Valentina Leger estava uma gata. Mesmo após ter seu tempo para se aprontar diminuído de três horas para uma e meia, suas criadas conseguiram deixa-la estonteante. Colocaram-na em um vestido verde de frente única e as laterais da saia aberta. Não era nada indecente, mas muito sexy. Ela até poderia imaginar Zachary a secando e lambendo os lábios em seguida. Após imaginar a cena, a ruiva revirou os olhos. O príncipe era tão previsível que chegava a ser chato.

Ah sim, ruiva. Seus cabelos vermelhos estavam presos numa trança lateral que chegava até sua cintura, alguns fios prateados foram inseridos entre as mechas, dando um toque simples, mas muito fino, ao visual. Quanto à maquiagem, ela apostou por realçar sua aparência um tanto infantil para a idade ao passar delineador no estilo gatinha.

Anna a tirou de seus devaneios em frente ao espelho, apressando-a. Deveria chegar ao estúdio em dez minutos. Valentina fez uma careta, não estava com nenhum pingo de vontade de ver as outras selecionadas, sabia que ela tinha sido o assunto.

Eles passaram o dia conversando, nada demais. Entretanto, a intimidade deles deveria ser mantida em segredo, ou seja, Zachary deveria controlar a mania que ele tinha de ficar tocando na jovem toda vez que a via. O que era um sacrifício enorme para o loiro, pois ele possuía um pequeno vicio na pele macia e cheia de sardas de Valentina.

As garotas já haviam ocupado suas cadeiras, deixando apenas uma vaga na ultima fileira num canto meio escondido. Todas a encararam quando ela chegou. Não pode deixar de sorrir e morder a língua para não falar algo como “isso mesmo vadias, eu passei o triplo do tempo de cada uma com o seu amado e gostoso príncipe e agora eu estou mais bonita do que todas você juntas.” Ela se contentou com o sorriso, estava bonita demais para apanhar.

Tomou seu assento sob os olhares de suas companheiras. Melanie estava sentada longe demais, mas quando seus olhares se cruzaram, Valentina pode ler toda malicia que estava incrustada ali.

Logo anunciaram que o Jornal se iniciaria dentro de três minutos. A ruiva pode ver o rei Maxon, Kriss e Aurora sentados em seus devidos lugares. O primeiro repassava a pauta do programa atento enquanto sua esposa analisava as Selecionadas. Aurora enrolava um colar nos dedos, pensativa, o olhar vago e um sorriso brincando em seus lábios. Valentina também sorriu ao notar o colar.

Zachary foi o ultimo a chegar e, pelo olhar de reprovação de seu pai, ele não costumava ser muito pontual. O príncipe fez uma pequena reverencia para suas garotas, mas não prestou atenção na reação delas, encaminhando-se para seu lugar ao lado de Maxon, o qual o recebeu com algo que aparentava ser uma bronca.

O rei apenas parou de falar no ouvido de seu filho quando Kriss pousou a mão em sua perna, o acalmando. No mesmo instante, Gavril saudou os habitantes de Illea como toda sexta à noite, e Valentina teve de abrir seu melhor sorriso.

Não que fosse inteiramente falso – ela tinha vário motivos para sorrir depois daquele dia -, mas todo aquele show a fez se lembrar de como a estavam vendo: uma garota entre vinte concorrendo para conquistar o príncipe e sua coroa. Era repulsivo. Nunca entendera como sua mãe se submetera a isto, especialmente por ela nunca falar de seu período no palácio. Talvez em respeito a seu falecido pai.

Pensar nele fez o sorriso de Valentina vacilar, então ela achou melhor parar de devanear e prestar atenção no que ocorria no palco. Zachary estava sentado numa cadeira principal ao lado de Gavril, ambos sorrindo como velhos amigos.

– Então, Alteza – O homem se ajeitou no lugar - Já passou um tempo com todas essas belas jovens, o que achou?

– Pergunta difícil. São todas tão diferentes, cada uma é tão espetacular de seu jeito. Se fosse para dizer o que achei, passaria horas aqui dizendo o que mais me surpreendeu. Mas, de maneira rápida, posso dizer que tinha medo de ter várias megeras fúteis lutando pela minha coroa e acabei recebendo estas jovens fantásticas pelas quais rezo para me apaixonar apenas por uma.

Os olhos das Selecionadas brilharam ao ouvir tais palavras vindas de seu príncipe, o sorriso de algumas poderia cegar alguém, mas Valentina ficou com a frase “acabei recebendo estas jovens” na cabeça.

É claro que ele colocaria desta forma. Mesmo tentando ser gentil – provavelmente ordens de seu pai -, Zachary deixaria escapar seu lado mulherengo, mostrando o quanto via A Seleção como um harém.

Não demorou muito mais para começarem a falar de alguns assuntos não tão interessantes, sobre economia e outras coisas que também envolviam muitos números. Tais assuntos fizeram com que o tempo do jornal parecesse maior do que era. Então todas as meninas suspiraram aliviadas quando este terminou.

Valentina poderia jurar que até mesmo a rainha parecia cansada.

Na verdade, os únicos que pareciam animados eram Zachary e Aurora. A princesa passara o programa inteiro mordendo os lábios e sorrindo. Seus olhos vagavam pelo nada com se ela pudesse ver além dele. Já seu irmão, bem, o loiro sempre se divertia com o desconforto alheio.

Dispensou as criadas assim que chegou a seu quarto. Estava cansada demais para pensar até mesmo em trocar de roupas, jogou-se daquele jeito mesmo em sua cama e agradeceu pelas mulheres terem aberto sua janela. Ventava levemente, mas o suficiente para ter arrepios refrescantes.

Um toque em suas costas a fez pular na cama e quase gritar, mas relaxou ao encontrar os divertidos olhos azuis de Zachary no escuro.

– Docinho, não é porque você está cercada de muros e guardas que pode dormir de janela aberta. Alguém pode invadir seu quarto.

– O que você quer Schreave? – Ela tornou a deitar, escondendo o rosto no travesseiro.

– Você – Ele se deitou ao seu lado, passando a mão pela cintura nua e afagando o rosto nos cabelos ruivos despenteados – Essa cama está tentadora – Murmurou. Desta vez, Valentina não desviou de seu toque, como esperado. Eles se conheciam fisicamente bem o suficiente para saber o que esperar um do outro. – É uma pena que eu já tenha programado a nossa noite.

Antes que pensasse numa mudança de planos, o príncipe se levantou num salto e foi ao guarda-roupas dela, pegando algo que ele julgou que ficasse bonito em sua amiga. Depois, jogou em cima dela.

Valentina não se mexeu de primeira, mas, vendo que não tinha escolhas, se levantou irritada e ergueu o cabelo para que o rapaz pudesse soltar seu vestido. Ao solta-lo, tampou os seios com o mesmo e terminou de se despir. Não tinha problema algum em ficar nua na frente de Zachary. A realidade é que ela até gostavaa do jeito que ele a olhava.

Mal olhou para as roupas escolhidas, apenas sabia que sua barriga estava de fora e usava uma saia. Zachary também a obrigou a usar algo que a deixasse do tamanho dele, alegando estar com dor no pescoço e não queria ficar abaixando.

– Satisfeito? – Ela perguntou girando em sua frente. Deitado na cama, ele a avaliou e bateu palmas – Agora pode me dizer onde vamos? Porque aquela história de passar a noite na cama me parece mais atraente do que nunca – Terminou bocejando.

– Boa tentativa, mas nossa louca e selvagem noite em sua cama vai ter que ficar para outro dia. Vamos logo, temos que voltar antes do amanhecer.

– Mas ainda não é nem meia noite, aonde- Seus olhos brilharam em reconhecimento – Você vai me levar ao...? Mas como?

– Valentina Purpurina, sabia que eu escolhi este quarto especialmente para você? -Zachary tateou o fundo do armário, até uma passagem ser revelada ali.

Receosa, a garota o entregou sua mão e seguiram juntos pelo corredor, acompanhados apenas de uma lanterna para guia-los. Entretanto, Zachary parecia ter o mapa daquele lugar na palma de sua mão, pois não parava nem mesmo por alguns segundos para se localizar.

Finalmente, foram iluminados pela luz do luar. Valentina não fazia ideia de onde haviam saído, mas seguiu o príncipe sem pensar. Apoiava-se inteiramente nele, pois o salto alto era seu maior inimigo na grama, e várias vezes ela achou que acabaria se apoiando no chão. Mas Zach sempre a segurava firmemente.

Até encontrarem uma cabana mal cuidada perto de uma estrada, quando Valentina já podia se guiar por si mesma. Ali dentro, um homem mau encarado com tatuagens pelo corpo inteiro, até mesmo no rosto os fitou.

– O que dois jovens como vocês fazem num lugar como este?

– Parece que fomos amaldiçoados.

Ao ouvir a senha, o homem abriu um sorriso e se levantou, foi onde estava escrito “banheiro” e abriu a porta, revelando um lugar sujo com uma fita amarela envolvendo o vaso sanitário com defeito. Valentina poderia até vomitar de repulsa se não soubesse o que a aguardava.

O homem afastou o vaso sanitário, revelando uma escada, por onde o casal se apressou a descer, tentando se livrar do cheiro. Ali, passaram por mais um corredor, tão escuro quanto a passagem do castelo, até chegarem ao cerne do esconderijo.

Valentina mal teve tempo de apreciar a enorme pista de dança antes de ser esmagada por um abraço tão apertado que só pode imaginar uma pessoa que poderia dá-lo.

– Uma semana nunca pareceu tão longa, baixinha – Lorenzo a saudou depois de finalmente a soltar – Como está lá? Esse babaca está te tratando bem? Fez amigas?

– Hey! Esse babaca está do seu lado e está te ajudando a pegar a irmã dele!

– Zachary, já te disse para não falar de você em terceira pessoa – Então se voltou para o irmão – Estou bem, sim e sim. Deus, você está parecendo a mamãe! – Ela zombou antes de abraça-lo novamente – Nunca fiquei tanto tempo longe de você, estou morrendo de saudades. Acho melhor que o babaca aí não demore muito tempo para resolver as coisas com a sua princesa para eu poder voltar para casa.

– Já passou pela sua cabeça, docinho, que quando eu resolver o problema desses dois e escolher minha esposa, talvez você não volte para sua casa?

– Você não ousaria... – Ela se soltou do irmão e fuzilou Zachary.

– Te tomar como minha esposa? O que me impede? Agora vamos gata, eu não te trouxe aqui para você ficar grudada no seu irmão, te trouxe para dançar – Ele a puxou para antes de si e se virou para Lorenzo antes de se perderem na multidão – Aurora vem pela B612.

B612 era apenas uma das inúmeras passagens secretas superprotegidas do Damnatorum. Aquele lugar ia contra todas as leis do país, desde jovens saindo após o toque de recolher até jovens se entregando ao desejo em alguns quartos que o Pub também oferecia.

Mas Valentina já estava acostumada a quebrar regras, especialmente com Zachary. Ela não devia ter mais de doze anos quando Lorenzo a trouxe pela primeira vez e a deixou com o príncipe para poder aproveitar a noite com uma garota que ela nunca aprovou. Aurora já frequentava o lugar com seu irmão, era ótima para chantageá-lo quando queria.

Quando estavam cercados por pessoas, deixaram-se levar pela música. A ruiva ignorou todo cansaço e se entregou às mãos de Zachary – ele sabia muito bem como usá-las – enquanto ele a guiava ao ritmo da música.

Ela quase se entregou completamente ao rapaz enquanto esfregava seus corpos suados naquelas luzes psicodélicas. O loiro começou a depositar beijos molhados desde sua clavícula até o queixo e Valentina já podia até mesmo sentir seu gosto na boca, mas um flash de realidade a fez virar o rosto.

Tinha uma aposta a ganhar e não desistiria dela tão fácil. Nem mesmo pelos lábios tão quentes, macios e molhados de Zachary Schreave.