Tempo Perdido, Momento Encontrado escrita por EnmaHilder


Capítulo 1
Capítulo único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/463520/chapter/1

O colégio localizava-se no centro da cidade. Não era uma escola particular, mas ainda assim, retinha bons alunos com boas notas. Era um colégio de prestigio e muito requisitado por todos os pais na cidade. O motivo de tudo isso era a forma inovadora com que a diretora e professores trabalhavam. Estes buscavam sempre incentivar os alunos no descobrimento de suas capacidades, encorajava-os a traçarem metas e buscarem a realização de seus sonhos.

Era de noite e o colégio ainda estava aberto, pois como toda escola pública, o mesmo ministrava aulas para o Ensino Médio no período noturno.

No pátio, viam-se adolescentes, cada um com seu grupo, sua tribo. Não se sabia ao certo quando, ou como, mas a verdade é que em determinado momento, os alunos acabaram fazendo uma divisão entre si. Haviam os geeks, os otakus, os rockeiros, skatistas e assim por diante. Era raro, porém não incomum, encontrar alguém que conseguia se comunicar e fazer-se entender em mais de três tribos. Carlos era assim. Um adolescente alegre e detentor de uma sensualidade natural, que encantava a todos. Sabia conversar com os geeks sem dar uma mancada, jogava basquete e falava com os rockeiros, passava o intervalo com os gamers e palpitava nos ensaios da turma de teatro.

Carlos possuía cabelos loiros na altura no queixo, seus olhos azuis sempre brilhavam quando ele sorria, seu corpo era definido, não possui aquela barriga de tanquinho, achava isso um exagero, para ele, ter as linhas de seu corpo definidas, já era mais do que suficiente, e as garotas concordavam, pois por onde passava, o jovem arrancava suspiros.

Para alguém alegre, o jovem garoto de 17 anos, estava quieto. Era hora do intervalo, mas o mesmo não saiu de sua sala de aula e ficou sentado em uma cadeira ao lado da janela enquanto observava o brilho da lua.

- Você realmente devia ir falar com ele. – Próximo a ele, uma garota de longos cabelos castanhos e olhos claros encarava o amigo com o cenho franzido. Juliana não entendia o temor de seu amigo, que sempre fora tão confiante e destemido sobre tudo e todos. Mas ali estava ele, sentado, suspirando e olhando para o além.

- Ele vai me rejeitar. – disse o outro sem emoção alguma.

A garota do clube de teatro olhou para Carlos e deu-lhe um peteleco na cabeça fazendo com que ele a encarasse.

- Pare de ser tão medroso e volte a ser o libertino que sempre foi! – Disse encarando o outro nos olhos. – Pare de temer o pior enquanto você ainda se quer tentou o seu melhor. Deixe de besteira, se ouvir um não, persista, mostre a ele quem você realmente é e conquiste aquele que conquistou seu coração.

- Ele é heterossexual. – Carlos ditou com simplicidade enquanto desviava o olhar para a lua. Odiava sentir-se dessa forma. Já fazia meses que não tirava o garoto do clube de literatura da cabeça. Ansiava sentir seu cheiro, seu toque e seus lábios.

- Como raios você pode saber? Você não consegue ficar perto dele nem por cinco minutos sem inventar uma desculpa esfarrapada e sair correndo! Como pode saber se ele é gay ou não, se você não consegue conversar com ele, porque eu já vi meu querido, toda vez que ele abre a boca e começa a falar, você simplesmente não ouve, fica analisando o corpo dele com fome nos olhos! Chega a assustar, de verdade! – Juliana bradou e sentou-se na cadeira de frente ao amigo, fazendo um cafuné em sua cabeça e virando seu rosto par si.

- Juh! Eu... Eu não consigo ficar perto dele, como você disse, como vou me declarar!? – Perguntou fechando os olhos para segurar as lagrimas que ameaçavam cair. Doía lembrar-se de sua incapacidade de se quer permanecer ao lado daquele que roubou seu coração.

- Arrisque-se. Arrisque-se a tentar. Você não sabe o que pode acontecer. – Com a mão livre, a jovem apertou a bochecha de seu amigo em um gesto intimo de conforto e cumplicidade.

Um barulho na porta fez que com que ambos virassem a cabeça e vissem o jovem de cabelos pretos curtos e óculos que ocultavam de forma branda a íris esverdeada de seus olhos.

- Des-desculpe – gaguejava o jovem – não queria interromper. – Thiago estava parado a porta segurando alguns livros que apertava com força em seu corpo. – Vou deixar vocês a sós. – sua voz vacilou um pouco e ele partiu.

Juliana olhava para Carlos, depois para a porta e para Carlos novamente.

- Oh idiota, o que ‘tá esperando para ir atrás de seu amado? – Ela sorriu – Vai deixar essa oportunidade passar? Vai deixar ele pensando que a gente tem um caso?

Como se caísse em si. Carlos levantou e correu atrás de Thiago, o jovem que vinha povoando seus pensamentos há meses. Desde a primeira vez que o vira na biblioteca com seu clube, encantou-se com seu jeito tímido e, de certa forma, gélido. Parecia que nada abalava aquele garoto, mas Carlos sabia e viu que não era bem assim. Já o viu corar, rir e ficar emburrado. E não pode não se apaixonar.

Correu pelo corredor e alcançou o mais novo na ponta da escada para o pátio. Atraiu olhares indesejados quando o puxou pelo braço com certa força. Virou Thiago para si e o que viu apertou-lhe o peito, mas também lhe deu certa esperança. O menor estava com os olhos marejados.

Carlos não sabia o que falar ou o eu fazer. Ficou apenas encarando-o até que notou que o corredor estava ficando um tanto quanto cheio de espectadores. Sem pensar muito, puxou Thiago pelo braço e arrastou para a sala mais próxima.

- Me solta! – A voz de Thiago pareceu acordar Carlos do transe ao qual havia se submetido. Ele puxou o braço e encarou o mais velho que estava em frente a porta, impossibilitando sua saída.

- Thiago... – Murmurou Carlos enquanto encarava o outro que tentava se recompor. – Eu... Eu... – Não conseguia falar. Por onde, alias, deveria começar? O que deveria falar?

- O que quer Carlos? – Recomposto, o moreno olhou com certa frieza para o outro.

- ... – Carlos suspirou e encarou o outro nos olhos, não desviaria daquele olhar, mesmo que ele estivesse mexendo com algo dentro de si. – O que foi fazer na minha sala? – optou por perguntar. Thiago, apesar de ser do mesmo ano, era de uma sala diferente.

- O clube pediu para que eu fosse atrás de você. Disseram que você estava devendo uma visita e que eu deveria trazer-lhe, já que, na palavra deles “você é o único que consegue fazer ele levantar a bunda daquela cadeira e sair daquela sala um pouco. Vá até ele e traga-o aqui!”, foi o que disseram. – disse de forma natural, sem notar que corara um pouco.

- Raios! – Gritou Carlos. Pelo visto, todos sabiam do efeito que o menor tinha sobre si, sabiam de seus sentimentos. Como então, Thiago não havia notado? Ou será que teria, mas não se importava?

- Carlos? – chamou pouco baixo, porem assim que foi ouvido decidiu continuar. Estava curioso e, todos sabiam, que a curiosidade é o ponto fraco de qualquer leitor! – Quem era aquela garota que estava com você? – esperou um pouco pela resposta, mas vendo que o outro apenas o encarava com um brilho diferente no olhar, decidiu questionar de novo, só pra ter certeza que fora ouvido. – Sua namorada?

- Por que quer saber Thiago? – Deu um passo para frente, apenas para ver o outro dar dois para trás.

- Curiosidade. – respondeu simplesmente o mais jovem.

- Juh não é minha namorada. – Carlos deu de ombros e Thiago franziu o cenho quando ouviu o apelido da garota. Imitando o gesto do mais velho, levantou os ombros, como se dissesse “tá bom” e virou o rosto. – Ela é minha amiga e me ajudava com um problema que vem me atormentando há um certo tempo.

- O que seria? – Thiago olhou com certa preocupação para o outro. Importava-se com ele e se pudesse ajudar, ajudaria. E diferente da outra, não seria necessário tanto contato físico para isso!

- Você. – disse de forma natural.

- Eu? – Thiago perguntou e após receber a confirmação do outro, baixou a cabeça e suspirou. – Então eu sou um problema? – Passava e repassava em sua mente todos os momentos que teve com Carlos, procurando saber o que havia feito para se tornar um estorvo para o outro, relembrou de suas palavras e ações, mas não sabia o que havia feito. Gostava da companhia do outro, mas se chegou a esse ponto, se ele havia se tornado um problema para aquele que tanto admirava, era melhor se afastar. Tomada a decisão, levantou o olhar e assustou-se um pouco ao notar que o outro estava próximo de si, muito próximo! – Se me tornei um problema para você, se afaste de mim. – disse com os olhos fixos no do outro.

- Não consigo. – aproximou-se mais do menor e suspirou quando notou que conseguia sentir o calor que o corpo esguio a sua frente exalava. – Não é um problema ruim, é agradável, mas atormenta-me e não me deixa dormir. Não consigo resolvê-lo por que não tenho coragem, mas quero uma solução, como quero!

- Não entendo. – Thiago murmurou mais para si mesmo do que para o outro. A súbita aproximação de Carlos deixava seu corpo e coração estranho.

- Você é tão inteligente Thiago... Tão inocente e ao mesmo tempo tão sedutor. – Levantou a mão e acariciou a face do menor. – Não percebe, não faz ideia do que cada gesto seu faz em meu interior, em meu corpo. – Inconscientemente, Thiago fechou os olhos e aceitava a caricia feita por Carlos, que vendo isso, tomou como um sinal de que poderia ir à diante. – Seu olhar me encanta, seus lábios, sempre que abertos parecem murmurar feitiços que me deixam cada vez mais apaixonado por você.

Ao ouvir a palavra apaixonado, Thiago abriu os olhos, mas não se afastou. Estava surpreso, muito surpreso. Afinal, como alguém como Carlos, que poderia ter qualquer um que quisesse em sua cama estava tão interessado, “apaixonado”, como ele disse, por alguém tão sem sal quanto o rato de biblioteca que Thiago considerava ser?

- Não quero qualquer um. – Como se soubesse o que se passava na mente de sua paixão, Carlos respondeu com confiança na voz, não dando margens para dúvidas. – Não quero qualquer um, - repetiu – quero apenas você e somente você. É você que me atormenta em meus sonhos e me faz acordar praguejando por ser apenas um sonho, é você que me fez e faz sorrir, que me faz perder a confiança e voltar a ser um menino inseguro diante de seu primeiro amor, porque é isso que você é para mim Thiago, meu primeiro amor. Primeiro e único.

Carlos fez uma pausa, esperava por uma respostar, um empurrão, qualquer coisa. Mas o outro estava imóvel, o olhava nos olhos e apenas isso. Sem suportar, então, aproximou sua rosto do outro, deixou seus lábios roçarem nos dele e, quando viu que ele fechou os olhos, juntou seus lábios aos dele.

Agraciado com a sensação e com o ato tão esperado, o mais velho colocou ambas as mãos na cintura do outro e puxou Thiago para mais perto, queria, também, sentir o corpo do outro, não apenas o lábio. Queria e precisava de mais contato.

Ao ser puxado, o moreno, com as mãos tremendo com a timidez, passou-as pelo braço do mais velho até chegar ao pescoço e o puxou, pedindo com gestos, aquilo que a boca não podia pronunciar.

“Beije-me”

Entreabriu os lábios e aceitou de bom grado a língua cálida de Carlos em sua boca, jamais admitiria, mas este era seu primeiro beijo. Nunca esteve tão próximo de ninguém, nem nunca desejou ter alguém tão próximo quanto deseja ter Carlos.

Após alguns minutos, Carlos afastou seus lábios do menor, mas não cortou o contato com o corpo do outro. Encostou sua testa na dele e esperou que Thiago abrisse os olhos. Precisava ver, precisava saber o que ele sentia e pensava.

- Prometa. – Thiago abriu os olhos e encarou o outro com determinação. – Prometa que não fará com que eu seja apenas mais um em sua lista de casos e acasos.

Carlos sorriu.

- Você é especial para mim, Thi. – O moreno arrepiou ao ouvir o apelido sair dos lábios sedutores do maior. – Estou apaixonado por você, muito apaixonado.

Agora foi a vez de Thiago sorrir.

- Pois saiba, que não estou apaixonado por você. – disse pouco sério, fazendo o outro afastar-se um pouco. – Fui pego de surpresa Carlos. Não posso dizer que não sinto nada, seria uma baita mentira. Você me faz perder o chão, faz meu estomago virar um casulo cheio de borboletas prontas para sair e alçarem voo. Faz minhas mãos tremerem e meu coração disparar. Sei que isso não é paixão. É amor, e eu te amo há tanto tempo, há tantos anos, que já estava sendo difícil aguentar isso. – deixou uma lagrima escorrer sua face. – Você parecia não me notar. Nunca fui de sua sala, mas sempre o observei. Via você conversar e rir com outros e ficava intrigado com tamanha ousadia e felicidade, duas coisas que não tenho. Quando dei por mim, eu apenas pensava e você, mas você não me notava. Não faz ideia de quão feliz eu fiquei quando se juntou ao clube de literatura aquele dia.

Carlos estava nas nuvens. Tanto medo, tanta insegurança e o outro sentia o mesmo e a mais tempo ainda! Como pode ser tão cego? Como não o havia notado antes, ou notado os sinais? Como pudera deixar estes anos passarem sendo que podiam ter estados juntos? Pois agora, estava convicto e não esperar mais. Interrompeu o outro com um beijo mais urgente, porém apaixonado.

Não se atrelaria mais ao tempo perdido, viveria agora o momento encontrado, agora que sabia ser correspondido, faria de tudo por aquele que estava em seus braços, por aquele que detinha seu coração e que estava, com este beijo, entregando o próprio coração para si. Carlos estava feliz. Thiago estava feliz. E isso bastava para eles.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tempo Perdido, Momento Encontrado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.