Further escrita por Leh-chan


Capítulo 1
Por que tão distante?


Notas iniciais do capítulo

Bem... Hoje é um dia muito especial. É dia do aniversário de uma pessoa que eu gosto muito, a tia Anna.

À ela, desejo que tenha um feliz aniversário. Espero que seja muito feliz pelo resto da vida e que tenha muita saúde. O fato de estarmos sem nos falar há algum tempo não muda meus sentimentos. Esta fic aqui é um pequeno presente... Não é exatamente o que eu queria dar, mas sinta-se abraçada, afofada e beijada enquanto lê essa fic tão boba que eu fiz com muito carinho.

Por fim, boa leitura à todos.



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{Aoi’s POV}


            Eu gostaria saber o motivo para estar tão... Vazio. Algo hoje não deu certo, ao que parece. Nem ontem. Nem antes.


            Da porta da cozinha, onde eu secava a louça, tinha uma visão ampla da casa. E tudo parecia mais frio e distante do que de fato era. A sala de visitas vazia refletia todo o calor, agraciando minha visão apenas com sombras e cores gélidas e opacas. Lentamente ia escurecendo, mas nem aquele característico tom alaranjado do crepúsculo se fazia presente hoje.


            Guardei o último prato e coloquei o pano em seu devido lugar, passando em seguida as mãos por entre meus cabelos negros, com o intuito de prendê-los para trás provisoriamente. Certamente que foi uma tentativa falha, já que de tão lisos, escorriam por entre meus dedos. Mas aquele toque em minha cabeça... Era aconchegante. Não tanto quanto deveria ser, mas agradável.


            Sentei-me na mesa da cozinha e, fitando sem realmente ter interesse um nó na madeira gasta, fiquei mexendo em uma madeixa macia que caia teimosamente em meu rosto. Lentamente, o tédio foi tomando conta de mim, e vários pensamentos vieram à tona de uma vez.


            O que será que ele estava fazendo agora? Quer dizer... Não o vi desde a hora que acordamos. E ele mal falou comigo, também.


            Levantei-me subitamente, com uma ideia em mente. Abri os armários e os revirei atrás de um pacote de biscoitos de chocolate, que sabia que ele gostava bastante. Coloquei-os em um recipiente redondo e depois enchi um copo com suco de laranja. Acho que seria esse o melhor jeito de interromper seu trabalho. No fim das contas, eu não queria atrapalhar, mas... Queria vê-lo. Era estranho estarmos morando no mesmo apartamento e quase não nos cruzarmos. Acho que ele só aceitou minha proposta por pura conveniência. Acho que é isso que leva as pessoas a aceitarem a maioria das coisas, no fim das contas.


            Chegando ao corredor, notei a porta almejada com apenas uma pequena fresta aberta. Adentrei sem bater, afinal, apesar e toda aquela cerimônia, o quarto também era meu.


            E lá estava ele... Tão lindo como sempre, debruçado sobre um monte de papéis. Nem notou minha presença, provavelmente.


            Quase não havia mais luz natural entrando pela janela, e mesmo assim, ele estava escrevendo; o rosto tão próximo do caderno que eu podia jurar que sua pele alva refletia as linhas azuis, se tornando uma página também.


            Toquei o interruptor próximo à porta, assim a luz amarelada inundou o recinto, e somente então ele me notou ali. Porém, ateve-se a voltar aos papéis sem fazer comentários.


            – Você não deveria escrever no escuro... Já perdi a conta de quantas vezes te disse isso, Kou. – Comentei, na esperança de ouvir uma resposta qualquer, só pelo fato de ouvir sua voz.


            – Hm... – Limitou sua resposta a algo que eu chamaria de “gemido sem ânimo”. Instintivamente, segurei a maçaneta da porta com mais força do que o necessário, mordendo de leve os lábios.


            – Eu... Te trouxe algo. – Ainda demorou um pouco, mas após terminar uma frase que escrevia, ele virou seu rosto em minha direção, ajeitando os óculos de aros grossos sobre a ponte do nariz. Adorava o jeito como ele ficava de óculos... Era lindo. De qualquer forma ele era lindo.


            – Ah, eu... – Fitou furtivamente os biscoitos, o copo e meu rosto, provavelmente pensando em uma desculpa boa o suficiente para negá-los. Por fim, baixou o olhar e prosseguiu. – Obrigado. Pode deixar aqui na mesa, por favor, Yuu?


            – Sim... – Antes mesmo que eu acabasse de pronunciar minha resposta, ele já estava encarando o caderno de novo. Deixei as coisas como ele pediu e caminhei em direção à porta novamente. Abri-a sem pressa e já ia saindo do quarto quando algo prendeu ali: eu simplesmente senti a necessidade de me apoiar no batente e ali ficar observando Kouyou. O jeito delicado como os fios loiro-mel caiam em formas interessantes pelo contorno de seu rosto, enroscando-se na armação dos óculos... Os lábios entreabertos num semblante pensativo... O olhar opaco... E o fato de estar ignorando completamente o lanchinho que o fiz me preocupavam um pouco. Não havia motivos, ele era assim. Só que... Ele se dedicava tanto ao trabalho, que...


            – Yuu?


            – E-erm... S-im? – Atropelei as palavras.


            – Precisa de algo?


            – N-não, eu... – De repente, minhas pernas agiram por impulso e eu saí correndo dali, fechando a porta com um empurrão nada sutil. Por que àquela altura do campeonato eu estava agindo feito uma adolescente?


            Acho que era melhor deixá-lo fazer o trabalho dele em paz. Ele deve estar pensando que eu sou doido e tenho problemas. Ou na verdade, não. Na verdade, ele deve estar tão absorto no que fazia que nem pensaria no ocorrido. Essa era minha esperança... Senão com certeza seria a primeira opção. Se bem que eu realmente pareço um doido.


            Deitei desajeitadamente no sofá, deixando um braço pender para o chão e com o outro afagando meus próprios cabelos novamente.


            Takashima era um cronista renomado de um jornal importante. Precisava manter-se em dia com seu trabalho: ele só tinha que escrever uma crônica por semana. Mas ultimamente, ele estava com um certo bloqueio criativo que o parecia perturbar. E quando esse bloqueio começou? Há exatos 2 meses... Data em que eu o convidei para morar comigo.


            Trabalhávamos no mesmo jornal: ele fazendo suas crônicas, eu sendo fotógrafo. E o conheci no dia que resolveram tirar uma nova foto dele para colocar ao lado de seu nome, na página que era só dele. Admito que tirei mais fotos do que o necessário naquele dia, alegando ter ficado com a iluminação ruim ou que ele piscara com o flash. Mas todas as fotos ficaram absolutamente perfeitas.


            Então certo dia eu estava andando carregado de papéis e fotos que revelara há pouco quando esbarrei com ele, deixando tudo cair no chão. Como a pessoa educada que é, me ajudou a recolher as coisas... E encontrou 17 fotos suas, todas com olhos abertos e bem iluminadas, porém com sutis diferenças de expressão. Eu sempre fui um tanto quanto ridículo, no fim das contas. Mas ele pareceu se divertir com o incidente. Passamos a nos ver mais vezes, e o que aconteceu foi uma consequência quase natural.


            Já namorávamos há 2 anos quando pedi para que ele morasse comigo. Eu simplesmente era insaciável; tinha necessidade de estar perto dele sempre.  Por que ele era fantástico. E agora... Isso.


            Não queria admitir para mim mesmo, mas essa mudança dele para o meu apartamento só me fez ficar duplamente mais carente. Eu só precisava de um pouco de compania, mas definitivamente não queria atrapalhá-lo. Ele me disse uma vez que qualquer ruído, qualquer coisa fora do lugar poderia tirar seu raciocínio. Por isso que sua mesa no trabalho era sempre tão limpa e arrumada. Até meu quarto andava mais limpo e arrumado agora. Nosso quarto, na verdade.


            E eu sabia que isso poderia atrapalhá-lo, mas... Talvez, se eu...


            Levantei e novamente corri até a entrada de meu quarto, fitando a maçaneta. Coloquei a mão sobre a mesma, incerto. Pensei em desistir, mas eu não aguentava mais. Precisava de... Qualquer coisa. Qualquer resto de consideração, qualquer olhar aleatório que ele pudesse me lançar.


            Abri a porta vagarosamente e, novamente, não fui notado de primeira. Desta vez, entretanto, ele não estava fitando o caderno. Fitava à entrada, e assim que notou minha presença, virou-se outra vez para a mesa onde trabalhava.


            Encostei a porta com cuidado e caminhei sorrateiramente até a cama, ali me deitando de lado, em posição fetal, de modo que pudesse observá-lo de costas para mim.


            – Yuu, você... – Começou a falar com a voz grave, sem me olhar. Cortei-o:


            – Eu... Eu juro que fico quietinho, Shima. Mas... Me deixa ficar aqui com você? – Já esperava ouvir um gemido em afirmação, que seria dito só para não me deixar triste, mas foi pior. Ele não me respondeu, e eu ouvi o arranhar mecânico do lápis contra o papel, agarrando-me necessitadamente ao travesseiro abaixo de mim. Fechei bem forte os olhos de forma a me manter alentado: novamente, aquilo estava sendo ridículo. Como eu conseguia ser tão ridículo?


            Já estava cogitando sair correndo para o sofá da sala novamente quando senti uma respiração quente próxima a meu queixo, e abri os olhos automaticamente para verificar. A luz havia diminuído, e agachado na frente da cama estava Uruha, retirando os óculos do rosto bonito e me olhando curioso. Retribuí o olhar, captando cada detalhe que consegui, mas logo ele se levantou de novo. Claro, o trabalho... Ia criando coragem para voltar à sala fria quando o senti deitar-se atrás de mim, envolvendo minha cintura em um abraço que não era nada menos do que... Carinhoso. Beijou minha cabeça de leve, acariciando-a em seguida. E eu não sei como, mas o toque dele conseguia ser tão mais delicioso que o meu... Eu me derretia com aquelas simples carícias.


            – Ne, Yuu-chan.... – Sussurrou baixo, parecendo incerto sobre as próprias palavras. – Eu... – Apertou-me mais contra seu corpo, envolvendo-me numa gama de novas sensações; as mesmas que eu tanto queria e precisava.


            – Shima, você conseguiu acabar a crônica pra depois de amanhã? – Comentei, ao mesmo tempo, sem emoção, mas com a esperança de não ter mais que dividi-lo com uma caneta.


            Em resposta, ele apenas recostou sua cabeça contra a minha num ato melancólico, passando os dedos com suavidade sobre minha mão que acabara de capturar. Segurei a sua com mais vigor, acariciando-a de leve, também. Seu corpo pareceu amolecer um pouco mais do que comumente faria.


            – Kou, você tá bem? – De alguma forma, sabia que havia algo errado. E desta vez não era eu ou meus desejos egoístas... Era ele. E isso sim me incomodava. Saber que podia haver algo errado com ele era... Doloroso. E sua hesitação era ainda mais.


            – Eu... – Apertou-me mais ainda, a voz saindo num lamento ululante. Aquilo gerou uma angústia enorme em mim. E, mesmo sabendo que eu poderia me deparar com algo que não queria ver... Mesmo sabendo que a resposta poderia me machucar, eu me soltei de seu abraço para me virar de frente pra ele, fazendo assim. E me deparei com algo que não esperava: um rosto choroso, os olhos avermelhados, e cabelo bagunçado em um conjunto desastrosamente deprimente. Meu único ímpeto foi de abraçá-lo e trazer para perto de mim.


            – Kou... Me diz... Você está bem, koi?


            – Não, não.... Não é isso, Yuu... Eu só... – Novamente, parou a fala. Desta vez para deslizar os dedos sobre meu rosto. – Eu tenho sido tão frio e idiota... Eu não queria te deixar triste, ‘tá? – Era isso? E eu pensando que...


            – Não estou triste, não... O que te faz pensar isso, koi?


            – Ah claro... Eu te ignoro, sou grosso com você, você corre para a sala... E isso é normal. Eu sei que eu ‘tô sendo um grande, grande idiota, ok? Você pode me perdoar? – Dizendo isso, aninhou-se em meu peito, sem olhar meus olhos em momento algum, aparentemente envergonhado.


            – Shima... Você nem precisa se desculpar. – Apesar de tê-lo dito isso, ficava feliz por ele ter vindo falar comigo. Afinal, era isso que eu queria... Eu o adorava.


            Senti seus lábios tocarem os meus de leve.


            – Eu te amo muito, tudo bem? Não duvide disso. – Ao proferir tais palavras, passou os braços por minha cintura de forma possessiva, roubando-me outro beijo mais demorado e depois se aconchegando melhor, fechando os olhos preguiçosamente.


            – Mas Shima, você não tem que acabar de escrever? – Perguntei, preocupado com o pequeno bloqueio dele.


            – Eu consigo terminar depois... – E sorriu, docemente.


            – Eu... Também te amo. – Sussurrei, vendo-o sorrir e me ajeitando melhor para dormir um pouco junto com ele. E não conseguia imaginar lugar melhor para se estar no mundo.


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Notas finais do capítulo

N/A: Que dizer? Ficou um pouco fluffy, ou talvez muito... Mas espero que tenham gostado. Resolvi que se ia escrever uma fic pra presentear a Anna, tinha que ser bem melosa -q

E eu ficaria muito feliz se mandassem um parabéns para a Anna e um review para mim! Se não nos mandarem, nós faremos um ataque terrorista ao Japão. Até mesmo porque, depois do fiasco que foi a transmissão do V-rock Festival, eu realmente tenho motivos. Aquela ilha idiota, me fez ficar acordada a noite toda por nada... Morram.