Every Life escrita por Kaline Bogard


Capítulo 4
Parte 04




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Every Life

Kaline Bogard

Um silêncio tenso seguiu essas palavras. Alguns segundos depois Tarika forçou uma tossinha.

– E quanto vai custar?

A pergunta surpreendeu Ed.

– Custar? Nada.

– Nada? – a garota piscou – Nadinha?

– Não é um caso difícil. – o rapaz repetiu – Tentarei terminar essa noite mesmo.

– Eu ficaria muito grato! – Alex exultou.

– Essa noite?! – foi a vez de Erik parecer incrédulo – Como assim? Fazer um exorcismo em uma única noite?

– O que esperava? – o moreno soou mal humorado afastando o copo com um resto de leite para longe– Meses? Anos?

Levantando-se Ed foi até o canto da cozinha, onde uma grande mochila permanecia no chão. Nem Tarika nem Erik tinham notado aquilo antes. O rapaz abaixou-se e mexeu nos bolsos externos até encontrar alguns objetos e enfia-los rapidamente no bolso, antes que pudessem ver do que se tratava.

Assim que ele voltou a ficar de pé, Tarika levantou-se também.

– Vou com você!

– O que...?

– Procurar esse tal ponto de ruptura – a morena deu de ombros – Ou seja lá como chama.

– Você não vai...

– Eu também vou – a afirmativa de Erik surpreendeu o outro rapaz – Temos experiência com essas coisas. O bastante para saber que não há perigo.

Erik tampouco acreditava em fantasmas. Aquele tal de Ed não ia cobrar nada por seus “serviços”, mas nem por isso permitira que enganasse seu irmão mais velho.

– Eu fico aqui – Alex resmungou – Já tive contato demais com fantasmas, obrigado.

– Fique na cozinha – Ed olhou em volta – O ponto de ruptura deve ser no segundo andar. A emanação do espírito chega muito fraca aqui. Por isso quando ele o atingiu na escada não conseguiu machucá-lo de forma pior.

O dono da casa balançou a cabeça.

– Faz sentido. Niat se feriu no andar de cima.

Sem dizer mais nada o moreno saiu da cozinha.

– Esse garoto é muito estranho – o resmungo de Tarika fez Erik sorrir. Ambos saíram juntos da cozinha e seguiram o rapaz que se dizia exorcista. Alex respirou muito fundo ao ficar sozinho. Nunca, nunca mesmo acreditara em fantasmas. Pelo menos até ter aquela experiência assustadora.

Fora da cozinha, Erik avançou até alcançar Ed e começar a caminhar ao lado dele através do hall de entrada, rumo ao lance de escada.

– Como soube do “fantasma” de estimação do meu irmão? Supondo-se minimamente que ele seja de verdade, claro.

– Um amigo me contou.

Erik não gostou do tom misterioso da resposta.

– Você não parece um exorcista.

– E você tem assistido filmes demais. Isso não é ficção, é vida real. Nada é tão divertido ou bonito quanto no cinema. Desculpa se não pareço com o Keanu Reeves.

O moreno soou bem irritado e fez Tarika, que vinha mais atrás, rir.

– Alerta de TPM. Alerta de TPM.

Ed rolou os olhos e ficou em silêncio. Seu humor era dos piores. Tivera um percurso bem ruim ate chegar àquela mansão, por isso sentira-se mal mais cedo e ainda não se recuperara. Pelo menos o caso parecia fácil de resolver.

Os três subiram os degraus rapidamente. Algumas tábuas gemeram com o peso inesperado, mas nenhum acidente aconteceu. O andar superior resumia-se a um longo corredor com seis portas de cada lado, como Alex explicara.

Sem vacilar Ed seguiu até o final do corredor. Ergueu a cabeça e observou o alçapão que levava até o sótão. Desistiu de explorar ali e abriu a porta do lado direito. Espiou rapidamente e fechou. Repetiu a operação com todas as outras cindo portas daquela parede.

Tarika e Erik não interferiram até a morena inclinar-se para o companheiro de aventuras e sussurrar.

– Isso é ridículo! Até eu atuo melhor.

Erik não disse nada. Apenas voltou os olhos para o moreno. Não queria admitir, mas alguma coisa nele lhe tocara. Talvez fosse a aura de abandono e fragilidade... aquele garoto estava pra muitas outras coisas, menos exorcista.

– Erik – a garota voltou a sussurrar – eu conheço esse seu olhar...

– Que olhar? – o loiro piscou surpreso. Mas a amiga sorriu torto e o empurrou na direção que Ed continuava a vistoriar as suítes.

– Esse olhar de “Eu Sou Um Príncipe E Vou Salvar A Princesa” – e riu.

O caçula não respondeu, apenas fez uma careta e caminhou até o outro que estava prestes a abrir a terceira porta do lado direito.

– Precisa de ajuda?

Ao invés de responder Ed abriu a porta. Ar frio escapou do aposento, como se fosse uma câmara comprimida. Estava tão escuro que nada podia ser visto.

– É... aqui...

Erik tentou espiar a suíte, mas antes que conseguisse Ed largou a maçaneta e deu um passo desajeitado para trás, caindo sentado no chão.

– Ei, você está bem? – Tarika se aproximou em passos rápidos.

Antes de responder o rapaz grudou na frente da blusa com as duas mãos com tanta força que os nós dos dedos ficaram esbranquiçados. A fronte ficou permeada de pequenas gotas de suor.

– Espere – ele resmungou com os dentes cerrados – Vai estragar tudo. Apenas espere.

A garota abaixou-se em frente ao moreno.

– Ed...

Ele voltou os olhos castanhos para Tarika.

– Nada. Não foi nada... temos tudo sob controle... – e soltou a própria camisa antes de ficar de pé novamente.

Tarika lançou um olhar significativo para Erik. Talvez aquele garoto não fosse um farsante. Talvez ele fosse algo muito pior... então girou o dedo indicador próximo a fronte, enquanto movia os lábios articulando a palavra “maluco” sem emitir qualquer som.

Erik sentiu o sangue gelar. Aquele desconhecido ser um esquizofrênico não era uma possibilidade assim tão absurda...

– Tenho que sair daqui... – Ed falou num to de voz estranho fazendo os outros dois olharem pra ele – Tinhamos um acordo. Você prometeu... ele vai perceber que... NÃO!!

Terminou a frase desconexa abraçando o próprio corpo. Erik abriu os lábios, porém o que quer que fosse dizer morreu em sua boca quando a porta da suíte que ficara entreaberta se fechou com um estrondo violento. Tarika gritou de susto.

– Merda – o moreno encostou um ombro contra a parede em busca de apoio – Estraguei tudo. Ele percebeu...

Erik olhou da porta fechada para Tarika, extremamente pálida. Depois fitou Ed. De repente tudo parecia muito louco. E ele não sabia o que fazer.

Pela primeira vez na vida não sabia mesmo o que fazer.

– Preciso de um copo de leite... – Ed pediu num fio de voz.

Tarika praguejou e Erik mordeu o lábio inferior. Nada daquilo parecia bom...

oOo

– Alex você perdeu o juízo de vez! – Tarika falou num tom de voz contrito que mal escondia sua indignação. A garota andava de um lado para o outro no hall de entrada, as mãos gesticulavam de forma nervosa e ela olhava acusadoramente para o loiro dona da casa. – Deixou um louco entrar em sua casa! Temos que expulsá-lo daqui.

O rapaz respirou muito fundo e não disse nada. Não presenciara a cena, por isso acreditava que Tarika estava exagerando em sua reação.

Erik, que permanecia encostado no batente da porta se revezava entre olhar os dois que discutiam na sala, ou melhor, Tarika que esbravejava e Alex apenas ouvia; e Ed na cozinha tomando calmamente um copo de leite gelado.

Não conseguia acreditar que aquele rapaz fosse louco. Mas menos ainda podia acreditar em fantasmas. E ele dizendo aquelas coisas desconexas... a aparência no geral era de alguém fisicamente doente. Mas seria mentalmente também?

– Então eu coloco ele pra fora! – a morena se decidiu. Antes que pusesse a ameaça em prática Erik se adiantou. Seguiu um impulso e foi sentar-se à mesa, ignorando o protesto de Tarika que desistiu de impedi-lo, conformando-se em ir puxar um dos lençóis para sentar-se numa cadeira. Recusava-se a aproximar daquele doido de pedra. – Aff...

– Ele não parecia maluco quando chegou em casa – Alex tentou melhorar o animo da amiga, mas não adiantou muito.

Na cozinha Erik acabou servido-se de um copo de leite.

– Você está bem?

Ed balançou a cabeça.

– Sim, estou. Eu tinha boas intenções, mas Ygor sempre disse que isso seria minha ruína.

– Não acho que tenha acontecido nada tão...

– O espírito lá em cima está cheio de rancor. Ele se inflamou quando seu irmão e a amiga dele vieram morar aqui como um casal cheio de planos e sonhos – o moreno girou o copo com as mãos – Espíritos não compreendem as coisas como os vivos. Não creio que ele tenha compreendido a situação direito. O ódio o cegou...

– Desculpe. Não acredito em fantasmas e nada do que você está dizendo faz sentido.

O moreno fixou os olhos no outro por longos segundos. As íris castanhas pareciam lúcidas demais para alguém supostamente insano.

– Não posso resumir tudo para que você acredite. O tempo é curto e se eu sobreviver a isso prometo que explico tudo caso ainda queira saber.

– Se você sobreviver...? – Erik meneou a cabeça. Em momento algum de suas aventuras com Tarika tinham colocado a vida realmente em perigo. Aquele rapaz não precisava ir tão a fundo em sua encenação.

– Deixar o exorcismo pra depois seria correr um risco muito grande. Eu sou um idiota por acreditar na palavra dele... mas... eu só queria ajudar. Queria que eles... os dois... Tenho que aprender a lição.

Talvez Erik concordasse com Tarika. Aquele cara não fazia sentido algum! Só dizia disparates.

– Você não quer ir para um hospital? Não me aprece nada...

Então Ed estendeu uma das mãos e colocou por cima da de Erik.

– Você sabe que espíritos não possuem apenas casas? Eles podem se apoderar de outros objetos, de animais, de pessoas. Gatos são ótimos pontos de ruptura. Humanos é um caso mais complicado. Quando um espírito possui o corpo de uma pessoa sua matéria não-viva se decompõe muito mais depressa, a não ser...

– A não ser...? – Erik não acreditou em nenhuma daquelas palavras. Mas o outro parecia ter tanta certeza que resolveu continuar escutando.

– A não ser que a pessoa permita a possessão. Dessa forma o processo é inverso: a matéria não-viva se preserva, mas o corpo possuído adoece no lugar.

O loiro observou a expressão doentia do rapaz que falava. Teve um insight que beirava o ridículo de tão absurdo.

– Está tentando me dizer que deixou um espírito possuir seu corpo?

Ed recostou-se na cadeira e respirou fundo.

– Eu pensei que seria diferente, que quando ele se encontrassem... mas o espírito na casa de seu irmão está cheio de ressentimento contra Silas. E Silas quis assumir o controle para tentar contato com Stevan. Só consegui contê-lo a custo.

O loiro não disse nada. Era tão absurdo. Pensara ir pra casa de seu irmão ajuda-lo em algum problema domestico tipo “namorada-gravida”. Nunca imaginara mergulhar naquela onda de loucura, com fantasmas e possessões.

E aquele moreno parecia acreditar tanto no que dizia... abaixou os olhos e fitou as mãos de ambos, ainda unidas.

– Escuta...

– Eu só quero que ele saiba o quanto o amo.

Algo na voz de Ed perturbou Erik. O loiro ergueu o rosto apenas para se ver fitado intensamente por duas íris extremamente negras. A surpresa foi tamanha que ele piscou com força. Quando reabriu os olhos novamente o castanho já tinha voltado aos olhos cansados.

– Você... – Erik ficou pasmo – Isso foi...

Não concluiu a frase. Ed ficou em pé arrastando a cadeira para trás.

– Preciso de sal. Muito sal. Vou fazer o exorcismo agora. Se continuar dessa forma Silas vai consumir toda minha energia de vida. Pode chamar Alex, por favor?

Erik observou aquele rapaz que mal podia ficar em pé. Ao invés de chamar Alex preferia chamar uma ambulância. Mudou de idéia apenas por que lera um ou dois livros e lembrava-se de ter descoberto sobre a importância da auto-sugestão. Talvez aquele rapaz se libertasse das idéias delirantes caso realizasse um “exorcismo” bem sucedido.

E foi apenas por isso que aceitou ir atrás de seu irmão mais velho.

continua...


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