Álcool, Shirley e rock n' roll escrita por AnaMM
Notas iniciais do capítulo
Voltamos! Barraco? Tem. Provocações? Tem. Clima shipe? Tem. Quase bjo? Tem. Babado? Tem. Flagra? Tem. VEM!
Trilha
https://www.youtube.com/watch?v=UvjydvZD6nk
Há dias Felipe não conseguia se concentrar. Havia decidido focar nos estudos, ignorar seus problemas, mas o descaso de sua família, o namoro sempre em crise da irmã, e Shirley o assombravam. Precisava deixar a cidade, fugir de todos que o atormentavam, daqueles que com ele mal se importavam. Qualquer lugar que não fosse aquele, e seria feliz. Viraria médico, teria uma carreira, dinheiro, uma família de verdade. Clarinha o visitaria frequentemente, e sua outra irmã o buscaria por abrigo de Laerte enquanto não terminassem. Suas brigas eram cada vez mais frequentes, deixando Felipe agoniado. Laerte definitivamente não era saudável para Helena. Ele e Shirley, aliás, formariam um casal perfeito.
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– Ei, homem das cavernas, você vai hoje? – Clara bateu à sua porta.
– Ocupado. – Respondeu simplesmente.
A caçula voltou para a sala desanimada.
– Que foi? – Helena perguntou confusa com o olhar da irmã.
– O que será que aconteceu, hein? O Felipe agora só fica trancado naquele quarto estudando...
– Até aí, nenhuma novidade.
– Eu tô falando sério. Ele só aparece pra comer e ir ao colégio, e...
– Meninas, vocês viram se o Severino andou bebendo do meu bar? Ele está praticamente vazio! – Ramiro cobrou.
– ...E isso. – Clara acrescentou discretamente. – Deve ter sido o Laerte, pai. – Desconversou.
– Clara! – Helena censurou.
– Você ainda anda com aquele traste, minha filha? – Ramiro perguntou decepcionado.
– Você sabe que sim, e eu gosto dele. – Defendeu-se a mais velha.
– Fazer o que... Você vai ter que quebrar a cara sozinha, parece. – Clara completou.
– Ah, não! Agora que o Felipe está hibernando e não me inferniza mais sobre esse namoro eu tenho que aguentar também o julgamento de vocês? Eu amo o Laerte, quer vocês gostem ou não.
– É inútil, eu já tentei, agora dá pra vocês fazerem silêncio? Alguém aqui está tentando prestar vestibular pra medicina. – Felipe protestou da porta de seu quarto.
– Filho, algum amigo seu pegou as minhas bebidas?
– Eu não tenho amigos, pai. Vamos? – Desconversou.
– Ir para onde? – Ramiro cobrou cansado.
– Ué, à festa que vocês queriam tanto.
– Mas você disse que... – Clara começou.
– Mudei de ideia. Eu tô pronto, e vocês?
– Vai indo na frente, Felipe, a gente não vai demorar. – Chica propôs, ainda incomodada com a discussão que ouvira.
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– Ah, não, se esse homem aparecer assim, vocês finjam que não me conhecem.
– Shirley! – A mãe repreendeu.
– Pois nem eu quero ter o desgosto de ter que te apresentar como filha! – Viriato retrucou visivelmente alterado.
– Desgosto? Pois que tem nojo de ter um pai que fede desse jeito sou eu! – Shirley gritou em resposta, saindo porta afora.
Não aguentava mais sua realidade, o povo atrasado de sua cidade, o pai alcoólatra, a breguice da avó e da mãe... Pelo menos se distrairia naquela noite, e Laerte provavelmente estaria presente.
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– Estava bom demais pra ser verdade... – Felipe resmungou.
– Ah, não! Era só o que me faltava... Pensei que você fosse ficar em casa estudando, Felipinho.
– Teria sido melhor, mesmo. – Bebeu um gole longo do que tinha em mãos. Precisaria de muitos para aquela noite.
– Você não tem imites, hein? Começando cedo...
– E os shirletes? – Desconversou.
– Você diz os meus amigos? Não te interessa, mas estão vindo.
– Certo... Olha só, o lugar é grande. Eu vou lá pro outro lado e você fique aqui. Vai ser melhor pros dois.
– Desde quando você acha que manda em mim? – Provocou, furiosa. Jamais obedeceria às ordens de um loser como Felipe. – Eu fico onde eu quiser. – Aproximou-se.
– Shirley, eu tô falando sério, eu... É melhor que... Você sabe que...
– Que você não resiste? – Enlaçou os braços por volta do pescoço de Felipe.
– Que é errado. – Tentou ignorar a proximidade da loira.
– O que é errado? Isso? – Shirley roçou a boca nos lábios de Felipe, deixando-o tonto.
– Você me despreza, eu te odeio... Você sabe...
– Eu sei? – Sussurrou. Sugestivamente.
Felipe estava a ponto de beijá-la quando Shirley se afastou debochada, dirigindo-se ao lado oposto da praça onde estava armada a festa junina. Do outro lado da rua, Rafaela observava a cena.
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Todos já haviam chegado quando Shirley avistou seus pais. Viriato chegou cambaleante, com Mafalda tentando mantê-lo em pé.
– Como você tem coragem de aparecer assim? – Shirley cobrou do pai.
– Do mesmo jeito que você tem coragem de tratar o próprio pai desse jeito. – Viriato respondeu irritado.
– Eu te trato como você merece. Você é um lixo!
– E você é ingrata, mal educada, e nisso eu assumo a minha culpa. Dói ver o monstro no qual a própria filha se transformou.
– Você devia parar de me culpar por me preocupar e se olhar no espelho. Você é patético, um perdedor! Eu tenho vergonha de ser sua filha. Você fede, mal consegue falar direito, destrói tudo por onde passa...
– Inclusive você.
Furiosa, há meses sem aguentar mais a presença de Viriato alcoolizado, Shirley respondeu ao pai desferindo-lhe um tapa no rosto, chocando os presentes, que já acompanhavam a discussão.
– EI! – Felipe segurou o braço da loira com força, antes que a miss voltasse a agredir Viriato.
– O que foi? Se identificou? – Debochou.
– Chega! – Sussurrou ferozmente. – Você pode me humilhar todos os dias, eu estou acostumado, mas eu não vou permitir que você faça o mesmo com o seu pai.
– Desde quando você é justiceiro, Felipe? Você é tão patético quanto ele. O pior de tudo é que você ainda tem tempo pra fugir, mas é burro. Insiste em se destruir como o meu pai. Por que? Você acha que vai me conquistar assim?
– Eu não me importo com o que você pensa ou deixa de pensar de mim.
A família, percebendo que Felipe estava no centro de alguma confusão, aproximou-se do amontoado de gente, surpreendendo-se com a imagem de Felipe imobilizando Shirley por trás, com o rosto transtornado. Clara tentava arranjar desculpas para que os pais não percebessem a tensão entre o filho e a loira, nem que Felipe já devia estar para além de bêbado.
Shirley se desprendeu do garoto, que recebeu o olhar de gratidão de Viriato, e o encarou. Cuspiu em sua direção com nojo estampado em sua face. Felipe continuava inalterado.
– Terminou?
Shiley observou à sua volta, com ainda mais raiva de Felipe e de Viriato por submeterem-na àquela situação, sendo observada de perto por possivelmente todos os habitantes da pequena cidade. Sorriu maliciosamente ao ver a família Fernandes.
– Eles sabem que você é quase tão alcoólatra quanto o meu pai?
Felipe engoliu seco ao ver a quem a loira se referia. Largou a garrafa que ainda segurava, rezando para que não a tivessem visto. Tarde demais.
– Como você pode ser tão suja?
– Do mesmo jeito que você consegue ser tão imbecil. Você nunca vai passar em medicina desse jeito, Felipe. Queima neurônios, sabia? – Provocou.
– Você não sabe de nada.
– Sei que você é um alcoólatra. – Frisou a última palavra para que todos ouvissem. – Um bêbado desprezível e sem cura que rouba o estoque do pai e esconde sob a cama. Que passa as madrugadas entre bares, tentando esquecer a sua ridícula existência. Que é tão desnecessário, que a própria família não reconhece a sua presença. Se você sumir, Felipe, ninguém vai perceber.
Havia o espionado? Como sabia sobre as garrafas? E sobre seus problemas com a família? Às vezes o assustava como Shirley o conhecia. Como poderia ter descoberto? Não se viam há semanas!
– Você está blefando. – Desconversou nervosamente.
Sua real pergunta era “como você sabe?”. Tremia visivelmente. Percebeu o sorriso triunfante da loira, o que o apavorou mais ainda. Shirley e Helena não eram mais amigas, não tinha como a miss ter entrado em seu quarto. Pela janela, talvez? Mas por que estaria Shirley Soares, miss Esperança, altiva e esnobe, vigiando-o pela janela que sabia ser de seu quarto?
– Estou? Você já se olhou no espelho, Felipinho? Você sente o próprio cheiro?
– Então foi você? – Ramiro perguntou confuso.
– Pai, ela está louca! – Defendeu-se desesperado.
– A Shirley pode ter desrespeitado o Viriato de uma maneira repugnante, mas me abriu os olhos. Você está um desastre, Felipe. Fedendo a bebida, os olhos vermelhos... Você roubou ou não roubou o meu bar?
– Eu não... Eu...
– Responde! – Gritou.
– Pai, eu... – Não sabia para onde fugir. Buscou os olhos da irmã por respostas.
– O senhor deveria andar pelas ruas da cidade de madrugada, seu Ramiro. Vai adorar ver a imagem do seu filho estirado no meio da rua. O seu filho é alcoólatra, com todas as letras.
– Felipe? – Cobrou pela última vez.
Silêncio. Uma pancada. Um rosto vermelho, palpitando. Dor. Felipe sentiu seu corpo ser arrastado contra as pedras frias da cidade antes que pudesse entender o que havia acontecido. A risada de Shirley ecoava em seus ouvidos. Desconhecia sua capacidade de odiar alguém até aquele dia.
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A coisa vai complicar agora o.o Como vai ficar a situação do Felipe? A consciência da Shirley vai pesar? E a reação do público que eles tiveram? Nos próximos capítulos!