Tudo por Nico di Angelo escrita por Mariana Pimenta


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!

AVISO DE 2020: Leitores recém-chegados, estou passando para avisar que esta fanfic está sendo repostada no site Spirit Fanfics. Estou revisando-a, reescrevendo-a, tirando erros de português e incongruências com o Riodanverse. Fiquem à vontade para ler esta versão aqui, mas recomendo que leiam a outra também! Estou fazendo com muito carinho e atenção e postando periodicamente! Vocês não vão se arrepender!
É isso, independente do site que escolherem, boa leitura! ♥



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Olha, antes de começar a contar a minha história, tenho alguns avisos:

Primeiro: apesar do título, eu passo mais da metade do livro sem conhecer Nico di Angelo. O título só faz sentido depois da metade do livro. E eu acho que você vai acabar se cansando antes mesmo de chegar a parte em que eu conheço Nico, mas isso é com você.

Segundo: Essa história é a prova de como os deuses podem ser manipuladores quando se trata da vida de um semideus ou semideusa diferente. Apesar de que eu não guardei rancor deles.

Exceto de Gaia. E do Cupido.

Acho que posso dizer de antemão que minha vida já era uma droga antes de eu saber que estava, de certa forma, envolvida em uma guerra.

.......

Olhei pela janela da sala de aula, pensativa. O ruim de ser a pessoa mais inteligente da turma, é que você acaba a lição, só que não tem nada para fazer. Meu professor de Estudos Sociais não me deixava pegar o livro para ler. Ele dizia que eu deveria me concentrar mais na aula.

No completo tédio repassei minha agenda na minha mente: assim que eu saísse da escola, correria para casa antes que meu pai fosse para o aeroporto. Depois acabaria o dever de casa na biblioteca, para não precisar ficar olhando para minha madrasta e ouvindo-a reclamar que eu deveria usar roupas com cores.

Se preto não é uma cor, o que é então?

O sinal bateu alguns minutos depois. Os outros alunos saíram desesperadamente para os corredores, enquanto eu checava meu material e colocava minha mochila no ombro. Saí calmamente pela porta e passei pelo mar de alunos, indo em direção ao meu armário.

Destranquei-o e peguei alguns dólares que eu tinha de reserva para comprar alguma coisa no caminho para casa e coloquei no bolso da frente do meu jeans preto.

Fechei a porta do armário e percebi que havia um garoto ao meu lado, encostado nos outros armários. Cabelo castanho-avermelhado e olhos azuis. Eu já havia visto ele em alguma das minhas aulas.

— Oi, Mariana. – ele me cumprimentou.

Eu o examinei da cabeça aos pés.

— Ryan. – respondi e virei as costas para ele, indo em direção a porta.

— Você está livre esta noite?

— Eu não sou uma escrava. Eu sou livre.

— Acho que você não entendeu...

— Entendi muito bem, e a resposta é não. Não estou livre e não vou sair com você.

— E amanhã?

— Dever de casa e estudar para as provas. Então, não.

— Você já passou de ano, Mari...

Parei e me virei para ele.

— Diferente de você, que está muito longe disso, sim. E não me chame de “Mari” como se fôssemos amigos.

— Qual é o seu problema? Você nunca sai com ninguém, só sabe andar sozinha, e está o tempo todo ocupada com coisas insignificantes.

— Prefiro dedicar o meu tempo fazendo algo útil, do que ficar saindo com um idiota como você.

Ele ficou parado olhando para mim, sem saber o que dizer. Atravessei a porta e estava a meio caminho da rua quando Ryan me puxou pelo ombro.

— Só essa vez e prometo que não falo mais com você.

Olhei para trás e um grupo de garotas estava fingindo conversarem, quando estava claramente ouvindo nossa conversa.

Suspirei impaciente.

— Quanto elas te pagaram para você vim falar comigo?

Ryan abriu e fechou a boca, pego de surpresa. Ele abaixou a cabeça.

— Cinco dólares.

Peguei um chiclete que tinha guardado no bolso para esse tipo de situação e o coloquei na mão dele.

— Nunca mais volte a falar comigo.

Voltei a seguir meu caminho pela rua sem encará-lo novamente.

Acho que uma explicação cairia bem agora.

Meu nome é Mariana. Sobrenome? Não tenho. Não desde... bem, você vai descobrir com o desenvolver da história. Idade? 12 anos. Aparência? Cabelos longos e escuros, quase pretos; olhos também; pele pálida; unhas sempre pintadas de preto; roupas pretas da cabeça aos pés, exceto o óculos roxo (depois eu conto porque ele é roxo, e não preto).

Eu moro em uma casa grande, de dois andares, em Denvan, no estado de Geórgia, nos Estados Unidos, com meu pai, minha madrasta irritante e os dois filhos irritantes dela. Eu odeio os três. Não sei como meu pai conseguiu se casar com ela.

Denvan não é uma cidade muito grande nem conhecida. É frequentemente esquecida de ser colocada no mapa da Geórgia.

O nome do meu pai é Heitor. Eu prefiro não me lembrar do nome da minha madrasta – eu a chamava de “Madrasta” – nem do meu sobrenome. Meus meios-irmãos se chamavam Hilary, de dez anos, e Gavin, de oito anos. Os dois quase nunca conversavam comigo, mas quando o faziam, era insuportável.

Eu não tinha nenhum amigo. Gosto de ficar sozinha. As outras meninas que conheço ficam falando de coisas insignificantes, como maquiagem, roupas, shoppings e garotos.

Só há uma pessoa da escola que realmente fala comigo. Um garoto estranho chamado Rúben.

As pessoas também o achavam estranho, mas não tanto quanto eu. Ele andava cambaleando, e não fazia aula de educação física, mas a professora não parecia nem se importar; o cabelo cacheado que escapava do boné estava quase sempre com algumas folhas e ele cheirava a pinho. Estava sempre de boné e calça comprida.

Eu só uso roupas pretas e já me acham estranha.

Nunca conheci de verdade minha mãe. Meu pai só me contou que ela me deixou na porta de casa quando eu tinha um dia de vida e que nos visitou uma vez, quando eu tinha um ano. Ele nunca me disse nem sequer o nome dela. Só prometeu que um dia, ele me explicaria tudo o que tinha que ser explicado sobre esse assunto.

Estava esperando fazia doze anos.

Quando se conheceram, meu pai era professor de química em uma universidade e minha mãe era uma de suas alunas. Logo depois que eu nasci, ele conheceu minha madrasta e fez uma descoberta científica misturando alguns elementos. Ele abandonou a carreira como professor e trabalhava em uma empresa de pesquisas.

Só que é longe de casa, então eu só o vejo de vez em quando. Ele dedicava todo o tempo que tinha a mim e o suficiente para meus meio-irmãos e Madrasta não ficarem tão enciumados.

Era meu único amigo de verdade. Rúben era só um estranho que vinha falar comigo às vezes.

Continuei andando pela rua, a caminho da lanchonete mais próxima. Rúben de repente se materializou ao meu lado.

— Oi. – ele disse.

— Oi. – respondi, só por educação.

— Quer companhia até sua casa?

— Prefiro andar sozinha.

Entrei na lanchonete. Só havia uma pessoa na fila, apesar de que a lanchonete estava quase cheia. Entrei atrás dela. Quando saiu, me dirigi a atendente.

— Um milkshake de chocolate.

Assim que toquei no copo gelado, sai da lanchonete, ainda seguida por Rúben.

— Mariana, - ele falou com a voz calma – você sabe que se quiser conversar, pelo menos quando o seu pai não estiver na cidade, pode me chamar, não sabe?

— Claro. Você é suportável, diferente de todos os outros alunos da nossa escola. Quase posso considerar você um amigo.

— Sério? Isso é bom, certo?

Dei uma risada fraca, sem humor.

— Rúben, você até é uma pessoa legal. – parei de andar e o encarei – Meu pai vai para o aeroporto daqui a pouco. Então, é melhor eu ir para casa. Vou passar na biblioteca daqui à meia hora. Se quiser, vou estar lá.

— Fechado.

Continuei andando sozinha enquanto Rúben atravessava a rua e ia para o outro lado.

Cheguei em casa cinco minutos mais tarde. A mala do meu pai já estava perto da porta, mas ele não estava na sala. Vi minha madrasta sair da cozinha, com o cabelo escuro caindo pelos ombros e o celular na mão. Mesmo em casa, usava salto alto, o short que ia até a metade da coxa e a blusa colada no corpo. Ela nem sequer se mexia para ajeitar o short que obviamente estava torto.

Talvez ela ache que ainda tem vinte anos e usa essas roupas tamanho 10.

— Querido, já está pronto para... – ela me viu – Ah. Você chegou. Heitor, você vai se atrasar!

Revirei os olhos. Ela sempre dizia isso.

Meu pai apareceu no topo da escada. Vestia uma camisa social amarela, jeans escuros e sapatos de couro perfeitamente engraxados. O cabelo loiro estava cuidadosamente penteado e a barba havia sido feita.

— Olá, Mariana. Que bom que conseguiu chegar a tempo. Onde estão Hilary e Gavin? – perguntou descendo os degraus.

— No quintal de trás. – disse Madrasta – Já devem estar vindo.

De repente, a porta dos fundos abriu e meus dois meios-irmãos entraram. Hilary na frente, com o cabelo loiro acinzentado e liso caindo pelos ombros e a franja batendo nos cílios, e Gavin logo atrás dela, com o cabelo preto caindo nos olhos e um sorriso debochado.

Eu ainda não conseguia acreditar que eles são irmãos.

— Bem, o táxi já deve estar chegando. Então é melhor eu ir. – meu pai pegou a mala na porta e me abraçou forte – Estarei de volta em dois dias.

Ele abraçou Hilary e Gavin e deu um selinho em Madrasta. Por fim, saiu pela porta.

Madrasta me encarou, com as mãos na cintura.

— Você não tem mais o que fazer? Vá tomar um banho. E coloque uma roupa decente ou vai dormir na rua hoje.

— Eu vou sair daqui a pouco mesmo para você não precisar gastar saliva reclamando que a essa hora eu deveria estar no shopping com uma amiga. – disse quase gritando, enquanto subia as escadas e dobrava no corredor do segundo andar, em direção ao meu quarto.

Coloquei a mão na maçaneta, mas pensei melhor. Virei a maçaneta e empurrei a porta o suficiente para poder chutá-la e abri-la. Eu vi o fio transparente sendo puxado e um monte de aranhas de plástico cabeludas caindo na entrada do meu quarto.

Eu não caí nessa da primeira vez, e também não vou cair em nenhuma delas. Enchi os pulmões de ar e gritei:

— Hilary!

Ela subiu correndo as escadas se segurando no corrimão para não cair e fez um biquinho quando me viu.

— Todo o trabalho que eu tive para montar isso não é recompensado se você não cair na pegadinha. Por que você tem que ser tão chata?

— Quanto você tiver coragem de prender aranhas grandes assim de verdade para essa brincadeira, talvez eu grite. Até lá, não adianta tentar.

— Como você pode dizer que é sei-lá-o-que-fóbica se você não se assustada com as aranhas?

Aracnofóbica. E eu não tenho medo de aranhas de plástico nem daquelas pequenininhas. Aquelas peludas me dão nervoso, só isso. Aracnofóbicos têm medo de todas as aranhas, então, realmente não sou uma deles. Talvez você tenha mais sorte da próxima vez. – declarei e entrei no quarto, fechando a porta ao passar e deixando a decoração de Halloween barata de Hilary no corredor – Só que é mais provável que não.

Observei meu quarto para ter certeza de que Hilary não havia tocado em nada: a cama estava arrumada; as estantes encostadas nas paredes com os livros estavam organizadas; a escrivaninha limpa e com a cadeira no lugar; a janela do outro lado do quarto estava aberta, porém com as cortinas pretas fechadas, exatamente do jeito que eu gosto.

Ajeitei os óculos para examinar de longe a coleção de livros. Todos no lugar, como eu havia deixado naquela manhã. Os armários estavam fechados.

— Lar doce lar. – murmurei.

Coloquei a mochila em cima da escrivaninha e me joguei na cama. Tirei meus tênis de cano longo e a meia. Fiquei olhando para o nada por alguns segundos até que me lembrei que tinha que tirar a armadilha de Hilary da minha porta.

Levantei-me e tirei as fitas adesivas, os fios, as argolas e o pote em que estavam as aranhas. A tampa estava caída no chão. Joguei o pote, a tampa e as argolas no corredor (as aranhas ainda estavam lá). O resto, joguei no lixo.

Peguei algumas roupas no armário e fui tomar um banho.

Quinze minutos depois, sequei o cabelo o máximo que podia, deixando-o só um pouco úmido. Peguei alguns livros e cadernos e coloquei dentro de uma bolsa, junto com um pequeno estojo. Penteei o cabelo, coloquei minhas botas e saí do quarto com a bolsa no ombro, trancando a porta ao passar. Abri um pequeno buraco na parede que eu fiz há alguns anos e coloquei a chave lá. Só eu e meu pai sabíamos dele.

Chutei as aranhas, deixando-as atravessarem a grade, caindo no primeiro andar. Ouvi Hilary gritar.

Isso é um susto. – falei, enquanto descia as escadas.

Já estava com as chaves de casa na mão e caminhando em direção a porta quando Madrasta se colocou na minha frente.

— Aonde você vai?

— Não é da sua conta. – passei por ela e destranquei a porta.

— Já que o seu pai não está aqui, eu sou responsável por você, e não te dei permissão para sair de casa.

— E eu não te dei permissão para entrar na minha vida. – disse, e tranquei a porta.

.......

— Quais são as matérias que temos dever de casa? – perguntou Rúben, do meu lado.

A biblioteca estava vazia. Algumas poucas pessoas passavam de um lado para o outro com livros nas mãos ou se sentavam nos computadores. Eu estava com um caderno quase cheio ao lado do teclado do meu computador. Rúben estava só com um caderno fino e não havia tocado nele desde que chegou, dez minutos depois de mim.

— Poucas. – respondi – Na maioria das vezes, venho aqui para pensar. E ficar longe de casa.

— Ficar perto de livros relaxa você?

— Bastante. – eu não tirava os olhos do monitor, olhando páginas e páginas sobre qualquer assunto, sem o menor interesse.

Eu e Rúben ficamos lá por mais meia hora fazendo os deveres. Ele não fazia muito esforço para esconder o fato de que não estava escrevendo quase nada no caderno. Eu, ao contrário, escrevi bastante para responder as perguntas da forma mais completa possível, como sempre.

— Mariana. – ele me chamou – Você lê muito, certo?

— É. É como se... os livros me entendessem de uma maneira que as pessoas não conseguem.

— Você gosta de mitologia?

Assenti, com um fraco sorriso nos lábios enquanto lembranças invadiam minha mente.

— Quanto eu era pequena, meu pai me contava mitos gregos para eu dormir. Ele me deu muitos livros sobre esse assunto.

— Você conhece os semideuses e os heróis?

— Sei o nome e os feitos de muitos.

— Eu estava na internet um dia e eu vi uma pergunta que não me deixa quieto: se você fosse um semideus, de que deus ou deusa você seria filho?

Parei e pensei. Mas há tantos deuses. Pensei. Não havia como eu me lembrar de todos os que eu conhecia e pensar com qual eu me pareço mais. Enfim, dei de ombros.

— Não faço ideia. E você?

— Prefiro não ser precipitado.

Voltei a atenção para o caderno e me lembrei de mais uma coisa. Um comentário que meu pai me fizera uma vez. “Você é muito parecida com ela” ele disse.

— Atena. – falei, com a voz um pouco baixa – Acho que eu seria filha de Atena.

Rúben abriu um pequeno sorriso torto.

— Foi o que eu pensei.

.......

Os dois dias em que meu pai estava fora passaram rápido. Rúben não falou comigo nesses dois dias. E eu achei melhor assim.

Na noite em que ele voltou, estávamos jantando quando ele disse que tinha uma surpresa para nós.

— A empresa teve um avanço. Agora, metade da minha equipe vai fazer uma viagem à Alemanha para apresentá-la. Vamos em um vôo particular para lá e fazer uma palestra. Se tudo der certo e as pesquisas forem confirmadas, a descoberta pode até passar na TV.

— E isso é bom, não é? – perguntou Madrasta.

— Isso é ótimo. A empresa pode ganhar uma fortuna. – ele não parecia muito animado.

— Quando é o vôo?

— Daqui a três dias.

— Então temos bastante tempo para organizar sua mala! E tem que deixar bastante espaço para nos trazer lembranças quando voltar. – Madrasta exibiu um sorriso e bateu palmas.

— Sim. Quando eu voltar. – meu pai fixou os olhos no prato de comida.

Percebi logo de cara que havia algo errado.

Quando deu meia-noite, eu pulei da cama, fui até a janela do meu quarto. Abri-a silenciosamente e peguei meu arco do meu equipamento de arco e flecha e um pedaço de tecido com algumas pedras pequenas. Me equilibrei no parapeito da janela e subi no telhado, como já havia feito milhares de vezes.

O telhado da minha casa é na forma de um V de cabeça para baixo e feito de telhas. Na extremidade, do outro lado da casa, ficava a chaminé da cozinha. Fui engatinhando até ela e me sentei, colocando as costas e a cabeça na superfície lisa de tijolos.

Havia alguns anos, eu arranquei uma das telhas e ficou um buraco quase imperceptível no telhado. Coloquei o pedaço de tecido ali e o abri, examinando as pedras cinzentas. Deixei o arco no colo e examinei a vista que já estava cansada de ver. A minha casa era uma das mais altas da pequena cidade. Era possível ver os inúmeros telhados iguais aos meus; as ruas, agora sem quase nenhum movimento; os postes que iluminavam as calçadas; e algumas pessoas caminhando pela rua, sempre em grupos e rindo.

Era um bom lugar para pensar. E eu gostava de fazer isso atirando pedras nas chaminés dos outros e treinando minha mira.

Peguei a primeira pedra e a posicionei no arco. Levantei-o, mirando na chaminé da casa da frente.

Soltei a pedra e como previ, ela caiu na chaminé como se fosse o Papai Noel nas histórias natalinas.

Então eu me lembrei da expressão do meu pai no jantar.

Era óbvio que havia algo errado. Tinha alguma coisa nessa história da viagem que ele não mencionou. E é séria. Ele não parecia nem um pouco animado com a ideia de viajar para a Europa e apresentar o trabalho que ele e a equipe fizeram. Ele parecia triste.

Mas talvez ele me conte. Ele sabe que pode contar qualquer coisa para mim. Ao longo dos anos, percebi que ele confia mais em mim do que em Madrasta, Hilary e Gavin. Talvez por que eu vim antes deles. Talvez por que eu seja mais esperta e madura do que os três juntos.

Peguei outra pedra, mirei em uma chaminé de uma casa na rua ao lado e soltei, atingindo em cheio.

Por que ele disse “quando eu voltar” daquele jeito? O que o chefe faria nessa viagem? Meu pai tem que voltar! E foi quando eu percebi que meu pai não disse quando ele voltaria.

Será que foi isso o que ele quis dizer? Que ele ficaria muito tempo longe de casa? Na maioria das vezes, eu ficava a semana inteira e voltava sexta-feira a noite. Às vezes, ele ficava um pouco mais. Quanto tempo ele ficaria fora dessa vez? Um mês? Eu não sei se consigo viver na mesma casa que Madrasta durante um mês inteiro sem que meu pai esteja perto.

Eu vou conseguir a resposta. Pensei, decidida.

Peguei outra pedra e atirei sem mirar em nada. Peguei a última pedra e fiz menção de posicioná-la no arco, mas tive outra ideia. Fiquei de pé, me equilibrando para não cair e acordar todo mundo. Infelizmente, a parte da cidade que eu queria acertar, a parte mais bonita e iluminada, ficava do meu lado direito, e eu sou destra.

Coloquei o arco no buraco do telhado e agarrei a pedra com força, com minha mão esquerda segurando os tijolos da chaminé. Fiquei de frente para ela e encarei a cidade, de lado.

Joguei a pedra o mais longe que eu podia como um arremesso de beisebol. Não sei por quantos metros ela voou, mas caiu muito longe. Longe o suficiente para ninguém suspeitar de mim.

.......

Eu não perguntei para ele no dia seguinte. Esperei que ele viesse falar comigo.

Madrasta disse que queria ir ao shopping com ele para escolherem uma mala e comprar algo que estivesse faltando. Mas ele disse que não. Que não era para comprar nada. Madrasta ficou confusa e surpresa com essa resposta, mas não pareceu não se importar.

Talvez ele tenha percebido que eu ficava olhando para ele o tempo todo por cima do livro, enquanto ele digitava no computador apressadamente. É provável que ele tenha percebido que eu percebi que tem alguma coisa errada, mas não falou nada.

No final da tarde do dia seguinte, empurrei as portas da academia e deixei que a brisa noturna me refrescasse. Havia acabado de sair das aulas de esgrima e arco e flecha. Estava coberta de suor, da cabeça aos pés. Segurei a alça da mochila com mais força para impedir que escorregasse dos meus dedos suados. Consegui chegar em casa alguns minutos depois.

Estava tudo silencioso. Só a luz da sala estava ligada.

— Pai? – perguntei em voz alta.

— Estou no quarto! – o ouvi responder.

Dei de ombros. Pelo menos meu pai estava em casa. Subi para tomar um banho.

Meia hora mais tarde, eu estava no meu quarto, tentando ajeitar meu cabelo molhado e secando-o com a toalha. Usava uma blusa preta com a figura de uma discoteca desenhada de branco e um dos meus jeans pretos. Eu só coloco o pijama mesmo na hora de dormir.

Ainda segurando a escova e lutando com o cabelo, ouvi uma batida na porta. Já sabia que era meu pai, pois ele era o único que batia na porta do meu quarto. Hilary e Gavin nunca entravam e Madrasta já saia abrindo a porta.

— Entra.

Meu pai colocou a cabeça para dentro.

— Oi.

— Oi.

— Mariana, eu preciso ter uma conversa séria com você.

— Por quê? Aconteceu alguma coisa?

— Não. É que... como vou viajar amanhã, achei que estava na hora de você saber a verdade.

— Como assim?

Ele suspirou.

— Está na hora de eu lhe contar sobre sua mãe.


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Notas finais do capítulo

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