Calamidades

  O único som que preenchia o ambiente era o barulho da locomotiva do trem. Nenhuma palavra foi dita, mas ambos sabiam que o silêncio já havia se tornado desagradável. 

Edward apoiou sua cabeça contra o vidro da janela, olhando melancolicamente para a paisagem. Alphonse estava preocupado com o irmão, que se recusava a lhe dizer o que estava acontecendo e, toda a vez que perguntava, as bochechas de Ed ficavam reluzentes de tão coradas e ele mudava de assunto.

 

Edward soltou um suspiro dramático quando o trem finalmente chegou à estação. Seu humor continuava péssimo. Soltou outro suspiro exagerado e se levantou lentamente, saindo da cabine com Alphonse logo atrás de si.

-Ok.— Exclamou Alphonse já irritado com o silêncio entre eles desde o início da manhã. — O que há de errado nii-san? Por quê está chateado?

- Eu perdi uma aposta. — Murmurou Edward debilmente. — Tenho certeza de que aquele preguiçoso, moralmente  falido, vaidoso, arrogante, teimoso, orgulhoso, filho de uma p**a  do coronel Mustang está rindo da minha cara agora.

- O que você apostou?— Al perguntou, curioso para saber o que estava deixando seu irmão tão aborrecido.

Ed murmurou algo incoerente e começou a caminhar mais rápido, chegando em frente ao quartel general da cidade Central. Alphonse o fitou com um olhar perplexo e o seguiu.

Tinha uma expressão azeda quando entrou nos corredores do Quartel Central. Al estava ficando preocupado com o pé Automail de Ed, que provavelmente estava fazendo buracos por onde ele passava.

Ed anunciou sua chegada esmurrando a porta com um chute que a levou a se chocar contra a parede, causando um grande estrondo.

- Vamos lá chefe, não faça isso.– Disse o tenente Havoc, estabelecendo sua xícara de café sobre a mesa.– Você vai colocar um buraco na parede.

- Essa é a minha intenção.– Resmungou o pequeno alquimista.

 O “grande” FullMetal marchava até o escritório seguido a poucos passos por seu irmão mais novo.

-  Você teve alguma sorte com a pedra filosofal?– Perguntou a primeira tenente  Hawkeye.

Edward balançou a cabeça negativamente, desanimado.

 Al pensou que era bastante estranho que ela tivesse feito esta pergunta. Ela não percebia a linguagem corporal de Edward?

- Tudo bem.– Ela disse quase reluzente.– Vou buscar os documentos, volto em alguns minutos. Por quê você não espera no escritório

Edward acenou com a cabeça sombriamente e entrou no escritório do Mustang, batendo a porta atrás de si.

 O coronel Roy Mustang estava fazendo sua papelada. Nunca fazia esse trabalho por vontade própria, mas hoje era um dia especial. Sua atenção foi retirada dos documentos pelo som de sua porta batendo e, em seguida, por barulhos de passos pesados e desiguais até sua mesa. Um relatório foi jogado sobre a mesa. A caligrafia era confusa, constatou primeiramente. Ergueu o olhar com um sorriso  observando o “pequeno” ser, que se jogava sobre o sofá.

-Então, FullMetal.– Roy fez uma pausa em seu trabalho e cruzou as mãos, apoiando os cotovelos sobre a mesa.– Como foi sua viagem?– Ouviu um ‘’hmpf’’ do adolescente irritado. – Acho que você não encontrou a pedra filosofal.– Disse sorrindo, olhando novamente para a papelada. Ele tinha um sorriso hipócrita estampado no rosto, sabendo que FullMetal odiava.

- Não.– Murmurou contrariado, encolhendo-se sobre o sofá e abraçando seus joelhos.

- Você sabe o que isso significa não é? – Roy não foi capaz de esconder o sorriso triunfante.

- Sim!– Edward disse irritado e triste ao mesmo tempo. Deitou sua cabeça sobre os joelhos, derrotado.

Riza entrou na sala com uma papelada que estava escrita em diversas cores e tintas, coberta de vários selos. Ela caminhou pelo escritório e imediatamente percebeu Ed em sua posição fetal no sofá. Ela olhou para Roy, que ergueu as mãos em defesa. A tenente caminhou até a mesa de Roy, colocou os papéis sobre ela e em seguida foi até Edward, se agachando em frente a ele.

- Ouça, Edward.– Disse ela gentilmente, colocando a mão sobre a cabeça do garoto.–  Você deu sua palavra e agora tem que cumpri-la. Basta acabar com isso e provavelmente não será tão ruim quanto você pensa. 

- Tá certo.– Disse Edward a contragosto, quando Hawkeye puxou seus pés suavemente,   com a intenção de fazê-lo se mexer.

Edward se levantou, caminhando o mais lentamente possível até a mesa. Riza colocou  uma caneta em sua mão e a empurrou em direção aos papéis. Edward engoliu audivelmente e abaixou lentamente a caneta, começando a assinar seu nome.

Alphonse estava parado em frente à porta do grande escritório, quando ouviu um bando de risinhos abafados vindos da mesa do tenente Havoc.

- Eu tenho que dizer, Alphonse. – Havoc disse através de risos.– Seu irmão é um gênio em várias coisas, mas no jogo chega a ser patético.– Mal podia conter-se agora. Alphonse realmente se preocupou com o que seria capaz de fazê-lo rir quase em lágrimas.

- O que exatamente meu irmão apostou?– Alphonse perguntou intrigado e um pouco apreensivo. O que poderia ser tão ruim que colocou Havoc em tal estado?

- Bem. Acho que poderia se dizer que ele apostou sua liberdade.– Declarou Havoc.– E  perdeu!

Alphonse o olhou com horror e correu para o escritório do coronel, que acabava de assinar seu nome sobre o resto dos documentos.

Edward ergueu o olhar em surpresa com a entrada repentina de seu irmão na sala. 

- Nii-san! Com o que você acabou de concordar?

 

- Talvez eu devesse explicar.– Começou Roy.– Como você sabe, Riza e eu nos casamos há alguns meses e ultimamente temos pensado em ter filhos, mas não sabemos se podemos lidar com a responsabilidade de crianças.– Roy saiu de trás de sua mesa e caminhou até Edward, que parecia super descontente. – E é aí que entra Ed.–Inclinou-se sobre o garoto, esfregando sua bochecha com a de Ed e colocando uma mão sobre sua cabeça.

Al poderia ver que Edward estava muito irritado e envergonhado, mas ficou surpreso ao perceber que o coronel não parecia se importar. – Você vê Alphonse: seu querido irmão mais velho, aceitou ser o nosso filho de aluguel por um tempo.

- Eu não acho que meu irmão faria isso.

- Bem, eu admito que poderia ter sido relutante em primeiro lugar.– Observou Roy.–  Mas logo depois que você recuperou seu corpo. Edward apostou que conseguiria achar a pedra filosofal e recuperar seu próprio corpo em apenas um mês, e disse que apostaria qualquer coisa. Então eu disse que, se ele perdesse, iria permitir que Riza e eu o adotássemos um pouco. Ele acabou de assinar a papelada para que seja oficialmente nosso. – Roy deu um tapinha na cabeça de Edward fazendo com que ele murmurasse algo ininteligível, mas obviamente detestável.

- O que você disse rapaz?–  Perguntou Riza, puxando Edward pela orelha.

- N-Nada.– Disse rapidamente, esfregando sua orelha, agora rosa brilhante depois que  Hawkeye a soltou.

 Al estava completamente aturdido com comportamento do irmão. Por que Edward concordou com algo assim? Então a resposta apareceu em sua mente: Mustang devia ter proposto isso quando Edward estava no seu melhor estado de espírito, sabendo que tudo iria terminar com Ed fazendo algo estúpido. Roy tinha planejado tudo!

 Alphonse foi tirado de seu devaneio pela voz de seu irmão.

- Ouça Alphonse.– Começou Edward.– Eu quero que você volte para Resembool. Me avise se encontrar alguma coisa sólida sobre a pedra filosofal.

- Mas ...– Alphonse começou a protestar. – Tudo bem. Se é isso que você quer, nii-san.

- Tudo bem.– Disse Roy, assumindo o comando. – Havoc! Leve Alphonse em segurança até a estação de trem. Tenente Hawkeye e eu vamos sair mais cedo para ajudar Ed a se instalar em sua nova casa. – Roy usou um tom presunçoso e Edward fez careta, assistindo impotente seu irmão deixando-o para trás. Depois que seu irmão estava fora de vista, Ed sentiu uma mão pousar em seu ombro.

- Se você estiver pronto, podemos ir agora.– Riza disse suavemente. Ele acenou com a cabeça de forma desanimada, caminhando para fora do escritório com a tenente e o coronel logo atrás de si.