Desconstruindo Mycroft escrita por Sparkles


Capítulo 27
Se ainda não passou de meia-noite...


Notas iniciais do capítulo

Oi! Eu ia dividir esse capítulo, mas não, vocês não merecem uma coisa dessas. Deixei grande mesmo do jeito que tava. E ah, a parte em negrito são lembranças, mas vocês vão perceber isso. Bom capítulo!



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“Olha Harry, ele tá abrindo os olhos!”

“Vou buscar água!”

Acordei assustado. Minha cabeça doía e meu estômago estava enjoado. Eles tinham me colocado numa cama cheia de almofadas e bichos de pelúcia. Fui levantando e me sentando devagar. Greg estava na beirada da cama. Analisei o quarto. Tinham flamingos pintados na parede, roupas e sapatos espalhados pelo chão, umas garrafas Jack Daniel’s muito mal escondidas atrás de uma pilha de livros e um pôster de uma moça chamada Madonna.

“É o quarto da Harriet” disse Greg, sem que eu perguntasse.

“Percebi” respondi, enquanto levava a mão à testa para checar se a minha cabeça ainda estava lá “Por quanto tempo eu fiquei desmaiado?”

“Exatamente” ele olhou o relógio de pulso “oito minutos.”

“Ah.”

Silêncio. Eu olhei pra Greg e ele olhou pra mim e compartilhamos uma risada.

“Seu dramático, você me assustou” ele falou, me batendo com uma tartaruga de pelúcia “Vai se ferrar, Mycroft.”

“O que aconteceu foi culpa sua, tá?” respondi, me armando de uma almofada da Hello Kitty.

“Minha culpa? Você bebe todas, não come nada e vem me culpar?” a briga de almofadas se intensificava.

“Eu bebi um copo só e nem foi por vontade própria. Como eu ia adivinhar que você ia ficar me rodando na frente de todo mundo?”

“Mas era a sua música!”

“Querem que eu traga leite com biscoitos pra festa do pijama de vocês?” Harriet disse, entrando no quarto com meu copo d’água. Paramos e voltamos ao modo silencioso, enquanto ela ria da própria piada. Agradeci, bebi um gole e fiz uma careta.

“DE NOVO, HARRIET? Isso não é água! Mas será possível, não tem água de verdade nessa casa?” falei, enfiando minha cara na almofada da Hello Kitty, sufocando um grito.

“Ops, foi mal” Ela deu uma risadinha e recolheu o copo. “Vou buscar sua água.”

“Não precisa, eu vou embora.”

“Mas já? Ainda tem muita gente lá embaixo.”

“Exatamente por isso.” respondi “Não é nada pessoal, Harriet. É que eu não estou muito bem hoje.”

“Não, por favor, fica ai.”

“É sério, eu preciso ir...”

“Você vai ficar e vai se divertir muito” ela falou num tom ameaçador “Entendeu bem?”

“Entendi, entendi.” Comecei a ficar assustado.

“Greg, não deixa ele ir embora, eu já volto com a água.” Saiu do quarto bem lentamente, sem tirar os olhos de nós.

No que ela fechou a porta, levantei depressa da cama e puxei Greg pelo braço.

“Onde estamos indo?”

“Pra fora daqui, antes que ela volte.”

Descemos as escadas e saímos pela porta da sala. Caminhamos pelas ruas escuras de Londres até uma pequena lanchonete que continuava aberta.

O estabelecimento estava vazio, com a exceção de dois atendentes atrás de um balcão e uma música suave tocando ao fundo. Escolhi uma mesa com banco acolchoado e pedi o maior hambúrguer do cardápio. Greg ainda estava confuso quanto ao que exatamente estava acontecendo, então não pediu nada. Só ficou observando enquanto eu devorava minha deliciosa refeição cheia de queijo.

“Desculpa por isso, é que eu passei a festa toda tentando comer e não consegui.” Falei, já satisfeito e de volta ao meu estado normal de ser humano civilizado. “Não vai pedir nada?”

“Não... A Harry vai ficar muito zangada com você.”

“Eu mando um cartão de desculpas.” Dei de ombros. “Perdão por ter literalmente te arrastado junto comigo. Eu incluo seu nome no cartão.”

“Tudo bem, a festa não ia ter mais graça sem a nossa dancing queen.”

Olhei para ele com a maior cara de interrogação que conseguia fazer.

“Eu vou levar em conta o fato de que você deve ter bebido muito, mas, por favor, nunca mais diga isso em voz alta.”

“Tudo bem.”

“E essa música não se aplica mais a mim, eu não tenho mais dezessete anos.”

“O quê?” Greg surtou. “Você fez aniversário? Quando foi isso? Por que você não me chamou? Que absurdo! Teve uma festa? Por que você esconde essas coisas de mim, Mycroft?”

“Calma, não foi nada demais, uns parentes distantes foram lá em casa e é, só isso. Eu não ligo muito pra aniversários.”

“Como não?” Greg estava desolado. “Quando foi isso?”

“Bem, se ainda não passou de meia noite...”

“São onze e quarenta e dois.”

“Hoje.” Falei, com cautela, já esperando um parabéns escandaloso e um abraço de tia, mas não foi bem isso que aconteceu.

“Mycroft, seu bastardo!”

Greg se levantou, foi até o caixa e voltou para a mesa com uma fatia de torta alemã. Colocou-a perto de mim.

“O que é isso?”

“Seu presente, ora.”

“Oh. Puxa, obrigado Greg, não precisava mesmo.” Sorri e ia começar a comer, mas fui interrompido.

“Espera, mas e o parabéns?!” um dos atendentes gritou de trás do balcão.

“Não é necessário...”

“Aniversariante na mesa seis!” o outro gritou e nisso, uns cinco atendentes surgiram da porta da cozinha, com confetes e chapéus de festa. Colocaram uma vela na fatia de torta e cantaram um “Parabéns pra Você” animado. Nem preciso dizer que Greg acompanhou e se deliciou em ver minha reação naquele momento.

Minha vontade inicial era de enfiar a cara de todo mundo na torta. Aquele era definitivamente o meu pior aniversário. No momento em que tal frase se formou na minha mente, vi que estava totalmente enganado. Lembrei-me então do meu pior aniversário, de verdade.

“Por que a gente não pode ir no parquinho e comer bolo depois, como a gente sempre faz, papai?”

“Porque sua mãe está cansada, Mike.”

“Mas é meu aniversário! A gente precisa comemorar.”

“Estamos comemorando. Seus primos e tios vieram comer bolo com você.”

“Isso não conta como festa. Eles só vão dar trabalho pra mamãe e ainda vão sair reclamando.”

“Sem malcriação, Mycroft! Você não pode deixar sua mãe nervosa. Ela está carregando seu irmão na barriga, lembra?”

“Eu sei. E grávida é o termo correto, papai. Eu estou fazendo sete anos, você não precisa falar comigo como se eu fosse criança.”

E então eu passei o resto daquele aniversário sozinho no meu quarto. Não foi muito diferente depois que Sherlock nasceu. No meio da festa, eu ia lá para cima e ninguém percebia.

Greg e aquelas pessoas desconhecidas me cantando parabéns foi na verdade o melhor aniversário que eu tive em anos.

Senti que ia começar a chorar. Aquela memória ficava numa parte da minha mente que eu não costumava acessar muito: sentimentos. Tentei controlar, lembrando do princípio platônico de que a razão controla a emoção, mas não deu dessa vez. Caí em prantos.

“Por que você tá fazendo esse barulho, Mycroft?” Greg perguntou. “Assopra a vela, faz um... espera. Você tá chorando? Como assim? Você tem sentimentos?”

“Eu não estou chorando.” Falei esfregando a vista. “Você que vai chorar se continuar com essa festa ridícula.”

“Você quer que a gente pare?” um dos atendentes, confuso, perguntou.

“Não!” falei, quase voltando a chorar de novo “Por favor, continuem, eu vou soprar a vela.”

E então eles cantaram a música mais uma vez e eu soprei a bendita vela. Comi a torta, nos despedimos dos atendentes e saímos.

“Qual foi seu pedido?” Greg perguntou, já no caminho.

“Não posso falar, é segredo.”

“Fala, cara!”

“Merda!”

“O quê?”

“Não, é que eu me lembrei de uma coisa muito importante. Esqueci o Sherlock na casa da Harriet!”


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Notas finais do capítulo

Já que vocês sempre dão retorno, eu queria perguntar uma coisa: Mycroft e Greg, bromance ou romance? Só por curiosidade mesmo. O final já tá montado na minha mente há tempos e... o final não tá muito longe não, hein. HIHIHI Beijão e até o próximo! o/