Hospitais são todos iguais,a estrutura muda,os médicos mudam,os pacientes mudam,os nomes mudam,mas hospitais são todos iguais.Tem sempre aquela aura indefinida porque o nascimento e a morte sobrevivem debaixo do mesmo teto.No Saint Thomas não era diferente.

Hermione passou apressada pelas portas da frente após estacionar seu carro,se dirigiu até a atendente e disse que Draco Malfoy a esperava.Passou pelos corredores com o passo apertado e se dirigiu ao terceiro andar,onde o escritório do “senhor Malfoy”,como disse a atendente,se localizava.

Encontrou ele encostado na parede oposta a do elevador.

–O que aconteceu? –ela perguntou.

–Mary Elizabeth veio me procurar.

–É,Malfoy,disso eu sei.Por que ela veio te procurar?

–É melhor que você fale com ela – ele disse,encaminhando Hermione para sua sala.

No momento em que a porta foi aberta e os olhos de Mary Elizabeth fitaram Hermione na soleira da porta,Mary não conseguiu se conter.Foi correndo até a morena e serpentou os braços em seu pescoço.

–Shh,shh,está tudo bem,tudo bem –disse Hermione enquanto Mary Elizabeth soluçava de tanto chorar em seu ombro,pobre menina- O que aconteceu,Mary?

–Eu o encontrei,eu encontrei ele –disse a garota,sua voz abafada.

–E por que está chorando?Mary,por que você está aqui?Você encontrou o seu pai,isso não é ótimo?

–Não,Hermione,não é – Mary replicou.

“Eu o encontrei.Depois que vocês me deixaram lá eu andei até o centro da cidade,bem,ela não é tão grande e vocês sabem,todo mundo conhece todo mundo.Uma senhora me disse onde ele morava,e eu andei até lá.Quando eu cheguei já estava escuro,era bem distante da cidade em si.Eu pulei a cerca,pra um cara tão rico a segurança era um pouco desleixada,e então me vi diante da porta”.

–Eu hesitei,muito,muito mesmo.Pensei em tocar a campainha mas as luzes da sala estavam apagadas.

“Então dei a volta na casa.Tinha um quintal enorme,e a sala de jantar dava de frente pra ele.Uma janela gigantesca.E sabe o que eu vi,Hermione?Sabe o que eu vi?Ele,sentado á mesa com três crianças e uma mulher”.

–Ele tem uma família,Hermione.Uma família tão linda,sabe?-ela disse,enxugando as lágrimas que rolavam grossas em sua face,forçando um sorriso-E eu não quis estragar isso,simplesmente não quis.Fiquei lá por detrás dos arbustos os observando,até mesmo depois deles terem saído da sala e ido dormir.Peguei uma puta chuva,acordei no outro dia toda ensopada e resolvi voltar pra Londres.Eu estava tão perdida,Hermione –ela disse,gotas peroladas voltando a encharcar seu rosto-,tão perdida.Cheguei aqui e não sabia o que fazer.Foi então que encontrei esse jornal,falando do Hospital St. Thomas e de um bilionário chamado Draco Malfoy que era dono.Decidi tentar a sorte e ver se encontrava vocês.

–Ah,Mary – Hermione começou.

–Não é como se eu quisesse a ajuda de vocês,não,não mesmo.Eu só-só queria ter alguém pra conversar e vocês me ouviram tanto aquele dia.

–Você pode contar conosco,Mary Elizabeth – disse Draco-Pra tudo.

–Ele tem razão,nós vamos te ajudar,tá certo?Agora,só descanse,okay?Nós vamos ajeitar as coisas um pouco.

–Tudo bem.

Hermione sorriu para a menina antes de se virar para ir embora.

–Obrigada –disse Mary- Obrigada,vocês dois,por tudo.

–De nada.

Draco fechou a porta depois que ele e Hermione se retiraram de seu escritório.

–O que nós vamos fazer? –ela perguntou,com a voz cautelosamente diminuta.

–Eu não sei.Talvez nós pudéssemos puxar a ficha da mãe dela,talvez ela tenha algum parente distante que possa cuidar dela.Eu não sei.

–Mas,como?Como nós vamos conseguir isso Malfoy?

Ele abriu um sorriso de canto de boca desdenhoso.

–Granger,minha querida,Granger.Se uma coisa eu aprendi é que num mundo de portas fechadas quem tem dinheiro é rei.

Malfoy ligou para - como ele chamava mesmo?Ah,sim- seus “contatos” e pôs um de seus “informantes”,acabou descobrindo uma tia,Samantha Baker,que morava na Austrália.

–Só isso que ele encontrou.Samantha Baker,32 anos,advogada,mora na Austrália há 12 anos e tem dois filhos com Joshua Baker.

–Você acha que vai dar certo?Será que essa Samantha vai aceitar a Mary?

–Ela provavelmente nem sabe que a irmã está morta,mas Lestrade vai ligar pra ela ainda hoje.Na verdade,daqui a pouco ele deve me mandar noticias.

–Acho que deveríamos conversar com a Mary,sinceramente,isso tudo é muito confuso e ela precisa ficar a par de toda a situação.

Malfoy passou as mãos em seus cabelos loiros,nervoso.

–Você tem razão.

Hermione abriu a porta devagarinho,tentando ao máximo ser cuidadosa.

–Mary? –chamou.Sem resposta foi se encaminhando em direção á garota que dormia no sofá de couro recostado em uma das paredes.

–Mary,querida –disse novamente,encostando de leve na menina para acorda-la-Malfoy,pelo amor de Deus,ela está queimando em febre.

–O quê? –ele disse,andando em direção as moças- Você tem razão,ela deve estar com no mínimo uns 40° graus de febre.

–Mãe?Mãe,é você? –disse Mary,delirando- Eu senti tanta a sua falta –ela disse,pausando para abafar uma tosse.

–Okay,Granger,eu preciso que você vá chamar uma enfermeira,urgente.

–Tudo bem –respondeu Hermione,saindo ás pressas.

Enquanto Mary era levada para um quarto isolado e Hermione sentava na sala de espera torcendo para que tudo não passasse de uma gripe chata.Hospitais são todos iguais.Poucas coisas mudam,nada que reconforte nossos corações.Pessoas continuam sofrendo,e nascendo,e morrendo,lá dentro.E pessoas continuam sentadas numa sala de espera torcendo para que tudo não seja grave.