Love Story escrita por AnnieJoseph


Capítulo 6
O que é isso ?




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Demorei mais que queria no banho, tentando controlar meu choro. Se não parasse, pioraria o estado dos meus olhos vermelhos inchados. As duas bolas pretas de gude davam bastante espaço pra onde deveria estar branco. O vermelho parecia queimar – e queimava – literalmente.

Funguei enquanto bagunçava as roupas da gaveta do meu armário. Eu tentava me concentrar nas roupas pois... por todos os lugares – sim, até no armário – estava a foto de Michael. Meu coração se matava de tanto bater agora. Ele queria um descanso.

Enfim achei uma camiseta branca, que ficava muito larga em mim. Dava umas duas de mim ali dentro. Eu usava ela pra ficar em casa, a vontade. Odeio coisas me apertando.
Eu reparei como eu era diferente da minha irmã enquanto vestia um shortinho vermelho de laicra, que senria escondido pela camisa que chegava na metade de minhas coxas.

Lindsay andava em casa com um baby doll rosa, que quase mostrava o corpo inteiro, como se estivesse em lua de mel. Aquelas que a mulher anda assim pela casa pra seduzir o marido e estar preparada em qualquer hora.  – ou qualquer lugar. Até na cozinha, se é que me entende. – E o engraçado – Ok. Eu não acho isso engraçado – é que eu acho isso tão ridículo. Muito !

Existem muitos e muitos garotos – e garotas – que só pensam em “ficar”, e o importante pra eles é o corpo. Eu odeio esse tipo de pensamento. Cadê o romantismo ?! O caráter da pessoa não importa mais ? Eu só sou “notada” se praticamente mostrar meus seios, usar um short que mostre a bunda e andar com um fio em vez de biquíni na praia ? Que ridículo.
Odeio esse padrão da sociedade. Odeio saber que pra “ser” bonita, você tem que ter seios , e serem empinados, segundo eles. Helloo ? alguém ai esqueceu que seios são a fonte de alimento dos bebês ? Somente pra isso eles existem ?

Esses adolescentes não se ligam no que realmente importa. Sendo assim, mesmo que eu não fosse completamente apaixonada pelo Michael – coisa completamente impossível de ocorrer – eu não “ficaria” com garotos idiotas que só querem “pegar”, não usaria um decote pra ser “notada”, não mudaria meus hábitos simples pra se encaixar naquilo que falam que um adolescente deve ser e fazer. Até por que eu não quero ser notada por um bando de idiotas sem sentimentos verdadeiros.

Tirei a toalha que estava enrolada em meus cabelos molhados do banho, e me liguei que esses pensamentos tinham me distraído de tal forma que meus olhos já estavam muito melhores. Comecei a pentear os cabelos pretos e longos que não me davam trabalho algum em questão de embolar. Graças ao meu pai eu não tinha esse problema.

Um choque estremeceu meu corpo, e meus olhos alcançaram um pequeno porta-retrato preto, simples, em cima da minha penteadeira.
A foto antiga e desgastada pelo foto mostrava um homem segurando uma criança sorridente, pendurada no pescoço do homem. Meu pai.
Estiquei a mão livre e peguei o porta-retrato, fiquei a observar, sem reação.

Meu pai havia morrido quando eu tinha 8 anos de idade.
Ele fez uma viajem a trabalho, e a frente do carro que estava, teve um acidente. Não conseguiram parar e se envolveram também, no acidente. Ele se foi naquela noite. O sorriso dele, guardo em meu coração. Um homem lindo de 35 anos, cabelos escuros na altura dos olhos, pele clara e olhos pretos. Ele vai permanecer na minha memória, pra sempre.

Coloquei o porta-retrato em seu lugar. Observei-o mais um pouco, e o peguei de novo. Beijei a foto, ai sim saindo em seguida do quarto.

– Eu vou te matar, Annie. Essa coisa tá horrível ! – Lindsay falava perplexa, apontando para o prato.

Estávamos almoçando na pequena mesa de vidro no fim da cozinha. Lindsay estava morrendo de raiva por eu ter demorado, e por fim, ela teve que se virar com o macarrão sozinha. Minha mãe servia o refrigerante enquanto discutamos.

 – Vamos, coma. Você nem provou e já está se julgando ! – eu falei rápido, enquanto servia o meu frango com salada.

– Annie ! Eu nunca mais acredito em você quando vier com a desculpa que vai tomar banho e não vai demorar. – Ela enrolava as tiras de macarrão no garfo, encarando-o  como se no lugar de macarrão, houvesse minhocas vivas – No final das contas, eu que tive que me virar !

Mordi o lábio inferior reprimindo um sorriso, e dei a primeira garfada, ainda observando o pavor dela remexendo a comida.

– Lindsay. Está ótimo. Agora come logo essa droga, e pare de manha ! – Falei assim que engoli a comida, brincando com ela.

Ela me encarou fúria, seus olhos verdes pareciam vermelhos. Ela encarou o garfo estendido no ar, na altura da boca, semicerrado os olhos. De vagar, ela levou o garfo a boca, e mastigou o macarrão como em câmera lenta.

Eu semicerrei os olhos a encarando. Até a minha mãe parou de prestar atenção nas musicas que cantarolavam na radio local, e olhou pra ela.
Lindsay fechou os olhos, mastigando.

– Fi... – Minha mãe falou, mas não terminou, foi interrompida por ela.

– UMA DELICIA ! – Sua voz se elevou, ela abriu os olhos ainda mastigando. Sua voz soou engraçada por isso.

Eu e minha mãe suspiramos.

– Convencida... – Minha mãe murmurou, dando outra garfada no macarrão.

– Uau ! Parabéns maninha ! –  Ironizei, batendo palmas com uma cara de falsa.

Lindsay me ignorou.

  Afinal, tudo que eu faço é bom, não ? –  Ela sorriu, parecendo uma professora de gastronomia. Imaginei ela com aqueles chapéus brancos enormes. Apressada, ela comia mais rápido.

– Isso significa que Lindsay vai passar a fazer mais a comida de hoje em diante – Minha mãe tentou ficar séria enquanto falava, mas não conseguiu e começou a gargalhar alto.

Eu e minha mãe começamos a rir desesperadamente, e já faltava ar em meus pulmões.
Lindsay fechou a cara e começou a tossir.

  O que ?! –  Ela berrou.

  Que foi menina ? Você cozinha bem, e já esta grande o suficiente pra cozinhar. –  Eu disparei, ainda rindo. Meu rosto estava vermelho e quente.

  Eu... Eu só tenho 16 anos ! –  Ela ainda tossia, e berrava ao mesmo tempo. Alcançou o cpo e começou a beber refrigerante.

– Ai meu DEUS ! Que desculpa mais esfarrapada Lindsay ! – Minha mãe estava mais controlada que eu, mas ainda ria.

– SÓ 16 ANOS ?! JÁ PASSOU DA HORA QUERIDA ! – Parecia que eu ia explodir de tanto que ria. Olhe a desculpa que a garota arruma. Ela pensa que só eu e minha mãe que temos que fazer comida aqui ?

– Isso não é justo ! – Ela comia ao mesmo tempo que falava , com uma cara de coitadinha.

Passamos a noite no sofá, todas juntas vendo programa de humor, e no final da noite, filmes.
De vez  em quando, Lindsay falava sobre não fazer o almoço, e o riso tomava conta da sala novamente. Fez frio dês das 21:00 hrs, a chuva começou a bater forte da vidraça do janela, e eu adorava essa sensação. Adoro esse friozinho, estar com minha família debaixo de um cobertor a noite inteira. Acabamos dormindo no sofá, cobertas por uma manta bem quente.

 – Annie. Annie, acorda. – A voz de minha mãe parecia um zumbido. Ela me balançava com a mão.

Eu abri os olhos lentamente. Ela me encarava. Levantei o corpo bruscamente.

 – Que horas são ? – Minha voz saiu alta, sentia o cabelo pesado na cabeça. Devia estar mais que bagunçado.

Minha mãe gesticulou, mandando ficar quieta.

– Lindsay está dormindo. – Ela sussurrou.

 Eu finalmente olhei em volta, e olhei Lindsay deitada um pouco acima de meus pés. Não tinha percebido que adormeci na sala hoje.
Eu podia escutar o barulho da chuva novamente, e observei as janelas.

– São 07:30 da manhã. Vá tomar banho, daqui a pouco é sua aula. Hoje você vai de ônibus, nem que eu tenha que te empurrar lá dentro. – Ela disse autoritária. Eu sabia que por mais que ela me amasse, isso poderia acontecer.

Eu suspirei pesadamente. Odiava ir de ônibus. Preferia sentir o ar puro da manhã.

– Por que você não me acordou ? Só faltam 30 minutos ! – Eu falei um pouquinho mais alto, fazendo ela emburrar de novo enquanto saia do sofá sem me preocupar em acordar minha irmã. Faz bem acordar cedo.

Lindsay se remexeu, gemendo em resposta.

– Tive pena, está tão friozinho... – Minha mãe sussurrou, ajeitando o cobertor todo pra Lindsay. 

– Ah ! Agora eu vou me atrasar toda. – Cambaleava, quase caindo em cima da mesinha de centro, pra chegar na escada.

30 minutos era muito pouco pra mim. Pensar, planejar o que faria o dia todo me arrumando ao mesmo tempo não dava certo. Eu deixei pra pensar no que faria quando fosse fazer, assim conseguiria fazer tudo e pegar o ônibus 07:50. Até chegar no centro de L.A demoraria, eu ia chegar atrasada mas daria um jeito.

Só deu tempo de tomar um banho de 5 minutos, molhei o cabelo, pois estava sem vontade – e sem tempo – de pentear. Uma blusa azul escura, bem larginha, por baixo uma blusa amarela de mangas rendadas branca com um jeans preto foi a escolha, assim que abri a gaveta revirada. Teria que lembrar de arrumar essa gaveta um dia, todos os dias eu a revirava e nada de arrumar.

3 colheradas no cereal, dentes escovados em um minuto, beijo na mãe e as 07:55 eu estava no ponto.

– Oh droga ! – Parei no gramado molhado pela chuva, a chuva molhava ainda mais meus cabelos. Observei o ônibus virar o quarteirão com uma fúria dentro de mim.

Enquanto suspirava ofegante, apoiei a mão no joelho e observei a rua com poucos carros. Não havia ninguém no ponto a minha frente, todos os atrasados tinham pegado o ônibus que acabara de passar, e eu mais atrasada ainda, perdi esse ônibus.

Fechei os olhos por 1 minuto, tentando ficar calma o suficiente pra ir pra aula. Me lembrei  de Gabriela, e num instante, um sorriso brotou, abri os olhos caminhando pro banco do ponto.
A minha sorte, é que passava outro ônibus em seguida desse, depois de 15 minutos.
Eu esperava apreensiva, batucava meu pé, a mochila apoiada no colo me esquentava mais um pouquinho. Estava mais frio do que o normal.

Enfim, o ônibus apontou no final da rua e num salto eu fiquei em pé, já pegando o dinheiro da passagem. Por sorte, desviei de uma um banho que molharia toda a minha calça, pela passada da roda do ônibus numa possa a minha frente. Olhei para o motorista, e o mesmo se desculpou, sem graça.
Havia poucas pessoas no ônibus, mas o barulho irritante de rock vinha do ultimo banco do ônibus. Rockeiros conversavam entre si, usavam bandanas, com jaquetas pretas, pregas de metal pela roupa inteira.
Suspirei levemente, tentando esconder a minha raiva de ter que ir escutando essas musicas malucas a viajem inteira.

Observava a paisagem banhada pela chuva forte através do vidro fechado, escorando a minha cabeça no mesmo. Mesmo chovendo, L.A não parecia desanimada. Carros passavam sem parar, assim como algumas sombrinhas cobriam a visão da calçada.
Faltava pouco pra chegar no Shopping, avistei a entrada do estacionamento, como sempre, com vários carros numa fila grande.

Me levantei num pulo de novo, com o pensamento no sorriso do Mike. Isso me fez sorrir também. Os rockeiros me observaram sair pela porta, pareciam achar estranho por eu sorrir atoa, ou pensavam que eu estava sorrindo pra eles. Isso não importava.

Caminhei pela pista molhada, em direção a entrada do shopping. A chuva estava cada vez mais forte, os pingos pareciam machucar meu coro cabeludo.
Foi aí, que realmente percebi a confusão que se formava na porta do shopping.

Eu confesso que nunca vi tanta gente junta. Todos gritavam histericamente.
A entrada estava totalmente lotada, carros passavam para o estacionamento. Cada vez mais chegavam pessoas ali.
Eu me perdi no meio de tantas pessoas, e ao mesmo tempo queria correr. Já estava atrasada, e com isso agora, estaria perdida !
Mas eu estava tão curiosa que mal podia agir. Comecei a andar devagar, sendo empurrada por todos. Cheguei a quase derrubar uma câmera que estava ao meu lado.

 – Olha por onde anda ! – O cara que filmava disse mal-humorado sem olhar pra mim. Ele focava-se em filmar o acontecimento “misterioso”.


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