Divergente - por Tobias Eaton escrita por Willie Mellark, Anníssima


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Amei os comentários...
Aí está gente espero que gostem, perdoem-me se houver erros...


Boa Leitura!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/465150/chapter/5

Eu me sentia – na falta de uma palavra melhor – vivo, quando acordei na manhã seguinte. Não é como se toda a raiva que tomou conta do meu corpo tivesse simplesmente dissolvido, mas ter confrontado Eric com certeza ajudou-me a, ao menos, abrandá-la. Fora isso, uma esperança começou a crescer dentro de mim.

Ainda acredito que o meu lugar não é aqui, no Complexo do Destemor, mas não posso negar que nunca estive tão feliz com a minha escolha. Afinal, eu tenha um emprego, bons amigos, respeito por parte dos outros membros, e, sobressaindo à tudo isto, penso que se ela houvesse de vir para cá, de qualquer forma, este é o único lugar em que deveria estar.

E se ambos tivéssemos escolhido a Abnegação, não tenho certeza de que as coisas estariam exatamente como estão... ‘E como estão as coisas, Tobias?’ pergunto à mim mesmo. É ridículo. Embora eu esteja certo de que algo mim está irremediavelmente diferente, não posso supor os sentimentos dela e, pensar nisto, me faz perder parte da energia com a qual despertei.

Ontem fui comunicado de que Max queria falar comigo, então, me dirijo até sua sala, esperando que seja mais uma das inúmeras tentativas dele de me conversar a assumir algum tipo de cargo político na facção. Isso me deixa nervoso. Não por temer fazer uma nova recusa, mas sim, explicar – falsas – razões para não aceitar.

Paro em frente à porta, respiro fundo e entre.

“Mandou me chamar?” - Eu pergunto assim que o vejo.

“Sim, Quatro.” - Ele responde enquanto guarda algo em sua gaveta, certamente um telefone. - “Bom na verdade, queria que você levasse seus iniciandos para conhecer os portões da cidade, para dá-los um incentivo a se esforçarem mais na iniciação e, também, para que os que ficarem classificados nas últimas cinco posições, já vão se acostumando com a ideia.”

“Ótimo, Eric virá com a gente?” - Observo sua boca se contorcer em um sorriso.

“Não, ele me falou que você pode cuidar deles sozinho. Achei um pouco estranho que quando fui vê-lo, ele acabara de sair da enfermaria.”

“É estranho, mas você o conhece, ele adora se arriscar por aí.” - Digo finalizando o assunto e me retiro da sala. Tenho certeza que Max desconfia e eu não me importo. Antes o que fiz com Eric resultaria numa punição, mas hoje sob essa nova liderança, trabalho em equipe é uma piada. No fim, todos só querem uma boa briga.

Ando em direção à cantina, encho minha bandeja de comida e me sento junto com meus amigos. Olho em volta procurando por Tris, mas ela não está lá. Vejo Peter sorrindo e a raiva volta potente a se instalar dentro do meu peito porque é claro que enquanto ele está de excelente humor, ela está sentindo dores por cada machucado que ele a causou.

Peter não desferiu golpes contra Tris porque foi obrigado como Al fez com Will, ou porque Eric estava presente na luta. Ele teve intenção de feri-la e isso me faz querer bater nele também. Percebo que Zeke está falando comigo e tento prestar atenção nele. É bom, de qualquer jeito, poder tirar os olhos daquele idiota.

“Ela não está aí.” - Zeke fala com um sorriso nos lábios. - “Shauna me disse que conversou com Elly. Ela dormiu na enfermaria ontem.”

“Ela?”

“Sim, ela, Quatro!” - Diz Shauna se sentando entre Zeke e mim. - “Nem adianta, você é um péssimo mentiroso.” - Se Zeke tinha dúvidas antes não tem mais. - “Mas, se você não quiser saber como ela está, tudo bem!”

Eu sei que ele jogou uma isca, mas as palavras fluíram da minha boca e não pude contê-las. - “Eu quero.”

Shauna e Zeke trocam olhares, e começam a rir. Bom saber que minha agonia os diverte.

“Você quer o quê?” - Diz Zeke rindo, e dá um soco de leve no meu ombro. - “Informações ou a própria? Quem diria, Quatro? Interessado por uma garota mais nova... Se controle garanhão.”

“Isso não importa Zeke, você sabe que Quatro não é de ficar de conversinha com outras garotas. Ao contrário de você.” - Shauna diz encarando-o. Ela me olha. - “Quatro, Tris está bem, Elly me falou que ela está com um dos olhos contundido, e obviamente com o corpo todo machucado.”

“Obrigado.” - Sinto uma imensa gratidão por Shauna. Tris está machucada, mas dentro do possível, está bem.

“Que ideia foi essa de colocar ela para brigar com o Peter?” - Zeke pergunta. - “Tenho medo do seu gostar, você não viu que ele era maior e mais forte que ela não?” - Zeke e Shauna me encaram procurando uma resposta.

“Eric, que colocou. Eu não sei qual é a dele, mas te garanto que na arena ele não se mete mais.”

Conversamos, rimos um pouco, mas sempre me via imaginando no quanto ela poderia estar sofrendo com seus ferimentos. Despeço-me, dou o aviso sobre a ida até os portões. E os espero próximo dos trilhos.

Tris chega depois que todos. Ela tinha os olhos cansados, o rosto marcado e o andar lento; reflexo da dor que sentia. Mas o que mais me incomodou em sua visão, foi que ela aparentava estar... Triste. Fiquei triste também.

Dou passagem para os outros pularem primeiro. Depois que entro no trem, procuro por Tris e ela está prestes a pular. Sua expressão denuncia a dor que a toma, mas quando penso em correr para ajudá-la, Albert a segura de maneira instável e sei que isto não a ajudou quando ouço alguns dos outros transferidos caçoarem de Tris.

Porque ele tinha que se meter quando eu já estava indo? Que garoto fraco, se fosse eu. Ah se fosse eu, a seguraria e não soltava mais, traria sempre pra mais perto de mim, quebraria ela se fosse necessário só para ver o quanto ela era forte. Ainda bem que ele é fraco, ficaria louco se ele tentasse fazer o que meu coração imaginou!

Ando pelo trem e observo Peter, Drew e Molly debochando de Tris enquanto Will e Christina a defendem. Não posso socar Peter agora, não na frente de todo mundo, mas posso usar minha autoridade como instrutor.

“Eu terei que ouvir as suas brigas todo o caminho até a cerca?” - Digo o encarando.

Todos ficam quietos, mas minha raiva pode se tornar visível, então deslizo ambos os braços e me coloco parcialmente para fora do trem, de modo que o vento toque meu rosto e esconda minha ira. Os freios do trem guincham, e todos vão para frente conforme desacelera.

“Sigam-me.” Eu digo logo após descer do trem. Guio-os até o grande portão que dá acesso às fazendas da Amizade. - “Se vocês não ficarem no top cinco do final da iniciação, vocês provavelmente terminarão aqui, uma vez que você é um guarda da cerca, há um potencial para o progresso, mas não muito. Você poderá ir a patrulhas além das fazendas da amizade, mas...”

“Patrulhas com que propósito?” - Pergunta Will.

“Eu suponho que você descobrirá isso se você se encontrar no meio deles." Ainda não gosto de Will. Na verdade, não gosto do fato dele fazê-la sorrir. - "Como eu estava dizendo na maioria, aqueles que guardam a cerca quando são jovens continuam guardando a cerca. Se serve de conforto alguns insistem que não é tão ruim quanto parece.”

“Qual foi a sua posição?” - Peter pergunta.

A princípio não o responderia, mas todos me olhavam com curiosidade como se quisessem entender – talvez achem que me saí em uma posição ruim, e me acharia covarde de não responder tal pergunta.

“Eu fui o primeiro.”

“E você escolheu isso? Por que você não escolheu um trabalho no governo?” - Ele insiste.

Trabalhar no governo e encontrar Marcus? Não. Minhas opções eram limitadas. Guardar a cerca, ser segurança, tatuador, trabalhar na produção de armamentos, ou até mesmo na enfermaria, mas me sentiria mais deslocado, de qualquer forma. Por isso optei pela sala de vigilância, mas não vou lhe responder essa. Ele já abusou da sorte por hoje.

“Eu não queria um.” - Falo colocando fim ao assunto.

Nós nos aproximamos do portão e enquanto cumprimento Jane, uma ex-parceira de Iniciação que não conseguiu classificação suficiente e acabou designada para fazer a segurança da cerca, eles ficam observando o local. Quando eu me viro para o lado, vejo Tris um pouco afastada do grupo, conversando com um garoto da Amizade. Ele tem cabelos loiros e ondulados, não é tão alto, mas eu me pergunto: Quantos caras Tris conhece? Porque parece que ela sempre tem garotos que vêm ao seu encontro e nem por um segundo eu gostaria de pensar que ocorre à eles o mesmo que acontece comigo...

Molly se aproxima dos dois e fala algo com eles, mas da distância em que estou não consigo ouvir. Ela se afasta e vem na direção de Drew e agora que posso ouvi-la falar percebo que sequer estou ouvindo o que Jane me diz porque Molly diz algo sobre Tris e concentro-me no que ela fala para Peter e Drew.

“Não, não deu.” - Molly fala sobre algo.

“Quem é aquele que está falando com a Tris?” - Finalmente Peter pergunta, e se eu não o desprezasse tanto, agradeceria.

“É um tal de Robert, parece que era da Abnegação. Acho que deve ser um namoradinho." - Ela responde, dando ênfase a última palavra. Meu sangue ferve.

“Desde quando Caretas namoram?” - Pergunta Drew rindo. - “Quer dizer a pergunta é: Por que ele tá abraçando ela agora? Caretas podem se tocar assim?”

Eu me viro automaticamente ao ouvir tais palavras porque a desgraça é que não, membros da Abnegação não podem nem apertar as mãos como regra, o que dirá abraçar uns aos outros. Isso é o tipo de coisa que membros da Amizade fazem. Meu coração se alivia – um pouco - quando vejo que ele a abraça, mas ela não retribui. Despeço-me de Mike, espero o tal de Robert se afastar e ando até ela.

“Eu estou preocupado que você tenha talento especial para tomar decisões imprudentes." - Eu falo enquanto me aproximo, tentando soar profissional, mas minhas razões não têm ligação com isto.

“Foi uma conversa de dois minutos!” - Tris responde, olhando diretamente para mim com os braços cruzados na altura do peito.

Foi rápida para você, pois pra mim parece que se passou uma eternidade. Será que você não entende que se colocar em situações assim põe em risco todo meu autocontrole? Não sei, na verdade, como mais pessoas não descobriram que é praticamente impossível ficar longe, não olhar ou falar com você.

Claro que ela não sabe disso Tobias, para ela você é apenas o instrutor. Apenas um instrutor... Você é muito teimosa!

“Eu não acho que um tempo menor torne isso menos imprudente."

Preciso me aproximar dela, pelo menos um pouco. Toco a ponta do dedo o seu olho contundido para mostra-la que me importo. Ela afasta a cabeça para se desvencilhar de alguma forma, mas não será tão fácil assim porque se tem uma coisa que eu garanto sobre mim é que sou persistente. Seguro sua bochecha com a mão para olhá-la melhor, e inclino meu rosto para mais perto do dela. Acabo suspirando e não é não só porque ela me frustra conversando com outros garotos, ou porque me abala o fato dela estar machucada, mas principalmente por causa do fiozinho de formigamento que sinto na ponta do meu indicador se espalhar pela extensão do meu braço.

“Você sabe, se você pudesse atacar primeiro, você poderia ir melhor.” - Falo para esconder o que realmente queria falar, porque eu nem sei ao certo o que seria. Mantenho meu toque sobre ela.

“Atacar primeiro? Como isso iria ajudar?” - Ela pergunta me olhando nos olhos.

“Você é rápida. Se você pudesse dar alguns bons golpes antes deles saberem o que está acontecendo, você poderia ganhar.” - Contrariado, deixo minha mão cair. Com certeza não são esses assuntos que ela conversa com Robert, Will e Al, mas não sei o que fazer sobre isso. Eu gostaria de conversar tantas coisas com ela, mas isto é impossível. E será que ela gostaria disso? De conversar comigo, de me tocar também?

Estou sempre tão absorto sobre minhas necessidades e sentimentos que não paro para pensar ou tentar descobrir se eu, de alguma forma inexplicável, causo estas mesmas sensações à ela.

“Eu estou surpresa que você saiba isso.” - Ela começa - é claro que está, Você nem percebe que estou te observando, eu penso. - “Já que você saiu no meio da minha primeira luta.” - Isso significa que mesmo quando estava sendo espancada por Peter você notou minha ausência?

Eu suprimo um sorriso de alegria com a afirmação dela. - “Não era algo que eu quisesse assistir.” - A expressão de seu rosto muda, mas não consigo interpretá-la.

“Parece que o próximo trem já vai chegar. Hora de ir, Tris.” - Digo isto para encerrar nossa conversa, pois do contrário eu acabaria revelando mais do que posso no momento.

Durante todo o trajeto de volta e, após chegarmos ao Complexo, me mantenho em silêncio, perdido em meus pensamentos. Vejo ela sumir juntos com os outros transferidos e eu só queria entender o que se passa dentro de mim... Mais do que isto. O que se passa dentro dela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí gostaram???
Espero que sim^^