Pousei minha mão sobre o joelho de Mike. Suspirei, abaixando a cabeça. Estava confusa.

– Annieeeeeeeeeeee ! –  Lindsay gritou batendo na porta, me assutando. Levantei a cabeça e encarei os olhos de Mike em mim.

– O que... Foi ? –  Me atrapalhei enquanto o olhava no fundo dos olhos. Ele poderia estar enxergando um simples " O que faremos agora? " nos meus olhos, mas eu estava enxergando " Como eu amo muito você. ".

– Eu quero falar com você, por favor !

– Ela não vai desistir ! – Michael susurrou, próximo ao meu ouvido.

Estremeci.

– Deixa eu tomar o meu banho em paz, ok ? Depois agente conversa ! Sai do meu quarto ! – Eu berrei, agora evitando olhar nos olhos de Mike.

Escutei passos pesados, típico passos birrentos da minha irmã. Ela deve ter saido do quarto, e como sempre, sem humor.
Estiquei minha mão até a fechadura da porta, e me virei de frente, de um modo que conseguisse olhar em uma pequena brecha. Na minha visão, eu não via mais ninguém...

– Ela se foi ?

– Acho que sim. –  Murmurei.

Começamos a sair pela porta com cuidado. Procurei por Lindsay com receio, mas não à avistei. Corri pra porta e tranquei a mesma.
Tive a impressão de que era melhor ficar no banheiro do que, aqui no meu quarto. Me virei de costas pra Mike assim que encontrei seu olhar. Apertei meus olhos fortemente, desejando sumir. Aquelas fotos eram impossíveis de não se ver agora !

– Não fica assim... – Michael disse atrás de mim, sua voz estava um pouco distante. Acho que ele estava na porta do banheiro ainda.

Respirei fortemente, me virando pra ele.

– Ok, vamos lá. Você trouxe o celular e o carregador, não é ? – Minha voz estava friamente séria, cocentrada. Eu queria apenas ignorar o constrangimento, evitando emoções...

– Sim, está aqui. – Michael retirou do bolso,  o carregador com o fio enrrolado na sua base, e o aparelho celular.

Eu caminhei até ele, evitando olhar pra frente, e pros posters. Peguei com rapidez o carregador e o celular, pra não sentir o toque de suas mãos, e me deixar abater novamente.
Ajoelhei no chão próximo a tomada perto do meu criado mudo. Coloquei-o pra carregar e a tela ligou. Me levantei e estiquei o celular sem olhar pra ele. Ele pegou e eu me distanciei dele, me escorando na janela. Já estava amanhecendo.

Segundos depois, Michael começou a falar no telefone. De começo, era só "Eu estou bem, acalme-se, eu estou bem".
Refleti sobre isso, querendo muito me virar pra ver a situação, pra ver o que Michael estava fazendo, como estava agindo. Mas não posso fazer isso.
O tempo estava passando, e a conversa estava mais "normal". É claro que ainda existia os "Eu estou bem". Viriam pegar Mike daqui a pouco, e seria mais fácil pois os fotógrafos não sabiam que ele estava aqui.

– Annie ?

– Oi, Mike... – Me virei contra vontade. Não sei por que estava tão triste assim. Talvez estava cansada de ver-lo e não poder expressar os meus sentimentos. Era tão ruim que, eu estava perdendo forças. Pois eu sei que, é impossível de algo acontecer entre mim, e ele.

– Alex... Meu produtor, quer falar com você. – Ele estendeu o telefone enquanto se aproximava da janela também.

Um calafrio gelou minha espinha. O que ele queria falar pra mim? Eu só vou saber se escutar. Peguei o telefone e respirei fundo, de modo que Mike não percebesse.

– Oi Annie. Sou Alex, o produtor de Mike. – Alex disse através do telefone. A voz era normal, não parecia irritado. Menos mal.

– Oi Alex.

– Bem, eu só queria te agradecer por fazer aquilo. Parece que você sabe o que aconteceria se Michael continuasse naquela confusão.

– Sim, seria horrível...

– E seria pior ainda se você parasse aquele carro.

– Sim, tive que nos esconder. Os fotógrafos queriam de tudo quanto é jeito uma foto de Michael naquela situação...

Michael sorriu ao meu lado. Ele estava observando o sol nascer e não percebeu meus olhos nele.

– Foi muito bom, estou achando que você tem talento pra segurança. – Alex riu levemente. Eu sorri apenas.

– Obrigada.

– Hoje teremos aquele jantar. Só que não vai ser mais num restaurante. Agora vai ser num clube fechado, pra evitar confusões... Os tablóides estão malucos, seria ruim expor Michael agora.

– Sim. E...

– E você vai, não ? – Ele me interrompeu.

– Não posso... – Minha voz estava extremamente frustrada.

Michael olhou pra mim nesse instante. Tirei meu olhar dele, observando contrangida o por do sol entre nuvens. Eu sabia que seu olhar estava em mim.

– Por que ? – Alex pareceu surpreso.

– Vários motivos... – Mordi o lábio inferior, me lembrando de que motivos.

– Que pena, senhorita. Tenho que desligar agora, passe pra Michael ? Obrigado de novo.

– Tudo bem, até mais Alex.

– Até.

Tirei o telefone do ouvido e fui obrigada a olhar pra Mike de novo. Ele ja estava me encarando. Dei o telefone pra ele, e ele continuava a me olhar.

Ele conversou mais um pouco, e logo desligou. Me observou, enquanto colocava o telefone em cima da minha cama.

– Por que está me evitando, Annie ? – Ele se escorou na janela de lado, com os braços cruzados.

– Desculpe. – Suspirei, olhando-o.

– Annie are you ok ? –  Ele gargalhou.

– HAHA, que engraçado. É sério, eu não estou bem.

Michael parou de rir, me encarando sério.

– Eu fiz alguma coisa ? – Ele apoiou a mão no parapeito da janela. Um carro buzinou lá fora, mas ele não tirou seus olhos de mim.

– O carro. –  Eu apontei com o dedo indicador, sem olhar pra lá também.

– Me diga. –  Sua voz tremeu. A boca estava apertada, e a voz era baixa.

– Conversamos depois... – Eu abaixei o dedo indicador, meu coração estava acelerado.

Ele me encarou por mais um tempo, respirado brevemente.

– Pra isso, terá que ir no jantar – Ele me pressionou.

– Ah! –  Eu suspirei – Michael...

– Eu venho te pegar as 19h e 15. Ok ?

– Eu não disse que vou. – Eu rebati friamente, me arrependendo. – Eu não sei se posso, Michael. – Tentei concertar a burrada.

– O que impede ? Sua mãe ?

– Faz parte do "Eu estou me sentindo mal" – Dei a pista.

– É sentimento ? Você não quer me contar nada ! – Ele parecia estar confuso.

– Tudo bem, eu vou. – Respirei, cedendo.

Ele deu um pequeno sorriso maroto.

– Então nos vemos as 19h e 15. – Ele acenou pro motorista que já estava fora do carro com o semblante preocupado.

Sorri em resposta, cedendo novamente. Era impossivel ficar recuada por muito tempo com ele.
Me aproximei dele, passando minha mão por sua cintura e o abraçei de lado. Eu sabia que isso era extremamente perigoso pra mim, mas eu não conseguia conciliar amigo/amor. É claro que eu estava agindo como amiga, mas isso não deixava que meu lado amoroso se manifestasse e aproveitasse da oportunidade nem que fosse por pensamentos.

– É impossivel se fechar diante de você, é incrível como você é diferente garoto ! – Eu brinquei – E eu não to falando do lado fã, hein. – Fiz biquinho, enquanto escutava suas risadas baixas.

Estávamos decendo as escadas. Eu sabia que minha irmã poderia achar que eu estava falando sozinha, já que ela me acha uma maluca. Mas isso não impedia de ela vir ver a minha "maluquisse" e me zoar por isso. Escutei passos apressados vindo do corredor do andar de cima. Assim que chegamos no ultimo degrau, os "passos" pararam.

– O QUE VOCÊ ESTAVA FAZENDO NO QUARTO COM UM HOMEM ? – Ela berrou, fazendo Michael rir sem ar.

Estávamos ainda virados de costas pra ela. Eu respirei sorrindo e me virei. Como estava abraçada a Mike, ele se virou também.
Lindsay deu um grito, impressionada.

– Estava conversando ! – Disse sem forças, eu e Mike estávamos quase caindo no chão de tanto rir.

– Oi... HAHAHA, Lindsay ! – Michael "falou".

– Por que ele está sangrando ?! Por que estão rindo ?! O que Michael Jackson está fazendo na minha casa ?! – Ela veio decendo as escadas com uma lerdesa tamanha. Parecia ter um medo receioso.

– Ele não está sangrando, gracinha. Só tem sangue na roupa, não está sangrando. – Eu estava respirando forte, e me segurava em Mike. Aquela cena era hilária. Ele estava me segurando contra ele com firmeza, eu estremeci, parando de rir. Seu corpo estava fortemente "fixado" contra o meu.

– De onde veio isso ? – Ela fez mais uma pergunta desnecessária pra ela. Com tantas perguntas que ela poderia fazer frente a Michael Jackson, ela perguntaria logo a origem do sangue na roupa ?

– Tsc, tsc, me deixa, precisamos ir. – Me virei junto com Mike, tirando um pouco o peso de cima dele antes que eu o agarrasse. Abri a porta ainda abraçada a ele, me perguntando se podia sair na varanda assim.

Assim que saimos na varanda eu o soltei. Do jeito cavalheiro que era, por mais que aquilo o prejudicasse caso alguém visse, ele não me largaria. Então eu fiz isso, e pisquei em seguida pra ele. Ele sorriu, parecendo entender.
O acompanhei até o portão, observando a rua. Não tinha ninguém a vista. Assim que chegamos a porta da limousine, ele me olhou receioso e entrou no carro. Ele se sentou, e me chamou lá dentro de braços estendidos.
De começo não entendi. Me inclinei pra frente, pois não daria pra sentar no banco e o abraçei ternamente.
Meu coração estava tão acelerado que, ele parecia perceber o quão nervosa eu estava.

– Acalme-se. – Ele susurrou – Seu coração não vai aguentar assim.

Eu respirei profundamente, me desgrudando dele com ternura. Ele sorriu e eu fiquei em pé perto do portão.

O mortorista fechou a porta e foi em direção ao banco motorista, entrando em seguida. Michael abaixou o vidro do carro pra mim o ver melhor, já que por dentro, ele poderia fazer isso com clareza.
Eu sorri, arrancando um sorriso perfeito dele também. O carro deu partida e eu acenei pra ele.
Logo, a limousine desapareceu na rua.
Suspirei, ainda sorrindo. Refleti sobre tudo que acontecera. Foi tão rápido que não tive tempo de pensar em coisas que deveria ter feito ou evitado.