Percy

Percy respirou fundo e encostou a cabeça da parede. Ele estava começando a ficar impaciente. Percy tinha TDAH e dislexia, não era fácil para ele ficar naquela cela que não tinha absolutamente nada para fazer.

Era de se esperar que esses distúrbios ficassem mais brandos com a idade, como acontecia com a maioria das pessoas, mas parece que isso não se aplica a semideuses. Percy já estava beirando os quarenta anos e continuava com a mesma energia dos dezoito, o que era um tanto frustrante naquele momento.

Percy fitou Annabeth que conversava com Thalia. Thalia levantou um pouco a blusa e Annabeth colocou a mão na barriga dela, que já apontava.

Percy sorriu. Era ela. Era Annabeth que o mantinha são. Era ela que o mantinha ali, se segurando para não enlouquecer. Era ela.

Annabeth sorriu para Thalia e Percy sentiu seu coração esquentar com aquele sorriso que nem era dirigido a ele. Seria possível que depois de quase vinte anos de casado ele ainda fosse tão apaixonado? Sim, era. Pois quando se tratava de Annabeth, Percy se sentia um adolescente apaixonado.

Flashback on

Percy trouxe Annabeth mais para junto de si. A garota se aconchegou junto a ele e encostou a cabeça em seu ombro.

Percy fitou a esposa. Ela estava com 32 anos e, na opinião dele, mais linda do que nunca. Estava mais madura, os cabelos loiros pareciam ter mais vida e os olhos cinzas atentos nos filhos que brincavam um pouco mais a frente.

Percy segurou o rosto de Annabeth e o virou para si, lhe dando um selinho.

– Percy, as crianças - ela disse tentando virar para frente, mas Percy a prendeu.

– Cinco minutos - ele pediu.

– Mas .... - Percy a interrompeu com um beijo e ela retribuiu, fazendo-o entender que tinha concordado.

Percy abraçou Annabeth pela cintura a trazendo para mais perto. Ele sentiu Annabeth colocar a mão em seu rosto e aprofundar o beijo.

O garoto não podia estar mais feliz. Estava curtindo um sábado ensolarado, sentado num banco do Central Park, beijando sua esposa, enquanto seus filhos brincavam na grama. Tudo estava perfeito..... Até ele ouvir o choro.

Annabeth subitamente se separou dele e olhou para frente. Ele seguiu seu olhar e viu Alice, sua filha de cinco anos, caída no chão, chorando. Ao lado dela, Tess, com seus oito anos de idade, sem saber o que fazer.

Annabeth e Percy levantaram e correram até o menina. Quando chegaram, Tess, que saíra do choque, a ajudara a levantar. Mas Ally ainda chorava e as pernas tremiam pelo susto.

Percy, imediatamente, se abaixou e a pegou no colo. Alice, automaticamente, abraçou seu tronco com as pernas e seu pescoço com os braços, encostando o rosto no mesmo e chorando.

– Ei, princesa, se acalme - ele pediu acariciando os cabelos da filha.

Annabeth se aproximou e acariciou os cabelos de Ally.

– Meu amor, olhe para mim - pediu Annabeth e Ally levantou o rosto. Annabeth sorriu e acariciou o rosto da filha - Foi só um susto, está bem? Tem alguma coisa doendo?

Alice assentiu, os olhos verdes ainda cheios de lágrimas, mas o choro mais brando.

– Aqui - ela disse mostrando a mão.

Annabeth pegou a mão da filha e beijou a palma.

– Pronto, agora vai melhorar - garantiu a mulher.

Percy se abaixou e, com cuidado, colocou o menina no chão. Ela se afastou do pai relutante. O coração de Percy apertou ao ver os olhos da filha, verdes como os dele, cheios de lágrimas. Percy enxugou uma lágrima que caiu.

– Está melhor, princesa? - ele perguntou.

Ally assentiu.

– Já parou de doer - ela disse mostrando a mão.

Percy sorriu, tinha que aprender como Annabeth fazia aquilo.

– Então, está bem - ele disse - Você quer brincar?

– Quero - ela disse sorrindo.

– Então pode ir.

Ally se virou e foi na direção do irmão.

– E tente não correr - gritou Annabeth, mas não adiantou, a garota já estava correndo.

Annabeth suspirou, colocando as mãos na cintura. Percy riu a abraçou por trás. Ele viu Tess receber a irmã, ainda preocupado, mas ou ver que ela estava bem, sorriu e fez um pouco de cócegas, a fazendo rir.

Percy era obrigado a admitir, o garoto estava cada vez mais parecido com ele. O cabelo rebelde, o jeito brincalhão, o sorriso. A única coisa que os diferenciava, era que Tess era um pouco tímido, enquanto Percy nunca tivera esse problema.

Percy sentiu Annabeth encostar a cabeça em seus peito e relaxar. Aquilo o fez ressuscitar uma lembrança.

– Sabe - ele começou - Quando eu perdi a memória e fui para o Acampamento Júpiter, a única coisa de que me lembrava era você.

Annabeth se aconchegou um pouco mais em seus braços.

– No início, eu não sabia quem você era - continuou Percy - Eu comecei a ter flashes, mas só depois que tomei o sangue de górgona, lembrei de tudo.

Annabeth se virou para ele, sem sair do abraço, e olhou ema seus olhos.

– Você já me contou isso - ela constatou.

– Eu sei - ele admitiu - Mas o que eu não contei, foi que depois que voltei a Nova Roma, vi um casal na praça. Os dois estavam sentados em um banco, enquanto os filhos brincavam de espantar os pombos. A primeira coisa que pensei foi que, se tudo termina-se bem, poderíamos ter uma vida como a deles. Sentar na praça abraçados enquanto nossos filhos brincavam com os pombos.

Os olhos de Annabeth encheram de água, mas ela não chorou, ela só o abraçou.

– Como você consegue ser tão fofo? - ela perguntou.

Percy corou e a apertou mais um pouco.

– Foi só o que eu pensei.

Annabeth apoiou a cabeça em seus ombro, e Percy afundou a cabeça em seus cabelos. Ter Annabeth em seus braços lhe causava uma sensação indescritível. Ele se sentia capaz de fazer qualquer coisa.Ele se sentia, por incrível que pareça, protegido. Se sentia em casa.

Eles ficaram ali, curtindo o momento, até ouvirem um:

– Pai!

Percy levantou a cabeça e viu os filhos correndo em sua direção. Annabeth se afastou dele calmamente, ficando de frente para as crianças.

– Pai, você compra algodão doce? - pediu Ally.

Percy assentiu.

– Eu quero azul! - disse Tess animado.

– Eu quero branco - rebateu Ally.

Tess olhou a irmã como se acabasse de perceber que ela era uma alienígena.

– Mas branco não tem graça! - ele argumentou.

– Branco é o cor do algodão. Então o algodão doce branco é mais parecido com algodão do que o colorido - retrucou a pequena.

– Faz sentido - concordou Annabeth.

Sim, fazia! O que impressionava Percy, era o fato de que ele nunca tinha pensado naquilo. Sempre tinha escolhido o azul porque, bem, porque era azul!

Tess, que parecia tão perdido quanto o pai, fitou a irmã e logo depois os pais, em busca de uma afirmação.

– Mas eu gosto do azul! - ele disse um pouco triste.

– Eu também! - disse Percy colocando a mão no ombro do filho.

Annabeth e Ally reviraram os olhos ao mesmo tempo, e Percy riu. Se fosse um pouco mais tímida e tivesse olhos cinzas, Ally seria uma miniatura de Annabeth. Percy a considerava sua princesinha, e dava a essa "Annie" todo o amor que a Annabeth original não tinha recebido dos pais.

Percy, num impulso, colocou o filho sobre os ombros, e nem precisou olhar em seus olhos para saber que o menino sorria, ele sempre adorara aquilo.

– Vamos - ele chamou.

As duas assentiram e Tess deu uma leve batida em sua cabeça em concordância. Percy assentiu e seguiu em direção ao homem do algodão doce.

Flashback off

Percy fechou os olhos e aproveitou a sensação boa que a lembrança lhe proporcionara. Mas ela também o fazia pensar em seus filhos. Estariam eles bem?

"A união do mar e coruja com a águia e a pomba tomará a última decisão"

Aquele trecho da profecia retumbou em sua mente . "O mar e a coruja" eram claramente ele e Annabeth, então a profecia só poderia se referir a um de seus filhos. Quem seria? Sua princesinha ou seu garotão?

Percy suspirou. O que o deixava mais frustrado era que não podia fazer nada para mudar e, o pior, nem mesmo podia ajudar.

Ele abriu os olhos e viu Annabeth sorrindo. Aquela cena fez a lembrança voltar a sua mente e ele sorriu. Naquele exato momento,a garota levantou os olhos e olhou para Percy. Ela falou algo com Thalia, que assentiu, e foi em sua direção.

– Rindo à toa? - ela perguntou sentando ao seu lado e se aconchegando junto ao seu corpo.

– Não exatamente - ele contou , passando o braço pelos ombros da esposa - Estava lembrando de algumas coisas.

– Deviam ser boas lembranças - ela disse recostando a cabeça em seus peito.

– Ótimas - ele garantiu.

Annabeth sorriu. Ela estava prestes a dizer alguma coisa, quando ouviram um grito.

Percy levantou a cabeça e olhou em volta. Logo encontrou Mila sentada no chão da cela,com as mãos na cabeça, e Piper agachada ao lado dela.

Pelo jeito seus dias de paz tinham acabado.