Sala de interrogatório/ 3h27min.

– Eu sou asgardiana. – Skye murmurou um tanto incrédula. Incredulidade essa, que ele conseguia entender bem.

– Não, você é de Asgard, porque nasceu lá. Mas não é asgardiana, Skye. – Quinn corrigiu-a. Ward sentiu a confusão tomar conta dele, e presumiu que Skye devia estar sentindo o mesmo, afinal aquilo era sobre quem ela era. – Você é filha de dois lorienos. Mas não nasceu no seu planeta natal, porque Martina sequestrou sua mãe, e a manteve em cativeiro até antes de você nascer.

– O que aconteceu com a minha mãe? – Indagou a morena.

– Não sei.

– Como eu vim parar aqui. Aqui na Terra? – A pergunta soou mais desesperada que a anterior.

– Pelo que eu sei, Martina estava fugindo de Odin e dos lorienos. Foi para o lugar mais escondido que encontrou, entretanto foi seguida. E então aquilo aconteceu com a pequena cidade Chilena. Martina foi pega, mas ela já não estava mais com você. E negou-se a dizer onde a havia largado. Então... – O interrogado respirou fundo e lançou um olhar arregalado para Skye e Ward. – Não... Não... Por favor. – De olhos fechados, levou a mão à cabeça e começou a se balançar de um lado para o outro na cadeira, então um grito brotou de sua garganta. Ward sabia bem o que era aquilo, o efeito do soro da verdade era perturbador. Ele lembrava-se muito bem de quando “provara” os efeitos do tal soro. O peso que seu corpo se tornou, a dor de cabeça enlouquecedora, e depois o grande vazio. – NÃO! Por favor, não. – Tornou a pedir de um modo mais assustado que o anterior. Talvez Ward estivesse enganado. E, como pode concluir, estava. Algo era diferente ali, aquele não era o efeito do soro. Tentou correr para apanhar Quinn, que se balançava mais freneticamente do que nunca, antes que caísse no chão, mas era tarde. Ao chegar ao lado do homem caído pode constatar que ele não havia somente desmaiado.

Ele estava morto.

Agachou-se ao lado do corpo, sentindo o olhar apreensivo de Skye às suas costas. Mesmo que não a visse diretamente, podia enxergar suas lágrimas caindo dos grandes olhos, escorrendo livremente pela face bronzeada. Era de partir o coração. Coração que ele nem sabia que ainda podia ser partido. Virou-se para ela, que tinha uma pergunta implícita na expressão facial. Afirmou com a cabeça, e mais lágrimas escorreram dos olhos castanhos, enquanto ela corria e agachava-se ao lado de um Quinn morto.

– Ele não pode ter morrido... – Murmurou socando o peito do defunto, numa falha tentativa de reanima-lo. – Mas como? Ward, como? Como ele morreu? Foi o soro? Mas você usou o soro não usou? Ele tem algum tipo de efeito devastador em caras maus?

– Acho que não, ou eu não estaria aqui do seu lado agora. – Aquele era um daqueles pensamentos, que deveriam ficar dentro da cabeça delem, mas que saíra sem querer.

– O que você está dizendo, Ward?

– Eu não sou um bom homem, Skye. – Era verdade. Ele não era um bom homem. Não em tempo integral, pelo menos. Fizera coisas que ela não poderia nem imaginar, e que ele mesmo evitava lembrar. Entretanto, não querer lembrar os fatos não os apagavam de seu histórico.

Não esperou por uma resposta de Skye. Havia algo mais importante ali do que a sua integridade moral, que estava sendo colocada em pauta. Virou o corpo de Quinn de bruços, e pôde ver um fino fio de sangue escorrer de sua nuca. Subiu a mão até a fonte do ferimento, sentindo um objeto de metal escondido sob os grossos cabelos do ex-interrogado. Um frio lhe percorreu a espinha. Ele sabia bem o que era aquilo. Conhecia aquele tipo de tecnologia. E conhecia bem quem a fabricava. Era um conhecimento vindo do seu passado, da parte que ele tanto lutava para esquecer.

~*~

Avião/ 3h59min.

– Ele estava sendo controlado? – Indagou enquanto observava a pequena peça de metal na mão de Simmons. Podia sentir os olhos inchados, devia ter chorado por uma vida inteira.

– Controle da mente é típico de... – Fitz começou e olhou para sua namorada. Ela correspondeu o olhar dele. E naqueles poucos segundos em que se olharam, pareceram trocar informações cruciais. Aquela era mais uma coisa da qual Skye sentia inveja em Fitzsimmons. Eles tinham uma sintonia. Do tipo de coisa que não se vê por aí. Era uma ligação forte, e um tanto mágica, da qual a origem era tão desconhecida quanto a sua. A ligação Fitzsimmons também era 0-8-4. – Mas o Capitão cortou todas as cabeças.

– Você corta uma cabeça, nascem mais duas. – A voz de May, que acabava de chegar ao cômodo em que se encontravam todos da equipe, ecoou.

– Hidra. – Coulson falou. E a tensão, que já não era pouca, pareceu triplicar. Se esforçasse-se muito, Skye poderia ver os raios em pleno ar, juntamente com o tic-tac de uma bomba que estava em algum lugar, prestes a explodir. - Isso não pode ser.

– Se Quinn estava sendo controlado pela Hidra, e ele trabalhava para o Clarividente...

– O Clarividente é da Hidra. – Skye concluiu o raciocínio de Jemma. – E ele me quer.

– Pena que querer não é poder. – Ward, que estava até então calado, pronunciou furiosamente. – Não importa o que ele quer, está bem? Você não vai a lugar nenhum.

– Ward eu... – Começou a dizer, mas foi interrompida.

– Skye. – O mais velho da equipe a chamou, e ela já sabia bem o que aquele tom de voz queria dizer. Eles precisavam conversar, a sós.

Olhou para Ward, desejando mais uma vez que eles tivessem a ligação de Fitzsimmons, para que ele entendesse aquele seu olhar. No caso, a súplica colocada nele, para que Ward a esperasse ali, para terminarem a conversa que haviam começado. Como resposta ao olhar, recebeu um aceno de cabeça. Bem, talvez aquele fosse mais um de seus enganos. Skyeward, como Fitz gostava de chama-los, podia sim ter uma sintonia mágica.

Seguiu Coulson até a sala em que já estivera algumas vezes. Na última delas, recebendo uma pulseira que a impedia de fazer o que mais sabia fazer, hackear. Sentou na mesma poltrona confortável, em frente à mesma mesa de antes. Aquilo era engraçado, tudo parecia exatamente igual à última vez. Talvez porque, apesar de parecer, não fizesse tanto tempo assim. Que ela entrara na equipe, que conhecera Ward, Jemma e todos os outros. Não fazia tanto tempo que ela estava mais perto das respostas sobre sua origem. E, muito menos tempo que as conseguira. Entretanto, as respostas tão desejadas, só a levaram para mais perguntas.

– Está na hora de trocarmos essa pulseira. – Disse fazendo sinal para que ela esticasse o braço. Foi o que fez.

– O quê? – Revirou os olhos. – Agora que sabe que eu sou um 0-8-4 é melhor colocar algo que deixem todos mais seguros? Por que eu exalo muito perigo e tudo mais?

– Eu ouvi sua conversa com Quinn na sala de interrogatório. – Coulson não respondeu sua pergunta. – Estávamos acompanhando tudo. E, se antes de saber quem você era ao certo, eu já tinha tomado minha decisão, o que eu escutei só contribuiu ainda mais para reforçar o que eu já havia decidido.

– Ah! – Exclamou levantando-se. – Vai me tirar da equipe?

– Não. – Foi à vez de ele revirar os olhos. Então entregou uma pequena caixa prateada e redonda em suas mãos. – Acho que é exatamente o contrário.

O sorriso que ele tinha no rosto a incentivou a abrir aquele objeto. Seus olhos brilharam ao ver o símbolo que ele carregava dentro de si. Sentiu que ia chorar novamente. É, ela não havia chorado para uma vida toda. Tinha capacidade para mais chororô. Se bem que aquele era um choro diferente. Era de alegria. Uma alegria que ela não imaginara sentir.

– Bem vinda à S.H.I.E.L.D., Skye.