My Mirror escrita por Sially, Beatrice


Capítulo 1
Capítulo 1 - Flashbacks


Notas iniciais do capítulo

Essa é nossa primeira Fic juntas, espero que gostem. Aqui só os flashbacks..
Ai vocês veem "Malu"?? Nao, não é Hermione, não é Luna.. É uma personagem que criamos para o Draco. Uma "Dralu"
Espero que gostem e não deixem de comentar :)



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Malu’s POV

Eu já estava irritada sem que aquele idiota trombasse em mim.

O fantasma do professor de História da Magia não precisava ter visto o que estava acontecendo, mesmo com o monte de risadas e gritos. E não me culpe; qualquer um fica entediado nessa aula, principalmente com esse professor. Então, como eu estava quase dormindo de tanto tédio e o calção do gordinho sentado na minha frente estava um pouco caído demais, não pude deixar de fazer alguma coisa.

Era o terceiro ano, então é claro que o rato que cojurei para dentro das calças dele desapareceu depois de uns segundos. De qualquer forma, ele deu um pulo na cadeira e começou a tatear o traseiro à procura do roedor. A sala inteira explodiu em gargalhadas, especialmente eu.

Isso até o professor Binns resolver ficar nervoso. Ele guinchou um “Menos 50 pontos para a Corvinal!” que calou todo mundo. E também os fez dirigir um olhar a mim que me fez ficar quase arrependida. Quase.

O gordinho do rosto vermelho se acalmou depois. Para falar a verdade, eu não me lembrava do nome dele. Sou boa em me lembrar da matéria da prova, não nome de pessoas com quem não vou falar. Fiquei o resto da aula fuzilando o professor, mas não acho que ele percebeu, porque saiu pelo quadro negro sem nenhum comentário.

Assim que essa aula acabou – que por sinal era a última -, me demorei arrumando minhas coisas até que todos saíssem após lançar um último olhar rancoroso para mim. Aquele pessoal da Corvinal levava a sério essa coisa de regras e pontuação das Casas.

Joguei a mochila por cima dos ombros, carreguei o resto dos livros nos braços e caminhei até a torre da Corvinal, resmungando de raiva e olhando para o chão. Porém, tive meu caminho interrompido pelo Malfoy, andando a passos largos e decididos com aqueles Crabbe e Goyle. E foi aí que nós trombamos estupidamente, com tanta força que caímos um para cada lado, e meus livros se esparramaram.

– Olhe por onde anda, trouxa – disse Malfoy, levantando-se e espanando as vestes. – Não quer infectar os bruxos de verdade como eu com essa sua imundice.

– Você não precisa esbarrar em alguém pra ficar sujo, já é naturalmente – eu respondi, pegando meus livros e me levantando também.

Ele torceu o rosto, e só agora percebi que o nariz dele estava meio vermelho, como se tivesse levado um soco. Eu pagaria para ter visto. Malfoy e eu não tínhamos a melhor das amizades. Esse imbecil parecia arranjar confusão com qualquer pessoa que não fosse da Sonserina ou que, e principalmente, tivesse os pais trouxas, como eu. Tínhamos algumas aulas juntos e ele obviamente nunca foi com a minha cara.

– Agora vai lá, conta pro seu papaizinho – completei. Eu estava suficientemente furiosa para não falar mais nada. Ele ia responder, mas virei às costas e continuei meu caminho.

(***)

Narrador

Era o começo do primeiro semestre do quarto ano. Malu Muroni estava com os novos livros em mãos, dirigindo-se a biblioteca. Seus passos ecoavam nos pisos de pedra dos corredores, apressados para iniciar os estudos. Havia ficado até o fim no Grande Salão para comer um pouco de cada comida – e não era pouca coisa. Agora, portanto, os corredores estavam praticamente vazios, pois todos estavam nas salas comunais ou dormindo.

Uma escada antes da biblioteca escutou risadas debochadas em algum lugar à esquerda. Ela parou, pois era uma pessoa curiosa, e aquela risada em particular lhe era familiar. Deu uns passos em frente e descobriu o motivo das risadas.

Luna Lovegood, a garota loira do ano mais novo que o de Malu, estava cercada por Malfoy e seus dois cãezinhos. Ela usava os brincos de rabanetes engraçados que muita gente questionava. Draco tirava sarro dela.

– Pra que servem esses rabanetes? Não tem dinheiro para comprar brincos reais?

– É! – Crabbe e Goyle fizeram coro, rindo.

Malu sabia que Luna ia responder, ela sempre respondia, mas Draco Malfoy merecia a resposta que tinha nos lábios. Andou até eles.

– Por que você não mexe com alguém do seu nível? Como um sapo, talvez?

Draco girou nos calcanhares para fitá-la, e seu semblante transformou-se em desdém.

– Porque você não estava aqui – retrucou.

– Você fica implicando com a Luna, mas pelo menos ela não se esconde na sombra do pai.

Draco abriu a boca para responder “Meu pai vai saber disso!”, mas Malu continuou:

– Ao invés de implicar com ela, implique com esses balofos aí do seu lado. – Indicou com a cabeça Crabbe e Goyle.

– Ei! – ambos protestaram juntos.

– Olhe como fala dos meus amigos, Maria – disse Draco. - Eles podem não ser as pessoas mais inteligentes do mundo, mas ficam do meu lado.

– NÃO. ME. CHAME. DE. MARIA. – Malu cerrou os punhos.

– Prefere que eu te chame de sangue-ruim?

As mãos dos dois voaram até as varinhas nos bolsos internos das vestes, a de Draco um segundo depois da de Malu, mas antes que pudessem usá-las de fato uma voz interrompeu:

– Abaixem isso agora se não quiserem perder pontos. – A professora McGonagall apareceu no fim do corredor, com sua expressão severa costumeira.

Malu e Draco baixaram as varinhas, relutantes e ainda olhando um nos olhos do outro.

– Voltem a seus dormitórios. E rápido. – McGonagall lhes lançou outro olhar e em seguida foi embora. Draco, Crabbe e Goyle a seguiram. Assim que Draco passou ao seu lado, Malu deixou claro:

– Só para a sua informação, eu teria te derrotado. – e então saiu andando sem ouvir a resposta de Draco.

– Obrigada – disse Luna. – Zonzóbulos são fáceis de achar aqui.

– É claro que são – Malu concordou, e as duas voltaram até a torre da Corvinal.

(***)

Draco’s POV

O castelo já estava vazio. A escola inteira estava nas arquibancadas construídas no campo de quadribol para assistir a Primeira Tarefa do Torneio Tribruxo. Eu tinha voltado para pegar minha varinha; não podia deixar de fazer apostas logo agora.

Corri naquela direção até sair do saguão e ir para os jardins. Mas parei no meio do caminho até as arquibancadas, quando passei em frente a um arco e vi uma cena que me chocou por um motivo que eu não soube qual era. Blásio e Malu estavam se agarrando encostados na pedra, as mãos dele passeando pelo corpo dela.

– Cara, o que é que você está fazendo com essa garota? – exclamei. Não sei dizer exatamente por que me intrometi, mas as palavras saíram de um todo.

Eles se separaram.

– Nós...

– Ela deve ter herpes! – Informei Blásio rapidamente.

– O que disse? – Malu perguntou incrédula.

– Como é que você sabe? – perguntou Blásio.

– É, como é que você sabe? - Malu repetiu. Eu não respondi, pois não encontrei nenhuma resposta boa o suficiente para ela. Nada nunca era bom o suficiente para ela. Malu deu de ombros com um sorriso irônico. – Foi o que eu pensei. – E voltou a colar os lábios nos de Blásio.

– Largue essa sangue-ruim. Ela só está com você porque é interesseira – falei novamente, fazendo-os parar.

– Por que você não me deixa em paz?! – Malu gritou, ao invés de devolver a discussão. – Desde que entramos em Hogwarts você insiste em me perseguir, já pensou em procurar outra pessoa?

Enquanto falava, ela se aproximou de mim.

– Você é que mais tem graça em irritar.

– Quer dar risada? Se olha no espelho, normalmente idiotas são engraçados. – Malu bateu a palma da mão em meu peito, o que me fez dar um passo para trás. – E você está parecendo um idiota agora, como pareceu quando Harry Potter pôs o nome no Cálice de Fogo e você não conseguiu pôr. Foi tão óbvio. Você é um incompetente até nisso, não é? Fazer um feitiço. Quem é o sangue-ruim agora?

Minha raiva subiu. Eu não comandei o feitiço, mas faíscas saíram de minha varinha, que eu ainda segurava na mão direita, e a atingiram. Malu recuou com o impacto, tropeçou e caiu de costas no chão.

Blásio gritou alguma coisa para mim, mas eu não entendi. Arrependi-me no mesmo momento em que aconteceu de ter atacado Malu, mas antes que eu pudesse sequer pensar em me desculpar, ela apoiou-se nos cotovelos e me encarou, com mais ódio do que eu acharia ser possível. Eu hesitei.

– Eu vou te matar, Draco. – Malu procurou sua varinha, mas a encontrou sob os meus pés. Eu pisava com força quase como se quisesse quebrá-la. Apenas chutei a varinha mais longe. Era visível o ódio nos olhos de Malu. - Eu odeio você, Malfoy – Malu pronunciou cada palavra carregada e devagar, e ficou de pé.

– O sentimento é recíproco, Maria.

Ela me fuzilou. Pegou sua varinha e correu de volta para o castelo, recusando ajuda de Blásio, que se virou para mim.

– Não acredito que estragou o meu momento! É a Malu Muroni.

– Eu sei quem ela é e acredite te fiz um favor. – respondi, retomando a caminhada até a arquibancada da primeira tarefa. – Estamos atrasados.

– Quem é que liga para isso numa hora dessas? – Blásio disse, mas me seguiu campo abaixo. E é claro que não fez o favor de calar a boca. – Draco, ela beija muito bem. Acho que beija melhor do que todas as outras meninas. E os olhos dela, cara, você já reparou? De perto são ainda mais lindos. E também...

Continuou falando de cada detalhe sórdido sobre como era beijar a Malu. Fechei meus ouvidos para aquilo, não precisava saber. Eu já tinha consciência de como os olhos dela eram azuis da cor do céu. Senti um aperto na boca do estômago, que interpretei como sendo fome, mesmo tendo acabado de comprar doces.

– Ela é mesmo linda, não é? – falava Blásio quando chegamos aos dois lugares reservados ao lado de Crabbe e Pansy. – E ainda é inteligente. E engraçada. Acho que vou chamá-la para sair de novo.

– É, já entendi como ela é fascinante – falei. Assim que me sentei, Pansy agarrou meu braço e me puxou para mais perto dela.

– Quem, Draquinho?

Eu quis vomitar.

– Ninguém importante.

Malu’s POV

Após aquele encontro desastroso, perdi toda a vontade de assistir a tarefa do Torneio Tribruxo. Draco me tirava a vontade de fazer qualquer coisa. Entretanto, de onde eu estava, a caminho da sala comunal, podia ouvir os alunos berrando de animação lá no terreno.

Discutir com alguém era uma coisa. Lançar um feitiço nesse alguém era outra completamente diferente. Se eu tivesse minha varinha, também a teria usado no Malfoy, mas muito infelizmente eu não a tinha. Ele não tinha nenhum motivo para se meter no meio de mim e Blásio. Pelo menos um dos melhores amigos dele não era tão estúpido.

Mas o olhar que Draco fez logo depois de me derrubar ainda estava na minha mente. Ele pareceu quase arrependido, se bem que eu achava que arrependimento não tinha significado para ele. A última coisa que eu lhe dissera fora impulsiva. Não seria da próxima vez. E eu sabia que haveria próxima.

(***)

Draco’s POV

Baile de Inverno. Só não era mais vergonhoso porque eu estava lá, vestido com umas das minhas roupas de gala mais chiques. Até Pansy estava bonita, para falar a verdade. Eu a tinha convidado depois de ser perseguido e agarrado por todo o mês por ela.

Adentramos o Grande Salão e ficamos esperando a professora Minerva dar o aviso de que podíamos entrar. Enquanto aguardava, vi Blásio indo até quem ele disse que convidaria: Malu.

Ela estava... linda. Usava um vestido dourado longo de uma manga só, e seus cabelos presos e jogados para o lado cobriam seu ombro nu. Seus olhos claros estavam ainda mais vibrantes por causa da maquiagem.

– Draco, hora de entrar – Pansy me chamou, com uma expressão carrancuda, dando um puxão na minha manga e me guiando até o interior do salão. Meu pescoço ainda ficou um tempo virado para trás, demorando-se naquela corvinal insolente.

Os quatro campeões foram os que deram início à valsa. Isso me lembrou do que Malu disse sobre Potter. Aquilo não ficaria barato. Eu iria revidar, e já sabia como. Crabbe e Goyle também sabiam. Seriam eles quem me ajudariam.

Os outros casais entraram, e eu e Pansy dançamos ao lado de Blásio e Malu. Ouvi ele a elogiando e jogando cantadas do tipo “Gata, você não é um Basilisco mas olhar pra você é perigoso”. Ela riu.

Horas se passaram. No fim do baile, avistei Malu sentada em uma cadeira, sozinha. Blásio não estava ao redor. Achei que ele tivesse ido pegar bebidas, mas depois o vi dançando no meio de um grupinho. Pansy tinha me deixado em paz quando não conseguiu me arrastar para um canto. Eu estava ocupado demais para prestar atenção a isso.

Meu plano começaria. Era bom que Crabbe e Goyle estivessem atentos.

Fui até Malu e estiquei a mão direita. A banda estava tocando uma das últimas valsas, poucos professores ainda permaneciam.

– Quer dançar?

Ela ergueu os olhos.

– Por que você iria querer dançar comigo? Não sou mais sangue-ruim? – Ela não disse aquilo como uma coitada, mas sim com arrogância e ironia.

– Você está aqui sozinha, é a última música... Estou levantando minha bandeira branca essa noite. Vamos esquecer por um tempo nossas velhas intrigas e aproveitar. – Tentei enrolar.

Malu considerou, desconfiada.

– Essa historinha está difícil de engolir. – murmurou, aceitando minha mão e se levantando. – Mas é melhor não tentar nenhuma gracinha, porque eu vou revidar cinco vezes pior, Malfoy.

– Não se preocupe, Maria – respondi.

– Não me chame de Maria. – ela revirou os olhos.

Sorri. Fomos para a lateral da pista. Demos as mãos e eu abracei sua cintura. Malu tinha um cheiro bom. A essa altura, Crabbe e Goyle já tinham visto o que acontecia e se aproximavam.

– Está muito bonita hoje – elogiei.

Ela franziu as sobrancelhas.

– Hã, obrigada, acho.

As pessoas em volta nos olhavam, sabendo que não nos dávamos bem.

– Você também.

– O quê? – perguntei.

– Você também... está bonito hoje.

– Ah. É.

Ficamos em silêncio.

– Isso é muito estranho – observou ela.

– Estranho bom ou estranho ruim?

– Estranho diferente.

Pela primeira vez, achei que estava gostando dessa dança. Considerei não fazer o que tinha planejado.

– Até que você dança bem, Malfoy – disse Malu.

– Seu olho fica brilhando nessa luz – soltei sem querer.

Ela estranhou. Eu não parava de olhar por cima de seus ombros para ver Crabbe e Goyle.

– Foi legal da sua parte me chamar para dançar. Acho que o Blásio se esqueceu de mim – ela riu.

E foi nessa hora que eu decidi que não podia fazer aquilo com ela. Arregalei os olhos para Crabbe e Goyle para indicar que deviam parar, mas os imbecis eram muito lentos para entender e já era tarde. Malu e eu estávamos perto da mesa das comidas e bebidas. Goyle sacudiu a varinha e as pernas de Malu se colaram. Eu já havia soltado suas mãos, e ela se desequilibrou. Ela tentou pular para se manter em pé, mas bamboleou e caiu por cima da vasilha de ponche.

Os alunos que ainda restavam explodiram em gargalhadas. Eu rapidamente desfiz o feitiço de suas pernas, mas Malu viu a varinha comigo e entendeu errado.

– Você sempre dá um jeito de estragar tudo! - esbravejou

– Não, Malu, dessa vez eu não...

– Só que se você quer guerra, Malfoy, é guerra que você vai ter. – E saiu a passos decididos do salão, deixando-me sozinho no meio das risadas.

(***)

Narrador

Pelo resto do quarto ano e até a primeira metade do quinto, Malu cumpriu sua promessa, e Draco não deixou nada barato. Os dois discutiam, brigavam, gritavam, lutavam tanto e faziam tantas pegadinhas um com o outro que praticamente a escola inteira sabia do que acontecia. O ódio crescia cada vez mais, e as risadas dos que estavam ao redor para ver aumentava a disputa de quem sairia vencedor.

O episódio do ponche foi só o começo. Draco, de alguma forma, descobriu um dos medos de Malu: palhaços. No ano dos N.O.M’s, enquanto ela estudava, ele se vestiu de palhaço e fez alguns feitiços de transfiguração para parecer mais maligno e real. Malu ainda tinha pesadelos.

Para revidar, num dos treinos de Quadribol da Sonserina que Malu assistiu a vassoura de Draco acidentalmente bateu contra um dos suportes das arquibancadas e ele teve que ficar na ala hospitalar por uns dias para os ossos curarem. Não foi nada indolor, e Malu gostou do resultado. Também usou aquilo como uma resposta a ele participar da brigada de Umbridge.

As coisas andaram nesse ritmo até o passeio a Hogsmeade.

Malu visitou com Sially e Diana as lojas de doces, principalmente a Dedos de Mel. Mas a doceria estava tão cheia que decidiram só caminhar pelo vilarejo. Draco obviamente foi com Crabbe e Goyle. Malu e as amigas foram se afastando cada vez mais, sem notar que estavam sendo seguidas. Elas riam e conversavam, e só pararam quando perceberam onde tinham ido parar: a cerca da Casa dos Gritos.

– Melhor a gente voltar – disse Sially. – Vai demorar pra achar a escola com essa neve.

– É, vamos – concordou Malu.

– Acho que não – Draco foi andando até elas.

Malu ergueu uma sobrancelha.

– O que vai ser agora? Não cansou de ser humilhado?

– Quanta ironia vinda da boca de quem deu um chilique por causa de um palhaço – observou ele. Crabbe e Goyle riram. – Não, Maria. Proponho que a gente acabe de uma vez com essa criancice. É ano dos N.O.M’s, certo?

Malu gargalhou.

– Acha que vou cair nessa de novo?

– Devia. Ainda não ouviu minha proposta.

Ela suspirou.

– É melhor ser rápido.

– Vê a Casa dos Gritos logo ali? Vamos entrar lá, só eu e você...

– Isso pode ser levado para o mau caminho, você sabe – Malu interrompeu.

– ... e ficamos lá o tempo que levar. Lembra do que dizem, assombração e tudo o mais. Quem sair primeiro da casa, perde e tem que aceitar publicamente que o outro é melhor e então paramos com as provocações.

Malu pensou.

– Se eu não te conhecesse, Malfoy, diria que quer fazer isso só para passar mais tempo comigo.

– Só nos seus melhores sonhos, Maria. Temos um acordo ou não?

– Se me lembro bem, você morreu de medo quando “alguém invisível” quase te jogou para o outro lado da cerca – ela sussurrou para Sially e Diana. – Essa vai ser fácil de ganhar. – Riram e em seguida Malu aceitou o acordo. – Sim, temos um acordo. – Malu apertou a mão dele. – Me chame de Maria de novo e vai se arrepender mais. Diana arranje uma desculpa pros professores se eu não voltar hoje. O Draco com certeza vai desistir primeiro.

– É o que vamos ver.

Malu e Draco passaram por debaixo da cerca que dava aos fundos da Casa dos Gritos. Ambos calçavam luvas, cachecóis, botas e roupas de lã grossas, portanto a neve não fez muita diferença. Já estavam acostumados.

Caminharam em silêncio até a mansão antiga.

– Por onde entramos? – perguntou Malu.

– Que tal a porta da frente? – Draco disse com tom obvio da voz.

Draco empurrou a madeira, e esta se quebrou, deixando uma rajada de vento entrar na casa. A maior parte dos móveis e tábuas das paredes estava quebrada e caída, o que dificultava a passagem. Quando entraram, Draco colocou outro pedaço de madeira para fechar a entrada.

– Está com a varinha?

– É claro que sim.

– Ótimo. Vamos até o segundo andar.

Draco pôs-se a subir as escadas. Malu foi atrás, pois não tinha o que fazer. Ele atravessou um corredor com marcas de garras e foi a um cômodo, um dos poucos cuja porta ainda estava inteira. Espiou lá dentro e deu um passo, seguido de Malu.

A porta se fechou com um baque. Draco e Malu se entreolharam. Ele tentou a fechadura.

– Merda.

Alohomora! – Malu puxou a maçaneta. Nada.

Reducto! – A porta não se mexeu.

– Grande ideia entrar aqui, gênio – disse Malu. – Sério, meus parabéns.

Ela se sentou no chão. No quarto em que estavam não havia praticamente nada, somente uma estante e uma mesa se desgastada por conta dos anos. Draco bateu com a cabeça na parede.

– Não acredito que estamos presos.

– A culpa disso é sua. Quem teve a brilhante ideia de vir aqui foi você. Então é melhor dar um jeito de nos tirar daqui, e logo, porque alguém ou alguma coisa nos trancou.

– Você poderia tentar ajudar em vez de ficar sentada aí. Não é da Corvinal?

– E o que é que você acha que a gente pode fazer? – perguntou Malu. – Se nenhum feitiço funciona, talvez a gente possa gritar até ouvirem ou pular pela janela. O que acha disso?

Draco não respondeu.

– Na verdade, tenho algo melhor – continuou ela. – Conte ao seu papaizinho, quem sabe ele não processa a casa.

– Pelo menos eu tenho um pai – respondeu Draco frio.

Malu parou, os olhos no chão. Seu pai tinha morrido quando ainda era criança, e ela fora criada apenas pela mãe. Draco sabia. Ela se levantou, querendo ficar o mais longe possível dele quanto o espaço permitia, e foi até as almofadas empoeiradas abaixo da janela. Ficou olhando para o branco lá fora.

O que Draco disse a machucou de verdade. A perda do pai foi uma grande mudança em sua vida, ninguém tocava no assunto.

Ele a analisou, medindo as palavras. Percebeu que tinha ido longe demais e se agachou ao lado dela.

– Sinto muito por seu pai. Como aconteceu?

– Um Comensal da Morte o matou – disse Malu deixando uma lágrima escorrer pelo rosto. – Pouco tempo depois de Você-Sabe-Quem ter sido morto, estavam matando trouxas, e meu pai estava fora de casa.

– Ah. Posso imaginar o que você teve que passar – disse Draco sincero.

– Não imagina, não. Por que você se importa? – ela perguntou elevando um pouco o tom da voz. Seus rostos estavam tão próximos que Draco podia sentir seu hálito. – Você tem tudo o que quer, dinheiro, mãe e pai.

– Eu não me importo – contestou ele.

– Se importa sim. Acabou de falar que sente muito e que pode imaginar.

– Foi uma questão de educação.

– E desde quando você tem educação?

– Qual o problema de eu me importar? Qual o problema se eu me importar? Tem algo contra?

– Compaixão não combina com você – devolveu Malu no mesmo tom alto, perto de gritar.

– O que combina comigo, então? – Draco desafiou.

– Arrogância, sarcasmo, o jeito convencido e sua idiotice natural. – disse Malu com seu sorriso de escárnio no final.

– Ora, ora, somos duas partes do mesmo espelho então.

– Cala a boca! – Malu exclamou. – Não somos parecidos! Você não sabe nada sobre mim!

– E você acha que me conhece bem demais!

– Você é muito previsível.

– Tem certeza? – perguntou Draco. Então, seu impulso falou mais alto novamente, e, sem saber se era só para provar a Malu que não era o que ela pensava ou porque realmente sentia alguma coisa, segurou o rosto dela com ambas as mãos e a beijou, de uma forma que ela não conseguiu fugir.

Involuntariamente, Malu retribuiu. Levou a mão ao pescoço dele e a outra se apoiou no chão para não cair. Quando Draco partiu o beijo, sussurrou:

– Previu isso?

– Eu te odeio, Malfoy.

– O sentimento é recíproco, Maria.

Malu o trouxe até ela pela gola do casaco e votou a beijá-lo.

– Não me chame de Maria – avisou por entre os beijos.

Malu sentiu Draco sorrir sob seus lábios. Ela sentiu uma mão atrás de sua nuca, o que a fez desmoronar em seus braços. Draco segurou com firmeza em sua cintura e com a outra mão alisou suas pernas deixando-a arrepiada. O beijo se aprofundou mais e teria continuado se não tivessem ouvido o barulho da porta se abrindo.

– É melhor irmos agora – disse Malu.

– Antes que nos tranquem de novo – completou Draco.

Ela assentiu e os dois se levantaram ofegantes. Tinha começado a nevar. Colocaram os capuzes e saíram da casa, indo em direção à grade pela qual passaram. Os alunos não estavam mais em Hogsmeade. O vilarejo estava vazio. Os dois cogitaram voltar a pé até Hogwarts, mas não tinham a mínima ideia do caminho. Felizmente, uma carruagem apareceu por uma das ruas principais e parou na frente deles. Snape e Flitwick desceram.

– Onde é que vocês estavam? – questionou Flitwick. – Ficamos desesperados.

– 50 pontos a menos para cada Casa pelo atraso – disse Snape. – É bom que isso não se repita.

– Desculpe, professores – pediu Malu. Draco pareceu aborrecido, mas subiram na carruagem de volta a Hogwarts.

Durante uma semana, Draco e Malu ficaram se encontrando pelos corredores do castelo, em cantos mais vazios. Mantinham aquilo em segredo e tinham parado com pegadinhas.

– Não dá mais, a qualquer momento podemos ser pegos e expulsos. – Malu disse após quase serem pegos em um dos corredores em que Umbridge estava passando. Draco fazia parte de sua Brigada Inquisitorial, era ainda mais perigoso para ele.

– E o que você quer fazer? Quer parar com isso, quer dizer, com isso que nós temos?! – Draco se confundiu.

– É claro que não. Por mais que a gente se odeie eu... meio que gosto de “ficar” com você – ela disse corando e pela primeira vez Malu disse isso em voz alta e constatou que era realmente verdade. – E por mais que eu adore o perigo e essa sensação de quase sermos pegos, não podemos dar tanta bandeira.

– Então temos que achar um novo lugar. – Draco pensou por um momento. – Venha. – Ele agarrou o braço de Malu e a levou para fora da escola indo em direção a floresta negra.

– Você ficou louco, Malfoy? A floresta? Você que é um covarde não aguenta nem uma hora aí.

– Se eu não me engano tinha uma cabana por aqui, a Pansy me mostrou uma vez para que pudéssemos hmmm... – ele deixou a frase no ar, mas Malu tinha entendido muito bem. – Enfim, uma vez fomos pegos voltando para a escola e a Pansy nunca mais voltou para esse lugar.

– Não sei não, não estou muito a fim de acabar dando de cara com aquela vaca. – Malu cuspiu a palavra. Draco não pôde deixar de rir do comentário.

– Relaxa, você confia em mim?

– Na verdade não.

– Você aprende. – Malu fez uma careta. – Tá legal, pensa que se você for pega eu também sou e qualquer coisa meu pai... – ele não continuou a frase.

– Eu não vou mesmo ser mais uma que quando está em uma enrascada pede a ajuda do “papai Malfoy”. Eu não sou interesseira como todas as garotas que você se encontrava nos cantos da escola. Se formos pegos, arcaremos com as consequências. – Draco abriu a boca para contestar, mas a fechou tão rápido quanto abriu.

– Se é assim que você quer. Vamos!

– E só para constar, “isso” que você mencionou que nós temos não existe, você sabe, não é?! “Isso” é apenas diversão.

– Claro – disse Draco com um leve tom de desapontamento na voz.

A cabana era bem antiga isso era evidente em sua estrutura. Bem camuflada por fazer parte de um tronco de árvore, uma pessoa sozinha que não conhecia o caminho não a encontraria. Por dentro não estava em um péssimo estado, mas também não estava completamente limpo.

– Eu venho aqui às vezes quando preciso pensar. Como a Pansy nunca vem mais aqui, esse lugar se tornou meu. É bem confortável até – disse Draco enquanto acendia algumas velas e clareando o lugar.

– Você já mostrou para mais alguém? Alguma das garotas que você namorava?

– Sem ser a Pansy não.

– E por que você está mostrando para mim? Eu posso muito bem ir contar para qualquer professor.

– Você não vai. – Malu arqueou as sobrancelhas em desafio. – Por mais que nós já tenhamos nos odiado, depois daquela vez em que ficamos presos algo mudou e você sabe disso.

– Draco para de ser viado!

– Você, Maria, em especial sabe que eu não sou viado. Já te mostrei varias vezes do que sou capaz. Agora será que podemos terminar o que começamos naquele corredor? Não gosto de deixar as coisas inacabadas. – Draco sorriu com um sorriso maroto.

– Ainda odeio você, Malfoy – disse Malu sorrindo e se aproximando dele envolvendo o pescoço dele com seus braços.

– O sentimento ainda é recíproco, Maria. Pelo menos isso nós ainda temos.

– Cala a boca e me beija.

Eles voltaram a se beijar do momento onde pararam, mas dessa vez aprofundando ainda mais.

Depois de acordarem nus no chão, um nos braços do outro, voltaram para Hogwarts a tempo do jantar.

(***)

Quando as aulas do sexto ano começaram, as coisas mudaram para Draco e Malu. Eles se encontravam sempre que podiam na cabana da Floresta Negra pelo resto do quinto ano, e agora estavam indo até lá pela primeira vez desde então, no segundo dia de aula por volta das 9 da noite.

Malu chegou depois dele na cabana. Draco parecia abatido, tinha olheiras e seus ombros estavam curvados. Um pequeno sorriso apareceu em seu rosto quando viu Malu entrando.

Malu se aproximou e o beijou, Draco retribuiu mas não como sempre fazia.

– Será que a gente pode só ficar aqui juntos, conversando ou qualquer coisa? – disse Draco com uma voz cansada.

– Claro.

– Se você não quiser pode ir embora, podemos nos divertir outro dia, eu só preciso respirar um pouco e pensar.

– Eu fico com você, não me importo. Por mais que no começo tenha sido só diversão, agora, mesmo que lá no fundo, somos amigos – ou mais que isso, os dois pensaram. – Eu me preocupo com você e você não parece bem, se ficar sozinho pode acabar fazendo alguma besteira.

Draco sorriu de leve.

– Obrigada.

Os dois se sentaram no sofá-cama que Draco havia posto lá no quinto ano. Houve um momento de silêncio entre os dois, até que Malu o quebrou.

– Draco, o que está acontecendo? Você sabe que pode me contar tudo.

– Nada, Maria.

Malu instantaneamente fez uma careta por causa do nome.

– Não sei por que você me chama de Maria, todo mundo me chamam de Malu, qual o problema?

– Eu não sou todo mundo e eu sei que você não gosta. – Ela fez outra careta. – E eu gosto de Maria. Gosto da exclusividade, só eu te chamo de Maria. - Ele sorriu docemente, fazendo Malu corar.

– Sim, mas não fuja do assunto, Malfoy, o que está acontecendo? Por que chegou tão abalado aqui? E não diga que é nada porque eu sei que não é!

Draco instantaneamente recolheu os braços em um gesto defensivo. Malu agarrou seu braço esquerdo ouvindo, logo em seguida, um uivo de dor vindo do garoto ao seu lado.

– O que foi? Eu te machuquei? Sinto muito, eu...

Draco segurou o braço que queimava por causa da Marca Negra.

– Não tem problema, não é nada. – Malu olhou incisivamente para ele com a preocupação exposta em seus olhos azuis. – Eu só não posso falar nada agora, uma hora você vai entender, eu prometo. Eu só não quero falar disso. – Ela assentiu. – Melhor a gente dormir.

– Tá. Como vamos entrar no castelo? Você sabe que eles aumentaram a segurança.

– Talvez possamos passar a noite aqui, além do mais está chovendo, voltamos amanhã bem cedo e caso alguém pergunte, estávamos procurando o Hagrid porque tinha algum bicho gigante na torre da Corvinal.

Malu assentiu mais uma vez.

– Hmm, eu durmo no chão, pode ficar aí, senhor riquinho.

Dessa vez foi a vez de Draco fazer uma careta.

– Tem espaço para dois aqui. – Ele bateu a mão no sofá que realmente não era tão pequeno assim. – Qual é, Maria? Eu já até te vi nua, e que bela visão. – Draco sorriu maliciosamente, Malu lhe jogou uma almofada e olhou-o com censura.

– Safado.

– Mas é verdade, já dormimos juntos várias vezes.

Malu considerou a hipótese de recusar, mas ele estava certo, só iam dormir juntos, nada comparado a tantas outras coisas que já fizeram nessa cabana, nesse sofá. Ela se aproximou e deitou na frente dele, de forma que suas costas estivessem aninhadas com o peito de Draco. Decidiu que descobriria o que estava acontecendo com ele. Draco acariciou seus cabelos até que dormisse. E depois de refletir sobre os acontecimentos e pensar em seu possível futuro, tinha medo do que poderia acontecer com Malu, talvez fosse melhor para os dois que tudo acabasse, assim ela estaria segura e afinal as dores do coração não seriam tão grandes ao ponto de que apenas ele a amava, e ele sabia que a amava só não tinha dito para si mesmo ainda. Logo o sono se aproximou, beijou a cabeça de Malu e finalizou a noite dizendo, de modo que só ele escutasse já que Malu estava dormindo há tempos, apenas:

– Boa noite, minha Maria.

Quando voltaram ao castelo, Pansy os viu, sorridentes. Não era a primeira vez que os via voltando sabe-se lá de onde juntos e sorrindo. Deu as costas e foi embora claramente irritada por estar sendo “trocada”.

Draco’s POV

A Marca Negra ainda doía. Malu já estava de novo com seus amigos da Corvinal e eu me dirigia à masmorra da Sonserina. Estava a três passos quando a voz de Snape me parou:

– Eu perguntaria onde esteve, Draco, se não tivesse visto.

– O quê? – Eu me virei.

– Você tem uma missão a fazer, e ela não inclui se encontrar com uma garota – Snape continuou.

– Eu estou pensando – falei. Senti um frio na espinha ao me lembrar mais uma vez de que tinha de matar Dumbledore. – Vou dar um jeito logo.

– É melhor dar um jeito em outra coisa antes. – Snape se aproximou. Não havia ninguém mais no corredor. – O Lorde das Trevas sabe que você está com aquela Corvinal. Ele quer uma prova de sua lealdade.

Eu congelei. Sabia o que viria a seguir.

– Você deve matá-la.

– Não – rosnei. – Nunca. A Malu não tem nada a ver com isso. Ela não fez nada a ninguém e não sabe o que eu tenho que fazer. Deixe-a em paz.

– Eu não vou tocar nela, Draco – disse Snape. – Você vai. Se não quer fazer isso, por que não conversa com seu próprio mestre sobre o assunto? – Ele me segurou contra a parede. – Eu jurei protegê-lo com Dumbledore, não tenho o que fazer a respeito disso.

– Eu posso fazer qualquer outra coisa, não isso – pedi. – Eu me afasto dela, mas não vou matá-la.

Snape se afastou.

– Cuidado com suas decisões, Draco.

Era o passeio a Hogsmeade e eu tinha meu plano. Meus dois planos. Não era algo bom. Eu não queria com todas as minhas forças fazer mal a Malu, mas se não fosse eu, seria alguém pior. Tentei me manter afastado dela, o que não adiantou. Eu sabia que ela estava preocupada comigo. Eu também estava. Achava que enlouqueceria uma hora ou outra. O primeiro passo a caminho da loucura foi desabafar com a Murta-Que-Geme. Pior do que desabafar, era chorar. Eu nunca chorava. Eu estava mais desesperado do que imaginava. Talvez mais desesperado do que minha mãe quando me tornei Comensal da Morte para substituir meu pai. No começo, achei que era uma honra servir a Você-Sabe-Quem, mas agora era um pesadelo.

A única coisa que me mantinha são era Malu. A única coisa que me impedia de enlouquecer completamente eu estava prestes a matar.

O colar já estava enfeitiçado e no banheiro do Três Vassouras. Tinha marcado de me encontrar com Malu ali no pub. Sentei-me numa das poucas mesas desocupadas, e ela chegou depois de uns minutos. As bebidas já estavam nas minhas mãos.

– Oi – ela disse, se sentando. Eu olhava ao redor, como no dia do Baile de Inverno. - Draco – Malu me chamou. – O que foi? Faz meses que você está estranho.

– N-nada – respondi. – Nada, Malu. Aqui – estiquei-lhe o copo envenenado. – Vamos tomar alguma coisa.

Malu pegou a taça e olhou lá dentro. Temi que ela pudesse ter descoberto o que tinha misturado.

– Tem certeza de que não aconteceu nada?

Apenas assenti. Ela levou o copo a boca. Porém, quando o líquido estava quase tocando seus lábios, eu me arrependi também como no Baile de Inverno. Mas dessa vez pude pará-la. Estendi o braço esquerdo por cima da mesa, já que o direito segurava meu próprio copo, e tirei a taça de perto dela. A bebida espirrou.

– Eu sabia – disse Malu. Na pressa de tirar o copo dela, a manga do meu casaco tinha subido, e a parte de baixo da Marca Negra ficara visível. – Onde você estava com a cabeça pra fazer isso? Ia me matar?

– Fale baixo, Malu, as pessoas vão ouvir!

– Eu não estou nem aí! O que é que você... – ela gritou.

– Cala a boca! – Levantei-me em um salto e a agarrei pelo braço, tampando sua boca.

– Vem comigo.

Arrastei-a até o fundo, no lado de fora, perto da estrada.

– Alguma explicação? – perguntou Malu, cruzando os braços.

– Não tenho o que explicar, Maria. – Malu revirou os olhos. Deixar ela irritada me dava forças de falar o que tinha que falar.

– Na verdade, tem sim. Marca Negra? Você está falando sério? Meu pai foi morto por causa dessa marca idiota. Olha, você não precisa fazer isso, se alguém está te forçando ou...

– Não tem ninguém me forçando, eu escolhi por minha própria conta e risco. Você sempre soube que eu era da Sonserina, sempre existiu a possibilidade, ainda mais que meu pai também era.

– Era?

– Era, assumi o lugar dele.

– Tinha esperanças que você não fosse como ele. Eu te conheço, Draco. – Malu disse desesperada para que eu desistisse de toda essa loucura e era o que eu queria.

– Maria, você só esqueceu de uma coisa. Eu nunca fui o mocinho, sempre fui o bad boy, não espere que eu faça coisas boas porque isso não é do meu feitio. Se você esperava encontrar coisas boas em mim, estava completamente enganada. Falando nisso, acho melhor a gente terminar o que temos, na verdade acabar com esses encontros ridículos às escuras, que coisa infantil – disse com uma segurança na voz que eu sabia que não era minha, tudo era mentira, mas ela precisava acreditar.

– Como é? – Malu disse surpresa, percebi em sua voz que ela estava a ponto de desmoronar.

– Eu nunca me importei com você, se era isso que você estava achando. Você era só uma diversãozinha para tirar o tédio e me distrair da escola. Você mesma disse isso, nós concordamos com isso, apenas diversão. Só que agora eu tenho outras diversões. E você devia ir embora agora.

Eu não poderia expressar como dizer o quanto aquilo me machucava por dentro. Algumas lágrimas rolaram pelo rosto de Malu, que não disse nada. Eu mesmo tive que segurar as minhas lágrimas por estar fazendo isso com ela, a única pessoa que se alguém machucasse eu mataria. E essa pessoa era eu a machucá-la, como o mundo é irônico. Ela passou a mão para limpar as lágrimas, se aproximou de mim encostando seus lábios em meu ouvido e sussurrando:

– Você não tem ideia de como eu te odeio, Draco Malfoy. – Aquelas palavras me atingiram como nunca tinham feito antes. Eu realmente pude sentir o ódio dela e realmente doía.

Ela se virou para ir embora, mas antes de dar o primeiro passo, virou-se novamente para mim e com olhos completamente vermelhos estapeou meu rosto.

– Espero que tenha um lugar horrível guardado para você no inferno.

Deu meia volta e me deixou. Isso acabou comigo. Mas eu precisava me manter inteiro, tinha que deixá-la ir, era necessário, quanto mais ela me odiasse, melhor.

(***)

Narrador

Malfoy se desvencilhou do aperto de Filch, furioso.

– Está bem, não fui convidado – disse com raiva. – Eu estava tentando penetrar na festa, satisfeito?

– Não, não estou! – retrucou Filch, uma afirmação em total desacordo com a alegria em seu rosto. – Você está encrencado, ora se está! O diretor não avisou que não queria ninguém nos corredores à noite, a não ser que a pessoa tivesse permissão, não avisou?

– Tudo bem, Argo, tudo bem – disse Slughorn, com um aceno de mão. – Hoje é Natal, e não é crime ter vontade de ir a uma festa. Só desta vez, vamos esquecer o castigo; você pode ficar, Draco.

Filch deu as costas e se afastou, arrastando os pés, resmungando baixinho; Draco conseguiu produzir um sorriso e agradeceu a Slughorn por sua generosidade.

– De nada, de nada – disse Slughorn, dispensando os agradecimentos. – Afinal, eu conheci o seu avô...

– Ele sempre o elogiou muito, senhor – apressou-se em dizer Malfoy. – Dizia que o senhor era o melhor preparador de poções que ele tinha conhecido...

Malu encarava a cena, mais especificamente Draco. Não era o puxa-saquismo que a intrigava; vira-o fazer isso com Snape durante anos. Era o fato de que Malfoy parecia doente. Era a primeira vez que o via bem de perto depois daquele dia em Hogsmeade; e notava que apresentava olheiras escuras sob os olhos e um nítido tom acinzentado na pele.

– Gostaria de dar uma palavra com você, Draco – disse Snape subitamente.

– Ora, vamos, Severo – falou Slughorn. – É Natal, não seja tão duro...

– Sou o diretor da Casa dele e cabe a mim decidir se devo ou não ser duro – retrucou rispidamente. – Venha comigo, Draco.

Os dois se retiraram, Snape à frente, Malfoy parecia ressentido. Não dirigira sequer um olhar a Malu, que fora à festa de Natal de Slughorn sozinha. Rapidamente, ela tomou a decisão de ir atrás dos dois, nem que fosse para ouvir a conversa.

Draco e Snape entraram numa sala no fim do corredor. A primeira coisa que o professor fez foi reclamar que Malu ainda estava viva e então começou a verdadeira bronca:

–... não pode se dar ao luxo de errar, Draco, porque se você for expulso...

– Não tive nada a ver com isso, está bem?

– Espero que esteja dizendo a verdade, porque foi malfeito e tolo. Já suspeitam que você tenha um dedo no incidente.

– Quem é que suspeita de mim? – perguntou Draco com raiva. – Pela última vez, não fui eu, entende? Aquela garota, Bell, deve ter um inimigo que ninguém conhece... não me olhe assim! Sei o que você está fazendo. Não sou burro, mas não vai funcionar. Posso impedi-lo.

Houve uma pausa, e então Snape disse baixinho:

– Ah... tia Bellatriz tem lhe ensinado Oclumência, entendo. Que pensamentos você está tentando esconder do seu senhor, Draco?

– Não estou tentando esconder nada dele, só não quero que você entre na minha mente.

– Então é por isso que você tem me evitado este trimestre? Tem medo da minha interferência? Você percebe que se outro aluno não fosse à minha sala quando eu mandasse, e mais uma vez, Draco...

– Então me dê uma detenção! Dê queixa de mim ao Dumbledore – caçoou Draco.

Houve outra pausa. Então Snape falou:

– Você sabe perfeitamente que não quero fazer nenhuma das duas coisas.

– Então é melhor parar de me mandar ir à sua sala!

– Escute aqui – disse Snape, a voz tão baixa que Draco teve de apurar os ouvidos. – Estou tentando ajudá-lo. Jurei a sua mãe que o protegeria. Fiz um Voto Perpétuo...

– Pois parece que vai ter de quebrá-lo, porque não preciso da sua proteção! A tarefa é minha, eu a recebi dele e estou cumprindo-a. Tenho um plano que vai dar resultado, só está levando um pouco mais de tempo do que pensei.

– Qual é o seu plano?

– Não é da sua conta.

– Se me contar o que está fazendo, posso ajudá-lo...

– Tenho toda a ajuda de que preciso, obrigado, não estou sozinho.

– Mas certamente estava hoje à noite, no que foi extremamente tolo, andar pelos corredores sem vigias nem coberturas. São erros elementares.

– Eu teria Crabbe e Goyle comigo, se você não tivesse detido os dois.

– Fale baixo! – disse Snape com violência, porque Draco alteara a voz agitado. – Se os seus amigos Crabbe e Goyle pretendem passar no N.OM. de Defesa Contra as Artes das Trevas desta vez, terão de se esforçar mais do que estão fazendo no momen...

– Que diferença faz isso? – interrompeu-o Draco. – Defesa Contra as Artes das Trevas é uma piada, não é, uma encenação? Como se algum de nós precisasse se proteger contra as Artes das Trevas...

– É uma encenação decisiva para o sucesso, Draco! – lembrou Snape. – Onde é que você pensa que eu estaria todos esses anos se eu não soubesse como representar? Agora me escute! Você está sendo imprudente, andando pela escola à noite e sendo apanhado, e se está confiando na ajuda de Crabbe e Goyle...

– Eles não são os únicos. Tenho mais gente do meu lado, gente melhor.

– Então por que não confiar em mim? Posso...

– Sei o que está pretendendo! Você quer roubar a minha glória!

Snape disse com frieza:

– Você está falando como uma criança. Compreendo que a captura e a prisão do seu pai o tenham deixado perturbado, mas...

Draco não lhe deu tempo para terminar. Virou as costas e afastou-se a passos largos pelo corredor.

– E a garota, Draco? – Snape perguntou.

– Eu sei que você estava observando, então sabe muito bem que já cuidei dela.

– Ótimo, ela era um empecilho na conclusão de sua missão. É bom que eu não o veja mais com ela, senão quem vai cuidar dela serei eu.

– Eu já disse que cuidei da garota. – Draco estava de costas para Snape e vê-lo falando de Malu assim lhe fazia querer matá-lo. Antes que Snape continuasse a conversa, Draco passou pela porta aberta da sala de Slughorn e contornou um canto distante.

Pansy Parkinson, como que surgida do nada, agarrou-o pelo braço e o fez parar.

– Draco.

– Pansy – disse ele com tédio e querendo sair logo dali. O dia fora um desperdício completo.

– Você está bem? – a sonserina perguntou. – Snape te deu uma bronca muito grande? Ele e o Filch são dois idiotas por fazerem isso...

– É, Pansy, tudo bem – Draco a cortou. – Eu quero voltar para a masmorra, será que a gente não pode conversar amanhã?

– Você tem estado distante há um bom tempo – ela disse em uma voz chorosa. - Eu pensei que poderíamos passar um tempo juntos...

– Agora não. Estou mesmo cansado.

Pansy abriu a boca para falar mais alguma coisa, mas Draco passou reto. A sala comunal da Sonserina, nas masmorras, ficava para o outro lado, mas Pansy não pareceu se lembrar disso. Ele tinha acabado de virar outro corredor quando uma pessoa melhor – ou pior – o parou novamente.

– O que aconteceu? – Malu perguntou numa voz autoritária.

O coração de Draco disparou por um momento ao vê-la ali, estonteante no vestido de festa.

– Nada que seja da sua conta. – Quase adicionou um “sangue-ruim” ao final da frase, mas não teve coragem.

Malu entrou na frente para impedir seu caminho.

– Olha aqui – começou, encarando-o com aqueles olhos claros. – Eu não estou nem aí para o que você me disse em Hogsmeade. Eu sei que eu deveria ter esquecido, mas eu não vou. Tem alguma coisa de errada com você; você anda estranho, Draco, parece doente, falta na maioria das aulas e fica andando sozinho. Eu quero te ajudar!

– Eu não quero a sua ajuda! – Draco elevou a voz. – Eu não preciso de ajuda. De ninguém. Estou bem do jeito que estou. Vá embora, Malu, volta pra festa, eu já disse que não temos mais nada.

– E eu já disse que não me importo com o quanto você me evite, eu vou continuar do seu lado até você me contar exatamente o que está acontecendo!

Draco agarrou-a pelos dois ombros e bateu suas costas na parede. Malu quase não piscou; já esperava aquilo dele.

– Me deixa em paz – ele rosnou. – Não há nada para contar.

– Nem por que agora é um Comensal da Morte? Nem o que você está planejando às escondidas no castelo?

O fato de Malu saber da Marca Negra desde o episódio em Hogsmeade ainda o deixava acordado à noite. Não parecia que ela tinha dito a alguém, mas o perigo estava sempre ali. E ela era curiosa demais para deixar de perguntar o que estava acontecendo.

– Eu disse para ficar afastada – Draco disse numa voz morta. – Disse que eu não queria mais nada com você.

– Bem, neste caso, Malfoy, o sentimento não é mútuo – Malu respondeu. – Se era só por isso que me queria longe, pode ficar tranquilo. Eu já te julguei o suficiente por seis anos.

Draco não soube o que falar por alguns instantes.

– Você não entende o que isso significa, Malu – disse baixo.

– Então já passou da hora de me explicar.

– Não posso. Pelo menos não agora.

Então Malu fez algo que o surpreendeu mais do que se tivesse ido embora. Ela o abraçou, um abraço de conforto, e Draco teve de retribuir. Ela era dois palmos mais baixa que ele, portanto ele apoiou o queixo em sua cabeça. Partiu o abraço por um instante depois de uns momentos, na necessidade de se explicar.

– Sinto muito por ter dito aquelas coisas em Hogsmeade, eu não quis realmente...

– O Snape estava vendo, não estava?

Draco assentiu.

– Eu sabia. – Ela deu um meio sorriso e voltou a abraçá-lo.

No fim do corredor, a poucos metros dali, Pansy ouviu tudo. E o que ficou martelando sua mente, quando já estava voltando para o quarto minutos depois, foi que Draco a tinha rejeitado. Draco a tinha rejeitado por uma sangue-ruim. Por uma corvinal. Por Maria Luiza.

Pansy não deixaria barato. Não daquela vez, não se tratando de Draco Malfoy.

Narrador

Malu estava andando pelo corredor, passando próxima ao banheiro com Sially e Diana quando ouviu um urro de dor conhecido que a fez arrepiar.

– Podem ir – Malu disse às duas amigas. – Eu preciso fazer uma coisa antes.

– Malu, não vá atrás dele. Nós vimos que você ficou mal naquela época mesmo não demonstrando – disse Diana.

– Eu sei o que estou fazendo. Encontro vocês no jantar.

Sially e Diana assentiram e seguiram na frente. Malu se apoiou no batente da porta de forma que ninguém a visse e ela pôde observar Snape recitando algum feitiço de cura. Draco chorava de dor e isso partia o coração de Malu.

– Potter, fique aqui enquanto levo Draco a ala hospitalar – ordenou Snape. – Curei uma parte de seus ferimentos, mas ainda não é o suficiente. Você deve ir a ala hospitalar e eu não posso te levar, Dumbledore convocou uma reunião de emergência e eu já estou atrasado.

Malu se escondeu e esperou Snape sair sem vê-la porque se a visse suspeitaria e sua pequena “encenação” com Draco não teria valido de nada. O garoto ainda gemia um pouco de dor. Ela se aproximou dele.

– Draco.. A meu Deus. – venha vou cuidar de você. – Malu apoiou Draco, de forma que o sustentava e o levou a ala hospitalar.

– Onde é que você se meteu dessa vez? – Malu ralhou com ele, baixo.

– Foi um acidente. Tinha que ser o Potter – resmungou Draco.

– Madame Pomfrey não está. – disse Malu a Draco. Parece que ela teve uma emergência com um garoto da Lufa Lufa que passou muito mal. – disse Malu depois de ter verificado onde a mulher estava.

– Quer esperar ou.. – Draco gemeu de dor mais uma vez. –ok, eu cuido de seus cortes.

Malu foi até a estante e pegou alguns remédios que conhecia. Sua mãe era médica no mundo trouxa, uma das melhores de Londres na verdade. Malu pegou o algodão e o recipiente com o remédio, estava de costas para Draco.

– Acho melhor tirar sua blusa para eu... – ela se virou e deixou cair o algodão e o recipiente por sorte estava fechado. Draco estava terminando de desabotoar a camisa expondo seus músculos e o corte do seu peito até o umbigo. Malu começou a gaguejar e piscar involuntariamente. Draco riu da reação que ele causou nela. – eu.. hmm.. acho melhor.. é.. – ela não conseguia formar frases completas e coerentes. Apenas se abaixou para pegar o que havia derrubado.

– É incrível que mesmo depois de tantas noites juntos ainda te causo esse tipo de reação. – ele riu.

– Na cabana estávamos a luz de velas e aqui, bom.. – ela olhou para seu corpo bem definido. – Uau, quer dizer, a luz é melhor. – Após ter pego o algodão e o liquido foi até ele. – Sinto muito, mas vai doer um pouco. – Draco assentiu. Malu passou o algodão e ouviu Draco rangendo os dentes e segurou em sua mão livre para tentar passar a dor mais rápido. Malu reparou no que havia em seu braço e após ter acabado de limpar o corte passou a mão em seu ante braço esquerdo.

– Dói? – ela se referiu a marca.

– No começo doía. Agora não é mais constante. – Malu fez o contorno da marca. Logo em seguida saiu de seu transe e foi pegar outro remédio para o corte. Draco fez uma careta vendo o que ela ia passar.

– Não se preocupe a pior parte já passou. – ela sorriu.

– Como você sabe tanto disso? – ele perguntou.

– Minha mãe é médica. Uma das melhores medicas trouxas em Londres. E eu venho ajudar a enfermeira Pomfrey de vez em quando. Acho bem interessante.

– Você nunca me contou de sua família.

– Você não gosta de trouxas. Não tem motivo para eu te contar. E bom nem tem tanto a contar.

– Mas eu quero saber. Pensando bem você conhece quase toda minha arvore genealógica e eu não sei nem o nome da sua mãe.

– Patrícia. Eu era muito próxima dela e foi bem difícil deixa-la la para vir para Hogwarts. Ela não pode me visitar aqui. E na maioria das vezes que eu visito ela, ela tem que trabalhar e não tem tanto tempo para mim. Bom, meu pai você já sabe da história.

– Sinto muito mesmo.

– Tudo bem eu já superei. – houve um momento de silencio até que Draco o quebrou.

– Maria, me desculpe por ter me afastado e dito todas aquelas coisas para você em Hogsmeade.

– Eu..

– Deixa eu terminar. Eu acho que você merece saber o que está acontecendo. Afinal você é a única pessoa que eu confiaria minha vida. – ela pronunciou um som para me encorajar a continuar. – Quando meu pai foi preso, o mundo caiu la em casa. Minha mãe chorava quase todos os dias. Foram dias difíceis. Minha tia, Bellatriz, disse para ela me oferecer a você-sabe-quem como comensal e em troca ele tiraria meu pai da cadeia. E assim contra minha vontade ela fez. Eu tive que ir, minha mãe sofria demais sem o Lúcio. Eles me marcaram com a marca negra e como prova de minha lealdade eu devo matar Dumbledore. – Malu ouvia a história atentamente. – e eu vou. Tenho que fazer. Snape deve me proteger e garantir que tudo dê certo.

– Você não pode matá-lo. – disse Malu nervosa. – Você pode ir para Askaban ou ser morto. Você não pode. Eu vou fugir com você. Podemos.

– Maria, sua tentativa de me salvar é plausível e reconhecível mas não é tão fácil. Eu não posso abandonar minha mãe. Eu adoraria fugir com você. Mas não é tão fácil. Você-Sabe-Quem planeja uma guerra para derrubar Hogwarts, eu temo que ele consiga.

– Eu não vou deixar você ir para esse caminho.

– Eu sempre te disse, nunca fui o mocinho. E é bem provável que eu acabe morto no final dessa historia.

– Tem que ter alguma coisa que eu possa fazer para te ajudar.

– Você já me ajudou. Você me tornou mais humano, com sentimentos. A única coisa que você poderia fazer é estar ao meu lado até tudo acabar. Eu me sinto horrível por ter que fazer o que vou fazer. Você é meu consolo. Parece que tudo desmoronou.

– Podemos passar as noites na cabana, apenas dormindo juntos até o dia. – Draco assentiu.

– Me desculpe ter que fazer você passar por isso.

– Não se preocupe. – ela aninhou a cabeça de Draco entre seus braços de forma a conforta-lo em sua tristeza e decadência mental.

(***)

– Severo... por favor...

Avada Kedavra!

Dumbledore tombou para trás e caiu da torre.

As coisas pareceram um borrão a Draco depois disso. Durante o momento em que o corpo do diretor caía pela torre, ele não reagiu. Só voltou a se mover quando sua tia, Bellatriz, o puxou pelo braço e começou a empurrá-lo escada abaixo para fugir do castelo, com Snape à frente.

Sua visão estava embaçada, e foi quando percebeu que estava chorando. Enquanto os três desciam a escada em espiral da Torre de Astronomia, ouviu as palavras de Malu ecoando em seu subconsciente.

Fora há aproximadamente meia hora. Há meia hora Draco perdera a coragem que talvez sequer tivera.

Ele havia acabado de sair da Sala Precisa após verificar uma última vez se o Armário Sumidouro funcionava bem. De alguma forma, Malu o achou enquanto se dirigia à torre e o parou. Draco só entendeu que era ela ao se virar, ou teria lhe lançado uma maldição.

– Draco – ela murmurou. – Ainda não é tarde demais. Você sabe que não é. Não faça isso. Por favor, fique.

– Eu não posso, Malu – ele respondeu. – Eu realmente não posso. Ele vai matar a mim e aos meus pais se eu não fizer isso.

– Nós podemos fugir, agora mesmo, e ele nunca vai te achar.

– Você não o conhece – Draco começou a soltar o braço. – E eu não quero e rezo para não conhecer. Eu já estou perdido, mas não quero que você também esteja. Snape não quer mais saber de nós. Volte para o dormitório.

– Não. Se você continuar com isso, vou ficar ao lado de Hogwarts, daqueles amigos de Harry Potter.

– Malu...

– Draco, não faz isso – Malu implorou. – Eu te amo.

Foi como se ele tivesse recebido um soco no coração.

– Sinto muito. – Puxou o braço de uma vez e apressou os passos para ir embora, deixando-a sozinha.

Agora, descendo os degraus em direção à Sala Precisa, a última frase dela continuava a reverberar no seu crânio. Tia Bella ia rindo pelos corredores, Snape ia calado, Draco mais calado ainda. Quando chegaram ao corredor da Sala, entretanto, encontraram a batalha: os Comensais da Morte contra os alunos, a maioria de pijamas. Algumas pessoas estavam caídas no chão, inconscientes, talvez mortas.

– Para o outro lado! – Snape bradou a ordem sobre o barulho e deu a volta para outro corredor. Alguns alunos tentaram impedi-los. Draco ouviu Potter berrando para eles.

– Draco!

Ele girou automaticamente. Malu corria até ele, descabelada e com arranhões pelo rosto. Draco voltou a correr antes que ela chegasse perto demais, mas mesmo assim ela o alcançou.

– Aonde você vai?

– Fugir. É isso que eu faço, e você também não deveria estar aqui.

– Você matou o Dumbledore mesmo – ela sussurrou, os olhos mostrando a decepção.

– Não, Malu – ele disse depressa, desesperado segurando o rosto de Malu em suas mãos. – Não fui eu, eu juro, foi o Snape.

– Você sabe que eu não acredito nisso.

– Acha que eu mentiria?

– Acho. Você já não é mais o Draco que eu conheci. Nenhum dos dois.

– Eu nunca garanti que fosse – Draco disse. – Você me prometeu que ficaria ao meu lado sempre. Mas eu entendo. Desculpe te decepcionar, mas não há volta. Eu tenho que ir, agora. Se um dia voltarmos a nos encontrar, vou te recompensar. Apenas se mantenha segura. Adeus.

Draco depositou um beijo nos lábios dela e voltou a correr para acompanhar Snape e Bellatriz.

Narciso se olhou no espelho, se apaixonou. Draco sentiu a mesma coisa há anos quando olhou Malu, porém não se viu, viu o que faltava em si.


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Notas finais do capítulo

Tentaremos postar o próximo capitulo logo...



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