A Última Filha de Perséfone escrita por Miss Jackson


Capítulo 2
Converso com um homem-cavalo




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Lembro-me de ter acordado algumas vezes, mas logo caído no sono de novo, e isso aconteceu muito. Nessas vezes, lembro-me de ter visto Natalie me dando colheradas de alguma coisa que eu não consegui ver muito bem, mas era gostoso, tinha gosto de pipoca doce.

Quando acordei de vez Natalie estava sentada na beirada da cama conversando com um garoto ruivo, olhos verdes claros e sardinhas pelo rosto. Ele era fofo e aparentava ser mais baixinho que eu. Os dois usavam camisetas laranjas com alguma coisa meio embaçada escrita, mas consegui ler "Acampamento Meio-Sangue".

Pigarreei assim que eu tive certeza de que eles ainda não haviam notado minha presença.

– Ah, Anddie! – exclamou Natalie, puxando-me para o encontro dela.

– Natalie, você está me enforc... – eu mesma me interrompi porque ela me soltou. – Ai, meus ossos.

Natalie fez uma careta e apontou para o ruivo.

– Anddie, esse é Louis Müller, meu, hum... – ela corou. – Melhor amigo.

A minha vontade foi de desenhar aspas no ar e ironizar o fato de ela ter corado quando ela disse que o tal Louis era melhor amigo dela, mas eu estava meio sem forças, ainda mais depois que Natalie quase quebrou meus ossos.

– Oi – sorriu Louis.

– Oi – sorri de volta.

Eu estava sentindo uma dor horrível no braço, e assim que dei uma olhada nele foi que eu lembrei daquele leão do tamanho de uma picape que me mordeu.

– Ainda dói muito? – perguntou Natalie, eu assenti. – Estamos nos esforçando para curá-la, Andrômeda.

Eu não disse mais nada, apenas fiquei quieta e olhei em volta. Era um lugar que parecia uma enfermaria. Bem, era uma enfermaria, uma enfermaria vazia. Com exceção de eu, Natalie, Louis, e um garoto de preto escorado na porta.

Dei um pulo de susto e o garoto me olhou como se eu fosse louca.

– Hã, Natalie, diga-me que eu não estou vendo coisas – disse, ainda encarando o garoto que também não tirava os olhos de mim. Natalie e Louis se viraram para ele.

– Nico, dá pra avisar quando chega? – perguntou Louis, visivelmente estressado com o garoto, que ergueu as mãos em sinal de rendimento e caminhou até nós.

– Desculpe, Louis – disse ele, mas era visível de que ele estava debochando. – Eu acabei de chegar.

– Não interessa – intrometeu-se Natalie e olhou para mim. – Anddie, esse é Nico di Ângelo.

Ele sorriu para mim e ergueu as sobrancelhas.

– Andrômeda Walter – deduziu ele. – As notícias correm rápido por aqui.

– Então eu sou importante.

– Basicamente – concordou Nico. – Agora, vocês já explicaram alguma coisa para ela?

Os dois fuzilaram Nico com o olhar e eu fiz uma careta confusa.

– Hã, explicar o quê? – perguntei.

– É, não explicaram – disse Nico, revirando os olhos.

– Quíron vai explicar para ela – disse Louis. – Por favor, Nico, já conversamos sobre tudo isso.

Nico olhou para Louis, estressado.

– Vocês não vão me dizer o que fazer.

Eu me encolhi na cama.

– Eles vão – disse Natalie. – Nico, é pelo bem dela e de todos nós.

– Não – Nico balançou a cabeça negativamente, parecendo estar sem saída, e me lançou um olhar triste. – Eles não vão me dizer o que fazer.

– Então você vai ganhar uma passagem só de ida para o Mundo Inferior – disse Louis, como se eu não estivesse ali para ouvir. – Nico, por favor...

– Tudo bem, então – disse Nico, cerrando os punhos, e ele desapareceu em um monte de sombras.

– O quê acabou de acontecer aqui? E... Mundo Inferior? – perguntei.

– Anddie, vamos tentar te ajudar a levantar, precisamos que você tenha uma conversa com nosso diretor de atividades – disse Natalie.

. . .

Acho que pelo fato de eu ter visto homens-cavalo correndo, cavalos alados voando, homens-bode tocando flauta e mais um monte de coisas estranhas, eu já posso confessar que pensei que estava ficando louca. Mas assim que me encontrei com Quíron, o diretor de atividades do acampamento, que também era um homem-cavalo, e quando ele me explicou tudo, eu tive certeza de que não era eu a louca por ali.

. . .

– Andrômeda, querida, sente-se – disse Quíron gentilmente, apontando para uma poltrona fofa no centro da sala da Casa Grande. Eu me sentei e encarei Quíron, que mexia inquietamente seus cascos. – Acredito que você tenha uma certa noção do que está acontecendo.

– Hm, vejamos, pégasos, centauros, sátiros... – fiz uma careta. – Criaturas mitológicas na vida real. Sabe o quão impossível isso é?

– Na verdade, não – disse ele. – Você sabe sobre os deuses do Olimpo e pelo menos algumas histórias sobre a mitologia grega, não sabe? – Eu assenti. – E sabe que, naquela época, os deuses tiveram alguns filhos com mortais, e esses eram chamados semideuses. – Continuei assentindo. – Você, e todas as outras pessoas daqui, são semideuses, filhos de um deus Olimpiano com um mortal.

Eu engasguei e parei de assentir.

– Desculpe? – disse. – Isso é loucura.

– Não – insistiu ele. – As pessoas que você viu hoje na enfermaria... Natalie Winter é filha de Atena, a deusa da sabedoria, das estratégias de batalha. Louis Müller é filho de Hefesto, deus das forjas e das construções. E Nico di Ângelo, filho de Hades, deus dos mortos e do Mundo Inferior.

– E eu?

– Você ainda precisa ser reclamada, que é quando um deus descobre que tal pessoa é sua filha e dá um sinal para todos saberem disso – respondeu. – Mas temo que você seja filha de Perséfone, a deusa da primavera e das flores.

– Por quê você teme isso?

Olhe, eu sei que eu já estava levando o cara a loucura com minhas perguntas, mas eu não ia ficar com dúvidas latejando na minha cabeça. Já me bastava ter o meu braço latejando.

– É que Hades, seu marido, em um momento de fúria ordenou que matassem todos os filhos de Perséfone, e que ela não tivesse mais filhos, mas um tempo depois ela descobriu que estava grávida e alguns anos depois da criança nascer Hades a descobriu e tentou matá-la, mas... – ele se interrompeu assim que viu uma parte visível da minha cicatriz no meu braço, uma parte que não estava tampada pelos curativos do machucado que o leão fizera. – Andrômeda, qual o tamanho dessa cicatriz?

– Ela atravessa meu braço todo, senhor.

E foi aí que ele começou realmente a ficar inquieto.

– Você se lembra como a fez? – perguntou, eu balancei a cabeça negativamente.

– Mas foi quando eu tinha uns cinco anos, meu pai que disse.

Di immortales! – exclamou ele, agora encarando algo acima da minha cabeça. – Andrômeda, você... Você...

– Reclamada filha de Perséfone, não é? – suspirei, ele assentiu. – Que maravilha.

– A última filha de Perséfone.


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