Semanas se passaram naturalmente e a vida de Clary voltou a ser rotineira. A única coisa inconstante era Elijah. Ele ligava e marcava encontras em cima da hora e as vezes desmarcava por compromissos que ele nunca comentava com ela.

Clary não questionava muito. Provavelmente era o trabalho que mantinha aquela fabulosa suíte de hotel.

Outra coisa que havia mudado era o que fazia nas horas vagas. Geralmente a garota tirava fotos de coisas normais, assistia TV ou simplesmente ficava de cabeça para baixo no sofá. Agora, ela estudava.

Victoria lhe deu vários grimórios para conseguir estudar magia melhor. A garota estava procurando um jeito de, talvez, aliviar a dor da transformação de lobisomem.

Hoje era lua cheia.

Clary se preparou da melhor maneira possível. Correntes, anestésicos e mata-lobos. Só o básico.

–Clary, você está bem? – Gina perguntou enquanto as duas caminhavam para a escola.

–Hoje é lua cheia.

–Então, vai precisar de alguma ajuda? – Gina perguntou, meio nervosa. Ela ainda não estava acostumada com todo esse mundo sobrenatural em que a amiga vive.

–Não. Só, por favor, cuide da Candy e do Carson. Eu juro que vou te compensar por todo esse trabalho que eu estou te dando!

Gina riu.

–Clary, você já me deu tudo quando fez aquela transformação no Henry e me fez perceber que ele é perfeito para mim!

Clary sorriu. Os amigos já haviam tido a rios encontros juntos até que, finalmente, ontem, Henry pediu Gina em namoro após o primeiro beijo deles.

Gina descreveu o cenário com tantos detalhes que Clary quase podia se imaginar no lugar dela.

–Então, agora eu vou ser a vela entre vocês, né? Vou começar a sair mais com a Kiera, ela não me abandonaria para ficar se agarrando com o namorado. – Clary provocou, rindo.

–Foi só uma vez, tá legal? Não vai acontecer de novo!

E nesse ritmo as duas foram até a escola, como duas garotas normais, mas, no fundo da mente de Clary, a lua cheia ainda a incomodava.

21 anos atrás, em Manhattan...

–Isso é inaceitável, Sandra! Na parte deles da cidade? – Denise Delacour bronqueava a filha, que fingia escutar a mãe enquanto, na verdade, estava cantarolando uma música dos Beatles bem baixo.

Sandra sabia muito bem a quem sua mãe estava se referindo. Eles. Os lobisomens. De acordo com sua querida mãe, criaturas violentas e que não valiam nem o chão em que pisavam.

Sandra gostava dos lobisomens. Os lobisomens de sua idade geralmente são muito gatos, além de darem as melhores festas da cidade. As bruxas eram mais eruditas, estudando feitiços e cultuando a natureza.

“Chaaaa-to”

–Está me ouvindo, Sandra? – Denise chamou a atenção da filha mais nova, que murmurou um “sim, senhora” que não convenceria nem mesmo uma pessoa surda, mas sua mãe não se importava o suficiente com a garota para insistir.

–Karen, querida, já terminou de estudar o grimório que eu te dei? – a atenção de Denise Delacour voltou-se para a filha mais velha, o tom agora carinhoso. Karen sorriu culpada para Sandra, que sorriu de volta para a filha-de-ouro dos Delacour.

Não era culpa de Karen se a mãe delas é uma sociopata. Na verdade, Karen é a única que Sandra considera verdadeiramente família.

Sandra resolveu ignorar a mãe e voltou a ler a mais nova edição do Homem-Aranha.

–Sandra, se você sair da linha mais uma vez... – Denise deixou a sentença por aí, voltando sua atenção para Karen.

“Pobre coitada”

Sandra bufou. Sua mãe sempre a ameaçava, mas nunca realmente cumpria as ameaças. Era contra os princípios de Denise não aproveitar qualquer chance de poder, e Sandra é uma.

Karen não pode ter filhos, por isso Sandra é a única opção para continuar a linhagem Valdez-Delacour, com os poderes máximos da sua linhagem.

Sandra sabia que esse era o único motivo de sua mãe fingir minimamente se importar com o que ela fazia da vida dela.

A garota olhou novamente o bilhete deixado em sua bolsa por Jennifer, sua amiga com gene de lobisomem inativo.

Festa na minha casa amanhã as dez. Sem hora para acabar. Está afim?

Sandra sorriu e escreveu na parte de trás do bilhete um “sim” e fez um rápido feitiço para que a mensagem chegasse rapidamente a amiga. Ela estava precisando de um pouco de diversão.

Irritar sua mãe é um bônus maravilhoso, também.

Atualmente, na saída de Fells Church...

–Não vou poder sair hoje, Clary, tenho uma reunião de negócios. – Elijah falava ao telefone, frustrado por Carter de repente chama-lo para tratar de um assunto que ele dizia urgente.

–Sem problemas, hoje eu vou ter treino até mais tarde mesmo! Amanhã é sábado, que tal passar o dia juntos? Podemos alugar um monte de filmes e assistir no seu quarto. Ninguém interromperia a gente...

Elijah sorriu ao ouvir a ideia de Clary. O Original se sentia tão humano, marcando uma sessão de filmes com a namorada, como se fosse um cara normal.

–Seria ótimo. Eu mesmo posso providenciar os filmes.

–Incrível! Então, eu levo a pipoca! Beijos.

–Beijos. Te vejo amanhã.

A garota desligou.

Elijah continuou dirigindo, sua mente divagando sobre o último mês. Seu relacionamento com Clary estava melhor a cada dia. Ele não conseguia deixar de se perguntar se devia contar a garota o que ele é. Mas só o pensamento de perdê-la fazia Elijah recuar.

Também havia algo diferente com Clary. Desde a visita ao pai, a garota estava mais distraída e, as vezes, Elijah a viu suspirando deprimida quando ela achava que ele não estava olhando. Ele não quis forçar a barra perguntando o que há de errado, mas mesmo assim não deixava de se preocupar.

Logo chegou ao local marcado, um restaurante fino em uma cidade vizinha. Carter já estava aguardando. Elijah sentou-se à mesa onde seu associado estava e o cumprimentou. Depois de adequadamente sentados e acomodados, Carter resolveu ir direto ao assunto.

–Elijah, eu te chamei aqui hoje por causa daquela garota que você pediu para investigar a um tempo atrás.

O Original de repente estava mais atento as palavras de Carter.

–O que tem ela?

–A garota foi avistada a pouco menos de um mês visitando Derek Thibault em Seattle. Demorei um pouco para identifica-la. Achei que você deveria saber.

A mente de Elijah começou a disparar. A um mês atrás foi quando Clary estava visitando o pai biológico.

Foi então que Elijah entendeu.

Derek só teve uma filha, a filha de Sandra Delacour Thibault.

A sua Clary.

Elijah então percebeu. Clary era o bebê que Niklaus estava procurando a dezessete anos atrás.

Parecia que ele não era o único com segredos, afinal.

Enquanto isso, em Fells Church...

–Victoria? Por que você está me ligando tanto? Eu estou no meio do meu treino e você está atrapalhando. – Clary atendeu ao telefone após quinze (QUINZE) insistentes chamadas do celular.

–Clary? Eu só queria avisar que eu descobri que tem um Original na cidade.

Clary ficou tensa.

–Klaus?

–Não, ele não. O outro. Esse não estava envolvido na tentativa de sequestro e é o único que eu conheço, apesar de um saber que existem mais outros quatro.

–Qual é o nome dele? – Clary perguntou, ainda tensa. Logo na noite de lua cheia.

–O nome dele é Elijah. Elijah Mikaelson.

Silencio por alguns instantes, até que Clary disse:

–Tenho que desligar. Obrigada por avisar.

A garota não esperou uma resposta.

Parecia que ela não era a única com segredos, afinal.