu me virei para ficar cara a cara com um homem alto e moreno. Ele tinha traços latinos, uma barba rala e bem desenhada, o cabelo liso e despojado e era muito bonito para o próprio bem, e eu apostava que ele não tinha mais do que vinte e poucos anos.

– Eu... – Quase ninguém me deixava sem fala, mas esse cara conseguiu.

– Eu perguntei o que estava fazendo com o meu cavalo? – Ele tinha um sotaque espanhol bem acentuado.

– Então esse é o seu cavalo? – O pobre cavalo assustado não poderia falar por ele mesmo, então eu tomaria a palavra. Quando o homem acenou, eu continuei. – Cuide melhor do pobre animal, estrangeiro, ele estava assustado e você deveria me agradecer por acalmá-lo. – Ele pareceu surpreso pela minha ousadia.

– E quem é você para falar assim comigo? – Ele perguntou cruzando os braços, fazendo muitos músculos saltaram pela camisa indiana branca.

– Isso importa? - Tentei levantar uma sobrancelha, mas acabei levantando as duas. – Que eu saiba a rua é pública e eu não estou tentando roubar o seu cavalo.

– Não mesmo? – Eu estreitei meus olhos e dei um passo à frente, ficando a apenas uns vinte centímetros do peito dele.

– Você não me conhece, isso é obvio, caso contrario, você não me aborreceria.

– Então me diga seu nome, estranha.

Eu dei um sorriso forçado e abaixando a aba do chapéu dei as costas para ele, me misturando com a multidão enquanto procurava pela Lissa.

Eu não andei nem vinte metros quando fui puxada pelo cotovelo, esbarrando em um senhor de boina que carregava um copo de limonada.

Eu pedi desculpas e me virei para encarar o estrangeiro.

– O que você pensa que está fazendo? – Puxei meu braço longe.

– Você se esqueceu de me dar um nome e eu não tenho o costume de levar as costas como resposta. – As luzes da fogueira me fizeram ver que seus olhos eram de uma cor mel bem clara, como um copo de uísque.

– Oh! Isso é uma pena. – Eu disse com ironia, pronta para dar as costas novamente, mas dessa vez ele puxou meu chapéu da minha cabeça, revelando minha identidade no meio de tanta gente.

– Seu idiota! – Gritei, tentando pegar o chapéu do alto da sua mão erguida. Mas eu apenas tentei, esse era o carma de não ser tão alta como a Liss. – Me devolva!

– Você está escondendo algo, senhorita? – Ele sorria brilhantemente, mostrando uma fileira de dentes brancos e alinhados.

Eu tentei jogar o cabelo dos meus lados na tentava de me esconder, ao mesmo tempo em que eu desejava a morte para esse maldito homem.

– Isso não é da sua conta. – Esbravejei. – Agora me devolva isso!

– Devolva o chapéu! – Uma sombra foi seguida dessa voz que eu tão bem conhecia. Dimitri estava atrás do homem, com o rosto sério e a voz vazia de qualquer emoção. Eu tinha me esquecido de como ele era grande, até mesmo o homem ficou pequeno ao lado dele. Meu coração passou a bater mais rápido. O que ele estava fazendo aqui?

O homem olhou para trás e reconhecimento passou pelos seus olhos claros.

– Tiro Certeiro. Já faz um tempo... – O homem acenou em cumprimento.

– Devolva o chapéu dela. – Dimitri voltou a dizer.

O homem voltou a me olhar, agora com o chapéu mais baixo, então eu o arranquei da sua mão e o coloquei de volta na cabeça, rezando para que ninguém tenha me reconhecido.

Um clima tenso caiu sobre nós depois disso.

– Eu suponho que você conheça a moça? – O espanhol quebrou o silencio.

Dimitri me olhou de cima a baixo, causando um enorme arrepio pelo meu corpo. Foco, Rose, você não vai se jogar aos pés dele depois do que ele fez com você.

– Sim. – Ele foi curto e grosso.

– É claro que você a conheceria, mais uma das suas vítimas? – Eu vi um brilho de perigo no olhar do Dimitri, esse era um terreno perigoso e era visível que ele não gostava do estrangeiro.

– Se vocês não têm nada melhor para fazer, eu tenho. – Eu precisava sair logo dali, eles já estavam atraindo atenção demais. Foi por isso que eu virei as costas mais uma vez e me perdi no meio da multidão, sem ser seguida dessa vez.

Esse encontro me perturbou, mesmo que eu tentasse negar. Sentir o Dimitri tão perto de mim trouxe lembranças que eu pensei ter colocado no fundo da minha mente. Ele ao menos estava bem, fisicamente pelo menos. Eu não poupei um rápido olhar nele para garantir isso, assim como eu podia sentir seus olhos em mim, me analisando. Mas o sentimento de traição também estava ali ainda, eu não sabia se podia voltar a confiar nele algum dia, afinal, ele foi embora sem deixar uma palavra de explicação, e isso era o que mais me doía, ele não tinha sequer compaixão?

Eu avistei a Lissa comprando algumas cocadas em uma das barracas de madeira barata e afastei esses pensamentos, os colocando no fundo do meu coração.

Pelo resto da noite eu me preocupei em me diverti. Eu até mesmo dancei com alguns jovens que se atreveram a pedir uma dança, sentei próxima a roda e cantei as histórias de cowboys que os tocadores de banjo tocavam, tomei uma dose de uma bebida com frutos tropicais que me fez esquecer minhas frustações e ainda tive tempo para brigar com o Christian. E mais importante de tudo, não vi o Dimitri outra vez se quer.

– Eu deveria ir. – Lissa anunciou em um momento, quando eu já estava pronta para pedir mais uma dose da bebida adocicada. – Quero que o Christian passe uma boa impressão para meu pai e irmão. André está morrendo de ciúmes. – Ela gemeu.

– Você está ferrado, Ozera. André já ganhou vários torneios de acertar garrafas. Ele é um excelente atirador e não costuma errar o alvo. –Christian olhou para Lissa, assustado.

– Não se preocupe, Chris, meu irmão não vai fazer nada. A Rose só está tentando te assustar.

– E estou conseguindo. – Eu ri.

– Eu me lembro de quando ele fez o Ryan cair do cavalo e quebrar o braço apenas porque o garoto te deu uma flor.

– O quê? – A voz do Christian subiu alguns tons, enquanto eu caí na gargalhada. Dessa vez, Lissa também acabou rindo.

– Não dê ouvidos a ela, Chris. – Lissa falou enquanto controlava a risada. - A única pessoa que deveria temer é o Tiro Certeiro, Mazur sim é um homem que passa medo em qualquer um.

Lissa esperava todos rirem da tentativa de piada, mas tudo o que ela conseguiu foi uma careta involuntária que veio de mim e o silencio do Christian.

– Desculpe, Rose. – Ela percebeu a falta de jeito e se desculpou desesperadamente. – Eu não queria... Não foi por querer.

– Tudo bem, Lissa. Não é como se o nome dele fosse proibido. – Dei de ombros, engolindo o sentimento de aperto no estômago.

– Eu sou uma péssima amiga. – Ele disse triste. – Eu deveria animá-la e não deixa-la para baixo.

– Estou bem, Liss. De verdade. – Isso parecia convencê-la, pois ela sorriu aliviada. – Agora é melhor vocês irem andando para não aborrecer seu pai. – A movimentação já estava diminuindo, o que impedia meu disfarce.

– Eu levo você em casa, Rose, e depois deixo a Liss. – Christian disse.

– Não, tudo bem. Minha casa não está tão longe, eu posso ir sozinha. – E eu não queria atrapalhar o tempo de escapada que eles tinham.

– É perigoso andar sozinha há essa hora, Rose. Christian deixa você lá. – Lissa insistiu.

– Eu posso me cuidar bem, não se preocupem comigo. – Sorri. – Vejo vocês amanhã. – Eles ainda iriam insistir em me levar, por isso eu me virei não dando chance para discussões.

Quando eu virei a rua lateral um silencio caiu e a única coisa que iluminava meu caminho era a lua e as lamparinas das casas e estabelecimentos. Um saloon estava aberto e em seu auge na noite e uma música alta vinha de lá, ecoando pela silenciosa rua deserta.

A noite tinha ficado fria e da minha boca saiam vapores de água enquanto eu me abraçava para me aquecer.

Mas então o som de cascos de cavalos e passos me assustou, eu me virei pronta para correr ou me defender, dependendo do que fosse a ameaça.

– O destino está me trazendo para você uma segunda vez essa noite, estranha. – Eu suspirei aliviada quando vi que era apenas o espanhol, que puxava seu cavalo enquanto vinha na minha direção. E ele estava cambaleando de bêbado. Mais essa agora, eu devo ter sido algum tipo de tirana sanguinária na outra vida para merecer tudo isso.

– O que você chama de destino eu chamo de carma. – Bufei.

Eu tinha parado de andar o que deu chance para ele me alcançar e o que me impressionou era que mesmo que ele estivesse claramente muito bêbado, ele ainda conseguia ser sexy.

Ele abriu um enorme sorriso antes de voltar a falar.

– Você saiu sem me dizer seu nome, eu tive que acha-la. – Seu sotaque estava muito mais forte agora.

– Cantadas baratas não vão funcionar comigo uma segunda vez.

– Eu não estou tentando impressioná-la, apenas dizendo o que eu sinto.

– Você é melhor nisso do que eu pensei. – Eu ri, olhando para seus olhos âmbar.

– Sou espanhol, chiquita, tenho o sangue quente. – Minha gargalhada ecoou pela noite fria, arrancando um sorriso do homem. Ele tentou se aproximar mais, mas acabou cambaleando e quase caindo, sua sorte foi que eu corri para ajuda-lo, o fazendo se apoiar no meu ombro.

– Não acredito que estou cuidando de um bêbado, e ainda por cima um bêbado intrometido. – Gemi pelo seu peso.

– Não estou bêbado, chiquita, apenas embriagado pela sua beleza. – Sua paquera era tão ruim que me fazia rir.

– Claro... – Disse longamente. – Agora me diga, estrangeiro, onde você está dormindo? Vamos acabar logo com isso.

– Isso é um convite? – Ele se apoiou melhor em mim enquanto nós andávamos pela escuridão, eu tentava equilibrar seu corpo mole e puxar seu bonito cavalo, que parecia seguir seu dono sem esforço nenhum.

– Não se iluda, eu só não vou deixar um bêbado dormir na rua fria. Você sabe quantos bandidos podem ter em uma noite agitada como essa?

– Você está me iludindo, Rose. - Eu quase o deixei cair no chão.

– Como você sabe meu nome? – Estreitei os olhos, mas tenho a certeza de que ele nem mesmo percebeu, ele parecia tranquilo.

– Tiro Certeiro me disse... “Fique longe da Rose se você não quer causar nenhum problema para você.” – Sua voz era rouca e o sotaque cada vez mais forte, mas suas palavras me fizeram quase congelar no lugar.

– Ele disse isso?

– Sim, ele deve ter dito outras coisas também, mas eu não me lembro. – Um vento frio passou por nós me fazendo tremer, o espanhol percebendo, se afastou um pouco para tirar seu casaco de couro e colocar sobre meus ombros, claro, quase caindo no processo. A barra do tecido foi parar nos meus joelhos, mas ao menos era quente.

– Obrigada. – sorri agradecida. Então chegamos à esquina e percebi que não podíamos mais andar sem rumo. – Agora seja um bom rapaz e me diga onde você está hospedado.

Ele fez cara de pensativo e franziu a testa, como se doesse tentar se lembrar de detalhes sórdidos.

– Há um enorme hotel, de madeira e com janelas grandes e redondas... Ficava de frente a um saloon com a melhor tequila que você encontrará fora do México.

– Você está no hotel dos Zecklos. – Suspirei. Era uma boa caminhada até lá, então ajeitei o ombro pesado do estrangeiro e o puxei. – Anda logo, vamos andando.

– Eu estou andando. – Ele disse o obvio, me fazendo revirar os olhos.

– Então me faça o favor de calar boca agora, você fede a álcool. – Ele pareceu respeitar minhas palavras, por pouco tempo.

– Por que você não queria que as pessoas soubessem sua identidade? É alguma foragida? Eu deveria me preocupar?

– Você faz perguntas demais. – Me esquivei.

– Só estou curioso. Você não gostou muito quando eu tirei seu chapéu. E de onde você conhece o Tiro Certeiro? Ele não é o melhor exemplo de amizade.

Parei de andar por um segundo, apenas para lançar um olhar mal humorado para ele.

– Como eu disse antes, você faz perguntas demais. – Então voltei a andar, um pouco mais rápido dessa vez. Eu só pensava em chegar à minha casa e me afundar na cama com cobertores quentes.

– E você guarda segredos demais. – Ele retrucou. – Sabe, Rose, eu ia embora amanhã, mas estou pensando seriamente em permanecer em El Passo por mais alguns dias... – ele falou enquanto me olhava intensamente com seus olhos dourados.

– Você só vai perder seu tempo aqui.

– Por quê? Você já tem um namorado? – Ele quis saber.

Eu demorei mais do que deveria para responder.

– Não. Mas isso não importa, não estou interessada em conhecer ninguém. – Era melhor mudarmos de assunto, essa conversa já estava começando a me aborrecer, ainda mais.

– Isso me parece com um coração partido. – Ele meditou. Eu evitei olha-lo, caso contrário, ele poderia encontrar a verdade no meu olhar. – Eu queria conhecer o idiota que deixaria uma mulher como você ir.

– A única idiota da história sou eu. E por que mesmo chegamos nesse assunto? – Quis saber.

– Seria mais fácil se você me contasse por que você estava se escondendo. – Sua mão desceu para minha cintura, quase chegando à minha bunda, eu acho que foi inconsciente, ele estava apenas tentando se apoiar, mas mesmo assim eu me esquivei e dei um tapa na sua mão boba.

– Ai! – Ele protestou com um sorriso. Talvez não fosse tão inconsciente assim.

– Mantenha suas mãos para você se quiser acordar inteiro amanhã. – O fulminei com o olhar. Era só o que me faltava, além de bêbado e intrometido era também aproveitador. – Não venha bancar o Don Juan comigo.

– Você é durona. – Ele observou.

– Eu só conheço o seu tipo. – E não cairia nessa teia uma segunda vez.

– Podemos sair para...

– Você fica aqui. – Cortei sua tentativa de um encontro. Estávamos de frente para o hotel dos Zecklos. Um hotel grande e caro da região.

Um senhor, empregado do hotel, saiu pela porta ao ouvir nossa conversa e disse que o estrangeiro estava mesmo hospedado ali. Então, ele se ofereceu para guardar seu cavalo enquanto eu o levava para dentro.

– Vamos! – Eu pedi enquanto subíamos o degrau. Se eu achava que arrastá-lo por algumas ruas era trabalhoso, eu estava enganada. – Facilita pra mim, estrangeiro. – Dessa vez ele quase subiu todos os degraus sozinhos, quase.

– Isso está errado. – Ele disse quando passamos pela enorme porta vai e vem. O hall de entrada parecia vazio, a não ser pela recepcionista que folheava um livro amarelo e tinha os pés apoiados em uma cadeira. Uma lamparina grande iluminava todo o recinto e algumas poltronas estavam espalhadas num canto, combinada com algumas decorações bregas, mas caras.

– O que está errado? – Eu o guiei até a mesa de atendimento.

– Eu deveria leva-la para casa. – Seu sotaque ficava cada vez mais acentuado.

– É um pouco tarde agora. – Então tínhamos a atenção da moça, que a propósito, tinha um decote tão grande que eu achei que seus peitos fossem saltar por cima do balcão.

– Posso ajudá-la? – Ela perguntou com uma voz forçada.

– Ele está hospedado aqui e...

– Ah! – Ela finalmente reconheceu o homem apoiado em mim. – Sr. Martínez, seu quarto é o 11. – Ela se virou e pegou uma chave com um enorme chaveiro de madeira, cravado com um 11, entregando para ele. – Mais alguma coisa? – Dessa vez ela se dirigiu para mim, vendo que o homem mal se lembrava do seu nome.

– Só isso, obrigada. – Sorri educada.

Arrastei o estrangeiro até a escada, perguntando-me se eu deveria deixa-lo na porta do seu quarto. Eu decidi que não, ele já era grandinho e podia se virar daqui para frente.

– Você pode se virar sem mim a partir de agora. – Eu o soltei do meu ombro e testei, vendo se ele conseguia ficar de pé. Ele parecia bem para chegar até o quarto e se jogar na cama.

– Eu não conseguirei achar meu quarto sozinho.

– Nesse caso, aproveite o corredor. – Lhe dei um sorriso doce. – Boa noite. – disse me virando.

– Espere! – Ele me gritou quando eu já tinha dado uns seis passos.

– O que é agora?

– Meu nome é Diego, caso você precise. Diego Martínez.

– Boa noite, Diego. – Eu voltei a dizer, virando as costas e voltando pelo caminho que eu vim. Eu esperava não precisar procurar por esse nome novamente, eu já estava cheia de estrangeiros na minha vida.


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam do espanhol Diego Martínez? Ele vai dar problema ou é inofensivo? Comentem!
Beijos e até o próximo...